Sinais escrita por Sirena


Capítulo 15
Lápis de Olho e Outras Maquiagens


Notas iniciais do capítulo

Obrigada Peter, heywtl, fran_silva e Isah Doll pelos maravilhosos comentários ♥
Obrigada também a Mayra B por favoritar ♥



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Mathias

Minhas mãos tremiam enquanto o professor de física entrava na sala.

Uma coisa: minhas notas são maravilhosas, mas minha menor nota sempre era em física. Desde que comecei a ter essa matéria, nunca consegui 10. Era sempre 9,5 ou 9,75. No caso, o 9,75 podia ser arredondado para dez, mas o filho da puta do professor arredondava pra 9,5.

Cara, eu odiava esse professor.

— Professor, você já tem as notas da última prova? – uma das meninas perguntou.

— Já vou passar pra vocês. – o professor respondeu se sentando e tirando o envelope de provas corrigidas da mochila.

Respirei fundo, ainda tremendo. Ok, ok, tudo bem. Eu não tinha entendido bem a matéria, mas tinha estudado bastante, tinha me dado um branco na hora da prova sobre como fazer as contas, mas eram todas de alternativa e eu tinha quase certeza de ter acertado um bom número de questões comparando com as respostas dos outros. Então, tava tudo bem. Minha nota provavelmente foi longe de 9,0... Mas, sendo acima da média já seria lucro.

Enquanto o professor começava a falar nomes e notas, eu tirei um lápis de olho azul e um espelho de mão do meu estojo, a fim de dar uma retocada apenas para me acalmar com a sensação macia do lápis no olho.

O professor chamava em ordem alfabeto e, infelizmente, eu era um dos últimos, o que não ajudava minha ansiedade. A cada nota que ele anunciava, mais nervoso eu ficava. A média geral da sala tava boa, tentei me confortar com isso.

A média geral tava boa, então eu devia ter ido bem. A maioria tinha tirado 7,0 ou 7,5. Não era uma nota boa, mas era aceitável.

— Mathias. – prendi a respiração quando ouvi o professor chamar meu nome. — Vem cá.

Gelei.

Merda.

Deu ruim.

Fodeu.

Senti meu coração bater apertado e acelerado enquanto eu me levantava.

Calma, tá tudo bem. Dava para ver que eu estava tremendo enquanto andava, mas tudo bem. Eu estava enjoado e com a boca seca, mas tudo bem. Respirei fundo ao parar na frente da mesa.

O professor apenas me estendeu minha prova.

Arregalei os olhos ao ler a nota.

3,75.

Apoiei minhas mãos na mesa, tentando manter o equilíbrio.

Não, não, não.

Puta que pariu, não!

— Você precisa se esforçar mais, Mathias. – ergui os olhos para o professor, que me olhava seriamente. — Considerando o desconto que você ganha, devia prestar mais atenção nas aulas do que a sua maquiagem. Precisa decidir o que importa, a escola não vai manter esse favor se suas notas seguirem assim.

Abri e fechei a boca, sem saber o que falar.

Pisquei tentando afastar as lágrimas e me esforcei para continuar olhando enquanto sustentava o olhar severo do professor.

— Sim, senhor. – murmurei, abaixando o rosto. — Vou buscar melhorar.

— Bom mesmo. Agora vá se sentar.

Obedeci, segurando o choro.

Respirei com dificuldade enquanto me largava na cadeira sentindo os olhares debochados ao meu redor.

Cobri os olhos, tentando me manter quieto.

3,75.

Ok, foi só numa prova mensal, não era minha nota final, mas... Mas eu teria de ir tão bem nas próximas avaliações para recuperar e... E... Solucei.

Cara, como caralhos eu ia conseguir manter meu desconto tirando notas assim? E se eu perdesse o desconto? O que ia acontecer? Não tínhamos como pagar e conseguir transferência para outra escola no meio do ano era difícil e... Senti as lágrimas molharem minhas mãos, eu não ia conseguir me impedir por muito mais tempo, mas, nem morto eu iria chorar na frente daquela gente.

Peguei meu lápis de olho e sai da sala correndo, deixando a porta bater atrás de mim.

Uma vez fora da sala, deixei as lágrimas escorrerem. Minhas mãos ficaram manchadas de azul quando limpei o rosto, a maquiagem escorrendo junto do choro. Me apoiei na parede para me equilibrar o melhor possível enquanto andava sem rumo pelo corredor.

Como meu rosto com certeza estava todo borrado, resolvi ir ao banheiro para lavar e tirar os restos de lápis de olho. A água fria deixou meu rosto ainda mais vermelho e meus olhos estavam inchados. Respirei fundo, tentando tirar os restos de maquiagem.

Peguei o lápis de olho e franzi os lábios, pensando em passar de novo, mas senti minhas mãos tremerem só com o pensamento.

“Você precisa prestar mais atenção nas aulas do que na sua maquiagem.”

A frase pareceu ecoar na minha cabeça enquanto eu apoiava as mãos na pia.

Eu sentia falta da época que usava sombra colorida. De como meus cílios ficavam curvados e longos com o rímel. De como a cor dos meus olhos ficava destacada com o delineador. Mas, eu fui parando de usar aquelas coisas por causa das piadas, não só dos outros alunos, mas do professor de educação física também. Mantive só o lápis de olho porque eu realmente gostava.

Mas...

Mas, acho que não compensava mais.

Esse pensamento fez meu peito apertar e me fez chorar mais ainda.

Respirei fundo e meu peito doeu, como se puxar o ar machucasse.

Afastei as lágrimas com uma mão enquanto jogava o lápis de olho no lixo.

Bom, olhe pelo lado bom, Mathias... Talvez as piadas diminuam um pouco agora.

Esse pensamento fez com que me sentisse ainda mais miserável.

***

Às vezes, pode ser complicado namorar alguém que tem passe livre. Sabe, o preço da passagem de ônibus em São Paulo é realmente um roubo e pode ser um impedimento de vez em quando. Principalmente porque, apesar de o Ícaro se dizer caseiro, eu acho que a gente tem noções diferentes sobre o que significa ser caseiro. Ele com certeza gostava muito de sair. Especialmente com os amigos... E eu não lido muito bem com pessoas.

Assim, a gente chegou ao acordo de que sábado saíamos juntos e domingo ele aproveitava o dia com os amigos, às vezes eu ia junto porque os amigos dele são legais, mas só ia quando me sentia realmente bem para interagir.

Também foi inevitável que as vezes sair se resumisse a ele vir passar o fim de semana na minha casa porque não tinha como eu sair já que... Cara, o preço da passagem é realmente um absurdo.

Então, sexta depois da aula ele veio pra minha casa. O que só era possível graças a algumas mentiras que inventamos pros pais dele como "minha mãe não trabalha na sexta" e "tem uma sala na minha casa, o Ícaro definitivamente não dorme no meu quarto." Enfim, pequenas mentiras que não fazem mal a ninguém.

Um ponto positivo: descobri que o aromatizador de canela não atacava a rinite do Ícaro.

Ele me abraçou com força assim que chegou e deu um sorriso besta ao ver o quadro que tinha me dado pendurado no meu quarto.

"Ficou bonito." - comentou, subindo na cama para olhar mais de perto, ajeitando o moletom amarelo do Pikachu. - "Essas fotos ficaram mesmo lindas."

Dei risada achando graça de como ele falava como se já não tivesse visto aquelas fotografias.

Era bom ter o Ícaro na minha casa, conversar e rir e esquecer que a semana tinha sido uma merda, porque a escola era uma merda e o professor tinha feito questão de jogar na minha cara que eu só tava lá de favor, me fazendo me sentir como um pobre coitado que não tinha onde cair morto.

Meu celular vibrou no meu bolso e eu o peguei para ver o que era enquanto Ícaro seguia admirando o quadro. Tinha noventa por cento de certeza que ele estava tentando esconder o nervosismo em saber que estávamos sozinhos até amanhã a noite se focando nas fotos, então era bom dar esse espaço a ele.

[Eric]
Lição de vida
Nunca se apaixone por gnt burra
Obviamente isso nunca vai te acontecer pq vc é inteligente e gnt inteligente gosta de gnt inteligente
Mas eu sou burro e meu carma é gostar de gnt burra que n entende as coisas e acaba sumindo quando eu sou sincero


Franzi a testa mexendo no meu cordão de turquesa.

 

[Mathias]
A Eloá te deu um fora?

 

[Eric]
Um fora pressupõe q ela se dignou a me dar uma resposta

Quando na vdd ela apenas inventou q precisava ir ao banheiro e foi embora
O auge da minha vida foi namorar a Sam cara, ela era inteligente. Sabe quando eu vou conseguir namorar uma mina inteligente dnv? NUNCA
Inferno
Eu vou encher a cara
Quer vir pra cá? Tem corote

[Mathias]
Eu tenho visita

[Eric]
Ah é, vc namora
Eu esqueço q vc é inteligente
E que gnt inteligente namora
Bom, sobra mais pra mim :D

 

Dei risada e ergui os olhos.

Ícaro sentou na beira da minha cama, balançando os pés e mexendo no cabelo enquanto me olhava. Ele estava usando brincos pequenos prateados e suas unhas estavam pintadas de azul. Lindo. Lindo. Lindo.

"Seu cabelo tá bonito."

Dei um sorriso. - "Não tanto quanto o seu."

Ele riu escondendo o rosto nas mãos, sem graça e respirou fundo erguendo os olhos:

"Meu cabelo tá todo desbotado, isso sim."

Dei de ombros.

 

[Mathias]
Pena que as coisas com a Eloá n deram certo cara, ela parecia legal

 

[Eric]
De que adianta ser legal se é burra e parece q vive nos anos 90??

 

[Mathias]
Toma seu remédio antes de ir beber ok?
N esquece

 

[Eric]
Sim mamãe
Sabe do que eu preciso?
De um amigo solteiro e burro q venha beber cmg quando eu levo fora por gostar de gnt ignorante

Mas como isso n vai acontecer hj
Se eu te mandar msg bêbado, ignora

 

[Mathias]
Ok

 

Coloquei o celular num dos nichos do meu guarda-roupa, o aparelho vibrou de novo, mas não me importei. Sabia mais ou menos que mensagens encontraria. Era mais ou menos sempre igual quando o Eric levava um fora por escolher não omitir aquele detalhe da vida dele.

Mas, era uma pena porque a Eloá realmente parecia legal.

Me distanciei desses pensamentos quando Ícaro estendeu os braços como quem pede um abraço, se ajoelhando na cama. Menino fofo dos infernos.

O abracei com força e ri sentindo seus lábios encostando de leve no meu pescoço, causando cócegas. Em seguida ele beijou minha bochecha, depois o canto da minha boca e finalmente me deu um beijo nos lábios.

Sorri me sentando ao lado dele na cama e Ícaro imediatamente colocou uma perna sobre a minha.

"Senti saudade."

Dei risada. - "Quem te vê falando assim, nem pensa que a gente vira a noite conversando quase todo o dia."

"E que faz chamada de vídeo dia sim e dia não."

"E que você vive me marcando em sorteio do Instagram." - completei, cerrando os olhos porque de cada dez notificações que eu recebia do Insta, nove eram o Ícaro me marcando em sorteio. Sinceramente, eu nem sei como ele acha tanto sorteio.

"É... Mas, é diferente." - deu de ombros, antes de colocar uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha, sorrindo de lado.

"Verdade." - concordei, lhe dando um beijo e fazendo carinho em sua bochecha. Ele deitou o rosto na minha mão quando fiz que ia afastar e eu sorri. - "Tudo bem?"

O sorriso do Ícaro vacilou e ele revirou os olhos colocando os dois pés na cama e esticando as pernas em cima do meu colo.

"Tá sim. A semana foi meio estressante na escola, só isso."

Fiz careta. Disso eu entendia.

"Tá tudo bem mesmo?"

"Tá sim. Não foi nada." - Ícaro respirou fundo e revirou os olhos novamente antes de explicar. - "To com algumas notas baixas, só isso. Meu pai tá irritado."

"Entendi."

"Você tá sem maquiagem." - ele uniu as sobrancelhas puxando meu rosto para olhar melhor, sabendo que até em casa eu gostava de usar maquiagem.

Senti meu rosto ficar quente e achei melhor trocar de assunto.

"Eu vi que vai abrir uma oficina de fotografia inclusiva aqui perto. Com intérpretes e tudo."

Ícaro franziu a testa, os olhos brilhando em interesse.

"Você tem o endereço? Faz tempo desde a última vez que eu vi abrindo oficinas desse tipo."

"Meu professor do curso mandou no grupo da turma sobre isso. Vou te mandar a mensagem depois. Tem as informações todas." - respondi e ele deu um enorme sorriso enquanto concordava.

"Eu gosto de cursos assim, normalmente só cobrem o básico, mas é bom pra rever as bases e tudo." - concordei com a cabeça sem saber mais o que acrescentar.

Ícaro suspirou, dando um beijo no dorso da minha mão e, após parecer hesitar um momento sorriu de lado enquanto subia no meu colo, uma perna de cada lado do meu quadril. Arquei a sobrancelha observando e ele imediatamente virou o rosto, beliscando meu ombro.

"Para de me olhar assim!"

"Assim como?" - dei risada.

"Assim, igual você tá olhando!"

"E como eu to olhando?"

Antes que Ícaro pudesse responder, puxei-o pela nuca, beijando-o com força. Ele soltou um gemidinho surpreso, mas logo relaxou e retribuiu com ainda mais intensidade, passando os braços ao redor dos meus ombros, enrolando os dedos no meu cabelo e mordiscando meus lábios de leve.

Ofeguei com o puxão que ele deu no meu cabelo de repente, voltando sua atenção para o meu pescoço, porque Ícaro só era envergonhado até a página dois. Uma vez relaxado, suas mãos afundavam no meu cabelo, puxando com cada vez mais força e seus lábios deixavam marcas no meu pescoço enquanto se mexia no meu colo.

Enquanto eu apertava sua cintura, me apossando de cada centímetro de pele que conseguia, ele arrancava minha roupa quase com necessidade, me beijando de maneira que beirava ao possessivo e tudo era quente e intenso e nada mais importava além de respirações descompassadas e corpos desesperados por cada vez mais contato.

E entre um suspiro e outro, entre um gemido e outro, me perguntei se aquele jeito mais envergonhado dele sumiria algum dia e as coisas iriam direto ao ponto ou se ele sempre precisaria de uns instantes para se acalmar antes de me tocar dessa forma.

***

Realmente a melhor parte era que minha mãe só chegaria sábado a noite. Era tipo só a gente por um bom tempo e nenhuma pressa para colocar as roupas de novo ou medo de ser pego e no fim era quase como brincar de recém-casado.

Ok, talvez eu esteja exagerando um pouquinho, mas tipo... É só divertido passar um tempo sozinho em casa com o Ícaro. Ver ele revirar os olhos para séries de humor forçado e falar por tempo infinito sobre como tinha quase certeza que a Alexia estava namorando e não queria contar a ele, ou mesmo os momentos em que o silêncio era entediante enquanto nada passava na TV e nenhum de nós tinha vontade de fazer algo, mas o silêncio deixava de ser entediante e se tornava imediatamente confortável pelo simples fato de ele encostar a mão no sinal de "eu te amo" na minha bochecha.

Fiz uma nota mental de nunca mais deixar o Ícaro chegar perto da cozinha depois que tentamos fazer batata frita e o óleo quente se espalhou pelo cômodo inteiro e por uma parte da área de serviço. Foi um inferno limpar tudo, mas, não foi impossível. E eu quase enfartei na hora porque pensei que ele tinha se machucado, mas ele tava bem e sinceramente, não sei como conseguiu isso.

A noite, depois do jantar, eu catei meu jogo antigo de Uno porque, bom... Ícaro gostava de jogos. E eu gostava do Ícaro. Então, era razão suficiente.

Xadrez, damas, uno, dominó e trunfo, ele adorava esses jogos.

Ele era bom em damas, mas não tão bom em xadrez (pelo menos era o que Alexia dizia porque eu realmente não entendo nada de xadrez e ele sempre me vencia). Sua habilidade em dominó era questionável, mas ele sempre me ganhava no uno.

Suspirei quando ele lançou uma quarta de +4 e ergui o rosto, acenando para que ele me olhasse.

“Como você pensa?”

“Eu não vou te contar minhas estratégias.”

“Não dá pra ter estratégia no Uno.” — bufei.

“Dá quando você já sabe como o adversário joga.” — ele deu de ombros.

“Engraçadinho.” — revirei os olhos. – “Eu quis dizer como você pensa no geral. Tipo, eu penso com uma voz na minha cabeça. Você também pensa com uma voz na sua cabeça?”

Ícaro franziu os lábios como se considerasse a questão um instante antes de responder.

“Eu penso em Libras. Às vezes também penso em imagens quando tento lembrar de algum lugar ou da aparência de algo. Às vezes penso em português escrito, mas normalmente fico confuso pensando assim.”

Apoiei a mão no queixo refletindo sobre um instante e concordei em seguida.

“Por que você tá sem maquiagem?” — perguntou de repente como se tivesse lembrado.

Hesitei.

Eu realmente achei que ele não ia perguntar de novo. Tive esperanças de que nem reparasse.

“Porque eu não quis colocar. Tipo... Eu to em casa, pra que por?”

“Você tava de maquiagem da última vez que eu vim aqui. A única vez que te vi sem maquiagem foi na praia e só porque saiu na água.” — Ícaro observou fazendo bico. – “Seus olhos ficam mais bonitos com lápis de olho.”

“Se você acha isso o problema é seu.” — bufei. – “Gosto de ficar sem maquiagem. Não vou passar só porque você acha mais bonito assim.”

Ícaro franziu a testa, parecendo surpreso com minha resposta tão defensiva.

“Não foi isso que eu disse!” — ele jogou as cartas de lado, parecendo realmente revoltado com minha fala. – “Você adora se maquiar! Só estranhei não estar usando nada. Não seja tão sensível.”

“Então não me diga como devo agir!”

Ícaro continuou me olhando irritado um instante antes de se levantar do chão e sentar-se na cama fazendo cara feia pra mim.

Suspirei.

Ótimo.

Agora ele ficaria de charme porque eu o havia irritado. Mereço.

Sinceramente, eu estava começando a perder a paciência. Estava perdendo a paciência para os surtinhos irritados do Ícaro. Estava perdendo a paciência para os olhares condescendentes dos professores como se eu fosse um pobre coitado e não o garoto que gabaritou todas as provas desde que entrou no colégio. Estava perdendo a paciência com os colegas de sala que me zoavam, puxavam meu cabelo e insistiam em me fazer perguntas durante as apresentações. Estava perdendo a paciência com a minha mãe chegando tarde e cobrando que a casa estivesse arrumada ao gosto dela, quando ela praticamente nem morava aqui. Quer saber do que mais? Eu estava perdendo a paciência com a minha vida!

Bufei subindo na cama e estendendo a mão em direção ao controle da TV. Percebendo o movimento, Ícaro rapidamente pegou o controle antes que eu pudesse e escondeu atrás das costas.

Rangi os dentes, irritado.

“Me dá.” — mandei, mas ele balançou a cabeça em negação. – “Ícaro, me dá isso!”

Bufei tentando pegar o controle atrás dele, mas ele me empurrou, apertando meus ombros. Bufei outra vez beliscando sua barriga e ele deu risada, tentando me empurrar de novo, mas era mais difícil empurrar alguém quando você estava se dobrando de tanto rir.

— Peguei. – ao mesmo tempo, que eu falava isso, Ícaro arrancava o controle da minha mão de novo, gargalhando e me empurrando enquanto eu fazia cócegas em sua cintura com a mão livre, também rindo porque a risada dele era um tanto quanto contagiante. — Larga, seu mimado!

Ícaro tentou fazer cócegas no meu pescoço e eu acabei caindo da cama.

Bufei, me sentando no chão e afastando o cabelo do rosto, rindo de mim mesmo enquanto me virava. Ícaro me olhava tentando segurar o riso e manter a cara de bravo, mas vi que estava com dificuldade de continuar assim. Apoiei o queixo na mão olhando para ele e esperando para ver por quanto tempo ainda conseguiria se segurar.

“Pare de tentar me seduzir com esses olhos bonitos.” — mandou, cerrando os lábios para mim e ainda tentando não rir.

Fiz bico na minha melhor carinha de Gato de Botas e Ícaro acabou rindo alto enquanto se sentava na cama. Dei um sorriso indo sentar ao lado dele.

“Então, o que aconteceu?” — perguntou e eu respirei fundo vendo que ele não iria deixar o assunto de lado.

“Só não me sinto mais confortável em usar lápis de olho.” — dei de ombros.

“Porquê? Você adorava! O que aconteceu?”

Dei de ombros outra vez e Ícaro arqueou a sobrancelha, desconfiado.

“Foi algo na escola?”

Fechei os olhos e dei de ombros mais uma vez. Senti os braços dele em volta do meu pescoço, me puxando para um abraço e suspirei deitando o rosto em seu ombro e me permitindo ficar ali um instante antes de me afastar.

“Desculpa.” — pedi, abaixando os olhos.

Senti a mão do Ícaro no meu queixo, me obrigando a olhá-lo. Ele fez carinho na minha bochecha um instante antes de falar.

“Eu sei que a escola tá te deixando mal, mas, por favor, não desconta em mim, tá? Por favor. Eu só quero te ver bem, amor.”

“Desculpa.” — repeti, tentando respirar fundo para não acabar caindo no choro. Eu andava chorão demais pro meu gosto.

Ícaro me abraçou de novo, com mais força dessa vez e fez carinho no meu cabelo antes de me dar um beijo na bochecha.

O abraço dele era confortável. E eu realmente gostava de como ele mexia no meu cabelo, mesmo quando ele puxava parecia ser com cuidado, bem ao contrário dos puxões com que eu tinha me acostumado. E gostava de como ele sempre me dava um beijinho na bochecha quando percebia que eu estava nervoso demais. O abraço do Ícaro era um dos poucos lugares seguros no mundo.

Deitei a cabeça em seu colo e ele continuou fazendo carinho no meu cabelo, me olhando de forma pensativa, mas não disse nada.

Fiquei grato por isso, eu realmente não queria mais pensar no assunto.


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Notas finais do capítulo

Vamos ser sinceros... Tava demorando pro drama chegar xD



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