Os Desqualificados escrita por S Q


Capítulo 22
Cabeçada no Volante


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente, desculpa pelo atraso. Estive muito ocupada com trabalhos da faculdade.



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A verdadeira liga entre a DESQ, seus fãs, e a crítica se dava após a publicação de Magno sobre Graziele. Mas se engana quem pensa que o intelectual de arte só saiu xingando a cantora de cabelos alisados. Não, ele fez melhor do que isso. Ao invés de atacar diretamente, ele fez altos elogios à banda d’Os Desqualificados e disse que “quem perde tempo se dedicando a estragar uma carreira brilhante, sem tomar cuidado com a sua, só pode ter um recalque muito grande.” E mais: “tudo que a gente planta, a gente colhe. Todo mundo deve tomar cuidado ao desejar a derrota de alguém. Pode ser que a próxima derrotada seja exatamente a pessoa que planta discórdia.”; “Artistas mais preocupados em causar do que com sua arte em si, acabam caindo no esquecimento.” entre outras coisas do tipo. Para finalizar, ele falou ainda: “A banda pouco se manifestou sobre as acusações, sendo uma outra pessoa a maior fonte de tais informações. Eu não vejo isso como fonte confiável”. 

Assim que viu o texto repercutindo loucamente pelas redes sociais, Ricardo pegou seu Honda Civic e foi até a vila. Precisava espalhar aquele texto maravilhoso para os amigos. Patrick tinha saído para fazer umas compras de mês, mas Milena já estava em casa, tinha avisado aos colegas de banda que acabara de retornar da casa do pai e o recebeu um pouco curiosa:

 — Ué, a Ana não veio junto?

Ricardo ficou um tempo sem saber o que responder. Na sua empolgação, a primeira pessoa que pensou em procurar foi Milena, não a namorada. Nem ele mesmo se deu conta disso. 

— Beem, a Ana estava lá… fazendo as coisas dela… Sabe, eu não nasci grudado na minha namorada! — ele falou para disfarçar. Por sorte Milena não percebeu o estranho nervosismo que tomou conta de Ricardo.

— Ah, sim, é claro. Respeitar as individualidades e o espaço de cada um é importante. Mas enfim, por que veio aqui?

— Precisava te mostrar isso. 

Milena forçou a vista para conseguir ler o que aparecia na tela do celular do amigo. Um sorriso gigante foi se formando no seu rosto enquanto lia o texto de Magno. 

— É inacreditável o tanto que esse cara ajuda a gente! Você tem algum contato dele?

Ricardo não tinha, mas dando uma rápida pesquisada no Google, conseguiu um endereço de e-mail. 

— Tá aqui. Mas por que você quer isso?

Milena deu um sorriso tímido:

— Eu tive uma ideia. Vou mandar mensagem para a Ana e pro Patrick para ver se eles concordam. É que o Magno basicamente está fazendo um trabalho de assessor de imprensa pra gente. Talvez contratar ele fosse bom para a banda  — explicou. O colega assentiu com a cabeça, concordando. Então Milena se tocou de uma coisa - você podia ter me mandado isso por mensagem. Não precisava ter vindo até aqui. 

Até então, Ricardo parecia relativamente tranquilo. Ele coçou a parte de trás da cabeça, e disse sem graça:

— Tem razão. Acho que foi um impulso, sei lá… Bem, melhor eu ir saindo, né? 

Então rapidamente ele deu um aperto de mão forçado, e voltou para o seu carro. Sentado no banco do motorista, prestes a dar partida no carro, ele bateu com a cabeça no volante, de propósito. 

“Ricardo, sua anta, no que você tá pensando?! Ela é prima da sua namorada! Uma namorada que você já tem!” - pensava, se recriminando. Precisou respirar fundo antes de erguer a cabeça novamente e sair com o carro dali. Achou melhor fazer uma visita a Ana, depois dessa, para aliviar sua consciência. Até comprou flores no caminho. A guitarrista tinha passado o dia treinando samples na sua guitarra. Quando a banda retornasse, precisaria dar o seu melhor, era tudo ou nada.

 Chegando no prédio onde ele morava, e agora Ana também, um grupo de jovens, que passava perto do portão da garagem, reconheceu o motorista. Naquele momento, ele torceu de verdade para que a ideia de contratar Magno funcionasse, porque começaram a ir para cima do carro gritando coisas como “é desqualificado mesmo!” e “Graziele, dona da verdade”. Porém, por outro lado, se perguntava se a maioria das pessoas estaria realmente disposta a mudar de opinião e ver as coisas por outro ponto de vista, ou se iriam sempre viver na bolha do que achavam. E conforme foi entrando com o carro, sem demonstrar reação, uma começou a gritar “bando de riquinhos nojentos!”. Ele só pôde rir. Era tão absurdo ouvir aquilo, sabendo das origens de todos seus colegas de banda. Quer dizer, a vocalista e o baixista ainda moravam numa vila! 

Chegando no apartamento da namorada, entregou as flores. Ela realmente não esperava, e ficou um pouco desconfiada, porque o namorado não lhe mimava já há um bom tempo. Mas não recusou as flores, simplesmente agradeceu e colocou elas em um vaso. Depois disso, Ricardo começou a andar de um lado para outro, aparentemente tranquilo, embora Ana soubesse que aquilo era o oposto da tranquilidade em seu namorado. Sempre que ficava realmente preocupado com alguma coisa, ele ficava assim: mais atento, mais ligado, um pouco mais inquieto — esses eram os momentos que ela menos suportava o baterista. 

— Tá certo, quer me contar o que está havendo?

— A gente precisa fazer a banda voltar logo. Sem produzir nada de bom, o hate vai só aumentar, mesmo que ainda tenha gente que defenda a DESQ. Chegando aqui no prédio, um grupo de fãs da Graziele vieram me atormentar, acredita? —  não mencionou nada sobre Milena. 

— Ri, então você tá muito por fora. Enquanto tava viajando, a minha prima me enviou várias letras de músicas novas que a Marizete escreveu. É uma melhor que a outra.

Ana, então, pegou sua guitarra e começou a tocar melodias que tinha criado para as letras novas. Também cantava acompanhando, para que Ricardo entendesse bem como ela queria que se encaixasse. Marizete podia ter deixado o fundo musical em aberto, mas Ana parecia estar fazendo um trabalho que nem a compositora conseguiria fazer tão bem. 

 Dentro de Ricardo crescia uma inquietação. Admirava totalmente o esforço da namorada e achava realmente incríveis as músicas que ela estava mostrando, contudo, percebia que a voz dela não lhe hipnotizava como fazia a de Milena. Cresceu a culpa.

— Sensacional! Não vejo a hora de te ver tocando isso para todo mundo! —  disse para disfarçar seu sentimento.

 Os dias seguintes passaram rápido. A banda voltou a se reunir, mas focava exclusivamente agora na volta em marcar sua volta triunfal, aproveitando a derrocada e o boicote que Graziele começou a sofrer após a reportagem de Magno. Embora alguns fãs ainda estivessem cegos, até cancelada, nas redes, por outros, ela já estava sendo. Os Desqualificados, enquanto isso, além de marcarem um horário na agenda cheia de Magno, contratavam uma equipe de técnicos de som e músicos profissionais para otimizarem a qualidade da apresentação da banda em seu show de volta, após o hiato. A ideia era fazer as músicas novas impactarem ainda mais que “O que há de Melhor”, seu único single famoso até então. A apresentação fora marcada para o pavilhão do som de Brasília. Queriam um recomeço no berço da banda. Quando o dia marcado para o show chegou, todos se reuniram no camarim bastante nervosos, afinal, o último show que tinham feito fora uma catástrofe. Milena, apesar de não aparecer no palco, era quem estava mais preocupada. Sua insegurança e ansiedade estavam atingindo níveis estremos. Queria a volta da banda, mas justamente por isso, sabia que se algo desse errado, era o fim. Ana e Ricardo podiam continuar como músicos depois, como já eram antes da DESQ e Patrick não ligava tanto assim para música, estava ali pelos amigos. Mas ela ligava, não admitia tanto, mas ligava muuuuiiito, e sabia que fora daquela banda nunca mais teria chance nenhuma. 

Patrick percebeu seu nervosismo e pegou nas mãos dela, tentando acalmá-la:

— Calma, vai dar tudo certo. —  falou antes de lhe dar também um abraço e um beijo na testa. Ela suspirou. Ricardo engoliu em seco vendo a cena, mas não disse nada.


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