Os Desqualificados escrita por S Q


Capítulo 38
Papo de Ex




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Patrick mandou uma mensagem no dia anterior, logo depois do show, à Milena, perguntando se podiam se encontrar. Ele estava atormentado. Nem tanto pelas palavras de apoio de Marizete para que ficasse com a amiga, mas principalmente pelo que ela lhe disse depois: que Graziele era sua filha. O rapaz sabia que a senhorinha tinha problemas mentais, deve ter tido alguma espécie de surto, mas de toda forma… Era uma ideia pertubadora demais. 

 Porém, nenhuma mensagem enviada ficava com a indicação de que tinha sido recebida pelo telefone de Milena. Preocupado, no dia seguinte de manhã, ele tentou ligar-lhe mas caiu logo na caixa postal, em todas as tentativas.

Será que ela tinha bloqueado o amigo? “Não” Patrick logo pensou consigo, afastando a ideia. “Milena não é o tipo de pessoa que sairia bloqueando alguém sem nem ao menos tentar conversar antes”. O rapaz realmente confiava nela. Mas isso não o tranquilizava. Na verdade, o preocupava. Alguma coisa estava acontecendo. 

 Assim, passou o restante do dia se perguntando se era melhor se intrometer ou não. Sem ter conseguido realmente tomar uma decisão, a escolha foi tomada por ele quando no fim da tarde a própria Milena lhe ligou. Ele correu logo para atender.

— Milinha, como é bom te ouvir! — Disse e só depois sentiu vergonha da empolgação embaraçosa. Mas ela deu um risinho abafado, o que era um ótimo sinal.

— Oi, tudo bem?!

— Tudo… — Ele disse num suspiro, se esquecendo por um instante dos problemas. Mas então se lembrou — Milena, eu preciso falar com você sobre a Marizete.

Ela também tinha se esquecido por um instante do motivo de ter ligado. Porém, o nome a fez se recompor.

— Eu tenho uma coisa pra te falar sobre ela também, o tipo de coisa que não se diz por telefone.

Patrick arregalou os olhos.

— Ah, não! Será que é sobre a mesma coisa? Nunca pensei que eu fosse dizer isso, mas tinha esperança dela estar só delirando.

 

***

 

 Patrick e Ana se reuniram com Milena em sua casa mais tarde. A prima e seu ex não queriam muito ir, mas a morena disse que era muito importante. Ricardo, de toda forma, nem respondeu. Meia hora depois do combinado, ainda era visível que Ana estava melancólica com essa ausência de Ricardo. Patrick chegou a querer consolá-la mas Milena percebeu e colocou uma mão gentilmente em seu ombro, lhe impedindo de uma maneira doce, mas firme:

— Não faz isso. Vai ser pior pra ela. As vezes, é bom deixar a pessoa processar um pouquinho. 

Patrick assentiu com a cabeça mas continuou preocupado. A vocalista aguardou ao seu lado por mais 10 minutos, conversando banalidades, mas ao perceber que já haviam se passado 40 minutos, resolveu iniciar.

—Bem, eu sei que queria todo mundo aqui, mas também não dá para esperar para sempre… — ela disse em um tom agitado, diferente do seu normal.  — Vou precisar ir direto ao assunto: me ligaram da clínica onde Marizete está.

   Ana se endireitou na cadeira, prestando mais atenção.

— Ela está bem?

— Então… é complicado… Eu estava falando com o Patrick mais cedo sobre isso… Não sei bem por onde te começar a contar mas… a Marizete pode ser a mãe da Eusfraudósia.

O rosto da guitarrista se torceu em descrença ao ouvir isso.

— Mas… ela não era filha daqueles fazendeiros ricos lá?

— Essa é a parte que me confunde, mas aparentemente a cabeça da Marizete aos poucos está ficando mais lúcida, pelo tratamento recebido na ONG e a melhora da qualidade de vida. Ela começou a conseguir contar melhor algumas coisas do seu passado, e quando fui lá, acredita que estava relatando ter vindo de uma família rica? O que parece é que os irmãos rejeitaram ela por se casar com um cara pobre.. Só aceitaram cuidar da filha, quando a situação financeira da Marizete já estava desesperadora, mas realmente tiveram a audácia de deixarem nossa amiga na rua.

Ana fez uma expressão de choque. Logo começou a protestar:

— Mas que absurdo! Que família horrível! Quem eles pensam que são?! Ok, até que faz muito sentido que a aquela vagabunda lá tenha sido criada por gente assim!

A reação dela era de tanta indignação que até assustou um pouco Patrick. Ele achou melhor ponderar:

— Bem ruim mesmo, mas, Milena, além da evolução no tratamento, tem alguma outra coisa que comprove o que a Marizete tá falando?

— Era aí que eu queria chegar. O pessoal da ONG falou que daria pra fazer um exame de DNA para confirmar a suspeita da Marizete. Só que para isso, a gente iria precisar fazer com que a Eusfraudósia concordasse… Já viu o problema que pode vir aí, né?

Patrick cruzou os braços e fez uma expressão séria. Acabou não dizendo nada para não desmerecer a preocupação das garotas. Ele mesmo estava preocupado com Marizete. Mas aquela situação toda de exames lhe fez lembrar de seu pai. Da última vez que se falaram, o homem estava estranhamente mais amigável, mas o filho logo descobriu o motivo: o tratamento estava parando de fazer efeito. No meio da agenda corrida e das crises da banda, dessa vez foi o baixista que não deu a devida atenção ao pai, mas ele não se sentiu vingado. Pelo contrário, se sentia com um enorme peso na consciência. Assim que saísse dali ligaria para ele, nem que fosse só para perguntar o que andava jantando. 

— Então vamos atrás da abutre… Eu quero só ver…Que maluquice essa vida! — Ana falava inconformada — mas onde? A última notícia que tive dela foi quando soltaram aquele lá do cativeiro.

— Aquele lá? — Milena perguntou confusa. A prima estreitou os olhos em sua direção.

— É o queridíssimo do  meu ex que dava em cima de você — A outra tentou interromper, mas Ana falou mais alto, emendando — Será que a vaca ainda tá na cadeia?

Nesse momento, Patrick se esticou um pouco.

— Pior que realmente, para quem gostava tanto de causar, ela sumiu da mídia.

— Bem, a gente pode tentar ir até essa delegacia então e perguntar… — comentava Milena, no que uma musiquinha baixa começou a se interpor à conversa.

— Desculpa meninas, é notificação de uma live que eu queria ver. Acreditam que o Jaques fez um evento enorme nas redes sociais para lançar mais uma música nova?

— Enquanto um ex some, tem outro voando. — comentou Ana — quer saber, ele que tá certo! Quem se liberta tem mais que seguir em frente e dar a volta por cima mesmo.

Então ela se aproximou de Patrick querendo ver também, junto de Milena. 

  Jaques realmente não merecia ter ficado nas sombras por tanto tempo. Ele não só cantava e compunha muito bem, como dançava também ao mesmo tempo, com um físico impecável. Contudo, o mais inesperado ali foi o baterista que apareceu no fundo do cenário futurístico em que o antigo advogado se apresentava.

— Ricardo?!


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