3 Atos Para Continuar escrita por Dafne Guedes


Capítulo 4
7 Anos de Cedélia (Capítulo Bônus)


Notas iniciais do capítulo

Para quem leu com cuidado Lembrem-se de Cedrico Diggory, há uma pequena parte que Cedrico diz que gostava de Cordélia antes de ela sequer notar que ele existe. Então, aqui está Cedrico para provar. Espero que gostem!
Boa leitura e nos vemos nas notas finais!



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I knew I wouldn't forget you
And so I let you go and blow my mind
Your sweet moonbeam
The smell of you in every single dream I dream
I knew when we collided
You're the one I have decided who's one of my kind

 

1° Ano

                A primeira vez que Cedrico Diggory pôs os olhos em Cordélia Bloxam foi na noite de sua seleção em Hogwarts. Era tudo como seus pais sempre disseram que seria; e melhor. O teto encantado do salão principal era mais real do que ele havia imaginado, as velas flutuantes iluminavam a câmara em luz amarelada e os alunos mais velhos eram mais altos e intimidadores do que ele havia pensado.

                Seu único amigo em Hogwarts havia acabado de ser selecionado para a Lufa-Lufa –ele e Gregor Abbott se conheciam desde sempre pois seus pais estudaram juntos. Não estava tão nervoso; seu pai havia sido da Lufa-Lufa e sua mãe da Corvinal, e nenhum dos dois jamais o havia pressionado –talvez seu pai houvesse, mas apenas um pouco. A garota desconhecida parada ao seu lado, porém, mordia o lábio inferior com tanta força que ele estava um tanto branco, mas Cedrico não prestou atenção naquilo: sua atenção estava focada no grande par de olhos verdes que o miraram por um segundo antes de se desviarem. Cedrico não achava que já havia visto olhos tão intensamente verdes antes.

                Ela não estava sozinha, mas de mãos dadas com uma menina loura e baixa, de olhos castanhos curiosos, que parecia igualmente tensa. Por algum motivo –ele não entendia na época –ele não era capaz de tirar seus olhos da menina de olhos verdes e sardas douradas. As sardas, aliás, ficaram muito pálidas quando a senhora severa que se apresentara como Minerva Mcgonagall, chamou:

—Bloxam, Cordélia!

                Ele não sabia para qual Casa ela iria quando ela andou de forma muito confiante para o banquinho, mas logo perceberia que gostaria de estar onde ela estivesse.

                O chapéu não passou nem três segundos em sua cabeça, antes de anunciar em voz alta:

Sonserina!

                A Cedrico, só restou assistir desanimado enquanto ela soltava um suspiro de alívio, recobrando cor nas bochechas altas, e andava para a mesa que recebia com palmas entusiasmadas a primeira aluna selecionada para a Casa. Seus pais nunca descreveram a Sonserina com bons olhos e o garoto já chegara a Hogwarts com um preconceito formado, mas, naquele momento, achou a mesa verde e prata acolhedora e bonita. Os dois próximos selecionados também foram para a Sonserina, o que deixou as mesas das três outras casas agitadas.

—Bulstrode, Peter!

—Sonserina!

—Burke, Lana! –Essa era a garota loura amiga de Cordélia Bloxam, Cedrico anotou mentalmente.

—Sonserina!

                Dois garotos com sobrenomes começando com a letra “C” (Clearwater e Cumberbatch) foram ambos para a Corvinal, em seguida. Mais rápido do que ele achava ser possível, “Davies, Rogério”, que dividira um vagão com ele e Gregor na viagem de ida, foi selecionado também para a Corvinal, indo parar lá com um sorriso satisfeito e uma piscada na direção do novo amigo, então, finalmente, foi sua vez.

—Diggory, Cedrico!

                Tentou não olhar para trás; nem para seus colegas calouros, nem para as mesas apinhadas que o olhavam com curiosidade, enquanto andou para o banquinho trêmulo de três pernas e deixou que a professora cobrisse seus olhos com o antigo chapéu puído.

                Ah, soou uma voz na sua cabeça. Seus pais nunca haviam mencionado que o chapéu falaria com ele, então Cedrico deu um pulinho sentado. Uma mente brilhante, eu vejo, quanto talento... um coração grande, ansioso por gentileza... eu sei aonde você deve ir para brilhar, garoto. Com eles, aprenderá sobre trabalho-duro e lealdade, e é nisso que você vai se destacar. Deve ser...

—Lufa-Lufa!

                A mesa amarela e preta fez o barulho que Cedrico usou para se guiar para sua nova “família”, surpreso por não tropeçar nos próprios pés no caminho. Não estava particularmente surpreso com sua colocação; e tomou orgulhosamente um lugar entre Gregor e uma garota de cabelos cor-de-rosa brilhantes e olhos num tom elétrico de azul.

—Bem-vindo, Diggory. –Ela disse animadamente. –Eu sou Tonks, do quarto ano. –Então ela derrubou uma taça de ouro vazia quando estendeu uma mão para que ele a apertasse. –Ops... Desculpe, que droga, machucou você? Não? Que bom. Droga, o Monitor-Chefe da Grifinória já está olhando feio para mim, mas podem confiar em Guilherme Weasley, sério. Sempre o digo que devia ter sido da Lufa-Lufa com seu senso de justiça, o coração dele pertence ao texugo...

                A garota tagarelou a maior parte da seleção, mas foi uma coisa boa, porque, antes que ele se desse conta, já havia chegado ao fim e duas meninas e um garoto haviam se juntado à mesa dos texugos. Naquela noite, ele também conheceu Hugh Spizba, Anne Smith e Susana Pevensie, que seriam seus fiéis companheiros nos sete anos que viriam a seguir.

 

2° Ano

                O fato de que eles nunca se falavam não impedia Cedrico de estar sempre um pouco consciente demais de sua presença. Ele não sabia o que queria com isso; ou não queria nada com isso. Mas observá-la de longe o dava prazer, enquanto ele imaginava do que ela gostava. Com o tempo, aprendera sozinho: ela sempre comia algo doce no café-da-manhã, evitava café, recebia o Profeta Diário, embora a maioria dos primeiranistas não se importasse com as notícias, seus pais a mandavam doces semanalmente –alcaçuz, penas de açúcar e chocolate –e ela incrivelmente talentosa em poções.

                Não que sua vida se resumisse a observá-la, afinal, ele tinha sua própria agenda; e um de seus objetivos naquele ano era entrar para o time de quadribol de sua casa.

                Tonks, agora no quinto ano, era a nova capitã. Ela era um dos poucos alunos mais velhos que realmente faziam amizade com as crianças, e ela e Cedrico se davam realmente bem; ambos tendo um talento prodigioso para Transfiguração, embora nada que Cedrico fizesse ainda pudesse se comparar com as habilidades da outra para metamorfagia.

                Os testes da Lufa-Lufa, ao contrário da maioria das outras Casas, focavam tanto nas habilidades do jogador em cima da vassoura, quanto em suas capacidades de trabalhar em equipe. Por isso, mesmo fazendo o teste para apanhador, Cedrico teve que mostrar para Tonks que era capaz de ajudar os colegas com a goles e os balaços, além de pensar no time mais do que em si mesmo.

—Vamos terminar isso antes que a Sonserina chegue para fazer os testes. –Disse Tonks, parando o exercício e sinalizando para que todos voltassem ao chão.

                Era uma coisa boa que os exercícios tivessem acabado, porque a partir daí Cedrico só conseguia se perguntar se ela estaria ali. Ficou espiando o caminho para o castelo de cima da vassoura, esperando que os alunos da Casa das serpentes descessem para fazer os testes. Quanto Tonks anunciou que ele seria o apanhador, ele teve de desviar o olhar do caminho de pedra vazio para trocar um aperto de mãos com sua nova capitã, além de agradecer pela confiança, e ficar feliz por Gregor, o novo artilheiro, e triste por Hugh, que não havia sido aceito como batedor, por ainda ser muito franzino.

                Cedrico se demorou um pouco mais do que o necessário no vestiário, apenas para garantir que os testes da Sonserina já estivessem acontecendo quando ele saísse. Ao voltar para o campo, notou o apanhador da Grifinória –Carlinhos Weasley –espionando os testes das serpentes ao lado de Tonks, que havia usado sua metamorfagia para se disfarçar um pouco, e acenou para Cedrico quando ele passou, mas, no campo, haviam apenas quatro segundanistas: Warrington, Selwyn, Bulstrode e Greengrass, que eram amigos de Cordélia, mas ela não estava lá.

                Balançando a cabeça em desaprovação a si mesmo, Cedrico Diggory seguiu para o castelo sem olhar para o caminho. Já estava tarde e em breve o jantar seria servido, mas Hugh e Gregor já haviam ido para o castelo sem ele, e ele se atrasaria trocando de roupa no dormitório e ficaria atrasado na tarefa de Herbologia que eles haviam planejado fazerem juntos. Era uma sorte que já estivesse terminado a de Transfiguração, mas também havia pedido trabalho extra para a professora Minerva, que concordou com um intensivo proposto por ele.

                Ele estava, distraído, pensando que provavelmente teria de pedir ajuda a Tonks para terminar sua tarefa, quando trombou com alguém igualmente distraído, vindo na direção oposta. O choque da batida lançou os dois para a grama fora do caminho de pedra e Cedrico sentiu quando seu joelho bateu num cascalho e fez uma careta para não reclamar de dor.

                A primeira coisa que ele notou foi que o impacto jogara alguns sapos de chocolate na grama. Em seguida, quando levantou os olhos, deu de cara com duas grandes írises verdes, encarando-o com preocupação, e a dor sumiu. De perto, ele anotou mentalmente em sua lista de coisas sobre ela, a garota cheirava a brisa marinha e flores silvestres.

—Você está bem? –Cordélia Bloxam franziu as sobrancelhas para ele, mas Cedrico estava ocupado em pegar seus doces do chão para devolvê-los a ela. Então ficou em pé rapidamente para ajudá-la e não o contrário.

—Me desculpe. –Ele corou ao dizer isso. –Eu estava distraído e não vi você.

—Tudo bem. –Ela o olhou estranhamente. –Eu também estava distraída. Você se machucou?

                A pergunta dela trouxe a ardência em seu joelho de volta, o que fez Cedrico se abaixar e levantar a calça até revelar que havia um machucado com pontinhos de sangue onde antes havia pele lisa. Ela observou o machucado com interesse, embora ele tivesse pensado que ela simplesmente seguiria, agora que estavam bem.

—Você pode ir na enfermaria se quiser se livrar disso. –Ela ponderou, analisando o machucado antes de olhar para ele. –Ditamno vai sarar em um instante. Eu sou Cordélia Bloxam, aliás.

                Ele sabia disso, é claro. Sabia de muito mais coisas sobre ela, mas se as dissesse, soaria assustador.

—Eu sou Cedrico Diggory. –Ela deu uma risadinha quando ele estendeu uma mão em sua direção, como se algo fosse engraçado. Cedrico corou um pouco mais. –Acho que atrasei você para os testes.

                Cordélia balançou a cabeça, os longos cabelos castanhos com um brilho de bronze se movendo em suas costas.

—Eu não jogo. –Disse. –E sei quem você é. Você é o garoto que é simplesmente incrível em Transfiguração. De verdade, eu gostaria de fazer metade do que você faz na aula na professora Minerva.

                Ele não achava que já houvesse se sentido tão orgulhoso sobre nada antes, mas agora o fato de que ele era talentoso em Transfiguração parecia importante e grande. Importante o suficiente para que ela notasse.

—E você é a garota de poções. –Cedrico comentou de volta, percebendo que era sua chance de mostra-la que ele a notava também. Muito.

—Acho que sim. –Ela corou um pouco e evitou olhar para ele. –De qualquer forma, vou deixar você seguir seu caminho.

                Dizendo isso, Cordélia se desviou dele, dando a volta para seguir para o campo. Cedrico quis pedir que ela não fosse –queria saber as coisas sobre ela que ele não poderia descobrir apenas a observando.

—Nos trombamos por aí. –Foi tudo que ele disse, mas foi o suficiente, porque ela sorriu para ele e duas covinhas apareceram em sua bochecha.               

                Ele não procurou Madame Pomfrey na enfermaria para curar seu novo machucado. Na verdade, desejou que ficasse uma cicatriz para lembra-lo de que Cordélia Bloxam notava que ele existia.

 

3° Ano

—Srta. Bloxam, por favor, mova-se para o lado do Sr. Diggory.

                Aquela foi a frase que chamou a atenção de Cedrico para a aula de Feitiços numa tarde quente de quarta-feira; meio da semana e ele ainda não estava cansado das aulas. Eles estavam vendo feitiços conjuratórios agora; e era uma das coisas mais legais que ele já tinha estudado. Fogo e água eram invocados de varinhas estendidas pela sala de aula. Nada disso parecia ter incomodado o professor Flitwick até então, mas a faladeira sem fim de Mary Selwyn tinha.

                Ele se virou discretamente para observar Cordélia revirar os olhos para a amiga, juntar suas coisas e se levantar com um suspiro. Gregor, seu companheiro de mesa, levantou as sobrancelhas para ele com irritação antes de fazer o mesmo, mas pareceu menos chateado quando os olhos verdes da sonserina encontraram os dele, cheios de desculpas. Cedrico não conseguia imaginar alguém que conseguisse resistir àqueles enormes olhos brilhantes.

—Oi. –Ela murmurou quando deslizou para o assento ao seu lado. –Lamento por isso.

—Sem problemas. –Ele respondeu, tentando não soar muito intenso. Teria que dar um jeito de agradecer ao falatório de Mary Selwyn, pois ela acabara de o proporcionar a melhor aula de Feitiços que ele já tivera em Hogwarts.

                Eles eram uma estranha dupla na sala de aula. Haviam sonserinos de um lado, lufanos de outro, corvinos bem à frente e grifinórios mais atrás; e apenas os dois, de diferentes cores de gravata, dividindo uma mesa no meio da sala.

                Não importou. Cordélia era uma boa colega de estudos; concentrada e competente. Uma vez que eles já conseguiam dominar o feitiço para conjurar chamas, porém, eles não tinham mais o que fazer além de esperar a aula acabar num silêncio desconfortável.

                Bem, não se dependesse dele.

—Você foi ao passeio em Hogsmead? –Perguntou, despretensioso. Aquele havia sido o primeiro ano em que eles tinham permissão para passearem na vila e ele havia apreciado muito o passeio com seus quatro melhores amigos.

—Ah, sim. –Ele lembrou que não a havia visto por lá e como isso o incomodara.

—Não vi você.

—Passei a maior parte do tempo na Dedosdemel. –Ela deu um sorriso de boca fechada, com covinhas. –Todo mundo só falava do Três Vassouras, mas é muito lotado.

—É mesmo. –Ele cedeu. Ele e os amigos haviam esperado meia hora antes que uma mesa fosse liberada.

—E doces são melhores do que cerveja amanteigada. –Ela pontuou.

—Não sei se concordo sobre isso. –Cedrico admitiu, sorrindo. Ela abriu um sorriso para ele, paciente. Ele continuou, após olhar ao redor por um segundo. –Acho que nossos colegas estão esperando que você me amaldiçoe. –Brincou.

                Cordélia também olhou ao redor, como se apenas então tivesse notado que seus colegas realmente lançavam estranhos olhares para a amigável interação entre eles. Cedrico observou um sorriso surgir nos lábios rosados e polpudos dela, da mesma forma que poderia assistir ao nascer do sol de manhã.

—Que ingênuo. –Ela virou os olhos verdes para ele, brilhando de diversão. –Sonserinos e lufanos se dão bem porque ambos valorizam o conceito de serem leais aos seus amigos. É como... um respeito mútuo. Por ideologia.

                Cedrico gostou da ideia de eles compartilharem um traço, algo em comum. Mas viu um problema na teoria.

—Grifinórios também são leais.

                Apertando os lábios, Cordélia deu um sorriso estranhamente inteligente.

—Às vezes é preciso escolher entre lealdade e nobreza e os Grifinórios vão escolher a nobreza. –Disse com certeza em seu tom de voz. Cedrico não tinha certeza de sequer ter entendido o que ela quisera dizer, mas ela o lançou um sorriso brincalhão e ele não perguntou.

                Mais cedo do que ele achava justo, eles foram liberados da aula. Cordélia sorriu amigavelmente para ele estendeu uma mão para que ele apertasse, o que Cedrico fez com um suspiro insatisfeito. Tão cedo. Quando ela foi embora, deixou um cheiro de brisa marítima para trás, que o fez querer, como um homem viciado, segui-la para fora da sala e enfiar o nariz em seus cabelos de aparência macia.

                Ao invés disso, Cedrico apenas pegou uma folha borrada de anotações que ela deixou para trás, com desenhos nas margens, a dobrou e guardou no bolso da calça.

 

4° Ano

                Cedrico ficou bastante surpreso com o número de olhares femininos que estava recendo naquele ano, mas não insatisfeito. Havia crescido bastante no verão e o quadribol finalmente fazia algo por seus músculos, embora ainda fosse um garoto magro. Gregor parecia pensar que aquela era uma vantagem a ser utilizada com as garotas de Hogwarts –pelas quais ele havia recém-descoberto algum interesse. Hugh estava do lado de Cedrico; o amigo parecia não ter criado nenhum interesse em especial por garota alguma e Cedrico se perguntou se, como ele, o amigo tinha uma única fixação que preferia esconder.

                Era muito mais claro para Cedrico agora o que significava seu interesse em Cordélia Bloxam. Ela, aliás, também havia ficado mais alta ao longo do verão, e cortado seus cabelos nos ombros; o que foi um choque nada desagradável. O novo visual abria espaço para que ele visse melhor seu rosto interessante e a fazia parecer, de alguma forma, mais jovem, porém mais madura.

                Ele não sabia como explicar para seus colegas que não tinham nenhum interesse de usar sua nova boa aparência com alguma garota que não fosse aquela. Suas esperanças, porém, foram minadas logo nos primeiros meses de aula.

                Tonks estava no sétimo ano, mas eles ainda tinham encontros para estudar Transfiguração. Ela queria fazer parte da academia de aurores uma vez que deixasse Hogwarts e eles estavam treinando juntos para os testes de disfarce; ela utilizando sua metamorfagia, ele vendo até onde conseguia acompanhar com a sua varinha.

—Você soube que o capitão do time da Grifinória está saindo com uma sonserina? –Ela perguntou, numa noite, após o jantar, em tom de conversa.

                Cedrico, os olhos deitados num livro sobre transfiguração humana com algumas interessantes sugestões para situações extremas que envolviam guelras ou asas, nem deu muita atenção.

—É mesmo? Oliver Wood?

—O próprio. –Tonks respondeu. –Uma tal de Cordélia Bloxam.

                O lufano levantou a cabeça do livro tão rápido que fez a colega levantar as sobrancelhas, o cabelo indo para um curioso tom de amarelo gema. Algo pesado havia aterrissado em seu estômago, o fazendo se arrepender de ter comido no jantar.

—Cordélia está saindo com Wood? –Cedrico repetiu, descrente.

                Não podia ser.

—Você a conhece? –O olhar penetrante de Tonks indicava que ela notara sua agitação em torno do assunto.

—Eu... –Cedrico hesitou. –Sim, somos... colegas, acho. Bem... Wood, o fanático? Ela não gosta de quadribol. Pensa que é uma perda de tempo.

—Então não vai durar. –Tonks sentenciou, com uma piscadela marota. É claro que ela o havia sacado. –Aquele Wood respira quadribol.

                Cedrico não respondera. Havia um tipo de peso em seu estômago, que o acompanharia pelos próximos meses de forma insistente. Tonks pareceu ver isso em seu rosto, porque se aproximou e sentou-se na cadeira ao lado dele, o observando de perto.

—Vocês ainda vão estudar juntos por três anos. –Ela disse. –Você vai ter outras chances. Além disso, não seria ruim ganhar um pouco de experiência antes de sair com A garota.

                O mais novo riu para ela, nervoso.

—Não sei. –Encolheu os ombros. –Não tenho experiência com garotas.

                Tonks revirou os olhos por um segundo, antes de Cedrico notar que ela estava bastante perto. Talvez usando metamorfagia, talvez não, naquele momento ela parecia muito jovem, o que a deixou menos intimidadora. Ele jamais havia pensado em Ninfadora daquele jeito, e tinha impressão de que a recíproca era verdadeira, mas ela o beijou, e ele gostou. Dora tinha gosto de tutti-fruti e bem mais experiência do que ele. Jamais gostaram realmente um do outro, e a coisa nunca foi mais do que aquilo, mas Cedrico sempre se lembraria dela com carinho.

                No fim, a lufana estava certa sobre a duração do namoro entre Cordélia e Wood. Isso não tornou os dois meses que o casal passou juntos nem um pouco mais fáceis. Cedrico, que tinha dificuldade em encontrar Cordélia fora do horário de aula para começar uma conversa casual e despretensiosa, de repente parecia dar de cara com o casal a cada esquina virada do castelo. Estudando lado a lado na biblioteca, ou tomando sol no pátio, Cedrico sempre desviava o olhar, como se a imagem o queimasse.

                Quando o romance acabou, o lufano esperou que ela parecesse triste, então melhorasse, para que ele a chamasse para sair. Mas então, ela nunca pareceu particularmente triste e ele não soube o momento certo para tomar a iniciativa. Um dia, ele se arrependeria profundamente daquilo, pensando nos anos que perdera.

 

5° Ano

                Cedrico notou sua ausência desde o Expresso de Hogwarts, mas até a seleção dos calouros, ainda não havia perdido a esperança.

                Mas agora seu lugar estava vazio na mesa da Sonserina do outro lado do salão, e suas amigas conversavam tranquilamente uma com a outra, mas sozinhas.

                Cordélia Bloxam não estava em Hogwarts.

                Durante toda a primeira semana, ele tivera que se segurar para não ir aos seus amigos perguntar por ela. Eles achariam estranho. Além disso, embora conhecesse boa parte do corpo discente da escola, os amigos sonserinos de Cordélia não estavam entre seus colegas. Os três garotos eram do time da Sonserina e o consideravam um adversário, e, por fim, Mary Selwyn e seus brilhantes olhos azuis o deixavam um pouco intimidado.

                Sua estratégia, portanto, era apenas ficar ao redor e ver se ouvia alguma coisa. Porém, as oportunidades eram escassas. Eles tinham poucas aulas juntos, e logo ficaria estranho se o garoto de ouro da Lufa-Lufa, como já era conhecido, fosse pego espiando um grupo de sonserinos. Suas esperanças acabaram por se depositar nos professores e ele estava criando coragem para abordar o professor Snape, cujos boatos afirmavam ser padrinho de Cordélia, quando outra oportunidade se apresentou.

—Sr. Diggory, fique aqui um segundo, por favor. –Pediu a professora Minerva após uma aula, ao que ele se aproximou de sua escrivaninha enquanto seus amigos saiam pelas portas. –Tem sentido falta de seus estudos extras com a Srta. Tonks?

                Cedrico ficou surpreso com a pergunta. A professora Minerva sempre havia aprovado seu pequeno grupo de estudos informal, os indicando livros extras e trabalhos a mais quando eles pediam, mas de repente soava muito pessoal.

—Sim, professora. –Ele ficou surpreso em admitir. A preocupação com Cordélia não o havia deixado insensível para o fato de que havia um buraco em sua rotina sem sua dupla de Transfiguração. –Estava me perguntando se a senhora continuaria a me passar trabalho extra.

—É claro, se é o que quer. –Ela balançou a cabeça, mas o olhar severo ainda não o deixara. –Na verdade, estava me perguntando se concordaria em tutorar uma terceiranista da Corvinal com alguma dificuldade na matéria.

                Tristemente, Cedrico se lembrou de Cordélia e suas transfigurações imprevisíveis. Da vez que ela, sem querer, transformara seu besouro num morcego ao invés de num rato e fizera boa parte da turma sair da sala agitadamente, fugindo do voo imprevisível do bicho.

—Sim, senhora. –Concordou. Afinal, tinha tempo extra de qualquer forma. –Seria um prazer.

—Ganhará créditos extras por isso, é claro. –Ela anunciou, se virando para pegar um pergaminho em uma gaveta em sua escrivaninha de madeira. –Vou marcar um horário para a Srta. Chang que seja bom para você, Sr. Diggory. Pode ir agora.

                Ele já estava na metade do caminho para a porta, ignorando propositalmente a sala de aula vazia atrás de si, quando mudou de ideia. A professor Minerva levantou a cabeça quando ele se virou, acompanhando sua hesitação de forma impassível.

—Professora... eu estava me perguntando se a senhora saberia me dizer o porquê de Cordélia Bloxam não ter voltado a Hogwarts esse ano.

                Pelo longo silêncio que se seguiu à pergunta, ela pensou que a professora não o responderia. Ela, porém, juntou as mãos enrugadas na frente do corpo e o observou com atenção por de trás dos óculos com armação redonda, as sobrancelhas finas num ângulo curioso. Incapaz de encará-la, Cedrico observou a janela e o céu lá fora, esperando ser mandado embora.

—A Srta. Bloxam foi transferida para a Academia de Magia de Beauxbatons esse ano. –Ela finalmente respondeu.

                A curiosidade de Cedrico se transformou em um nó em seu estômago.

—Ela não vai voltar? –Sua voz era baixa e infeliz.

—Não sei dizer. –A professora não hesitou em responder dessa vez e quando falou uma segunda vez, sua voz era mais suave. –Isso é tudo?

—Sim, senhora, obrigado. –Cedrico começou a andar para a porta, abalado. –Isso é tudo.

                Mal registrou Mary Selwyn, o lançando um estranho olhar no corredor.

                No fim, ele acabou se aproximando bastante de Cho Chang, a quem ele estava tutorando em Transfiguração. Como ele, Cho era popular e admirada. Embora ainda fosse do terceiro ano, era considerada uma das meninas mais bonitas da escola e, com sua aproximação, toda a Hogwarts parecia estar suspeitando de seu envolvimento, mas eles não estavam juntos. Mesmo uma vez, quando, ousada, ela se inclinou e colocou os lábios nos dele após uma aula. Fechando os olhos, Cedrico apenas enxergava um par de olhos muito verdes o olhando com atenção, talvez um pouco reprovadores, e ele parou o beijo, se sentindo culpado.

                Ele dizia a si mesmo que não fazia sentido aquela espera sem fim, olhando todos os dias de manhã para a mesa da Sonserina como se, num piscar de olhos de um dia para o outro, ela pudesse simplesmente estar de volta. Mas não deixou de olhar.

 

6° Ano

                Cordélia não havia apenas voltado para Hogwarts; ela estava mais linda do que nunca.

                Seu cabelo, antes cortado reto, brilhava em diferentes camadas que refletiam a luz. Seus movimentos estavam mais suaves e suas covinhas pareciam conter um feitiço de charme. Infelizmente, Cedrico não fora o único a notar essas coisas, mas certamente era o que notava com mais frequência.

                Cedrico pensara que ganhar da Grifinória no quadribol seria uma boa forma de chamar atenção dela; embora soubesse que ela não ligava para aquilo. Ao invés disso, sua vitória fora manchada pela sensação amarga de que não fora justa; ele mal conseguia sorrir quando um colega o parabenizava por isso. Era seu primeiro ano e sua primeira vitória como capitão e há muitos anos a Lufa-Lufa não vencia os leões.

                Se ele tivesse considerado a vitória justa, talvez isso o desse a coragem necessária para chama-la para sair. Não que ele fosse inseguro, geralmente. Nos últimos dois anos, desde que ficara mais alto que a maioria de seus colegas, as garotas o notavam muito, e positivamente. Também, às vezes, se faziam de bobas para chamarem sua atenção, mas Cedrico era sempre gentil quando isso acontecia. Com Cordélia, é claro, ele que se sentia sendo o bobo. Havia algo no rosto infantil dela –infantil porque os olhos eram muito grandes, o nariz muito arrebitado, a boca polpuda e teimosa como a de uma boneca –que o desarmava. Seus olhos eram cheios de expectativa e curiosidade e ele parecia incapaz de ser o que ela esperava.

                A festa de início de ano de Rogério Davies, porém, era uma oportunidade.

                Quando ele a encontrou num corredor pouco movimentado entre aulas, ela estava conversando com Oliver Wood encostada na parede de pedra enquanto colegas iam de um lado para o outro, trocando as aulas. O próprio Cedrico devia estar indo em direção à sua aula de Feitiços com a Sonserina, mas era muito raro encontrar Cordélia quase sozinha daquele jeito; ela estava geralmente acompanhada de suas amigas de dormitório, ou, quando se encontravam sozinhos na sala dos monitores para fazer ou entregar relatórios, ele não tinha coragem de interromper sua concentração.

                Aquele também não parecia o melhor momento para interrompê-la; afinal, ela e Wood já haviam namorado e o grifinório não estava feliz com Cedrico desde a derrota no primeiro jogo da temporada. Ainda assim, Cedrico suspirou e se aproximou.

—Mesmo, aritimância? –Ela dizia, entretida. –Eu jamais pensaria que um jogador de quadribol.... Oh, olá, Diggory.

                Cordélia havia notado sua aproximação lenta e sorrido para ele um de seus sorrisos arrasadores. Wood se virou, curioso, e o olhar que ele deu para Cedrico não era satisfeito, mas o lufano tinha a impressão de que isso tinha a ver com quadribol, não com a bela garota com a qual ele havia interrompido a conversa.

—Wood. –Cedrico fez um gesto de cabeça. –Oi, Cordélia. Você tem um minuto?

—Claro. Você se importa, Ollie?

                Cedrico apertou os lábios para o apelido, mas não era da sua conta.

—Não. –Wood deu um passo para longe deles. O corredor estava ficando vazio conforme os alunos chegavam em suas aulas. –Vou para a aula de Poções. Nos vemos depois, Cordélia. Diggory. Parabéns, aliás. –Wood olhou para o novo distintivo que Cedrico carregava no peito. –Pelo posto de capitão.

                Cedrico sentiu suas bochechas esquentarem; a Lufa-Lufa estava pressionando-o com a ideia de que esse ano ganhariam a Taça de Quadribol. Quando falou isso em voz alta, Wood sorriu forçadamente.

—Espero que não. –Admitiu. Então virou-se para Cordélia, apertando-a pelos ombros, antes de deixá-los.

                O lufano acenou e observou o grifinório sumir no fim do corredor, antes de se voltar para Cordélia, cujos olhos verdes já o olhavam daquele jeito perturbador: cheios de expectativas e muito ilegíveis. Eram olhos engraçados, porque, no geral, o rosto dela era muito expressivo, mas seus olhos eram misteriosos como as águas do Lago Negro; qualquer coisa podia estar no fundo.

—Eu... Humm... –Cedrico colocou as mãos nos bolsos quando percebeu que não tinha o que fazer com elas. –Queria falar com você sobre a festa de Davies...

                Cordélia o interrompeu com um suspiro alto.

—Ele pediu para você falar comigo? –A garota fez uma careta, abrindo bem os olhos e torcendo a boca. –Ah, Merlim. Eu disse a ele que Percy Weasley não vai nos entregar se ele chamar a namorada dele para a festa. Weasley está saindo com aquela monitora da Corvinal, Clearwater, e vai nos deixar em paz se ela for. De verdade. Weasley é insuportável às vezes, mas Penélope sabe lidar com ele.

—Na verdade, não é isso. –Cordélia o olhou confusa. –Eu estava me perguntando se você tem um par para a festa. Sabe, a regra é que os pares tenham de ser de Casas diferentes e eu estava pensando... se você gostaria de ir comigo?

                Foi a sonserina que abriu e fechou a boca agora. Então ela fechou os olhos com força e apertou os lábios antes de responder:

—Diggory... lamento. Outra pessoa me chamou antes. –Ela abriu os olhos e tudo na expressão dela indicava que estava sendo sincera. Ela começou a gesticular, talvez um pouco agitada. –Rogério me chamou, na verdade, mas só porque ele queria que os sonserinos também fossem e achou que se uma monitora da Sonserina fosse.... De qualquer forma.... –Cedrico duvidou que aquele fosse o motivo para Rogério tê-la chamado. Imaginava que tinha mais a ver com o quanto ela era estonteante falando daquele jeito. Ela balançou a cabeça e sorriu para ele um sorriso hesitante. –Eu pensei que você estava saindo com uma garota da Corvinal. Quero dizer, quando eu voltei de Beauxbatons, as pessoas estavam comentando.

                Cedrico lamentou ter se esquecido que Hogwarts era um lugar que funcionava à base de fofocas e boatos, embora aquele fosse mais ou menos verdadeiro. Cordélia parecia muito envergonhada de ter citado um boato para ele e suas sardas douradas estavam ficando vermelhas conforme o sangue subia para as suas bochechas.

—Eu... não. Saímos. –Ele balançou a cabeça, dispensado o assunto. –Humm. Certo, você não pode. Tudo bem.

—Talvez na próxima? –Ela mordeu o lábio, daquele jeito que ele sabia que ela fazia desde o primeiro ano. –Eu realmente...

                Ela se interrompeu e suspirou, desistindo de seguir o dando desculpas. Parte de Cedrico ficou aliviado. Era pior quando ela se desculpasse como se fosse sua culpa ter aceitado alguém quando fora culpa dele ter demorado tanto a chamar.

—Você está indo para a aula de Feitiços? –Cedrico perguntou antes que o silêncio corresse muito longe.

—Sim.

—Vamos. Você pode ser minha dupla. –Ele sorriu caloroso.

                Ela abriu um sorriso tímido.

—Como daquela vez no terceiro ano? Achei que você tivesse ficado chateado por ser obrigado a ficar comigo.

—Não. –Ele admitiu. –Aquela aula foi... uma experiência interessante. Vamos. Você pode me contar sobre as aulas de Feitiços na França.

                Cedrico tinha um novo plano agora. Ficaria por perto. Dessa vez, não esperaria muito tempo para chama-la para sair, estava decidido. Ela o acompanhou pelo corredor, cheirando a flores silvestres e brisa marinha. Cedrico desejou ter coragem para oferecer o braço a ela. Ou para andar apenas um pouco mais perto. Aquilo, porém, já era mais do que ele estava acostumado; e ele ficava ganancioso com o tempo, querendo mais.

                Ele teria paciência.

 

7° Ano

                Cedrico sabia várias coisas agora; coisas que não poderia descobrir à distância, do jeito que sempre descobrira as coisas sobre Cordélia.

                A cada vez que descobria algo novo, descobria um outro motivo para admirá-la. Ela tinha exatamente as características que ele costumava admirar em outras pessoas; em seus amigos ou pais, aquelas que ele vivia tentando alcançar.

                Ela tinha uma inclinação arrogante de queixo, mas era apenas um disfarce para o fato de que ela era justa; punia membros de sua própria casa mesmo que para isso tivesse que tirar pontos. Elogiava os acertos e saia de seu caminho para ajudar um primeiranista perdido ou um terceiranista com medo de seu Bicho-Papão.

                Ela também era gentil. Ouvia por vários minutos os monólogos intermináveis de Mary e as reclamações de Fleur, assentindo nas horas certas e prestando atenção mesmo quando não estava interessada no assunto. Ela era responsável: nunca atrasava deveres ou relatórios de monitoria; e amorosa, principalmente com ele e com Lucy. Às vezes era orgulhosa e teimosa, mas Cedrico não gostaria tanto dela se também não tivesse defeitos. Além disso, ela o fazia querer ser melhor, e Cedrico tinha certeza de que o contrário também era verdade.

—Seu nome do meio é Amarílis? –Cedrico perguntou, olhando por cima do ombro dela para sua tarefa de Poções.

                Eles estavam à beira do lago, como geralmente ficavam. Não importava quanto sol pegasse, Cordélia nunca ficava bronzeada. Sua pele sempre parecia porcelana, com bochechas coradas da cor de damasco. Ela estava estudando, mas ele gostava de observar os reflexos do sol no cabelo dela e como sua pele era lisa e translúcida.

                Cordélia fez que sim com a cabeça para ele, distraída.

—É, sim. É coisa do meu pai. –A sonserina molhou sua pena na tinta preta e seguiu escrevendo. –A flor de Amarílis é um dos ingredientes da Poção do Amor Mortal. Você sabe, é um veneno, mas é tão inebriante que você fica enfeitiçado com o primeiro gole, que não é fatal, e bebe tudo sem precisar ser obrigado. Mas Lucy é pior. O nome do meio dela é Begônia.

                Cedrico considerou a questão, enrolando uma mecha de cabelo dela no dedo. Cordélia colocou, com ímpeto, um ponto final em sua redação e se virou para ele.

                Ela estava muito perto; ele podia ver as veias azuis em suas pálpebras e a homogeneidade de seus olhos verdes. As sardas individuais em seu nariz e bochechas e os batimentos cardíacos na garganta dela.

—Que horas são? –Ela perguntou baixo.

                Cedrico fez zum feitiço rápido.

—Onze e quarenta.

—Bom. –Ela deu um beijo na bochecha dele, mas se afastou quando Cedrico virou o rosto para capturar os lábios dela com os dele, sorrindo apenas um pouco provocante. Ela se levantou, juntando suas coisas e colocando na mochila. Era um sábado de outono, então ela usava um vestido cor-de-creme, um cachecol verde e sapatos fechados ao invés do uniforme. O vestido ia até abaixo de seus joelhos, escondendo a forma de suas cochas longas e flexíveis, mas Cedrico gostava de imaginar. –Venha.

                Os jardins e terrenos estavam cheios de alunos curtindo o sol, além dos dois, apesar do vento frio que já soprava das montanhas. Cordélia estendeu uma mão delicada para que ele segurasse e o guiou pelo gramado muito verde na direção das estufas, subindo pelo Lago Negro de superfície espelhada, e falando:

—A Poção do Crepúsculo não é difícil de fazer, mas só pode ser feita duas vezes no ano, quando as Flores do Meio-Dia florescem. –Ela explicou. –A professora Sprout mantém uma estufa cheia delas e Severo está ansioso para colocar as mãos em algumas.

                O lufano assentiu para a explicação, mas o que ela poderia querer levando-o para ver as flores ele não sabia dizer ainda. Havia, porém, um sorriso satisfeito no rosto dela que Cedrico faria de tudo para manter.

                A estufa número sete era uma na qual ele jamais havia entrado porque, no geral, era para alunos do clube de Herbologia, aficionados por plantas, e o resto deles não estudava as que estavam ali. Hugh saberia, ele pensou, ou Anna. Não esperava que fosse um lugar frequentado por Cordélia. Ela fez um feitiço silencioso na porta de vidro embaçado e metal em arabescos, que abriu com um estalo, os envolvendo em uma bolsa de ar quente que fez Cedrico querer tirar o suéter.

                Esta estufa era menor do que as outras em que ele já havia estado; tinha uma grande bancada de cada lado, que se encontrava no fim oval da estufa, formando uma só linha. Em cima da bancada de madeira estavam vasos com flores em botões; longos caules verdes terminados em pontinhas amarelas. Cordélia deixou sua mochila em cima de um balcão vazio e tirou o cachecol, fazendo um gesto para que Cedrico se juntasse a ela para pegar alguns instrumentos: tesouras de poda e cestas de palha.

—Agora é só esperar. –Ela disse.

                Cedrico não sabia o que estava esperando, exatamente, mas ficou ao lado dela e deixou que ela colocasse a cabeça em seu ombro, os dois encostados na bancada onde haviam deixado as mochilas, de frente para os botões de flor. O cheiro da estufa era de pólen e terra molhada e disfarçava o cheiro de Cordélia, o que ele considerava uma desvantagem, mas não reclamou.

                Tranquilamente como se fizesse algo casual, não como se houvesse, por anos, se perguntado se chegariam a aquele ponto, ele a virou na direção dele. Cordélia se deixou ser virada tranquilamente, aceitando que ele a abraçasse de frente e passando os braços ao redor da cintura de Cedrico, o peito pressionado contra o dele. Ele estava muito distraído para notar qualquer mudança no ambiente, o rosto enterrado no cabelo de Cordélia, apenas respirando seu cheiro e deixando os fios fazerem cócegas em seu nariz, mas levantou a cabeça rapidamente quando ela soltou uma exclamação feliz.

—É meio-dia! –O tom dela era alegre.

                Ao redor deles, os botões amarelos se tornavam belas flores douradas, de pétalas arredondadas e longas que emitiam luz própria como o sol ou estrelas próximas. Acontecia rapidamente, como ver o vídeo acelerado de uma flor em florescência. Era quase doloroso de encarar, toda aquela luz, mas iluminou toda a estufa; o verde dos caules, os vidros sujos, as bancadas de madeira. O cheiro de pólen ficou mais forte e Cordélia aspirou fundo quando partículas douradas se soltaram das pétalas, flutuando no ar diante deles.

—Vamos. –Ela fez um gesto para que ele pegasse as ferramentas de jardinagem. –Só temos alguns minutos antes que se fechem novamente.

                Eles passaram os vinte minutos seguinte cortando os caules de forma a não danificar as plantas e pousando as flores nas cestas com delicadeza para não as machucar. Trabalhavam de lados opostos na estufa, mas Cedrico passou a maior parte do tempo olhando por cima do ombro, para o cuidado com o qual Cordélia fazia seu trabalho.

—Obrigado por me trazer aqui. –Ele disse. –Isso foi... muito bonito.

                O sorriso dela era mais ofuscante do que qualquer flor.

—Eu gosto de compartilhar com você.

                Cedrico se voltou para o seu trabalho, se sentindo quente e cheio de esperança. Ele se inclinou e a beijou e Cordélia passou os braços ao redor de seu pescoço como um girassol de inclinando para a luz solar. Na estufa ao lado, o som de vasos quebrando os despertou para a realidade.

—O que foi isso? –Cedrico inqueriu.

                Cordélia apertou os lábios.

—O som dos problemas de outra pessoa? –Ela sugeriu, um sorriso esperançoso nascendo em seu rosto, querendo apenas deixar para lá.

                O lufano levantou as sobrancelhas para ela e não disse nada. Cordélia bufou.

—Provavelmente Longbottom derrubando alguma coisa. –Admitiu. –A Professora Sprout talvez tenha me pedido para ficar de olho nele. –Ela rolou os olhos quando Cedrico abriu um sorriso e fez um gesto grandioso, abrindo a porta e sugerindo que ela saísse na frente. –Tudo bem, se você quer fazer seu papel de monitor e ser bonzinho, vamos fazer nossos papeis de monitores.

                Cedrico anotou mentalmente aquela cena na lista de coisas que amava mais e mais sobre ela.

 

The way you can cut a rug
Watching you's the only drug I need
So gangster, I'm so thug
You're the only one I'm dreaming of you see
I can be myself now finally
In fact there's nothing I can't be
I want the world to see you be with me


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Notas finais do capítulo

A música do capítulo é Hey, Soul Sister, que eu achei que combinava demais com o clima que eu queria criar. Há muito mais coisas que eu queria adicionar sobre Cedrico, tipo a relação dele com o pai, mas para isso seria melhor criar toda uma nova fanfic, e seria bem mais pesado do que o clima que eu queria passar, então fiquei com isso mesmo.
Gostaram? Não gostaram?
XOXO



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