Entre Lobos e Monstros escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 31
Despedaçado




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Capítulo 30

por N.C Earnshaw

 

OBSERVAR A VIDA se esvaindo dos olhos do crápula aos seus pés foi prazeroso de várias formas. A raiva que Paul sentiu ao ver o que Carter fez a Erin era tanta, que se o desgraçado não tivesse tido um infarto e morrido, ele teria o assassinado com suas próprias mãos.

— Você está bem? — perguntou ele a Erin quando voltou a forma humana e vestiu rapidamente o shorts jeans; que prendia no tornozelo por uma cordinha. 

O estado da garota deixou o coração do lobo apertado. Conhecia a Landfish há anos, e nunca a tinha visto tão fragilizada. Seu corpo tremia por inteiro e sua figura aparentava estar menor que o normal, o rosto estava molhado pelas lágrimas e os olhos brilhavam com um sentimento que ele não conseguia decifrar. 

— Erin. — Tentou chamar a atenção da quileute novamente e esticou suas mãos para tocar os braços dela. A reação esquiva não foi o que ele esperava, mas foi o suficiente para saber que a garota tinha a mente alerta a tudo que acontecia. — Eu não vou encostar em você, se não quiser, mas precisa me dizer se está bem. 

Mentalmente, completou ele em pensamento. Sabia que pelo mínimo cheiro de sangue vindo dos cotovelos e joelhos, ela apenas tinha sofrido alguns arranhões. Era um alívio saber que a garota estava bem fisicamente, mas o que o preocupava, de fato, era o trauma que aqueles últimos minutos deixaram na vida dela. 

— Ei. Não precisa se preocupar — falou ao perceber que ela não conseguia tirar os olhos assustados do corpo caído a um ou dois metros de onde eles se encontravam. — Ele não pode mais te machucar. 

Paul estava pronto para apoiá-la antes mesmo que a quileute desse sinais de que iria desabar, sentindo que, de alguma forma, o destino tinha o colocado ali para ser a âncora que Erin precisava. O relacionamento entre eles depois do “término”, não tinha sido agradável. Ele tratou uma amiga de muito tempo, cujo era a única que entendia o que era viver uma vida inteira na mesma casa de alguém que odiava, como se fosse uma qualquer. E admitia que se arrependia da maneira com que lidou com aquilo na época. Por mais que ela tivesse o provocado tentando atrapalhar o início do seu relacionamento com Wendy, o Lahote não podia negar que poderia ter sido mais gentil. 

Ele a puxou para os seus braços, sentindo que um abraço era exatamente o que ela precisava naquele momento. Apesar de o lobo saber que a sua presença, em específico, não era o que ela desejava — Paul tinha absoluta certeza de que Erin queria estar com Embry —, sentiu-se no dever de consolá-la em nome da amizade que tinham no passado. 

A Landfish deixou-se chorar por alguns minutos no ombro do lobo, sentindo principalmente alívio em ter sobrevivido e ter se livrado da pessoa que tinha feito da sua vida um inferno. Ela sabia que, se alguém de fora ouvisse seus pensamentos, acharia crueldade a felicidade que começava a se forçar em seu coração. No entanto, após longos anos com medo e depois de todas as humilhações, Carter tinha cavado a própria cova. 

— Cara, o que aconteceu aqui? 

Erin reconheceu a voz de Jared no mesmo instante, e soltou-se dos braços de Paul sentindo certo constrangimento em ser pega em uma situação tão frágil. Estava parecendo uma garotinha fraca e chorona, e ela morreria de vergonha se mais alguém a visse chorando como um bebê.

Ela limpou o rosto rapidamente na própria blusa, e se amaldiçoou baixinho quando sentiu as lágrimas continuarem a jorrar pelo seu rosto e os soluços ainda sacudirem seu corpo. 

— Ele tá morto? — continuou a insistir o Cameron, aproximando-se com cuidado de Carter. Ele tinha uma expressão assombrada, encarando o corpo caído e voltando a checar o que Erin e Paul estavam fazendo. 

— Se não está morto, vou precisar terminar o serviço. 

A voz do Lahote soou mordaz, fazendo com que Jared arregalasse os olhos. Apesar de ter visto pela mente de Paul que Erin estava sendo perseguida por aquele crápula, não sabia de todos os detalhes da história, além de reconhecer o homem como sendo o padrasto da garota. E encontrava-se cagado de medo de estar lidando com um cadáver — humano, diga-se de passagem —, e com a ideia de ter que conversar com a polícia sobre um possível assassinato. 

— Ele está morto — afirmou o outro lobo ao perceber o quanto o seu melhor amigo estava apavorado. O Cameron não deixou de notar o sorrisinho de canto do amigo. 

— Paul, seu idiota! Você ficou maluco? — O grito de Jared fez com que Erin se assustasse; a quileute estava sensível a barulhos após ter sido arrastada até a floresta para ser morta, e o Lahote somente arqueou uma sobrancelha, sem entender muito bem o motivo do surto, mas se divertindo mesmo assim. — Eu não sei o que droga aconteceu aqui, mas esse cara que você diz que matou é a porra de um humano! Não é como os sanguessugas que matamos aos montes e saímos ilesos. Alguém vai procurar por ele e vai acabar descobrindo como ele foi morto… Cara, que grande merda que fomos nos meter! De duas, uma. Ou vamos ser presos, ou vão acabar descobrindo sobre como nos transformamos em lobos e irão nos enfiar num zoológico! E para ser sincero, não quero passar o resto da minha vida…

— Cala. A. Boca! — Paul deixou seu temperamento levar a melhor. Não aguentou por muito tempo ouvir as asneiras que saiam da boca de Jared, e não permitiria que Erin fosse obrigada a aguentar as merdas dele quando tinha passado por tanto. — Que se dane se vamos ser presos ou virar atração em um zoológico, esse cara atacou a Erin e tentou machucá-la. Matá-lo era o mínimo que poderíamos fazer. 

O Lahote pousou uma das mãos sobre a cabeleira negra ao seu lado, querendo lembrar Erin que ele estava ali, e que ela estava em segurança. 

— Você esqueceu, Jared? Que além de ela ser o imprinting do Embry, ela é a nossa amiga? 

Jared deixou os ombros caírem, arrependido. E prestou atenção na forma desconsolada com que Erin se abraçava. Então se desculpou, recebendo apenas um aceno da garota. 

— Mas, se está tão preocupado, — adicionou Paul. — acho que ele teve um infarto assim que me viu transformado. Eu não o toquei, apesar de querer muito ter enfiado as minhas garras no peito do filho da puta. 

A expressão de descrédito no rosto do Cameron foi tão engraçada que até mesmo Erin sorriu. 

— Um de nós tem que levar a Erin pra casa…

— Meu carro ainda está na lanchonete — pronunciou-se a Landfish pela primeira vez, franzindo o nariz ao ouvir o quão rouca sua voz tinha soado.

— Jared. Você vai levar a Erin até o Embry e assim que explicar a situação pra ele, vai direto até o Sam. Ele vai saber o que fazer e como lidar com o corpo. Enquanto isso, vou ficar aqui de olho para não deixar algum animal inocente comer essa porcaria e acabar tendo uma indigestão. 

O Cameron concordou no mesmo segundo, uma vez que não queria que Paul mudasse de ideia e o obrigasse a ficar tomando contato do corpo. Ele se aproximou de Erin rapidamente, e esperou que a garota estivesse pronta. 

O Lahote não precisou ouvir um obrigado para saber o quão grata Erin estava. Quando a quileute o olhou, ele soube pelo brilho em seus olhos que ela estava muito agradecida, e foi o suficiente. 

— O Jared vai te carregar até o carro — avisou a ela, temendo que o contato com outra pessoa a deixasse estressada. — Estamos um pouco distantes da lanchonete e levaria muito tempo para chegar até lá se você fosse à pé. 

No outro minuto, Erin se viu nos braços de Jared e tendo a última visão do corpo de Carter. A velocidade que o quileute corria era tanta, que até mesmo as coisas que ela conseguia enxergar no escuro se tornaram borrões. Quando chegaram até seu carro, a quileute encontrou sua bolsa caída no asfalto e a porta do motorista ainda aberta. Suas chaves estavam exatamente no mesmo local em que ela deixara, e o carro de Carl não se encontrava mais no lugar de costume. As luzes da lanchonete estavam apagadas, e ela se perguntou quanto tempo iriam demorar a encontrar seu corpo se não tivesse conseguido sobreviver e Paul não fosse um lobo. 

Jared dirigiu até a casa dos Call, visto que as mãos de Erin estavam tão trêmulas que ela não tinha quaisquer condições de assumir o volante. Normalmente, ela bateria o pé e não deixaria ninguém tocar no seu bebê, mesmo que tivesse perdido um braço, no entanto, até mesmo a Landfish admitia para si mesma que não estava bem para dirigir. 

A ansiedade em estar nos braços de Embry a fez balançar a perna por todo o percurso. E assim que o Cameron estacionou o carro, a garota viu que o Call a esperava na porta com uma expressão preocupada. 

Foi um alívio imenso sentir Erin em seus braços. Ele tinha decidido que se ela passasse sequer um minuto do horário combinado de voltar para casa, iria atrás dela. Assim que a viu saindo do carro, com Jared como motorista, ele se deu conta no mesmo segundo que algo de errado tinha acontecido. E a recebeu na metade do caminho.  

A Landfish o abraçou com tanta força que em outrora ele riria e faria uma piada sobre “como ela ia quebrar algumas de suas costelas um desses dias”. Entretanto, assim que ele ouviu o primeiro soluço, o lobo teve a sensação de ter levado um soco no estômago. 

— O que aconteceu, meu amor? — inquiriu, preocupado. 

Em passos vagarosos, Jared se aproximava do casal tendo a realização de que poderia ser Kim no lugar de Erin, e sentiu vontade de vomitar os hambúrgueres que tinha comido mais cedo. Ao contrário do que pensava ultimamente, o perigo dos vampiros não era o único que ameaçava a vida dos imprintings. Existiam monstros muito piores em peles humanas, que se disfarçavam de cidadãos de bem para fazer coisas que somente o pensamento repugnava. 

— Erin — chamou Embry novamente, tirando uma folha que estava presa em meio aos cabelos negros. 

Ela não quis se afastar, e o Call sentiu um leve incômodo no pescoço por estar tão inclinado. Decidiu então erguê-la em seus braços e tirá-la no chão, sorrindo com tristeza ao senti-la se agarrando ainda mais a ele. Se fosse em outras circunstâncias, estaria com um sorriso que não caberia no seu rosto. No entanto, apenas conseguia compartilhar do mesmo medo e desespero que exalava do corpo pequeno. 

— O padrasto da Erin… — começou Jared com receio. — Ele a atacou na saída do trabalho. 

O Cameron teve receio que Embry se transformasse com seu imprinting nos braços e acabasse a machucando sem intenção. Tinha visto o que havia acontecido com Emily quando Sam se transformara, e a mulher iria carregar consigo as marcas daquele dia para sempre. 

Para a surpresa de Jared, o Call nem ao menos se moveu. O que, na opinião do lobo, foi muito pior do que se ele tivesse gritado e quebrado tudo. O olhar frio de Embry deixou-o assustado por alguns segundos, mas ele conseguiu se recuperar a tempo de continuar a explicar. 

— Ele sofreu um infarto quando viu o Paul transformado em lobo… E vou agora atrás do Sam para cuidarmos disso. 

— Precisam de ajuda para falar com a polícia? — Embry perguntou mesmo que no fundo quisesse somente ficar colado a Erin pelos próximos dias. Sabia que a situação da morte de Carter era mais delicada do que pensava, e esperava que seu imprinting não precisasse ser forçado a dar qualquer depoimento. 

Jared negou com a cabeça. 

— Vamos dar um jeito de não envolvermos a Erin na história. O Sam é bom nisso, vai saber o que dizer. — O Cameron sorriu amarelo, um tanto constrangido, e se despediu rapidamente, deixando-os para trás. 

Ainda com a garota em seus braços, Embry entrou em casa sentindo a culpa tomar conta do seu coração. Se não tivesse esperado em casa com medo de estar sendo invasivo, teria conseguido proteger Erin e evitar que aquele maldito sequer tocasse nela. 

Sentada na mesa da cozinha estava Tiffany, que se levantou num pulo assim que viu seu filho entrando em casa com a Landfish nos braços. 

— Explico tudo depois — adiantou-se Embry, continuando na direção do quarto em que, agora, Erin e ele dividiam. 

Ele a colocou com cuidado na cama, e se afastou um pouco para conseguir checar se ela estava bem. Com cautela, arrancou mais um folha e um pequeno galho do meio de seus cabelos, enxugou o rosto molhado com um lenço umedecido que Erin gostava de deixar ao lado da cama e limpou as marcas de terra distribuídas por seus braços e pernas. Ao ver os arranhões em seus joelhos e cotovelos logo que tirou suas roupas para trocar por um pijama — ele imaginava que a quileute precisava mais dormir do que tomar banho —, Embry apertou as mãos em punho, sentindo a raiva deixar o seu corpo tremendo. 

Ao contrário de Paul, que vivia tendo acessos de raiva, o Call era um garoto sossegado que evitava confrontos o máximo possível. Sendo assim, não estava acostumado a experimentar tamanha fúria. Sua vontade era de dar um jeito de ressuscitar o desgraçado e matá-lo com as próprias mãos. De ir até onde o corpo estava para verificar com os próprios olhos a morte do maldito. A única coisa que o impedia de fazer isso era Erin. 

Seu imprinting estava precisando de sua presença naquele momento, e ele não seria egoísta de abandoná-la para buscar algum tipo de vingança bizarra que sua mente estava planejando. 

— Vem cá. — Erin o chamou, afastando-se para dar espaço na cama para que ele se deitasse ao seu lado. 

Embry respirou fundo, buscando calma, e não hesitou em se deitar, puxando o corpo pequeno do seu imprinting para o mais perto que conseguia. Precisava sentir seu cheiro e aproveitar sua presença. 

Segundos depois, Erin encostou a cabeça em seu ombro e se agarrou novamente a ele como se estivesse em mar aberto e seu corpo fosse o bote salva-vidas, finalmente se sentindo segura ao lado do garoto que ela amava com todo o seu coração. 

— Está tudo bem, meu amor — sussurrou, acariciando os cabelos macios. — Você está a salvo.


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