Voe X Livre X Coração X Selvagem escrita por Afrodeus da dança


Capítulo 3
Desembarque X E X Um X Café




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Marta acorda e se alonga, fazendo uma sessão de exercícios que dura dez minutos. Ela pega sua garrafinha de água e dá um gole, indo lavar o rosto e escovar os dentes. Assim que sai do banheiro, minutos depois, ela olha para Muriel. Ela acabou dormindo no chão, por motivos que Marta não consegue decifrar e se limita a culpar o modo excêntrico da garota. Esfregando suas têmporas, Marta vai até a menina, ficando de cócoras e a sacudindo. Se pergunta o quão dolorida ela iria acordar depois de dormir desse jeito.

— Ei, Muriel, acorda — Marta resmunga, tentando não falar alto para não assustá-la, mas tocando de leve no ombro dela e sacudindo-o.

Muriel desperta em pouco tempo, os olhos vagarosamente abrindo, e se focando em Marta, de maneira silenciosa, fazendo-a engolir em seco. Os olhos de Muriel ganham um brilho maior, abrindo-se por completo. Um sorriso cresce e ilumina o rosto dela.

— Ora, ora, ora. Bom dia, Martinha — ela resmunga, ainda com a voz embriagada de sono, mas fazendo um leve carinho nos cabelos de Marta.

Ela afasta a mão de Muriel com um gesto simples, sem ser rude. Marta fica de pé e olha para Muriel pelo canto do olho, dizendo:

— Arrume suas coisas, se prepare para irmos embora. — Marta caminha até seus pertences e começa a organizá-los.

Muriel rapidamente se levanta, se espreguiçando e bocejando exageradamente. Marta não reparou na falta do chuveiro ou no volume maior na bolsa de golfe de Muriel. E isso a deixa orgulhosa, começando a dar risinhos baixos que fazem Marta, do outro lado do quarto, revirar os olhos.

— Você não acha o chão desse quarto simplesmente surreal? — Muriel diz, descalça e sentindo a textura do carpete.

Marta leva os olhos para baixo, tentando entender a que a garota está se referindo.

— Como assim? — ela responde por educação, já esperando uma gracinha.

— É que ele é tipo um tapete, sabe? Só que no chão inteiro. E eu achei daora — Muriel responde com um pouco de timidez na voz, coçando a parte de trás da orelha esquerda.

Marta ri de modo mecânico, o que acaba sendo ainda mais desconfortável. Ela sendo vontade de perguntar o motivo de Muriel ter dormido encostada na cama, sentada no chão, mas acaba se apegando ao seu orgulho e sua pose, continuando quieta. Termina de arrumar suas malas sem falar com sua colega. Muriel suspira e continua a arrumar as suas coisas, indo beber água da torneira do banheiro e lavando o rosto. Ela ouve uma batida na porta e atende, vendo o homem que acompanha Nero, Chezan.

— Posso ajudar? — Muriel pergunta, erguendo a sobrancelha.

— Só quis saber se conseguiu se organizar bem — Chezan responde, com um sorriso amigável. — Vi Marta descendo sozinha e fiquei preocupado.

Muriel coça a parte de trás da orelha, pensativa.

— Você é o outro aluno do Nero, né? — ela pergunta, estreitando o olhar.

O homem ri.

— Não, não, não. Sou colega do senhor Blanco. Um Hunter, tal qual ele — Chezan explica, com bastante alegria na voz. — Contudo, creio que exista uma grande disparidade entre nossas posições.

— “Dis” o quê? — Muriel pergunta, estreitando ainda mais os olhos.

— Digamos que Nero é claramente meu chefe, por assim dizer — Chezan sorri e vê as malas da garota, simples e pequenas. — Quer ajuda para carregar?

Muriel não precisa, mas já que o grandalhão ofereceu… 

— Ah sim, eu preciso. Bracinhos fracos eu tenho, sim, sim — ela diz e entrega a bolsa de golfe para o Hunter. — Agora vamos, careca.

— Careca? — ele fala confuso, a vendo sair do quarto.

 

Não muito mais que uma hora depois, Muriel está entrando no dirigível que os levaria para York Shin, sentindo uma sensação estranha. Sem despedidas. Sem olhar de nostalgia e “nossa, já estou com saudades de casa” conforme vê o lugar em que cresceu se afastar mais e mais. Ela olha para as duas mochilas que carrega consigo, pequenas e não muito cheias, e encara as duas ou três mochilas que seus companheiros têm. E elas estão bastante cheias. Ela inveja eles. Os três estavam só de visita ali e trouxeram mais coisas do que ela está levando — e ela está praticamente de mudança.

Muriel dá um largo e malvado sorriso ao lembrar do que possui em sua mala: um ótimo chuveiro que conseguiu roubar. Por sorte Marta acabou não notando isso. E, caso o pessoal do hotel notasse, foi alugado em nome de Nero, e ela não pretendia ficar perto deles por muito tempo, de todo modo. Provavelmente a viagem não vai demorar muito mais.

— Venham — Chezan diz, vendo os bilhetes das passagens. — Vamos deixar as malas em nossos quartos, sim?

Nero e Marta assentem e Muriel se vê ficando para trás, ainda muito pensativa.

— Ei! — ela exclama ao finalmente entender o que ele disse e apressa o passo para alcançá-los.

Ela é deixada em um quarto só dela. É pequeno, mas Muriel gostou dele, na verdade. É compacto, tipo um modo econômico de quarto. Um quarto em lata. Ela começa a gargalhar em seu quarto pelo que acabou de pensar.

Marta, que passa em frente à porta, ouve ela rindo e apressa o passo para sair de perto da garota. Ela vai até uma parte mais aberta, com a bola de futebol debaixo do braço, e toca o vidro de proteção. Tudo dali de cima parece tão pequeno, a paisagem, as pequenas vilas, a fauna e a flora. Marta não gosta de gostar dessa sensação. Ela começa a fazer embaixadinhas com a bola enquanto repete mentalmente uma série de coisas que tem treinado com Nero recentemente.

Muriel chega no lugar com suas risadinhas típicas, com uma cesta cheia de comida.

— Ei, Marta, quer me ver comer isso tudo? — ela pergunta.

Marta respira fundo, ainda fazendo embaixadinhas, ela ergue o olhar para Muriel.

— Primeiro, você vai passar mal se fizer isso. Segundo, por que você insiste em fazer essas coisas?

Muriel coça a parte de trás de sua orelha e isso faz a cesta quase cair. A menina se atrapalha para segurá-la e recuperar seu equilíbrio. Muriel se senta no chão e come algumas das bolachas e bolinhos que pegou, abrindo um iogurte e tomando.

— Isso é tão bom! — ela gargalha.

— Nunca tinha comido essas coisas? — Marta indaga.

— Você que quebrou a porta da minha casa, né? — Muriel pergunta, ainda de boca cheia.

Marta faz que sim, pensando no quão a garota precisa aprender a engolir o que tem na boca antes de falar.

— Sim. Fui eu — Marta confirma, ainda concentrada em realizar embaixadinhas. Seu recorde atual são cento e cinquenta e seis.

Muriel come uma banana, risonha. Ela mastiga e então engole, levantando o olhar para Marta.

— ‘Cê acha que eu tinha como comprar um iogurte se na minha casa nem chuveiro tinha? — Muriel fala isso enquanto sorri, rindo do absurdo da ideia.

Marta fica quieta, sem saber o que dizer. A bola cai no chão, por pura desatenção. Muriel se levanta, se desenrolando, tal qual uma cobra.

— Quer fazer toquinho com a bola comigo? — Muriel pergunta, com uma mão na cintura e a outra apontando para a bola.

Marta ergue a sobrancelha e suspira, colocando a bola em cima do pé jogando para Muriel.

— Não vale usar as mãos — ela avisa.

— Eu sei, pô — Muriel resmunga de volta, aparando a bola com a coxa e chutando de leve para Marta.

E assim começa. Uma pega a bola e a devolve, sem tocar no chão. Marta com mais destreza, economizando movimentos e de forma “limpa”. Muriel se atrapalha mais, às vezes precisando de mais de dois toques na bola antes de devolvê-la, enquanto Marta usa só um ou, raramente, dois.

— Você não gostou de mim, né? — Muriel pergunta, enquanto devolve a bola para Marta.

— Talvez — ela responde.

Muriel ri, pegando a bola para si e tentando fazer embaixadinhas.

— Talvez? Caramba, você tá sempre revirando o olho e suspirando quando fala comigo. — Ela realiza três embaixadinhas simples e desajeitadas e devolve a bola. — De todo modo, vou embora logo. Pode ser sincera.

Marta recebe a bola, a chutando reto para cima e começando a passá-la de uma coxa para outra. Seu semblante é pensativo.

— Você é infantil. Irresponsável e, sem querer dizer que é culpa da sua criação, acaba sendo bastante mal educada. E você é bastante irritante de se ter por perto. — Marta devolve a bola para Muriel, com um pouco de força. — Sempre com brincadeirinhas, e querendo rir de tudo e não sei como pôr em palavras, o jeito que você reage a tudo. Claro que é tudo por causa do que você viveu, mas acaba sendo só… Muito cansativo.

Muriel fica quieta por um tempo, tentando equilibrar a bola em cima do pé. Tentando entender o que está sentindo. O que Marta lhe disse fez seu corpo todo ficar estranho. Irritado? Não quer dizer que está só “brava”. Já ouviu aquilo tantas vezes, de tantas formas e tantos jeitos, que não quer se sentir incomodada. Muriel ergue a bola para cima, se preparando para chutar ela.

Quando pensa na sua criação, tudo que vem em mente é seu pai, com quem viveu por boa parte do tempo. E isso faz ela ficar verdadeiramente irritada. Aquilo, para bem ou para mal, foi sua criação. O pé de Muriel acerta a bola com força, ao mesmo tempo que acerta ela de mau jeito, em uma trajetória desviada para o lado esquerdo. Marta vê aquilo em câmera lenta, piscando duas vezes antes de ouvir o barulho de vidro se quebrando. Ela não tira os olhos de Muriel, a encarando com uma mórbida seriedade conforme vê a expressão da garota passar de susto, parachoque, para então começar a rir de nervoso, por fim gargalhando. Seu olhar encontra com o de Marta.

— Por causa disso eu não gosto de você.

 

— A culpa foi dela, Mestre Nero — Marta, seriamente, diz. — Ela, por algum motivo, chutou a bola na janela invés de tomar cuidado!

— Ei, qual é, você que estava fazendo embaixadinhas ali. No meio de um dirigível. Eu só quis brincar contigo! — Muriel exclama, se aproximando bastante de Marta e mostrando a língua.

Nero coloca a mão no queixo, pensativo. Teria que tirar da mesada das duas para pagar aquilo. O que, no fim, é do seu bolso.

— Vocês tem ciência que o que fizeram foi errado, né? — Seu tom de voz é calmo. — Muriel, você precisa aprender a se manter sob controle. E, Marta, você, como veterana, você deveria ter mantido ela sob controle.

Muriel cruza os braços e faz beicinho enquanto Marta dá um passo à frente.

— Espera, eu vou ser culpada pelo que ela fez?! — Marta aponta para Muriel.

Muriel tenta morder o dedo de Marta apontado para ela, só que Nero, volta sua atenção para a mais nova.

— Muriel, não seja assim. Você precisa aprender a agir em grupo. E também precisa aprender a se controlar — ele explica.

Muriel sorri e dá um risinho, desviando o olhar, enquanto sua expressão alterna para medo e culpa.

— Foi a Marta que disse que era okay a gente brincar de embaixadinha. Ela mesmo já tava fazendo. Se ela tivesse me dito que poderia dar algo errado ou para moderar a força… — Muriel baixa o olhar, fazendo beicinho de volta.

Marta se vira contra Muriel, irritadíssima.

— Huh? Você vai realmente mentir desse jeito e tentar jogar tudo em mim… sua… — Marta range os dentes e cerra os punhos.

Muriel se vira, ainda tristonha, para Nero.

— Eu não estou mentindo, seu Nero! Ela disse! E eu confiei porque ela é minha veterana.

— Sua…! Argh! — Marta se vira para seu mestre. — Seriamente, senhor Nero, essa garota é uma mentirosa e um problema com pernas!

— Não! Essa enganadora mentiu para mim e me enganou! Garotinhas como eu não conseguiriam mentir.

Marta ri.

— Sua estúpida, eu também sou uma garo… — Marta para, tímida de se chamar de garotinha.

— Aha! — Muriel aponta para ela. — Ela gaguejou!

Eles continuam a discutir, até que Nero sorri e fala, com sua voz e expressão ainda calmas:

— Vocês duas podem ficar quietas?

Ambas as aprendizes se vêem imobilizadas, não por nada mágico, apenas medo e sentindo a autoridade que o Hunter tem ali.

— Muito bem. Eu, sinceramente, não me importo de quem foi a culpa. — Nero dá um leve sorriso. — Só sei que as duas aprendizes das quais eu tenho grandes expectativas acabam perturbando não só a minha paz, mas a de todos neste dirigível. E quero que ambas reconheçam o erro e aprendam com isso. Vocês acham que posso esperar melhoras em relação ao comportamento de vocês?

Marta automaticamente entra em posição de sentido e diz:

— Sim, claro que pode!

Muriel olha para a colega erguendo a sobrancelha. Por sorte não ficaria por perto mais muito tempo.

O dirigível aterrissa em York Shin, ainda não abrindo para desembarque. Marta ficou fuzilando Muriel por todo o resto da viagem, mas Muriel está muito tranquila para se importar. A bronca de Nero foi amigável e totalmente diferente das que seu pai dava. Ela cospe no chão da cabine, com desgosto só de pensar em seu pai. Chezan pega um guardanapo ao ver isso, e limpa o cuspe no chão.

— Não deveria fazer esse tipo de coisa, senhorita Andrade — o homem diz, com uma voz grave, mas amigável.

— Ah, perdão — Muriel fala, tímida, dando um risinho nervoso.

— Você é alguém que sorri bastante, isso é muito bom — Chezan comenta. — Ter uma boa aura e um bom sorriso é sempre bom, sim, sim.

Muriel baixa o olhar.

— Ah, obrigado, senhor careca. Eu tava com um gosto ruim na boca. Foi mal.

— Já passou. Está ansiosa para chegar em York Shin? — Chezan pergunta, rindo e passando a mão pela cabeça. — E eu raspo a cabeça.

— Não é careca então? — Muriel ergue o olhar.

— Não — Chezan responde, a olhando.

— Não careca. — Muriel move o olhar para frente.

Os dois ficam quietos.

— Bem, você está ansiosa para chegar em York Shin? — Chezan repete a pergunta, um pouco tímido.

— É quase um sonho virando realidade. Acho difícil não ficar animada com a ideia de estar chegando, finalmente. Toda a ideia de uma nova vida, um novo começo é tão, tão gostoso. Tão esperançoso.

Muriel segura o seu colar, por cima da camisa, e fecha os olhos sorrindo. Chezan sorri também, lembra-se de sua primeira vez em York, como também foi um momento de maravilhamento. Contudo, sabe que ele e Nero estão ali por um período temporário. É uma cidade boa, mas existem lugares melhores. E Chezan Gelik espera poder ver Muriel chegando nessas outras cidades e se maravilhando de novo. Ele dá dois tapinhas nas costas dela.

— Bem, vamos nessa? — Chezan convida.

— Claro, vamos sim — Muriel diz, sorrindo.

Conforme o desembarque começa, diversas pessoas reclamam de dor, queixas de terem pisado em algo, e isso começa uma certa desordem. Várias vozes se erguendo, pessoas tendo que ser ajudadas. E, no meio disso tudo, Muriel sai do dirigível sozinha, já que Chezan e Nero vão ajudar os passageiros. Ela sai com o passo apressado e rindo. Ela finalmente está em York Shin. E livre. Ela sorri, sentindo o vento contra seu rosto conforme corre.

À frente dela, existem pessoas aguardando o desembarque do dirigível, e algumas têm placas e cartazes com nomes. Um grupo de seis pessoas, em roupas bastante formais, aguarda seus companheiros saírem do dirigível. Dois deles são alunos do Hunter Chezan, Arthur e Gisele. Gisele move o olhar para a garota de pele negra que passa correndo por ela.

— Ei, Arthur. O senhor Nero não disse que eles estavam vindo com uma aluna nova? — Gisele continua seguindo a garota com o olhar.

Arthur meneia que sim com a cabeça, e então nota que Gisele não está olhando para ele.

— Sim. Foi o que o mestre Chezan nos contou — Arthur fala.

— Sobre o quê estão falando? — Angela Nery, a colega do Hunter Chezan, pergunta, se aproximando dos jovens.

Ambos ficam sérios, Arthur de modo calmo e Gisele de modo assustado e exagerado.

— Nada, senhora Nery! — Gisele exclama, fazendo uma posição de sentido.

 

Muriel ri, conforme sai do aeroporto e se vê livre. Com uma nova vida em frente. Encher o piso de pregos com as pontas cortadas, para só machucar, mas sem ferir de modo grave, foi uma boa ideia. Veio de Muriel, mas Marta quis fazer parecer que foi dela. Marta demorou para aceitar a ideia pelo fato que teria que machucar as pessoas. A ideia original de Marta exigia de Muriel tantos passos e etapas que ela nem conseguiu entender o que ela queria fazer.

“O caminho mais curto entre dois pontos é um prego”, Muriel comentou.

Muriel sabe o que precisa agora. Achar um lugar para dormir, provisório ou não. Achar um trabalho ou algum passa-tempo que lhe renda o mínimo possível para se virar. Sabe que o começo vai ser difícil para caramba, mas não tem medo disso. Conforme caminha pela cidade, ela passa por uma praça, e vê várias pessoas reunidas, com cartazes e placas. Muriel suspira, triste, porque nenhum deles tem imagem. Um deles se aproxima dela e lhe oferece um papel, falando:

— Olá garotinha, gostaria de ouvir sobre a causa igualitária? — A mulher, em roupas simples, tem uma voz amigável.

Muriel sente medo, pois geralmente esse tipo de coisa demora para acabar e se desvencilhar é difícil.

“Use o martelo”, sua voz diz em sua cabeça, mas ela sabe que seria errado, inflando as bochechas com ar.

Muriel sorri e a mulher começa a falar, de modo rápido e elaborado, sobre a tal causa e Muriel desvia o olhar, vendo o chão e matutando. Tudo ao redor dela começa a ficar cinza e abafado conforme ela tenta pensar no que fazer.

— Fogo! — Muriel grita, erguendo os braços e saindo correndo.

Muriel corre para fora da praça, sendo bastante rápida. A mulher a vê sumir de vista com um sentimento de confusão, olhando ao redor e suspirando.

— Crianças — ela solta um risinho.

A cesta de comida que pegou do dirigível está em suas mochilas, logo ela sabe que tem uma certa reserva de comida. Não é o bastante para se esbanjar, mas pode aguentar uns três dias com aquilo. E Muriel se orgulha do pensamento rápido. Ela tira um donut, algo que nunca havia comido antes, e, alegremente, põe em sua boca. Ela para de andar, ao sentir o gosto deslizando por sua língua. Ela ergue os braços para cima, ainda de boca cheia.

— Que delícia! — ela grita.

Várias pessoas olham para ela, assustadas, e um homem aproveita a distração da garota para pegar sua bolsa e sair correndo.

— Que droga!

Muriel dispara correndo, sem nem tentar pedir pela ajuda das outras pessoas na rua. Sabe que na maior parte das vezes, todo mundo ficaria só olhando assustado, na expectativa que alguém fora eles iria tomar uma atitude. Muriel sempre contou com essa mentalidade quando ela fazia isso. Por sorte, o cara está usando uma camisa laranja bastante chamativa. Isso é um erro bobo. Ela até se sente mal por estar se sentindo mais experiente que um bate-carteira da cidade grande. Só que ela também deu mole, por outro lado.

Ela passa por um beco e vê, pelo canto do olho, ele correndo beco adentro. Muriel para com tudo e vira, tentando acelerar o passo para não perdê-lo de vista. O batedor de carteira olha por cima do ombro e vê a garota, de catorze anos, o perseguindo sem perder o pique. E aqueles olhos não são de uma pessoa normal, não. Ele foca mais energia nas pernas, acelerando um pouco o passo e continuando a virar, beco após beco, para despistar a garota.

Ele olha para trás e não vê mais ela. Está ofegante e limpa o suor da testa enquanto se senta no chão. A bolsa da garota era pesada, deveria ter algo útil dentro dela. Ele abre o zíper devagar e vê dentro dela… Um chuveiro. Ele franze as sobrancelhas, confuso, e deixa isso de lado. Ele continua a mexer e encontra: uma maçã, uma tigela com cereal, uma caixinha de leite de soja, uma lata de refrigerante, mudas de roupas claramente sujas, uma caixa de ferramentas. Ele para de mexer nela, frustrado e irritado, a jogando de lado. Ele poderia tentar vender as ferramentas e o chuveiro, e a comida ele poderia, bem, comer. Ele escuta um barulho em cima dele e sente uma pancada na cabeça. Ele olha para o que foi: um caixote de madeira. Ele ergue a cabeça e só vê um vulto caindo em cima dele tendo tempo só de ver o brilho de algo balançando, o colar de Muriel. Ambos caem no chão e ele acaba desmaiando com a pancada na cabeça.

Muriel começa a rir, ainda sem fôlego, se sentindo vitoriosa.

— E sem matar! Vitória! — Ela ri. — Você desmaiou? Alô?

Muriel o puxa pelo cabelo para conferir o estado dele e suspira. Gostaria de pedir informações para ele.

“Que pena”, ela lamenta, soltando a cabeça dele.

Ela junta suas coisas, resmungando e olha o sujeito, pegando a carteira dele. Tem um pouco de dinheiro, o que serve para ela. Ela coloca no bolso do macacão e caminha para fora do beco, entrando em uma lanchonete e se sentando no balcão. Ela se sente muito adulta. Saiu de sua cidade natal, “deu perdido” nos Hunters, foi assaltada, assaltou o assaltante que a assaltou e agora está pedindo comida sozinha. Em um bar. Com o dinheiro do assaltante. Isso é bastante incrível para ela.

O lugar não está muito cheio, com um casal de idosos ao fundo, no canto esquerdo, três jovens conversando no canto direito, e um outro casal ao meio, mais novo. A caixa registradora não é de fácil alcance, assim como nada que ela poderia querer pegar e correr. Além disso, Muriel quer algo mais calmo, por agora. Sem isso de precisar ser a larápia. Ainda está um pouco sem fôlego, também, por mais que consiga correr mais um bom tanto caso precise.

Muriel caminha e toma um lugar no balcão, seus pés ficam pendurados para fora do banco alto. Ela os balança, aproveitando a sensação. A garçonete do lugar para em frente a ela, que esperava ser atendida com um sorriso no rosto. A garçonete é uma mulher aos seus quarenta anos, de pele negra em um tom claro.

— Olá, garotinha, vai querer o quê? — ela pergunta, com um sorriso gentil.

Muriel levanta a mão e abre a boca, certa do que vai pedir.

— Eu vou querer um… — sua expressão fica vazia. — Eu na verdade não sei, sou nova aqui. Em York Shin. É, o que eu consigo comprar com isso?

Ela mostra o dinheiro que possui, com um pouco de orgulho. O modo como conseguiu perseguir o assaltante, recuperar sua bolsa e ainda ganhar uns trocados ainda lhe deixa verdadeiramente orgulhosa. A garçonete sorri e se inclina para ver.

— Infelizmente, sinto que isso não compra muita coisa, meu bem. Vou buscar o cardápio para você poder olhar, espere um momentinho.

A garçonete parte para buscar o tal cardápio e Muriel espera, ansiosa. Assim que o tem em mãos, ela começa a analisar com cuidado os itens. Só que ela não sabe ler direito. O homem que estava na mesa com uma garota se levanta e vai até o balcão, se apoiando nele.

— Oi, opa, moça. A gente decidiu nosso pedido ali — ele diz. — Minha amiga vai querer um chá gelado com uma coxinha grande. Ah, com catupiry. E eu vou querer um café com leite, com o marshmallow em cima, e um misto quente.

A garçonete sorri e anota isso.

— Qual mesa mesmo que vocês estão? — Ela indaga.

O homem se vira para o resto da lanchonete. Sua amiga faz o número cinco com a mão. Ele ri e se vira de volta para a garçonete.

— Cinco! — ele fala.

A garçonete vai repassar o pedido para a cozinha, e o sujeito volta para a mesa. Muriel olha para ele, ficando com uma expressão pensativa em seu rosto. Ela se levanta da cadeira, ainda com o menu, e vai até a mesa deles. Ela se senta do lado dele, o analisando. Ele é um homem deve ter um pouco mais de um metro e setenta, a pele dele é mais clara que a de Muriel, mas ainda negro, e seu cabelo é grande e cacheado, jogado para trás com uma faixa. Ele tem o rosto coberto por uma barba rala. A sua amiga percebe Muriel ali antes dele, arregalando o olhar e apontando para a garota. O sujeito se vira e vê Muriel, sentada olhando o menu.

— Posso ajudar? — o homem pergunta, confuso, com um sorriso no rosto.

— Eu preciso de sua ajuda, senhor — Muriel fala, em um tom sério, dramático. — Você tem habilidades que me seriam úteis.

Ela fica quieta após isso, e os dois amigos se entreolham. A mulher, que deve ser um pouco mais baixa que o homem, tem o cabelo curto e loiro escuro. Seus olhos castanhos olham seriamente para a criança desconhecida. Ela ergue o olhar para seu amigo, em busca de respostas. O homem dá uma risadinha e se vira para Muriel, com um olhar calmo.

— Como assim?

Muriel ergue o olhar para o homem e oferece o menu.

— Eu não sei ler direito. Me ajuda? — ela explica, fazendo o papel de garotinha simpática e fofa, o olhando com olhos bem abertos e chorosos.

Os dois amigos riem, os ombros da mulher relaxando. Os olhos do homem se fixam no colar de Muriel, que ela esqueceu de pôr para dentro da roupa novamente. Ele pega o menu da mão dela e começa a ler ele em voz alta, calmamente para que a garota pudesse processar tudo, com Muriel olhando de modo fascinado para isso.

— Tem tanta coisa! O que é triste, porque eu só tenho isso aqui, ó. — Ela mostra a quantidade que tem, fazendo beicinho, tentando parecer o mais triste possível.

O homem conta quanto ela tem e morde o lábio.

— Isso é pouco mesmo, mas relaxa. É sua primeira vez aqui na cidade, né?

Muriel faz que sim.

— Você ouviu a conversa?

— Bem, não tem como não ouvir alguém tão animada. Sou Thompson, aliás, prazer em conhecê-la, senhorita…? — Thompson coloca o cardápio sobre a mesa.

— Muriel, Muriel Andrade. — Ela oferece a mão para ele apertar.

Thompson troca olhares com sua amiga, mas sorri de volta para Muriel.

— York Shin é uma bagunça, garota. Vá por mim. Mas é um lugar bom se você estiver em busca de aventura. — Ele conta, apertando de leve a mão da garota. — Minha amiga aqui se chama Stefani.

Stefani acena com a mão, sorrindo ao ver a garçonete chegar. Ela pega seu chá gelado e toma um gole.

— Você quer comer o quê do menu, Muriel? — Stefani pergunta. — E aliás, onde estão seus pais?

Muriel enche as bochechas com ar, pensativa. Não consegue saber se aqueles dois são legais naturalmente ou se a atuação dela está fazendo efeito.

— Eu adoraria comer essas tais panquecas doces e eu amaria tomar esse tal cappuccino gelatto! — ela fala, apontando para as imagens no menu. — Quanto a outra pergunta, bem…

Stefani ergue a mão e vai até o balcão, pedindo o que a garota disse e retornando para a mesa com um sorriso no rosto, que Muriel retribui. Ela balança as pernas, bastante empolgada com a ideia de ganhar comida de graça, o que é sempre bom, mas Muriel também sabe que falar onde estão seus pais é algo delicado e que a chance de precisar quebrar a janela e pular por ela para não ser levada até as autoridades é grande. Ela respira fundo e fala, em tom baixo:

— Bem, minha mãe eu nunca vi, então fica aí o questionamento. Meu pai foi um porco beberrão nojento que, felizmente ou não, se matou. E daí eu tive que fugir da cidade porque ele ficou devendo dinheiro para uns caras barra pesada. — Muriel solta um sorriso. — E eu acabei martelando uns deles.

Stefani acaba soltando um risinho fraco. Thompson está pensativo.

— E você conseguiu vir para cá como? — Stefani indaga.

— Uns Hunters me viram e ficaram “uau, você luta mó bem, deveria ser uma Hunter, você pode ser nossa aprendiz” e eu aceitei porque… eu queria sair daquele buraco, sabe? — Muriel, lentamente, vai falando sua história, mais confortável agora, sorrindo mais e gesticulando mais, saindo mais do papel de garotinha pedindo ajuda.

Stefani e Thompson fazem que sim.

— E agora estou aqui. Eu dei um perdido nos Hunters porque eu pensei que, sei lá, talvez a vida de Hunter não seja para mim, sabe? Eu não sou alguém… Alguém. Eu mal sei ler e todas as coisas que eu quero são bobas. É tipo, comer coisas gostosas, dormir bem, tomar um banho quente. Fazer coisas que vi em filmes.

Thompson respira fundo, alisando uma pulseira em seu braço esquerdo.

— Mas você quer ser uma Hunter? — Ele indaga.

— Ah, soa bom, né? Meu tio era um e, quando recebi a oferta, tudo que consegui pensar é que “uau, eu vou poder agora ser uma Hunter, que nem ele!”. Só que essas coisas pesam na cabeça. E se eu entrar em algo e acabar me ferrando por não ter motivos épicos para estar ali? — Muriel desabafa.

A garçonete retorna e Muriel comemora, batendo palmas, começando a comer. Thompson e Stefani voltam a trocar silenciosos olhares.

— Bem, Muriel, se me permite dizer… acho que seus motivos são mais que válidos. Sabe, começar de baixo não tem nada de errado. Você é jovem e, se meu faro continua bom, você teve uma vida difícil. Hoje, você luta por uma panqueca, com o tempo, você vai crescendo o que você quer. — Thompson toma um gole do café e morde seu misto quente. — Ou não, mantenha sendo quem você é. Mantenha verdadeira a si mesma e não haverá vergonha no que faz.

Muriel fica quieta, absorvendo tudo que o sujeito lhe disse. Ela come mais um pouco da panqueca.

— Mas e as pessoas que lutam por, sei lá, vingança, honra e essas coisas? Igual nos filmes — Muriel questiona.

— Não pense nisso, garota. Os outros são os outros. Foque em você — Stéfani responde. — Trabalhe em você, enquanto você estiver tentando ir pra frente, mas olhando pro lado, você vai ficar batendo em árvores.

Thompson e Muriel olham para Stefani.

— Que foi? — Stefani Cuchillo questiona, pegando a coxinha para dar uma mordida.

Thompson olha para Muriel com um sorriso brincalhão, tapando a lateral da boca com a mão, para impedir que Stefani visse.

— Ela solta metáforas estranhas às vezes.

— Eu não sei o que é metáfora, mas entendi.— Muriel mostra a língua, brincando.

Os dois riem e Stefani suspira, passando a ficar atenta no vidro da janela enquanto come. Muriel reflete bastante sobre o que os dois falaram. Se pergunta o quão eles estão certos, o quão válido é ela voltar até o senhor Nero, com o rabo entre as pernas, e decidir passar por um treinamento extenso apenas para ter comida, uma cama macia, tomar banho quentinho. Dormir bem. Comer coisas novas. Ir a um cinema. Ser pedida em namoro igual nos filmes. Ela olha o reflexo turvo de si mesma na bebida que pediu e dá mais um gole, seu corpo amolecendo com aquele gosto.

— É, desculpa perguntar assim, mas o que vocês são? Parecem muito… sábios, eu acho. Ou só eu que sou criança demais. Enfim! O que vocês são? — Muriel fala, a voz empolgada como sempre.

— Somos músicos de uma banda, Muri — Thompson fala enquanto mexe nos bolsos de seu casaco; ele tira um panfleto e estende para a garota. — Estamos em apresentação pela cidade, mas estamos de passagem.

Os olhos de Muriel brilham.

— Uma banda? Que daora! O que vocês tocam?

— Eu canto e ele toca saxofone — Stefani explica, limpando a boca. — Se quiser a gente te deixa ir no show que vai ter.

— Acha que é uma boa ela ir? — Thompson coloca a mão à frente da boca. — Ela é bem jovenzinha.

— É só um show de música, bobão — Stefani retruca, rindo. — Muriel, o que tu acha?

Muriel nunca foi em um show de música, de fato. Um sorriso se abre em seu rosto e ela balança a cabeça em confirmação.

— Eu acho que seria incrível! Eu poderia subir no palco?

Thompson sorri, comendo mais de seu misto quente. Eles ficam um tempo em silêncio comendo e Muriel agradece ao destino por ter colocado pessoas que pagam comida para ela ali. Os dois parecem adultos legais. São músicos, gentis e dão bons conselhos.

— Subir no palco? Bem, não sei. Você teria que ser muito incrível lá em cima — Thompson brinca. — Acha que dá conta?

Muriel faz que sim e os dois músicos comemoram. Thompson deixa ela com o cartaz e pega uma caneta de seu bolso e escreve algo nele.

— Se for no show e mostrar isso, o cara te deixa entrar. — Thompson explica. — Só tenho algumas regras, isso vai ser nosso trato, feito?

Muriel faz que sim com a cabeça, exageradamente.

— Diga, diga — ela pede, empolgada.

— Você precisa ir com amigos ou um responsável. Entendo que um responsável talvez não possa te levar. E nem é porque “o lugar é perigoso”, mas porque York Shin pode ser zoada. E eu não quero ter que parar o show para ir te salvar. Combinado? — Thompson dá um gole de seu café.

— Certo! Só? — Muriel pergunta, animada com tudo aquilo.

Stefani nega, dando um risinho pela empolgação da garota.

— Outras duas coisinhas, se me permite, Tom. — Ela oferece seu copo para um brinde.

Thompson ri e brinda com ela, acenando a cabeça positivamente, voltando a comer.

— Da minha parte, eu acho que seria bacana se você não desse para trás por medo dos outros, combinado? — Stefani aponta para a menina. — E queremos ver você se divertindo no show, combinado?

— Combinado e combinado!

Stefani e Thompson sorriem para ela.

— Então temos um trato! — Thompson diz, calmo, ainda sentindo o gosto do café em sua boca.

Eles sorriem e continuam a comer, com Muriel sentindo uma alegria imensa dentro de si. Ela termina de comer e deixa o dinheiro sobre a mesa.

— Obrigado por tudo, e, bem, vocês conseguiram me dar a coragem que eu precisava e ainda me deram um ingresso para um show. Eu vou honrar nosso trato! — Ela se levanta e faz uma reverência.

— Não precisa do dinheiro, poxa. Fica contigo — Stefani diz, empurrando a quantia para a borda da mesa.

Muriel nega.

— Eu insisto, pode ficar com vocês. — Muriel teima, sorrindo tímida. — Até o dia do show prometo que terei já histórias para contar.

Thompson vê a garota saindo da lanchonete e sorri. O sino na porta toca e eles vêem Muriel retornando.

— Na real, posso ficar com o dinheiro? Eu não tenho mais nada e tal — ela pede, rindo abobalhada.

Thompson ri alto e Stefani assente com a cabeça.

— Nem se esquente com isso, se cuida por aí, Muriel — Stefani fala, acenando.

— Voe livre por aí! — Thompson também acena, se inclinando para vê-la saindo.

Muriel estranha ele falar isso, mas sacode a cabeça e sorri, colocando o colar de seu tio para dentro da blusa. Ela sai saltitando pela rua até que duas pessoas param ela, de terno. Jovens perto da sua idade. Ela automaticamente acha estranho eles em roupas tão formais. Um é um rapaz esguio, de pele clara, seu cabelo preto está preso em uma bandana e ele está usando óculos escuro.

“Eu não sei se ele não entende nada de moda ou se é um revolucionário”, Muriel pensa.

A garota ao lado dele não usa o paletó de seu terno e tem o cabelo loiro longo, com a pele também clara e olhos verdes, apenas usando calça e camiseta social.

— Posso ajudar vocês? — Muriel pergunta, temerosa.

— Somos alunos do Hunter Chezan, conhece? — o rapaz fala. — Me chamo Arthur.

— E eu sou Gisele e, bem, você se chama? — a moça, Gisele, pergunta, sendo bem exagerada na gesticulação, mexendo não só as mãos, mas todo o corpo.

Muriel ri, tímida. Tudo vem caindo do céu para ela. Ela segura o pingente do colar por cima da blusa, falando:

— Que bom ver vocês! Eu tinha me perdido. Vieram para me levar até ele, né? — ela pergunta, temerosa de só terem vindo dar uma carta de “demissão”.

Gisele ri, abanando a mão.

— Lógico que sim, estavamos todos doidos te procurando! Que bom te achar, vem cá! — Gisele exclama, indo abraçar a menina.

Muriel a abraça, rindo, e saltitando com a garota. Pelo menos ela compartilha de sua energia. O tal Arthur já tem mais semelhança com Marta, em sua postura.

— Bem, então vamos indo! — Gisele diz. — Agora me conta tudo sobre você, como foi que o Mestre Nero recrutou você?

Muriel ri e, conforme conta, pensa em seus objetivos. Será que deve lutar agora por reconhecimento? Lutar pelo seu espaço dentro desse grupo? Provar para Marta que seus objetivos, sonhos e almejos são tão dignos quanto os da aprendiz veterana do Hunter Nero Blanco? Muriel sente o sol carinhosamente tocar sua pele. Ela lutará não só por ela, mas todos que lutam dia após dia nas sombras. Roubando pães. Ela irá se tornar um anjo estendendo a mão para qualquer um que precise.

Muriel ri com a ideia, com um largo sorriso se abrindo em seu rosto enquanto fecha os olhos ao sentir esse sol, tão gostoso, tocar sua pele.

“Brincadeirinha”, ela pensa. “Vou voar livre, sem amarras a algo tão épico assim”.


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