A música ridiculamente alta e as pessoas infinitamente esquisitas já haviam virado apenas um detalhe insignificante nas noites de bartender de Rhea. Ela assistia as pessoas quando trabalhava em um bar alternativo e underground de Berlin: um grupo de amigos comemorava um  aniversário de maioridade, amigas comemoravam a despedida de solteira; e ela assistia a todos.

Não que a intenção fosse de ser proposital, estuda as pessoas era completamente inconsciente. Desde que sua mãe surtou e passou a variar entre membro fiel de um culto pagão para religiosa arrependida ela entendeu que precisaria sustentar a família. Ragnar fora legal o suficiente para tomar conta dela e do irmão das três primeiras vezes que internou a mãe, até que pareceu se recordar que, apesar de carregar seu nome, Rhea não era realmente sua filha. Quem quer lidar com uma criança problemática?

“Se eu soubesse que deixavam mulheres tão lindas trabalharam atrás de um balcão em vez em cima dele eu já teria investido em trabalhar aqui...” – Um homem alto, de cabelos pretos cuidadosamente penteados para trás sorriu galante. Seu terno cortado perfeitamente e talvez mais engomado que o necessário foi deixa o suficiente para que ela deduzisse que trabalhava em um dos arranha céus mais altos da cidade.

“Considerando que eu provavelmente seria a pior stripper do mundo consigo entender o motivo de não deixarem uma coisa dessas.” – Ela sorriu falsamente, cerrando a mandíbula. “Você vai querer o que para beber hoje?”

“Vou querer uma garrafa do seu melhor uísque, para a sala sete.” – O homem replicou, imediatamente dando as costas e saindo de perto das pessoas comuns.

Lidar com alguém daquele tipo era a última coisa que Rhea queria fazer durante seu expediente, mesmo que ele provavelmente fosse dar uma gorjeta generosa. Suspirando pegou o Macallan fechado mais próximo, arrumando uma bandeja e iniciou seu trajeto de desviar de seus clientes, já muito além de embriagados à aquela hora.

A música parecia aumentar de volume a cada minuto, ela tinha a impressão que seu coração batia junto ao baixo e seu sangue corria no mesmo compasso da música. Alcançando a sala sete, destinada a pessoas muito acima de qualquer padrão com o qual ela pudesse sonhar, bateu na porta rapidamente e entrou.

O homem, cujo nome ela ainda desconhecia, estava deitado no sofá de couro na parede mais afastada da porta, com um sorriso reluzente o suficiente para que ela ficasse preocupada. Esse tipo de gente nunca sorri a toa. Sua curiosidade não demorou a ser saciada, ela ouviu um rosnado que ecoava na sala mais alto que a música abafada pela porta. Um olhar de relance para o lado lhe forneceu a visão da criatura mais monstruosa que ela já havia visto: Um lobo bípede, enorme e bestial grunhia das sombras providas pela pouca iluminação da sala.

Antes que pudesse sequer pensar em fugir, a besta pulou em sua direção.