Entre Lobos e Monstros escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 16
Colegas de quarto




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Capítulo 15

por N.C Earnshaw

 

EMBRY ENXUGOU O SUOR das mãos no tecido da sua calça jeans, aguardando ansiosamente que alguém abrisse a porta. Após sua mãe lhe dar a permissão para convidar Erin para morar em sua casa, ele não aguardou muito tempo, pegou o carro e correu até La Push, indo diretamente para a casa de Paul. 

— Onde ela está? — A pergunta saiu com urgência, e o lobo deixou as formalidades de lado quando viu que era Paul que estava recepcionando sua entrada. — Posso vê-la? 

O Lahote revirou os olhos, e deu espaço para que ele passasse. 

— Está no quarto. Dormindo. — O tédio marcava cada palavra sua. — A Wendy acabou dando uma espécie de calmante natural a ela quando percebeu que ela não iria parar de chorar. 

O coração de Embry apertou, e ele atravessou a sala de estar, sendo guiado pelo único coração batendo — com exceção dos corações dos lobos presentes. 

Não se importava nem um pouco se estava sendo mal-educado ao invadir sem permissão. Não achava que Paul se importava com aquele detalhe.

O quileute pôde ouvir os passos do seu irmão de matilha o seguindo até o último quarto do corredor. Ele abriu a porta sem pensar muito nas consequências. Se Erin acordasse e o pegasse encarando-a feito um esquisito, nunca aceitaria sua proposta de dividirem uma casa. 

O amor que ele sentia por Erin quase o sufocava. Era um sentimento tão forte e profundo, que tomava conta de cada célula do seu corpo. Ele não conseguia imaginar sua vida sem ela. O sofrimento do seu imprinting era o seu sofrimento. E nada no mundo todo, importava mais que ela. 

O rosto inchado foi a primeira coisa que o garoto notou. Mesmo adormecida, ainda possuía um semblante entristecido que partiu seu coração. Ela parecia mesmo ter chorado durante horas. 

Em posição fetal, Erin estava coberta num montinho de cobertores quentes, deixando suas bochechas vermelhas pelo calor. 

— A Wen exagerou nos cobertores — comentou Paul, tocando o ombro de Embry. — Estarei na sala se precisar de qualquer coisa. 

O quileute assentiu, sem conseguir tirar os olhos da figura frágil à sua frente. Ele esperou que o Lahote fechasse a porta do quarto, e se aproximou da cama em passos lentos. 

Embry desejou ardentemente que pudesse pegá-la em seus braços, mas se refreou. Não queria estragar o mínimo avanço que tinha dado no relacionamento de ambos. 

Uma mecha de cabelo cobria os olhos, e isso ele não conseguiu se conter em fazer. Delicadamente, com a ponta dos dedos, afastou o cabelo macio e colocou atrás de sua orelha. 

Ele não soube quanto tempo ficou observando-a dormir. Estar tão próximo a ela, após tanto tempo, acalmou sua alma. O lobo não imaginava o quão tenso seu corpo estava, até senti-lo relaxado pela primeira vez em semanas. 

Embry sentou no espaço diminuto que Erin tinha deixado. Puxou o ar com força, apreciando o aroma delicioso da pele dela, e encostou as costas na cabeceira. Não fechar os olhos parecia quase impossível. 

Ele não se deu conta de ter pego no sono até ouvir uma voz doce chamando seu nome. 

— Embry? O que está fazendo aqui? — Erin pareceu estar fazendo a pergunta mais para si mesma, que para ele. Então mesmo que estivesse totalmente desperto, manteve-se em silêncio. 

Ele ouviu ela erguendo metade do corpo, e afastando os cobertores para o lado. Assim que sentiu o toque da pele dela contra a pele do seu braço, o quileute experimentou uma sensação de quase morte. Por alguns segundos, sua alma tinha saído e voltado. 

Embry abriu os olhos vagarosamente, não querendo assustá-la, e não escondeu o sorriso logo que a viu encarando-o com um olhar de confusão. 

— O que está fazendo aqui? — cochichou Erin. 

— Vim ver se você estava bem. — Ele não se importou com os questionamentos que poderiam surgir ao dizer aquilo. Apenas desejava que ela se sentisse querida por alguém. — Encontrei o Paul mais cedo e…

— E ele fofocou tudo, não foi? — Uma sombra passou por seus olhos, e Embry tratou logo de concertar. 

— Não — negou, balançando a cabeça e se endireitando na cama. — Ele apenas me falou que você estava ficando aqui porque… — Embry hesitou. 

— Tudo bem. — Ela deu de ombros, desviando o olhar. — A essa hora todo mundo da reserva já deve estar sabendo que fui expulsa de casa. 

O quileute tocou a mão dela que estava pousada ao lado de sua perna. Sentiu-se no dever de dar apoio a ela de alguma forma — mesmo que não pudesse fazer o que queria de verdade. 

— Essas pessoas não te merecem, Erin. Não se sinta culpada por algo que não é sua culpa. Os erros deles, não são seus também. Nós não podemos ser condenados pelos vacilos dos nossos pais. 

Ele se repreendeu ao ver os lábios dela começarem a tremer. Talvez tivesse falado a coisa errada...

— É injusto, sabe? Eu amo a minha mãe mais que qualquer coisa. E tudo que ela me deu em retorno foi me abandonar no momento que eu mais precisava. Era para ela me apoiar! Era para me escolher acima de todo mundo! — As lágrimas escorriam pelo rosto dela livremente. A garota não entendia porque estava se sentindo tão segura para desabafar. Mas a presença de Embry; por mais estranha que fosse, estava deixando-a livre para tirar aquele peso do seu coração. — Sinceramente, não consigo entender esse feitiço que o Carter tem sobre ela. Por mais que ele faça coisas desprezíveis e a trate mal, ela sempre prioriza ele. Ela tenta o tempo todo justificar os erros dele, criando na mente dela uma pessoa que não existe. Eu cansei, Embry. Cansei de ser uma boa filha e ser deixada de lado. — Ela apertou os cobertores com força. — E sabe o que mais me dói? É que se ela me procurar neste mesmo instante precisando de ajuda, eu não vou conseguir negar. 

Erin cobriu o rosto com as mãos, envergonhada por estar desabando em frente a alguém que mal conhecia. Apesar de não ter tido muito contato com o garoto ao seu lado, seu coração parecia reconhecê-lo, não permitindo que ela sofresse em silêncio. 

O Call mandou para o inferno sua timidez e seu medo de rejeição. Talvez Erin socasse sua cara e o expulsasse dali a pontapés. Entretanto, ele não conseguia ver seu amor daquele jeito e não fazer nada. 

Sem hesitação, ele puxou o corpo pequeno contra o seu, apoiando as costas dela em seu peito. Para o seu alívio, Erin se deixou ser consolada, e agarrou-se a ele como se ele fosse algum tipo de âncora que a mantivesse na terra. 

Ele acariciou os cabelos negros, beijou o topo de sua cabeça e afagou as costas dela até que o choro cessasse. 

— Não tenho nem para onde ir — admitiu ela, com a voz embargada pelo choro. — E não quero ficar aqui atrapalhando…

Embry suspirou, procurando coragem. 

— Você pode ficar comigo. — Ele segurou a cabeça dela contra o seu ombro. Se Erin olhasse para o seu rosto, o lobo não conseguiria falar o que tinha para dizer. — A minha mãe passa a maior parte da semana em Port Angeles, então deixa a casa para mim a maior parte do tempo. Você pode ficar com um quarto pra você, e vai ter toda a privacidade que precisa. Se não quiser me ver o tempo todo, pode até falar que arranjo um lugar pra ficar. A minha mãe já aceitou que você ficasse com a gente, então…

— Aceito — falou a Landfish, baixinho.

Embry levou mais de dois minutos para processar o que tinha ouvido. 

— O quê? 

— Aceito morar com você, Embry Call. 

Mesmo sentindo vergonha, Erin aceitou a oferta de Embry sem nem pensar duas vezes. Wendy e Paul tinham feito muito por ela, no entanto, ela não possuía estômago o suficiente para assistir o casal todos os dias. 

Ela tinha entrado em consenso com seu coração, que não estava mais apaixonada por Paul — talvez nunca tivesse sido. Entretanto, todas as vezes que ela via a maneira que ele tratava a noiva, a Landfish sentia seu interior se revirar com ciúmes. Tudo que ela mais desejava, era que alguém a amasse daquela maneira tão intensa. 

— A minha mãe não está em casa — avisou Embry. Eles tinham acabado de estacionar em frente à casa dele, e a garota não tinha lhe direcionado nem sequer um olhar desde que desfizeram o abraço e foram se despedir de Wendy e Paul. — Não sei quando ela volta do trabalho, então talvez demore alguns dias até que vocês possam se ver.

Ela assentiu, desligando o carro. 

— Você sempre fica sozinho? 

— A maior parte da semana. Às vezes o Quil vem pra cá para jogarmos vídeo-game, e sempre acaba dormindo. — Embry limpou a garganta. — Mas posso pedir a ele para não vir mais. Não quero que se incomode com o barulho. 

Erin sorriu; não conseguia evitar quando o garoto ao seu lado conseguia ser tão fofo. 

— Está tudo bem. A casa é sua…

— Agora é sua também — interrompeu o Call, esperando que ela se sentisse mais à vontade. 

— E eu gosto do Quil. Ele é um cara legal. — A Landfish continuou como se ele não tivesse falado nada. 

A casa de Embry não era tão espaçosa quanto a de Paul. Era um lugar simples com apenas um andar — muito comum na reserva. A tintura da frente estava velha e descascada, mas não parecia um lugar abandonado como a frente da sua ex-casa. Além da porta de entrada, ao lado da casa, tinha uma entrada para o que a Erin achou ser uma garagem. Nenhum carro ou moto — além do seu, estava estacionado nas proximidades. Assim como todas as residências de La Push, o vizinho mais próximo devia estar a, mais ou menos, quase um quilômetro dali. 

— A TV pega uns canais legais — comentou o lobo parado atrás dela, esperando-a avaliar a sala de sua casa. — O sofá é confortável, mas o Quil diz que as almofadas são duras como se tivessem caroços dentro. Então se quiser tirar um cochilo aqui, pegue um travesseiro. 

Sorrindo com timidez, Embry começou a sua tour pela casa. Queria que ela conhecesse tudo e se sentisse confortável. 

— Aquela é a poltrona preferida da minha mãe. Ela quase sempre está nela quando fica em casa. Ultimamente, ela não vem muito para La Push, então…

— Não se sente solitário ficando sozinho por tanto tempo? — Erin perguntou antes que pudesse se controlar. Ela odiava ficar sozinha, então não conseguia imaginar como alguém se sentia à vontade ficando sozinho por um período tão longo. 

— Já me acostumei. — Ele deu de ombros, e a chamou para ir até o corredor em que ficavam os quartos. — O quarto da direita é o da minha mãe, o banheiro fica no meio e o da esquerda é o seu. 

Embry abriu as portas para que ela pudesse olhar dentro. O quarto de Tyffany parecia ser o maior da casa. Era limpo e de muito bom gosto, mas parecia inabitado há algum tempo. 

— Onde você vai dormir? — inquiriu a Landfish assim que se deu conta que ele chamou o outro quarto de “seu”. 

— No quarto da minha mãe. 

— E nos dias que ela estiver em casa? — Não queria atrapalhar, muito menos tirá-lo de sua própria cama. 

— Eu me viro. — Ele ignorou o olhar dela e abriu a porta do quarto à esquerda. — Está um pouco bagunçado — disse Embry com as bochechas coradas de vergonha. — Posso tentar limpar, se quiser…

— Está tudo bem — cortou ela. — Amanhã não vou trabalhar, então vou ter tempo de organizar tudo. 

Erin bisbilhotou o cômodo sobre o ombro dele. Tinha uma cama de solteiro com lençóis embolados, um guarda-roupa pequeno no canto, e uma pequena cômoda do lado direito do quarto, onde vários carrinhos em miniatura estavam expostos. 

— Minha mãe me deu de presente de aniversário quando eu era criança — explicou ao ver o olhar dela. Não queria que Erin o achasse infantil. A diferença de idade entre eles podia ser um problema para ela. 

Eles precisaram dar apenas duas viagens até o carro para pegar as coisas dela. Era impressionante a quantidade de peso que Embry conseguia carregar com apenas duas mãos. Assim que colocaram os objetos no canto do quarto, a garota suspirou. 

— Prometo que não vou abusar da hospitalidade. Só preciso de algumas semanas para juntar uma grana e alugar um apartamento aqui perto. Talvez se não der certo, eu tenha que procurar um emprego em outra cidade, assim como a sua mãe fez. 

Embry arregalou os olhos. Odiou a sensação que experimentou ao imaginar seu imprinting indo para longe. 

— Não precisa se preocupar — garantiu. — Você pode ficar o tempo que quiser. 

Você pode ficar para sempre, pensou ele. 


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