Entre Lobos e Monstros escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 27
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Capítulo 26

por N.C Earnshaw 

 

— PODE PARAR de dar um de stalker e entrar logo na droga dessa lanchonete? — disse Quil, exausto de esperar Embry assistir seu imprinting atender algumas mesas por mais minutos que a sanidade do lobo conseguia suportar. — Cara, eu tô cheio de fome! Se quiser continuar aqui fora observando a Erin feito um psicopata, vai nessa! Porque eu vou entrar nesse lugar e comer alguns hambúrgueres, e não tem nada que você diga…

O Call colocou a mão sobre a boca do melhor amigo, não aguentando mais a ladainha. Sabia que era estranho estar quase com a cara colada em uma das janelas, e tinha certeza que a idosa que estava sentada na mesma mais próxima ligaria para a polícia muito em breve. No entanto, assistir o quanto Erin era habilidosa se tornou algo tão prazeroso que ele se pegou parado ali por mais tempo que o recomendado. 

Ela era gentil com as pessoas e sempre arrancava sorrisos nas mesas em que passava. Seus passos eram leves e estáveis, não deixando qualquer chance de tropeços ou esbarrões mesmo quando algum cliente levantava de supetão ou deixava um talher cair da mesa. 

O rabo de cavalo permitia que ele visse mais do seu rosto, e Erin era tão linda que havia tirado o seu fôlego. Os olhos levemente puxados, os cabelos longos e lisos, sua estatura pequena, porém altiva... Ela era a mulher dos seus sonhos, e ele era um sortudo por tê-la na vida real. 

O tapa que Quil deu em sua mão o fez gemer de dor e tirar sua atenção da garota que estava no outro lado do vidro.

— Argh! Ficou maluco de tocar essa coisa na minha boca? Sua mão tem cheiro de merda de vaca e…

Embry resolveu ignorar o Ateara, e entrou na lanchonete sem esperar que o amigo o seguisse. Sabia que se permitisse que Quil começasse com um dos seus discursos, não terminaria nunca. 

— Ótimo melhor amigo você é, Embry Call — rosnou o garoto, sentando-se em frente a Embry na mesa e puxando o cardápio para cobrir o rosto com o intuito de não ter que olhar para o outro. — Talvez eu devesse mudar de melhor amigo e ir atrás do Jake na casa dos Cullens. Fraternizar com sanguessugas deve ser melhor do que ser tratado com tanto desprezo pelo cara que deveria ser meu parceiro. 

Embry revirou os olhos e riu baixinho, pois não era a primeira vez que ouvia aquilo. 

— Não. Vou fazer muito melhor…

— Ah, vai sim — cortou o Call, tomando o cardápio das mãos de Quil e colocando sobre a mesa. — Você vai calar essa boca gorda e tentar agir como uma pessoa decente. Estamos no trabalho da Erin e não quero constrangê-la. 

Quil fitou o amigo com descrença. 

— Não sei se esqueceu, mas da última vez que viemos aqui quase fomos expulsos a pontapés porque estávamos sem camisa. 

— E é por isso que estamos realmente vestidos dessa vez. 

O lobo quis vomitar ao entender o motivo de Embry ter insistido tanto para que ele colocasse uma blusa, e olhou ao redor à procura da vadia que tinha inventado aquela merda de código de etiqueta numa espelunca daquelas. Ele morreria antes de dar aquele prazer a ela, estando vestido naquela camiseta verde horrorosa. 

— Cara, você me dá nojo! A garota mal entrou na sua vida e já está ficando igualzinho ao Paul. 

— Como se você fosse muito diferente com a Claire — rebateu Embry, tentando fazer com que Erin percebesse sua presença. Sem sucesso. A garota não parecia nem sequer tê-lo notado. — Ainda tenho guardada aquela sua foto vestido de princesa no último aniversário dela… — Ele sorriu amplamente assim que viu a Landfish caminhando em sua direção. — Então se não quiser que eu espalhe, feche o bico pelos próximos minutos.

O Call deixou passar o resmungo que Quil soltou, uma vez que estava muito ocupada admirando seu imprinting. 

— O-oi — cumprimentou o lobo, apoiando o queixo com uma das mãos. Ele sentiu-se subitamente nervoso ao falar com Erin, como se fosse novamente a primeira vez com direito a frio no estômago, suor e uma leve gagueira. — Vi o bilhete que deixou na geladeira e aproveitei que o Quil queria comer para vir aqui te ver. 

Erin assentiu, e Embry estranhou o sorriso falso que ela carregava, assim como o semblante perdido tão pouco característico. Olhando bem de perto, a quileute parecia estar pensativa e levemente melancólica.

— Você está bem? — perguntou, preocupado. Ele fez menção de se levantar da cadeira para checá-la mais de perto, mas a mão de Erin o segurou na cadeira. 

— Estou bem. — Ela parou de tocá-lo no mesmo instante, como se a pele de Embry estivesse pegando fogo ou com algum tipo de doença contagiosa. E puxou o caderninho que guardava no bolso da frente do avental para disfarçar sua reação exagerada. — O que vão pedir? 

— Está se sentindo doente? Se quiser, posso te levar para casa ou até mesmo arranjar alguém para ficar no seu lugar. Acho que a Kim está precisando de uma grana e não vai se importar em pegar o seu turno. 

— Embry — interrompeu a Landfish, apertando o lápis que tinha em mãos com força. — Eu já disse que estou bem. Não precisa pedir nada pra ninguém. 

— Tenho certeza que seu chefe não vai se importar se disser que não está se sentindo bem. — Embry voltou a insistir, ganhando um olhar enviesado de Quil. O Ateara tinha percebido que o modo estranho que Erin estava agindo em nada tinha a ver com doença. — Posso conversar com ele, e até mesmo pedir para o Sam…

— Não preciso da sua ajuda, Embry. Na verdade, eu agradeceria se parasse de se meter nos meus assuntos. Não quero que fale com o meu chefe ou peça nada para o Sam. Eu não sou criança ou uma donzela indefesa. Sei resolver meus próprios assuntos. 

— Ei! — intrometeu-se Quil ferozmente ao ver seu amigo afundar cada vez mais na cadeira. A expressão de Embry era de uma tristeza desconsolada, além de uma dor profunda que apenas um lobo que tinha um imprinting conseguia compreender. — Não precisa falar assim com ele, tá legal? Ele só está tentando ajudar! 

Erin suspirou, arrependendo-se no mesmo segundo ao ver os olhinhos castanhos brilhando com lágrimas. Ela estava sendo muito má com Embry, e nem ao menos sabia o lado dele de toda aquela história. 

— Sinto muito. Estou um pouco estressada hoje. — Ela tocou o ombro de Embry para assegurar-se que ele não estava magoado. — Tive um encontro não muito agradável com a Leah antes de vir para o trabalho. 

— Com a Leah? — perguntaram os dois garotos em uníssono, chocados ao ouvir o nome da Clearwater sair pelos lábios de Erin. — O que ela queria?

— Meu intervalo é daqui uns 15 minutos. Pode me esperar nos fundos? — A Landfish fixou os olhos em Embry, não dando aberturas para Quil fazer as perguntas que ele tanto queria. Além de não querer chamar atenção do seu chefe ou dos clientes, também não ansiava discutir aquele assunto tão delicado com uma pessoa que tinha tão pouca intimidade. Apesar do Ateara ser o melhor amigo de Embry, contava nos dedos de uma mão as vezes em que ela o tinha visto ou falado diretamente com ele por mais de dois minutos. — Te levo alguns hambúrgueres. E posso chamar a Andreia para atender o Quil enquanto conversamos.

Embry assentiu, sem dar a mínima para a boca entreaberta do seu amigo ou sua expressão de completa revolta. 

A parte de trás da lanchonete era um lugar tão fedido que as narinas do lobo arderem. E apesar de estar acostumado com o seu olfato apurado próximo a coisas fedorentas — vampiros, por exemplo —, o odor que vinha de dentro daquelas latas de lixo o fazia questionar-se de qual espécie era o bicho que estava morto ali. O ar fresco que vinha da floresta atrás da lanchonete não era de muita ajuda, no entanto, a vista direta para o mar de La Push tirava sua atenção da visão nojenta daquele lixo. 

— Lembrei do quanto cheira mal aqui fora — explicou-se Erin assim que Embry virou para olhar para ela. O clima entre ambos estava tenso, e a garota optava por respirar pela boca, deixando tudo ainda mais desconfortável. — Achei melhor deixar os hambúrgueres para depois. 

Embry assentiu e voltou a olhar para frente. Em seu interior, ele já sabia o que Leah tinha dito a Erin — apesar de não ter entendido os motivos da loba em se intrometer em seu relacionamento daquela forma. Contar sobre o imprinting estava em seus planos para aquele dia, tendo ele ensaiado o que iria falar diversas vezes, entretanto, nada o tinha preparado para aquilo. Nada o tinha preparado para que a Landfish saber sobre o imprinting pela boca da pessoa que mais odiava aquela magia. 

Com os punhos cerrados ao lado do corpo, o Call se preparou para o golpe que levaria. Ele sabia que faria qualquer coisa que Erin quisesse — inclusive sumir da vida dela para sempre. 

— Espero que não tenha acreditado em tudo o que a Leah te contou. 

— Por que não me contou antes, Embry? — A garota cruzou os braços e colocou-se ao lado do quileute. — Por que me deixou descobrir por outra pessoa? 

— Eu ia te contar! — O lobo assistiu com tristeza o rosto de Erin se tornar uma máscara cínica, deixando-o desesperado. Queria tanto que ela acreditasse nele. — Eu ia! Hoje mesmo. Eu estava planejando te pegar depois do trabalho, comprar comida fora e te contar durante o jantar o quanto eu te amo e o quanto sou grato ao imprinting por ter me levado até você. 

A sua maior vontade naquele momento era abraçar aquele garoto e nunca mais soltá-lo. Ele era lindo, carinhoso e estava dizendo que a amava, e ela também o amava com tudo que tinha. A lembrança do seu beijo a atormentava, e ela amaldiçoou Leah Clearwater em pensamento por ter estragado tudo. Depois do que ela disse sobre o imprinting ser uma obrigação, a Landfish não se via aceitando continuar o que tinha com Embry. Porque o amava, queria que ele fosse feliz e se priorizasse. 

— Bem, outra pessoa chegou na sua frente e fez o serviço, não é? — Ela se encolheu, apertando os braços ao redor de si. 

O silêncio que recaiu sobre eles era torturante. E durou tanto tempo que Erin procurou em sua mente algo para dizer. Ela não tinha se decidido completamente sobre o que faria. Parte dela a dizia para aceitar o imprinting, parar de se torturar e ir ser feliz com o homem que amava, e a outra se agarrava a todas as coisas que Leah havia dito. 

Erin abriu a boca para perguntar se era verdade que Paul tinha quase morrido rejeitando Wendy, mas se surpreendeu ao ver o Call se afastando em passos rápidos em direção à floresta.

— Ei! Onde está indo? — gritou, saindo correndo atrás dele sem pensar duas vezes. Mesmo dando tudo de si, ela não conseguiu acompanhá-lo. Suas pernas eram curtas demais e Embry estava muito determinado a chegar rapidamente até qualquer que fosse o lugar onde ele estava marchando. — Embry Call, volte aqui agora mesmo

O lobo parou, e finalmente Erin conseguiu alcançá-lo. Ela se colocou como uma barreira entre o corpo de Embry e a borda da floresta, e teve que olhar para cima para conseguir encarar o rosto do quileute.

— Por favor, Erin, me deixe ir. — A voz do Call estava embargada, e ele preferiu evitar olhar para Erin, constrangido pelas lágrimas que queriam escorrer pelo seu rosto. — Não quero ouvir… — Embry suspirou, passando as mãos pelos cabelos. — Não posso conversar agora, tá legal? Preciso de um tempo e preciso ir falar com outra pessoa antes de termos a nossa… conversa. 

— Não pode ir atrás da Leah, Embry. O que você vai fazer? Vai bater nela? — A Landfish se repreendeu mentalmente. Apesar de estar irritada com ele, não queria deixá-lo ainda mais atormentado, e muito menos gostaria que ele achasse que ela pensava nele daquela maneira tão baixa. Embry era, apesar dos segredos, a pessoa mais incrível que já tinha conhecido. — Desculpa. Desculpa mesmo. É que…

— Vou falar com o Sam — cortou o lobo. Não queria ouvir mesmo o que Erin tinha para dizer sobre aquele assunto. Diante de tudo aquilo, ele sabia que o que escutaria acabaria com o seu coração. E sobre bater na Clearwater… Bem. Era um pensamento bastante tentador, mas ele sabia que não conseguiria tocar em uma mulher mesmo que ela fosse uma loba poderosa e uma filha da mãe má e intrometida. — E também quero trocar uma palavrinha com a Leah. O que ela fez…

— Ela me contou a verdade! Não do jeito apropriado, acredito, mas não se pode negar que tudo que a Leah falou é verdade. Se não fosse, você não estaria agindo desse jeito. — Erin gesticulou com as mãos, apontando para ele. 

Embry negou com a cabeça, engolindo o bolo que se formava em sua garganta. 

— A Leah não mentiu, Erin — começou ele, observando como a expressão dela mudou para uma ofendida. — Mas a visão que ela tem do imprinting é baseada nas experiências dela. E tudo que ela falou é verdade sim, mas é a verdade da Leah, não do resto de nós. Se você perguntar a qualquer um dos lobos que teve um imprinting se eles mudariam alguma coisa, eles não pensariam duas vezes em dizer não. Eu não pensaria duas vezes. 

— Isso é porque vocês são obrigados a pensar assim. 

— E você se importa com isso? — Embry não quis soar tão grosseiro, mas a teimosia de Erin não acreditar em nada do que ele estava falando o deixou irritado e magoado. — Eu vou te amar até o dia em que eu morrer, independente de qualquer coisa. Eu vou pensar em você, Erin, em cada segundo do meu dia mesmo você estando a quilômetros de distância. Vou te querer e te proteger ainda que me odeie e me mande para o inferno. Vou sonhar com você todas as vezes que eu fechar meus olhos… Isso nunca vai mudar. O meu amor por você nunca vai diminuir. 

O garoto não segurou mais as lágrimas, deixando-as escorrer livremente pelo seu rosto. Queria tirar do seu peito um pouco daquela angústia, e evitava pensar em como se sentiria quando Erin rejeitasse o imprinting e o proibisse de se aproximar. 

— Você é o meu amor. A única mulher que eu amei e a única que sempre vou amar. E é, o imprinting me deu coragem de me aproximar e te enxergar com mais clareza, mas o que eu sinto por você é real. — Ele pegou a mão pequena na sua, levando ambas até o seu peito esquerdo. — Tão real quanto as batidas do meu coração. 

Embry olhou bem no fundo dos olhos dela, esperançoso de que algo tivesse mudado. Que a sombra plantada por Leah estivesse completamente destruída. No entanto, para seu completo desespero, ainda estava ali. Atrás dos olhos castanhos, o lobo ainda conseguiu enxergar a dúvida.

— Se eu disser que não quero… — Erin mordeu o lábio inferior, recolhendo sua mão. — estar com você. O que acontece? Você…

Ouch, pensou Embry. Ele enxugou as lágrimas que molhavam seu rosto com as costas das mãos, uma vez que não queria que Erin sentisse pena da sua situação e acabasse passando por cima dos seus próprios desejos porque o quileute a tinha ajudado em momentos de desespero. Afinal, ele queria o seu amor, não a sua pena.

— Não precisa se preocupar com isso — garantiu, evitando fitar o rosto dela. — Acho que a Leah deve ter te contado sobre o que aconteceu com o Paul…

Contou. — A voz dela saiu mais fina que o normal, fazendo-a limpar a garganta e repetir: — Contou. 

— O Paul quase morreu porque ele tentou rejeitar o imprinting, o mesmo não acontece quando é ao contrário. — Embry omitiu a parte em que não sabia de certeza o que aconteceria se ela nunca quisesse vê-lo e evitasse qualquer contato. Não podia colocar aquele peso nas costas de Erin sem saber de todos os fatos. — Como eu disse antes, não precisa se preocupar. 

Era uma tortura continuar ali sem poder demonstrar seus verdadeiros sentimentos. Ele queria gritar, queria quebrar alguma coisa e queria, principalmente, chorar. Então, antes de se constranger ainda mais, lançou para Erin um sorriso falso e resolveu se despedir. 

— Nos vemos em casa. — Ele pausou, parecendo ficar desesperado. — Quero dizer… Ainda vai estar em casa quando eu chegar? 

Erin levou alguns segundos pensando naquela resposta. 

— Vou. — O pensamento de não encontrar com Embry e seguir a rotina que iniciaram nos últimos dias partiu seu coração. — E Embry… Só quero que saiba que ainda não decidi nada. Fui pega de surpresa e estou digerindo a situação. Não pense que… 

Não pense que não te quero, quis dizer ela. Mas desistiu no último segundo. 

A Landfish deixou que ele se fosse. Embora cada fibra do seu corpo gritasse para que ela chamasse Embry de volta e se agarrasse a ele como uma garotinha a seu ursinho de pelúcia, não fez nada mais que dar as costas e voltar ao trabalho. 

Enquanto limpava uma das mesas, um uivo sofrido fez todos os clientes se espantarem. Quil, que ainda comia, deixou seus hambúrgueres de lado, jogando algumas notas em cima do balcão, e correu para fora como se o mundo estivesse acabando. 

Erin não deixou de notar o olhar furioso que o Ateara a lançou antes de sair pela porta. 

— Garota, está surda? — Um empurrão no seu ombro a fez despertar dos seus pensamentos, e a Landfish sentiu seu estômago revirar ao dar de cara com Andy quase fungando no seu cangote. — O cliente da mesa cinco está te chamando já faz horas! 

A mulher estalou os dedos várias vezes em frente ao rosto dela. 

— Vamos lá! Volte ao trabalho! Hoje você não tem a lambisgoia da Tasha para te defender. — Ela, claro, sussurrou a última parte.


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