What makes you beautiful escrita por juuh godoy


Capítulo 7
É complicado




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14 de outubro de 2017.

Lily.

 

     -Pai, eu não posso ir sozinha? –ele me olhou com raiva.

     -Não, Lily Evans, você não pode. Eu estou deixando você tocar com seus amigos adolescentes em um bar, mas não me peça para fingir que não está indo em um lugar cheio de pessoas mais velhas e que estão lá para beber. Eu vou com você e não se fala mais nisso. –suspirei.

     -Tudo bem.

     -Agora, vá ver se Petúnia quer ir conosco –abri a boca para reclamar –eu vou chamar sua irmã, Lily. Eu honestamente não sei o que aconteceu com vocês –fechou os olhos em sinal de irritação.

     -Vocês eram tão amigas em Londres –mamãe completou –mas chegamos aqui e as duas mudaram completamente. Não conversam mais, não se apoiam.

      -E fingem que não moram juntas –papai assentiu –Achamos que a mudança para a cidade pequena ia ser ótima para vocês. Não sei onde erramos.

     -Papai...-mordi o lábio inferior, aflita –Não fale assim. Vocês dois não erraram em nada, nós duas erramos. Deixamos outras amizades entrarem e fomos nos deixando de lado no processo. E agora parece meio tarde para conciliar. Somos muito diferentes.

     -Nunca é tarde demais para tentar, querida –minha mãe segurou as minhas mãos –e uma de vocês precisa tomar o primeiro passo. Se fosse com Lene, você ia deixá-la ir sem nem tentar trazê-la de volta para a sua vida?

     -De jeito nenhum –neguei veemente.

    -Então por que quer deixar sua irmã ir desse jeito? Ela vai para faculdade ano que vem, e talvez, se vocês não tentarem se aproximar agora, vão acabar tendo filhos sem saber notícias da uma da outra. Você não quer privar seu filho de ver a tia, quer?

     -Mãe –gemi –filhos? Que filhos? Eu só tenho 16 anos!

     -Nada de filhos por agora –papai arregalou os olhos –Não dê ideias, Helena!

     -Não está mais aqui quem falou –levantou os braços, em rendição.

     -Ok –bufei –vou chamar Petúnia para ir ao show.

     -Se ela quiser, o Vernon pode ir também –mamãe completou.

     -Helena –papai repreendeu –nada de Vernon. Deus me livre daquele namorado irritante que sua filha arranjou.

     Fui subindo as escadas e ouvindo as vozes diminuírem.

     -Minha filha? Deixa eu te contar que eu não tenho nada a ver com o mau gosto da nossa filha, Richard. E se tivesse, lembra com quem eu me casei? –papai bufou.

     -Eu não estava falando de mim. Lembra daquele seu namorado esquisito, o Laurent? –ouvi risos de mamãe.

     -Ele não era esquisito, querido. Você só ficou com ciúme!

     -Ciúme?! Daquele louco?

     Parei de ouvir os sussurros deles quando me vi em frente a porta de minha irmã. Respirei fundo e bati.

     -Entra –ela disse.

     -Oi –murmurei, sem graça.

     Nossa, fazia tempo que eu não entrava ali. Desde quando Petúnia tinha aquele gosto tão...fru fru? Era tudo rosa, cheio de babados. Parecia um quarto de princesa.

     Não que isso seja ruim. É só...diferente.

     -Oi –ela tirou os olhos da roupa que estava tirando do closet para me olhar atentamente –O que você quer?

     Nossa, e ficou grossa assim desde quando?

     -Eu...hum...-respirei fundo antes de continuar –acho que você está sabendo que montei uma banda com os meus amigos.

     -Quem não está sabendo? Vocês tocaram na escola –ela revirou os olhos, e sentou-se na cama.

     -É...exatamente. Estamos tentando crescer com a música e conseguimos marcar alguns shows.

     -Vai para a vovó de novo esse fim de semana? –pela sua expressão, parecia querer saber onde eu queria chegar.

     -Não. Vamos tocar em um pub aqui perto. –sorri levemente, para tentar tirar a tensão instalada.

     -Legal –franziu a sobrancelha, ainda sem entender.

     -Eu vou com o papai –ela assentiu lentamente –e queríamos saber se quer ir conosco.

     Ela arregalou os olhos para mim antes de começar a rir. Muito. Histericamente.

     -Ir...com você...em um...show? –ela riu tanto que as lágrimas começaram a cair sem parar.

     Esperei pacientemente que ela se recompusesse, com os braços cruzados na frente do peito, na defensiva.

     Era só dizer que não queria ir, precisava mesmo daquele showzinho para me humilhar?

     -Você quer ir ou não? Pode chamar o Vernon –fiz uma careta.

     -Chamar Vernon? Para um show? –ela me olhou incrédula –Lily, você enlouqueceu? De onde você tirou que eu iria querer passar meu sábado a noite com você e seus amiguinhos –a última palavra foi dita de forma amarga –ouvindo música ruim?

     -Música ruim? –eu não pude acreditar na cara de pau dela.

     -Ah, convenhamos –girou os olhos –vocês são bem mais ou menos. As músicas são muito repetitivas e chatinhas, sem contar que nenhum de vocês têm presença de palco.

     -Era só ter dito que não queria ir –murmurei.

     Virei as costas e saí, batendo a porta.

     Ok, aquilo não era maduro, mas fala sério! Eu tive que ficar ali, ouvindo minha queridíssima irmã mais velha dizer que eu canto e toco mal, que minha banda não vai chegar em lugar algum e que minhas músicas e de James são “chatinhas”?

     O pior é que eu não consegui nem responder à altura, de tão chocada que fiquei. Que idiota, Evans.

     -E aí? –papai perguntou, quando terminei de descer as escadas –Ela vai?

     -Não, ela tem mais o que fazer. –peguei minha bolsa e liguei para Lene.

     —Oi, amiga—ela me cumprimentou.

     -Lene, que horas é para ir? Você já saiu?

     -O que aconteceu?

     -Briguei com Petúnia, nada demais –vi pelo canto do olhos meus pais se entreolharem –Meu pai vai me levar, quer carona?

     -Não precisa. Vou com Sirius na moto e James vai levar os instrumentos na caminhonete de Fleamont. Alice e Frank vão levar Remus.

     -Tudo bem então. Que horas eu saio? –olhei para o relógio e estava marcando 18:22.

     —O mais rápido possível—ouvi o ronco de uma moto —Já estamos indo. Você precisa estar lá até às 19hs, ok?

     —Já estou pronta –fui para a frente do espelho e analisei meu look –Não vou me atrasar.

     Estava com uma calça jeans justa, de cintura alta, um cropped vermelho e um all star da mesma cor. Mais cedo, Alice tinha passado aqui e me ajudado a decidir tudo.

     -Vou só esperar meu pai tomar banho e já vamos.

     -Ok, te esperamos lá. Beijo.

     -Beijo, amiga. –desliguei –Papai, preciso estar lá em meia hora.

     -Estou indo –cantarolou, subindo as escadas.

     -Filha, o que aconteceu? –mamãe perguntou, me chamando para sentar ao seu lado no sofá.

     Suspirei pesadamente, me preparando mentalmente para a enxurrada de perguntas.

     -Petúnia foi grossa e só –fui vaga.

     -Seja lá o que ela tenha te dito, machucou. Estou vendo em seus olhos –me puxou para perto –Não quer conversar sobre isso? Ou sobre James?

     -James? –enrijeci em seus braços –O que tem ele? O que ele tem a ver com alguma coisa?

     -Vocês estão diferentes um com o outro, filha. Não pense que eu não notei. Você não passa mais horas e horas na casa dos Potter e ele não vem sorrateiramente com aquele cachorro para cá mais.

     Suspirei, me aninhando ao seu corpo.

     Pela primeira vez, senti a necessidade de me abrir com alguém.

     E eu sabia que podia confiar em minha mãe.

     -Eu gosto dele –uau, foi a primeira vez que admiti isso em voz alta.

     Senti meu corpo inteiro arrepiando e um incômodo no estômago. Uau, eu realmente gosto de James, e não só como amigo.

     -Eu também gosto –ela riu fraquinho –O que você está me dizendo? Está apaixonada por ele?

     -Estou. –senti meu estômago revirar.

     -Ohh, querida –ela me abraçou forte –Isso é ótimo. James é um bom rapaz, e vocês são muito amigos. Tenho certeza que isso pode dar certo.

     -Ele está namorando a prima de Marlene –bufei –Emmeline Vance.

     -Emmeline? Aquela que te trancou no banheiro na sétima série? –ela se afastou para me olhar.

     -A própria –bufei novamente –Não sei o que ele vê nela. Quando começaram a sair, ele parou de falar com a gente. Pelo visto, ela tem muitos compromissos e precisa dele para todos. James parou de ir para os ensaios, saiu da banda indiretamente...

     -Então foi por isso que vocês ficaram um mês inteiro sem conversar? –indignou-se.

     Ela sabia que tínhamos brigado, visto que me obrigou a ouví-lo quando veio falar comigo, mas não tinha detalhes do que tinha ocorrido. Até agora.

     -Foi! –respondi revoltada.

     Meu tom foi meio cômico, por isso, nos entreolhamos e rimos fracamente.

      –Porém, pediu “desculpa” essa semana e quis voltar para a banda. Na verdade, desculpa é uma palavra muito forte. Só pediu uma outra chance.

     -E vocês aceitaram? –assenti.

     -Marlene foi a mais difícil, você sabe como ela é rancorosa, mas aceitou também. Ele vai para o show hoje. –ela me olhou apreensiva.

     -Isso não é bom?

     -É –dei de ombros.

     -Não está parecendo. –fez uma análise minuciosa da minha expressão facial.

     -Ah –pensei antes de verbalizar o que eu sentia –eu gosto de tê-lo por perto de novo, de cantar com ele. Só que...é tão difícil! Ele está com a Vaca Vance –ela me repreendeu com o olhar e limpei a garganta –quero dizer, com a Emmeline, então ele meio que se afastou de mim. Não me abraça mais, não faz questão de ir na sorveteria comigo, parou de me dar os chocolates da TPM.

     -Oh, amor, eu sei o tanto que isso deve estar sendo complicado para você, mas pensa bem: James te mimava muito. Você sempre foi a garota favorita dele, e agora está tendo que dividir o posto.

     -Esse é o problema. Eu não estou dividindo o posto, eu fui passada para trás. Ele não senta comigo mais nas aulas de física que ele sabe que eu tenho dificuldade, não fica com a gente no almoço, nada. Até as roupas dele estão diferentes!

     -As roupas? –minha mãe me olhou sem entender.

     -É –revirei os olhos –ele começou a usar uns jeans caros, ao invés daqueles surrados de sempre. Tirou aqueles tênis de playboy para usar os chiques, dignos de casamento. Se a camisa não for mais de 500 libras, ele não usa. Não sei o que está acontecendo!

     -Amor, ele está passando por aquela fase da adolescência.

     -Aquela fase? Que fase? –olhei para ela com um grande ponto de interrogação na expressão.

     -Lembra quando, aos 12 anos, você mudou todo o seu guarda roupa? Tirou todos os vestidos e substituiu por saias jeans e leggings coloridas por baixo? –fiz uma careta.

     -Nem me lembre disso. Queimar as fotos da época não foi suficiente.

     Ela riu alto e eu tive que acompanhar.

     -Está vendo? Na adolescência, nós sentimos uma vontade louca, do dia para noite, de mudar tudo. Ele está passando por isso agora, então você, como melhor amiga, precisa ser paciente. Ele está mudando um pouco o grupo de amigos, as roupas e até de garota favorita.

     -Ele prometeu –gemi –prometeu que eu sempre seria sua garota favorita e melhor amiga do mundo inteiro.

     -E vai ser –ela me olhou com determinação –juro que vai. Só dê um tempo para que ele conheça novas pessoas e depois volte correndo arrependido para vocês.

     -E a parte que eu estou apaixonada por ele? O que eu faço? –ela me olhou com pena.

     -Essa parte não tem muito o que fazer, querida. Não vou te dizer para tentar esquecê-lo, porque sei que não será possível. Tem diferença entre ter um crush em alguém e se apaixonar.

     -E com James não é só um crush? –mordi o lábio inferior.

     Óbvio, eu sabia que não era só mais uma quedinha, mas como ela sabia disso? Estava tão claro assim?

    -Há quanto tempo você está se sentindo assim perto dele? –me perguntou.

     -Uns...dois meses? –parei para refletir.

     -E quando o vê, o sentimento diminui ou aumenta?

     -Aumenta. –não precisei pensar para responder essa.

     -Mesmo com ele namorando outra?

     -Principalmente com ele namorando outra. Não estou dizendo que quero ser destruidora de relacionamentos ou algo assim, pois eu não quero, mas...não sei. Ele sempre foi meu porto seguro, o abraço que eu sempre posso voltar, e agora...não mais. Estou com ciúme, e com um sentimento de perda gigantesco.

     -Eu te entendo, querida. –ela beijou minha testa –Faz o seguinte: segue a sua vida. Ele não está fazendo questão da sua companhia, então também não faça da dele. E quando sentir que está reprimindo demais o sentimento, faça o que você sabe fazer de melhor.

     -O quê?

     -Escrever canções –piscou para mim e eu ri.

     -É um bom conselho –a abracei –obrigada, mamãe.

     -Por nada, querida.

     -Ei, eu também quero fazer parte desse abraço –papai interrompeu o momento, nos fazendo rir assim que nos soltamos –Vamos, filha?

     -Vamos –me levantei –Tchau, mãe. Me deseje sorte.

     -Quebre a perna. –piscou para mim –Tchau, Richard.

     -Tchau, amor –eles deram um selinho e eu girei os olhos, saindo de casa e indo em direção ao carro.

14 de outubro de 2017.

James.

 

     —Eu não quero saber! Você pode ser namorada de Deus e o mundo, mas as escolhas das roupas é minha! –Alice rosnou para bem...Emme.

     Trazer Emmeline para um show era arriscado, eu sabia disso. Por isso, insisti para que ela não viesse, afirmei que não era necessário, mas quem consegue com essa mulher? Ela colocou na cabeça que “namorada de rockstar precisa estar na plateia”, então veio me assistir.

     Fiquei sem graça com a situação e não comentei nada. Admito que foi mais por receio principalmente da reação das meninas, que não estavam nada contentes com o meu novo relacionamento.

     Achei que Emme poderia passar despercebida.

     E não poderia estar mais errado.

     -James, fala para ela que esse tênis é muito sem graça! –minha querida namorada apontou para o sapato que Alice segurava –Você precisa de algo assim –tirou de sua bolsa anormalmente grande um par de tênis de marca, daqueles que eu usaria em ocasiões muito muito especiais.

     O que quer dizer: nunca.

     Contudo, com a insistência de Emme, estou passando a usá-los para ir à escola. Tudo para ela não ficar na minha cabeça reclamando.

     -Olha aqui, sua vaca...

     -Alice –Frank se meteu, colocando a mão no ombro da namorada.

     Graças a Deus. Fiquei com medo de Lice tacar o sapato na minha cara.

     -Acalme-se –ela respirou fundo, fazendo o que o namorado pedira –Vance, você não pode chegar aqui querendo mandar em alguma coisa. Desde que a banda começou, é da responsabilidade de Alice escolher os figurinos. Independente de James ser seu namorado ou não, aqui ele é só mais um membro da banda. E como membro, ele precisa usar as roupas que a figurinista escolheu.

     -Meu James vai usar o que eu mandar!

     -Emme –comecei, e ela me olhou, com os olhos cada vez mais fechados de irritação –eu deixei você vir, mas era só para assistir. Alice escolhe a minha roupa e ponto final.

     -Mas...

     -Ponto final –frisei.

      Ela bufou, bateu o pé e saiu do camarim.

     -James Potter—Marlene ameaçou baixo.

     Merda, achei que ela não tivesse visto.

     Quem eu queria enganar? Com o escândalo que Emmeline fez, é impossível alguém não ter notado.

     -Se você trouxer a minha prima para o camarim de novo, eu corto a sua cabeça fora. Estamos entendidos? –engoli em seco.

     -Lene, não fui eu quem a trouxe.

     -Não importa. Ela veio te ver, o que significa que é sua responsabilidade. E eu não a quero aqui mais, ok? Estamos prestes a entrar no palco, e eu já estou estressada o suficiente sem ela por perto.

     Olhei para Pads, que fez um gesto de que era para eu concordar com Marlene o mais rápido possível.

     -Tudo bem. –respondi.

     -Oi, gente –Lily chegou, quebrando o silêncio mortal do ambiente.

     Caralho, ela estava linda. Ela sempre está, é claro, mas cada vez que eu a vejo, parece que está mais.

     -Atrasada –Remus falou, indo abraçá-la.

     -Desculpe, meu pai demorou para tomar banho –revirou os olhos –e ele disse que eu não poderia vir sem ele, então não tive muita escolha.

     -Nenhuma na verdade –eu ri, me aproximando dela –Oi.

     -Oi, Jay –sorriu largamente para mim.

     Ficamos cara a cara, e pela primeira vez em anos, sem saber o que fazer. Ela cruzou os braços para parar de mexer nas mãos nervosamente.

     Respirei fundo e resolvi agir como sempre.

     Me aproximei ainda mais, colocando meus braços ao redor dela e a girei, do nosso jeito, fazendo-a rir alto.

     -Ok, ok –Padfoot interrompeu o nosso momento –minha vez de abraçá-la.

     Eu resmunguei, a colocando no chão e dando um passo para trás. Ela me olhou, mordendo o lábio inferior e desviou o olhar para o nosso amigo, que estava de braços abertos para recebê-la. Ela riu e se aconchegou ali.

     Quando eles passaram mais tempo que o normal juntinhos, dei um tapa nas costas de Pads, que me olhou e a soltou devagar.

     -Qual foi, Prongs?

     -Eu...-tentei achar uma desculpa para o meu ciúme.

     -Hora de entrar –Moony interrompeu, me fazendo dar graças à Deus.

     -Pronta, ruiva? –questionei.

     -Eu nasci pronta –me deu uma piscadela e foi em direção ao palco.

     Senti falta de segurar sua mão quando estava nervosa. Droga, eu sentia falta de tudo com ela.

     De ir ao parque, de ir para a escola de bicicleta (e apostando corrida), de tomar sorvete e vê-la fazer a maior bagunça do mundo. De tudo.

     Mas eu não podia ceder agora que ela estava com Amos.

     Eu precisava desse espaço para mim, para tentar esquecer esses novos sentimentos, e dar espaço para ela namorá-lo sem ter que se preocupar com o meu ciúme.

     E ainda tinha Emmeline.

     Precisava fazer dar certo com ela.

     Tudo bem que eu não escolhi a melhor companheira do mundo, eu assumo. Emme era boa de conversa e me entretia, mas dava muito chilique quando queria algo, me obrigava a usar roupas diferentes do meu usual para parecer mais “gato”, me fazia buscá-la todo dia para ir à escola porque “ela não pode ir a pé”.

     Tentei fazê-la ir comigo de bicicleta uma vez e eu juro que ela chorou! Fiquei desesperado, e tive que voltar para casa para pegar o carro.

     Emme era legal, mas era exigente demais. Isso me dava nos nervos.

     E todas as mensagens de “SOS” que ela me mandava na hora do ensaio tinha a ver com bolsas, maquiagem e rede social.

     “As pessoas não vão saber que estamos juntos senão postarmos fotos no Instagram”.

     “Precisamos comprar esse tênis para você, porque combina com a minha bolsa”.

     “James, eu estou um desastre! Não posso sair assim! Você borrou meu batom! Não é para me beijar antes de entrar na escola mais, tá bem?”.

     Era cansativo demais.

     Mas eu não podia desistir.

     Precisava esquecer Lily Evans e seu namorado o mais rápido possível. Principalmente porque a cena dos dois se beijando no baile continuava voltando à minha mente.

     -Prongs –senti uma pontada forte na cabeça –Hora de entrar, cara.

     Olhei para Padfoot, que me olhava confuso e assenti, subindo no palco.

     Hora do show!

17 de outubro de 2017.

Lily.

 

     -Eu não acredito que ele fez isso com a gente –ouvi Sirius bufar alto.

     É claro que ele estava se referindo a James.

     James, James, James.

     Eu não consigo nem expressar em palavras quão decepcionada eu estou com suas novas atitudes. Quero dizer, ele prometeu voltar ao normal, se comprometer com a banda, e ele realmente estava cumprindo a promessa.

     Até agora.

     -Olha os stories da vaca –Lene me mostrou a tela de seu celular.

     Merda, James Potter, assim fica difícil de te defender!

     Ele faltou o ensaio para ir à uma festa super chique (eu imagino, já que é em no hotel mais caro da cidade, e o casal feliz estava usando trajes sociais. Eu detestava admitir que apesar de não o reconhecer naquelas vestimentas, ele estava lindo demais), sem nem nos dar satisfação. E estamos esperando por ele há uma hora e meia!

     -Já chega –suspirei –não dá mais, tá?

     -Do que você está falando, Lily? –me perguntou Remus.

     Bom, eu não tive a intenção de dizer isso fora da minha cabeça, mas pelo visto, verbalizei meus pensamentos.

     -Marlene assume oficialmente a guitarra –ela gemeu, descontente –e James só vai poder voltar para a banda quando ele nos provar que está nisso de todo o coração e claro, terminar com a Vance.

     -Lily...

     -Alice, eu cansei. Cansei de esperá-lo todos os dias para ir à escola de bicicleta comigo, e o ver saindo de carro para a casa da Vaca Vance. Claro, quando Amos não me dá uma carona. Cansei de não jogar fora todos os legumes que colocam em minha comida, tendo esperança que ele vai sentar ao meu lado e me deixar colocá-los no prato dele, como sempre fizemos. Cansei de colocar recados na janela e ser constantemente ignorada. Cansei dessa imbecil da namorada dele aparecer inesperadamente nos shows e atrapalhar o seu trabalho, Lice. Mas mais do que tudo isso, eu estou cansada de esperar uma atitude diferente dele. De esperar que James Potter, meu James Potter, volte a bater na minha porta e me puxe para o seu abraço, cantando uma música para mim!

     Eu não sei o que aconteceu ali. Eu juro que não sei! Em um momento, eu estava me controlando para não me demonstrar chateada demais com toda essa situação, para que ninguém soubesse a verdade sobre os meus sentimentos pelo meu ex melhor amigo, e no outro, eu perdi totalmente o controle.

     Não tem outra maneira de dizer isso, eu realmente perdi o controle. Me vi dizendo tudo que estava dentro de mim, que estava me machucando há dois meses e que eu só tinha tido coragem de colocar no papel, em uma melodia até agora.

     E mais do que isso, me vi chorando. Chorando.

     As lágrimas caíam sem parar, minha respiração foi acelerando junto ao meu batimento cardíaco e os soluços foram saindo sem que eu conseguisse segurar.

     Eu detesto chorar, e mais do que isso, detesto que alguém me veja chorando.

     Eu me sinto fraca, vulnerável. Sinto que todos tem um poder gigantesco sobre mim e simplesmente não consigo me defender da dó que as pessoas ao meu redor sentem de mim.

     “Pobre coitada, está apaixonada pelo melhor amigo e ele não corresponde seus sentimentos”.

     “Pobre coitada, a inimiga de infância dela está namorando o crush dela”.

     “Pobre coitada, está sendo deixada de lado”.

     Pobre coitada, pobre coitada, pobre coitada!

     -Oh, Lils –Lene veio correndo em minha direção e me puxou para os seus braços –Vai ficar tudo bem, eu juro. Ele vai cair em si.

     -Não, não vai –falei, engasgada pelos soluços –Ele não me ama, Lene.

     -Eu vou matar esse desgraçado –ouvi Sirius dizer, afastado –Eu vou matá-lo!

     -Fica quieto, Sirius –Alice repreendeu –Amiga, calma, tá?

     -A gente sabe que está difícil, mas vai passar –Marlene sussurrou –Tudo passa, amor.

     Me vi chorando sem parar por mais uns 10 minutos. Contudo, depois desse tempo, meu corpo foi se acalmando, junto à minha mente.

     Os pensamentos de Emmeline e James juntinhos pararam de aparecer na minha cabeça, e meu batimento cardíaco foi diminuindo a velocidade, me fazendo parar de soluçar. Aos poucos, até mesmo as lágrimas pararam de cair.

     -Tá melhor? –Lene se afastou um pouco, para me olhar nos olhos.

     -Estou –assenti –acho que eu só precisava exasperar um pouco.

     -Não é bom reprimir os sentimentos dessa maneira, Lily –Remus falou, sorrindo levemente para mim –Uma hora você explode, e isso não é bom.

     -Eu sei –murmurei.

     -Vamos para a sua casa? –Alice abriu um sorriso grande, mas pude ver em seus olhos uma grande preocupação comigo –Eu e Marlene podemos dormir por lá, assistir uma comédia romântica bem bobinha e comer chocolate.

     -Muito chocolate –Lene concordou.

     Eu ri, me sentindo mais leve.

     -Tudo bem, acho que preciso disso mesmo.

     Elas sorriram para mim, me puxando para um abraço em grupo.

     -Ei –Frank chamou nossa atenção.

     Ele olhava fixamente para o celular, parecendo chocado com alguma coisa.

     -“Imagination” foi ao ar faz pouco tempo, mas já bateu 300K visualizações!

     -300 MIL visualizações? –arfei, dando um passo para trás.

     -Caralho –Sirius disse, fazendo uma dancinha esquisita –Nós somos fodas. Caralho, caralho!

     Meus sentimentos a respeito de James foram deixados de lado para nos abraçarmos e comemoramos nossa vitória. Meu Deus, estava realmente acontecendo!

     -Sem querer estragar o momento de alegria, mas já estragando –Marlene nos lançou um sorriso amarelo –Precisamos gravar a música do mês que vem, e o clipe.

     -E como faremos sem James? –Frank perguntou.

     -Do mesmo jeito que fizemos “Imagination” –dei de ombros –Lene aparece no clipe e toca.

     -O problema –Remus disse, parecendo estar com os pensamentos a mil –é que nossa próxima música seria “Kiss you”.

     -Que é de James –Alice completou o raciocínio –e estamos expulsando-o da banda.

     -Não temos uma música nova –Sirius suspirou, passando a mão no rosto, demonstrando preocupação.

     -E meio que...precisamos gravar o mais rápido possível, se quisermos manter o ritmo de uma música nova por mês –Lene mordeu o lábio inferior, aflita.

     -Lily, você tem algum novo projeto? –Alice perguntou, e me vi sendo encurralada pelo olhar de todos que estavam na sala.

     -Hã...eu...

     -Ela tem! –Marlene suspirou aliviada –Ai, graças a Deus! Está pronta?

     -Eu não disse que tenho –cruzei meus braços.

     -Nem precisou, eu vi na sua cara –revirou os olhos –Qual é, Lils, vai ter vergonha da gente agora?

     -Ela é muito pessoal. Não quero tocá-la nesse momento –me joguei no pufe.

     -É sobre James? –Sirius levantou a sobrancelha para mim.

     -Claro que é –Alice respondeu por mim –Mas é pessoal no nível de ele saber que você sente mais do que um amor de amigos?

     Arfei, arregalando os olhos. Droga, eu sou assim tão óbvia? E pior, ela tinha que revelar isso para todo mundo mesmo?

     -Relaxa –Remus se aproximou de mim, segurando minhas mãos e se ajoelhando em frente ao pufe –Nós já sabíamos.

     -Sabiam? –meus olhos estavam quase pulando para fora.

     -Vocês dois não são exatamente discretos –Sirius bufou, revirando os olhos e jogando no pufe ao meu lado –Está óbvio há anos!

     —Vocês? O que James tem a ver com isso? Os sentimentos dele são completamente diferentes dos meus –falei, confusa.

     O olhar de alerta que Marlene e Remus lançaram para Sirius não passou despercebido por mim. O que eles sabem que eu não sei?

     -O que está acontecendo? O que vocês não estão me contando? –sentei-me ereta, olhando para todos os rostos culpados em minha frente.

     -Lily, esqueça –Frank disse –Não é nada de importante, e mesmo que fosse, não é um segredo nosso para contar.

     -Mas...

     -Esqueça –repetiu.

     -Frank...

     -Lily, não.

     -Alice?

     -Deixa para lá, Lils –ela me olhou apreensiva –Não podemos te dizer nada. Não é segredo nosso, tá bom?

     Merda. Não vai ter jeito.

     -Ok –suspirei, voltando a relaxar no pufe.

     -Enfim...-começou Sirius –já sabemos que você é apaixonada por James, então fica tranquila.

     -Vocês não podem contar para ele, em hipótese alguma –apontei o dedo para o rosto de cada um deles, fulminando-os com o olhar –Se contarem, eu os mato. Um por um. Da pior maneira que eu encontrar.

     -Você está assustadora –Remus me olhou, em pânico.

     -Nada de contar nada para ele. Estamos entendidos?

     Eles assentiram rápida, e freneticamente.

     -Obrigada.

     -Se a música disser coisas demais, podemos fingir que contratamos alguém para escrevê-la –Remus deu de ombros –Não é tão difícil, a maioria dos artistas o faz.

     -E com a sua mãe no ramo da música –Frank falou –fica mais fácil ainda.

     A mãe de Remus tem uma gravadora aqui na cidade. Na verdade, é a única que temos por aqui e ela nos auxilia demais em nossos trabalhos.

     Além disso, ela é muito boa no que faz e é muito requisitada. Fica mais tempo viajando do que em casa, sempre acompanhando algum artista que começa a bombar.

     -Lily, por favor –Lene se aproximou, tirando Remus do lugar e o substituindo, ficando ajoelhada em minha frente –Por favorzinho. Pela banda.

     -É, Lils –se intrometeu Alice –suas composições são incríveis. Ouviu que batemos 300K hoje? É de uma composição sua! Precisamos de você, vai.

     -Por favor –Sirius arregalou bem os olhos e fez bico, na tentativa de me convencer.

     -Te pagamos sorvete por um mês –completou Remus.

     -Só sorvete? –abri um sorriso divertido.

     Que comecem os subornos!

     -E seu almoço –disse Alice.

     -Eu te dou carona de moto todo dia –falou Sirius. –Nada de andar naquela bicicletinha mais.

     -Droga –praguejou Marlene –perdi a minha carona.

    Sirius rui alto, puxando-a para sentar em seu colo. E por incrível que pareça, Lene não reclamou, não bateu o pé, não fez escândalo, não deu um tapa nele...nada.

     Estranho. Muito estranho.

     -E aí, Lily? –Frank me olhou com expectativa.

     -Almoço, sorvete e carona o mês inteiro –fingi refletir –é, acho que posso tocar a música.

     Eles deram um grito de vitória, me fazendo gargalhar.

     Quando nos recuperamos, fui para trás do teclado e comecei a tocar minha nova composição, que descrevia o que eu sentia em relação a James Potter nesse novo momento de nossas vidas. E não era bom.

Uh huh, life's like this
Uh huh, uh huh, that's the way it is
'Cause life's like this
Uh huh, uh huh, that's the way it is

Chill out, what ya yellin' for?
Lay back, it's all been done before
And if, you could only let it be, you will see
I like you the way you are
When we're driving in your car
And you're talking to me one on one, but you become

Somebody else
'Round everyone else
You're watching your back
Like you can't relax
You try to be cool
You look like a fool to me
Tell me

 

     Sirius sorriu largamente para mim e acenou para Marlene e Remus. Os três foram pegar seus instrumentos e me acompanharem.

     Eu amo a facilidade deles em pegar rapidamente a música.

 

Why'd you have to go and make things so complicated?
I see the way you're acting like you're somebody else
Gets me frustrated
Life's like this, you
And you fall, and you crawl, and you break
And you take what you get, and you turn it into
Honesty and promise me I'm never gonna find you faking
No, no, no

You come over unannounced
Dressed up like you're somethin' else
Where you are and where it's at you see
You're making me
Laugh out when you strike your pose
Take off all your preppy clothes
You know you're not fooling anyone
When you become

Somebody else
'Round everyone else
You're watching your back
Like you can't relax
You try to be cool
You look like a fool to me
Tell me

Why'd you have to go and make things so complicated?
I see the way you're acting like you're somebody else
Gets me frustrated
Life's like this, you
And you fall, and you crawl, and you break
And you take what you get, and you turn it into
Honesty and promise me I'm never gonna find you faking
No, no, no
No, no, no
No, no, no
No, no, no
No, no, no (no, no)

Chill out, what ya yellin' for?
Lay back, it's all been done before
And if you could only let it be
You will see

Somebody else
'Round everyone else
You're watching your back
Like you can't relax
You try to be cool
You look like a fool to me
Tell me

Why'd you have to go and make things so complicated?
I see the way you're acting like you're somebody else
Gets me frustrated
Life's like this, you
And you fall, and you crawl, and you break
And you take what you get, and you turn it into
Honesty and promise me I'm never gonna find you faking
No, no

Why'd you have to go and make things so complicated?
I see the way you're acting like you're somebody else
Gets me frustrated
Life's like this, you
And you fall, and you crawl, and you break
And you take what you get, and you turn it into
Honesty and promise me I'm never gonna find you faking
No, no, no

 

      -E você não queria mostrar isso para a gente? –Frank me olhou abismado –Caramba, é incrível!

     -Lily, você só melhora –Alice bateu palmas animadamente –Sério, ficou ótima.

    -Não está deixando muito claro os meus sentimentos, não? –mordi o lábio inferior, em dúvida –Não quero que ele saiba.

     -Lils, você só estará dando o tapa que ele precisa levar –Sirius saiu de trás da bateria, calmamente –Ele precisa saber que você escreveu isso para ele.

     -Quem sabe assim, ele não acorda para a vida –concordou Marlene.

     -E não tem nada de romântico nisso –Remus disse –Ficou ótima, e vai ser até melhor se ele souber que você escreveu para ele.

     -Vocês têm certeza? –os olhei, incerta se estavam falando a verdade.

     -Totalmente –Lice respondeu –Ele só vai saber que você está decepcionada com as atitudes dele.

     -E ele precisa desse choque de realidade. Sério, Lil, você estará nos fazendo um favor –Sirius me olhou com seriedade.

     -Tudo bem –suspirei pesadamente –Vou confiar em vocês.

     -Então temos uma nossa música! –exclamou Remus.

     É, realmente tínhamos uma música nova.

     Ensaiamos por mais um tempo, e marcamos as gravações para a semana seguinte. Não estávamos fazendo nada de forma extremamente profissional ou algo assim, bem longe disso aliás, mas fazíamos o melhor que podíamos com o que nos era oferecido, e bom...com a quantidade de shows que estávamos realizando, acho que estávamos indo bem.

     Parece que as pessoas realmente estavam gostando.

    Depois do ensaio, fomos tomar sorvete (eu não paguei!) e quando escureceu, Lene e Lice foram para minha casa, passar a noite comigo.

     Foi gostoso demais me reaproximar delas dessa maneira. Com toda a confusão em minha cabeça, em mais de uma situação eu me esquecia de incluí-las na minha agenda.

     Tínhamos a banda e a escola, mas não era suficiente. Fazia eras que não sentávamos, assistíamos filmes, compartilhávamos segredos, falávamos mal de todos os homens que existem no mundo e comíamos até passar mal.

     Eu nunca estive tão grata por ter amigas tão incríveis.

     Mesmo que as consequências fossem grandes olheiras durante as aulas no dia seguinte.


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