Cartas Para Flora escrita por Fofura


Capítulo 3
Minha Flora


Notas iniciais do capítulo

Olá anjinhos! (✿◠‿◠)
Finalmente aqui para encerrar esse spin-off que já era pra estar concluído há meses shaushajs Chega o novo desafio e eu não termino hahah Por esse motivo, e pelos dois capítulos que faltavam não terem dado mil palavras cada, decidi juntar mesmo e é isso e.e
Espero que ainda tenha alguém aqui esperando uma conclusão rs Fazer isso em formato de carta contando tudo com falas foi uma péssima ideia shauhsaj complicado demais, nunca mais faço isso
Palavras-chave: • Azoada [1. ruído que provoca atordoamento; zunido; barulheira. 2. que está atordoada, zonza]
• Eutimia [tranquilidade de espírito; paz interior; serenidade; sossego]



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Oi, meu amor...

Eu… pensei muito se escreveria esta. Mas como quero te contar tudo relacionado a você e depois de você, não faria sentido se eu simplesmente esquecesse desse dia. Eu preciso te contar como foi difícil e como sofremos ao perder você, mesmo que doa relembrar. Você tem que saber o quanto foi e ainda é amada.

É até bizarro escrever tudo isso como se você um dia fosse ler, mas é uma forma de desabafar que já provou ser eficaz.

Eu chorei e senti muita dor durante o parto, mas não fazia ideia que choraria bem mais e sentiria bem mais dor depois dele. A dor do parto foi até tranquila se for comparar, capaz que até nem tenha sentido ela.

Eu tinha acabado de acordar depois do parto. Tinha ficado inconsciente e acordei já acomodada no quarto. Estava sozinha.

Seu pai não demorou para aparecer. Agora eu percebo o quanto ele se esforçou pra se manter firme ao me dar a notícia.

"Oi" ele disse, disfarçando a voz embargada do choro recente "Como se sente?" perguntou sentando-se ao meu lado, na beira da cama.

"Estou bem" respondi ansiosa "Cadê ela?" indaguei esperançosa, doida para te pegar no colo. Foi aí que ele não conseguiu esconder, nem se conter. Vi seu pai fechar os olhos com força e deixei os meus encherem de lágrimas desacreditadas. "Ela está bem? Nossa Flora está bem?" essa pergunta foi quase uma súplica.

Mike balançou a cabeça deixando as lágrimas escaparem.

"Flora nasceu morta, meu amor"

Até hoje essa frase grita na minha mente. Me atormenta. Ela ecoou repetidas vezes aqui dentro até a ficha cair, e quando caiu... eu desabei.

"Não" eu repetia "Não, por favor" eu implorava.

Chorei como nunca chorei na vida. E seu pai me deu suporte quando eu não conseguia me manter sã, me deu ar quando eu precisava respirar. Meus soluços ecoavam pelo quarto, minha dor inundava o ambiente.

Quando enfim consegui me acalmar nos braços do seu pai, foi que consegui perguntar o que tinha acontecido, já que a gravidez tinha corrido bem e que estava tudo certo pra você nascer bem e saudável.

Foi com indignação que eu o ouvi dizer que foi um erro médico. Irresponsabilidade havia tirado a vida de uma criança.

Seu pai gritou a plenos pulmões com os médicos e o hospital, prometendo processá-los por tamanha negligência. Você estava pronta para vir ao mundo e tiraram isso de você, meu amor.

A gritaria, os lamentos, todo aquele furdúncio me deixava azoada. Eu já não tinha cabeça pra nada e só ouvir todas aquelas palavras me deixava ainda mais cansada.

Ganhamos o processo, mas isso não fez a dor diminuir. Seu pai fazia de tudo pra tirá-la de mim e acabava que ia tudo pras costas dele. Não era justo. Dizia que estava bem, mas eu sabia que não. Saí do fundo do poço para que pudéssemos passar por isso juntos, mas eu não parava de pensar. Ainda penso.

As vezes fico imaginando como você poderia ser. Talvez como a Lilih: loira dos olhos castanhos, ou morena dos olhos azuis, pegando partes de mim e do papai.

Não conseguimos saber qual a cor dos seus olhos, pois você nasceu com eles fechados e nunca chegou a abri-los, mas seu pai tinha certeza absoluta que você viria com meus olhos e o mesmo jeitinho de sorrir.

Ele não deixou que eu a visse, disse que seria muito doloroso, muito pior se eu a visse morta... e eu concordei. Só tive a chance de segurá-la quando já estava dentro de uma urna. Por esse motivo não consegui ver seu rostinho como mencionei na carta anterior.

O que me faz lembrar que mencionei Lilih duas vezes e nem a apresentei.

Lilih é sua irmãzinha, a segunda flor do nosso jardim. Um rostinho tão meigo quanto o seu poderia ser. Uma energia que com certeza você também teria.

A conversa sobre adotar uma criança veio num fim de semana. Eu estava no seu quarto, com o pensamento longe. Não quis tirar nada do lugar e seu pai respeitou isso. Ele também não queria se desfazer das coisas. Tanto pela sua lembrança, quanto pelo fato de ainda querer ter um(a) filho(a).

Eu relutei com a ideia a princípio, pois na minha cabeça, se eu tivesse outra ou adotasse qualquer criança, eu estaria substituindo você. E Mike disse que jamais teve ou teria essa intenção. Ele te ama tanto quanto eu e vamos sempre pensar em você e sentir sua falta.

Ok, agora preciso me recompor para não molhar o papel com minhas lágrimas, eu sei que não quer que eu chore. Eu me esforcei muito pro luto não acabar comigo.

Mike chegou de mansinho no quarto, eu estava abraçada a um ursinho que você não chegou a tocar, mas que eu sentia que seria seu favorito. Estava encostada na parede olhando pela janela.

Seu pai sentou ao meu lado e encostou o queixo no meu ombro.

“Tudo bem?” ele perguntou e eu assenti “Estava pensando naquele assunto de novo” eu suspirei “Não quero forçar, amor. A decisão tem que ser dos dois. Eu só quero que entenda que a intenção é das melhores” ele então fez carinho na minha bochecha, e falava comigo num tom mais carinhoso ainda “Flora sempre será o amor da nossa vida… mas olha tudo isso…” ele apontou pro quarto “Olha todo o conforto que podemos oferecer, olha todo o amor que podemos dar” eu funguei com vontade de chorar, pois realmente uma criança ia ser muito feliz ali, com a gente “Por que não pegamos todo esse amor que sentimos pela Flora e damos pra quem precisa?”

Eu me comovi com esse pedido. Mike é um dos seres mais puros e bondosos que já conheci. E ele tinha razão. Muitas crianças não tem a sorte que você teria se estivesse viva, e nós tínhamos e ainda temos muito amor pra distribuir.

Então, alguns dias depois, fomos visitar um orfanato, e Lilih nos conquistou de imediato.

Havia poucas crianças pequenas lá e Lilih era uma delas. Quando perguntamos porque ela estava brincando sozinha, ela respondeu “não me deixam brincar correndo porque sempre me machuco” e de fato ela tinha vários arranhões nas perninhas e alguns nos bracinhos. Eram três anos de pura travessura e esperteza. “Mas tudo bem” ela tornou a dizer “Gosto dos ursinhos também”. Mike perguntou o nome dela e ela respondeu que preferia Lilih, pois Lilian não era nome de criança. 

Me encantei por ela, e em todas as nossas visitas durante as semanas — que foi o tempo que durou o processo de adoção com todas as papeladas e checagens necessárias —, ela sempre estava com um ursinho contando uma história pra ele. Ela é boa em contar histórias.

Quando a levamos pra casa, ela estava empolgadíssima e quis saber de um monte de coisas sobre a gente, e uma delas é se já tínhamos filhos.

Contei de você pra ela, e ela não só ficou triste pela sua morte, como também pegou um enorme carinho por você. Principalmente depois que lhe mostrei a plantinha com a qual suas cinzas crescia.

Ela até fez um desenho de como seria nossa família com você ao nosso lado. Confesso que me emocionei, e tenho o desenho emoldurado na parede.

Lilih é uma criança doce e encantadora. Toda vez que olho pra ela, imagino vocês duas brincando juntas.

Floquinho também a adorou, inclusive, posso dizer que Mike e eu fomos descaradamente trocados. Floquinho agora só quer saber de Lilih. Aliás, está até dormindo com ela agora.

Tem sido mais fácil de lidar. Lilih trouxe a alegria que faltava, a eutimia que precisávamos depois que te perdemos. Mas todas as noites Lilih e eu rezamos pra você.

Ela as vezes vai até a plantinha e conta pra ela como foi o dia dela, com a esperança de que você a ouça. É comovente como ela se apaixonou por você sem te conhecer. Aquece o coração.

É isso. Está tudo bem por aqui. Pode passar o tempo que for, vamos lembrar de você todos os dias.

Floquinho, Lilih, vovó, papai e eu amamos você, pequena Flora.

Até breve…

~ Mamãe ♥


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que tenham gostado ◕‿◕
O objetivo era dar mais detalhes como fiz no primeiro capítulo, mas não deu certo (ಥ﹏ಥ)
Abraço de urso e até as próximas :3



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