3 Atos Para Continuar escrita por Dafne Guedes


Capítulo 3
Aceitação


Notas iniciais do capítulo

A quem acompanhou até aqui, o último capítulo. Vou dizer a vocês que escrever esse capítulo foi quase um parto, mas apenas isso.
Boa leitura e nos vemos nas notas finais.



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Para Cedrico –
Você estará para sempre no meu coração,
na minha memória
e no seu túmulo.

 

                No dia antes do primeiro de setembro, Cordélia foi para a casa de seus pais, a pedido de Lucy. Seu tio Arturo, que aparecia poucas vezes por ano e geralmente apenas nas festas, estava em casa, visitando. Quando chegou, já no começo da noite, os quatro membros da família; seu pai, mãe, irmã e tio, estavam sentados em torno da lareira acesa, nos sofás confortáveis, tomando água de Gilly e ouvindo as histórias fantásticas de seu tio sobre o Kelpie dos rios amazônicos em sua última viagem ao Brasil em torno de um tesouro há muito perdido.

                Quando a viu, seu tio abriu um grande sorriso. Ele tinha um anel para ela, de ouro com uma pedra preciosa mágica que guardava lembranças. Mas Cordélia estava mais interessada em deixa-lo a fazer se sentir como uma garotinha. Então, enquanto sua irmã se sentava de um lado dele, Cordélia se sentou do outro, e seu tio passou um braço pelos seus ombros e fez a voz de história; que imitava personagem e narrava com riqueza de detalhes a floresta, o povo, até mesmo o sotaque. Ela encostou-se no ombro do bruxo mais velho e fechou os olhos para imaginar.

 

                Cordélia se recusou a pegar o Hogwarts Express, por questões do coração, e Dumbledore pareceu entender sua escolha. Então, a ex sonserina aparatou em Hogsmead quando já estava de noite. As ruas de pedra do vilarejo estavam surpreendentemente vazias àquela hora; a maioria dos estabelecimentos já havia fechados as portas e ela, sozinha, com uma única maleta com um feitiço indetectável de expansão, seguiu da rua lateral onde havia aparatado até o estabelecimento conhecido como Três Vassouras, um dos poucos abertos, ignorando propositalmente a Dedosdemel e o Madame Puddifoot.

                Uma sineta tocou quando ela entrou no bar. As paredes forradas de madeira eram antigas e cheiravam a banhos de diferentes bebidas em diferentes ocasiões, mas o estabelecimento era limpo. De trás do balcão, uma bruxa de cabelos louros cacheados, ainda muito bonita em meados de seus cinquenta anos, se virou para observar a nova cliente, que, em poucos passos, se jogou num dos lugares do balcão e pousou a maleta no chão ao seu lado, tirando o casaco verde-fundo-de-garrafa dos ombros.

                A bruxa a encarou com um olhar de reconhecimento. Cordélia sorriu para ela, com os lábios fechados.

—Eu me lembro de você. –Rosmerta falou em voz alta. Só haviam as duas no balcão e alguns poucos bruxos velhos sentados nas mesas pelo bar, que estava bem menos lotado do que em fins de semana liberados pela escola. –Há quantos anos você se formou?

—Um ano e três meses. –Cordélia deixou que ela continuasse adivinhando ao invés de ajuda-la. Então acrescentou, como dica. –Eu era da Sonserina.

                O sorriso da outra bruxa foi ofuscante. Cordélia se perguntou se Rosmerta não teria um pouco de sangue veela.

—É claro: Cordélia Bloxam! –Ela riu. –Você e aquelas amigas simpáticas... Burke, eu creio, e Selwyn! Como vai Mary Selwyn? Ela era muito engraçada. O que eu posso servir a você?

—Aceito uma taça de hidromel. –Cordélia se inclinou no balcão para continuar a conversa quando a bruxa se afastou para segui-la. –Mary trabalha para o Ministério agora. Vem pensando em se casar.

—Com aquela menina simpática da Lufa-Lufa? –Seria de se esperar que, sendo uma ex-lufana, Rosmerta teria uma melhor memória para os alunos de sua própria casa. Cordélia acenou positivamente em resposta para a pergunta. –E você? Você também namorava um menino, muito bonito pelo sinal... era...

—Cedrico Diggory. –A mais nova respondeu quando percebeu que a barista não encontraria a resposta sozinha.

                Rosmerta ficou subitamente bem mais séria, o sorriso esmorecendo.

—É claro. –Ela falou baixo. –Perdoe minha memória. Eu devia ter lembrado que era ele. Lamentei muito o que aconteceu. Achei que a Lufa-Lufa finalmente teria algo para comemorar e em vez disso... bem. –Ela pousou a taça de hidromel à sua frente, o líquido dourado dançando no copo como se fosse Felix Felicis. –O que você faz de volta a Hogwarts? É para lá que vai, não é?

                A primeira coisa que se passou pela sua cabeça foi o motivo real de estar no castelo –afinal, Cedrico merecia voltar a um lugar conhecido, familiar, um lugar onde ele fora amado; tão profundamente amado. Não sabia o quanto ele se lembraria do que se passara quando ela o trouxesse de volta, mas queria deixa-lo o mais confortável possível.

                Mas não diria isso à dona do bar; com ela devia usar a desculpa oficial de que estava ali para ver Dumbledore a pedido do próprio e de seu padrinho, que parecera ansioso para que ela fosse a Hogwarts o mais rápido possível.

—Parece que Dumbledore precisa dos meus serviços. –Ela deu de ombros.

                As duas bruxas continuaram a trocar algumas palavras. Cordélia perguntou como estava indo o bar desde que fora revelado que Voldemort realmente voltara; Rosmerta a perguntou, educadamente, sobre o Instituto Flammel. Severus a havia dito que eles mandariam alguém para busca-la a tempo para a cerimônia de seleção, mas a bruxa havia preferido que não, então eles esperariam que houvesse acabado para leva-la o mais rápido possível ao professor Dumbledore, cujo misterioso segredo que o fizera procurar por ela não fora ainda revelado.

                Finalmente, ela já estava esperando há uma hora e havia trocado o hidromel por copos de água para se manter em condições de ter uma reunião, uma bruxa de cabelos castanhos sem vida e olheiras entrou no bar, vestindo o que parecia o uniforme dos aurores; camisa, calça e capa em tons escuros, e localizou Cordélia rapidamente no bar; ela realmente destoava em seu vestido cor de creme em comparação com os bruxos em vestes escuras de viagem.

                Enquanto a outra bruxa se aproximava, Cordélia colocou cinco sicles em cima do balcão para pagar pelas bebidas e fez um aceno para Rosmerta, que se aproximou das duas.

—Tonks! –A bruxa loura sorriu. –Minha lufana preferida. Vai beber algo?

—Estou em serviço hoje, Rosmerta, mas obrigada. –A voz da bruxa era séria e profissional, mas havia algo errado nisso, como se ela devesse ser outra pessoa. –Você é a pocionista Cordélia Bloxam?

—Sou, sim. –Cordélia encarava a outra garota com interesse. Ela não era muito mais velha do que a própria Cordélia e, se fora da Lufa-Lufa, isso significava que estudava em Hogwarts, então deviam ter estado na escola ao mesmo tempo em algum momento. –Obrigada, Rosmerta.

—Até mais, meninas! –A outra bruxa, se notou a tristeza de uma e a estranheza da outra, ignorou e voltou ao seu trabalho tranquilamente.

                Não havia nenhuma carruagem esperando pelas duas. Elas andaram pelo vilarejo até a estação de trem, que estava vazia, e depois seguiram os sulcos deixados pelas carruagens no chão, em direção ao castelo. Cordélia havia feito aquele caminho a pé algumas vezes enquanto fora estudante, quando perdera a carruagem ou simplesmente quando o grupo queria andar. As lembranças foram angustiantes o suficiente para criar um nó em seu coração e a sonserina (ela não parecia mais uma ex sonserina assim tão próxima de Hogwarts) se perguntou se sobreviveria à visita.

                Porém, com a estranha auror séria ao seu lado, o caminho pareceu muito mais longo do que jamais fora. Cordélia não conseguia deixar de observar a outra pelo canto do olho, até que simplesmente não resistiu mais:

—Eu lembro de você. –Decidiu. –Em Hogwarts. Você era bem mais velha e de outra casa, então não deve se lembrar de mim. Você era muito boa em Transfiguração e uma vez a professora Minerva me ameaçou dizendo que se minhas notas não melhorassem eu teria tutoria com você.

                A expressão de Tonks não mudou muito quando a auror se virou para a mulher mais nova, mas seus olhos se estreitaram um pouco quando ela fez uma análise de perto.

—Eu lembro de você também. –Respondeu simplesmente. –Você namorou Oliver Wood. Eu tinha um amigo que era apaixonado por você; ele não disse, mas ficou chateado.

—Que amigo? –Cordélia perguntou, sem interesse real, apenas para bater papo.

                Tonks hesitou.

—Ele era mais novo... da sua idade. Você deve conhece-lo, se não bem, então de nome. Ele morreu há pouco. Cedrico Diggory.

                Cordélia afundou as unhas nas palmas macias de sua mão; deixando que as pontas um pouco grandes machucassem-na. Desde lá, Ced?, ela perguntou para si mesma dentro de sua cabeça. Uma vez ele havia dito que gostara dela antes de ela gostar dele, mas parecera impossível. A pocionista fez um esforço descomunal para que suas pernas não cedessem. Tonks pareceu perceber, porque estendeu uma mão para ela como se fosse a aparar caso caísse, e tinha as sobrancelhas franzidas.

—Você o conhecia bem, então. –A auror percebeu. Cordélia se perguntou porque ela continuava falando, quando o assunto claramente abalava tanto a sonserina, mas, por outro lado, foi bom. Ninguém nunca tinha coragem de falar sobre Cedrico com ela. 

—Ele foi meu namorado. –Cordélia notou que era isso que temia sobre Hogwarts. O lugar trazia as lembranças à tona, como uma penseira, só que sem que ela o fizesse de propósito. Até as pessoas que ela encontraria lá provavelmente se lembravam dela como a namorada do campeão caído. Era assim que até ela pensava em si mesma.

—Lamento. –Tonks disse, parecendo sincera.

                As duas continuaram andando em silêncio agora até que, com alívio, viram os dois altos pilares que ladeavam os portões da escola, encimados por javalis alados que Cordélia sempre pensara serem de muito mau gosto. Os portões estavam fechados com uma corrente, que Cordélia olhou bem o suficiente quando chegaram perto para notar que devia estar enfeitiçada.

—A segurança está bem mais forte esse ano. –A auror observou. –Mas o diretor sabe que fui buscar você e deve mandar alguém logo, logo. Ah. Ali.

                Cordélia seguiu o olhar da outra bruxa. Um lampião vinha sendo trazido por todo o caminho até elas, balançando solitário na escuridão nos terrenos noturnos. Tonks suspirou quando o portador estava perto o suficiente do portão, mas Cordélia abriu um grande sorriso, recebendo um olhar estranho da outra garota, enquanto o bruxo que as recebera abria os portões.

—Ninfadora, olá novamente. –Disse Severus Snape numa voz que era um tanto provocadora. A auror fez uma careta quando ele falou, sem nem tentar disfarçar. –Cordélia. Venha. Dumbledore a espera.

—Obrigada. –A pocionista se virou para se despedir da auror com um aceno, que a outra retribuiu vagamente com a cabeça, antes de dar as costas e voltar pelo caminho ao vilarejo sem olhar para trás. Cordélia se virou para o seu padrinho. –O que é todo esse mistério?

—Assunto confidencial. –Ele respondeu, apenas.

                Era uma coisa boa que fosse uma noite sem lua, porque assim Cordélia podia se aferrar à luz do lampião e ignorar os terrenos do castelo, dos quais elas tinha tantas lembranças agridoces –lembranças cheias de felicidade, mas também impossíveis de serem repetidas. Ela se concentrou na sensação da grama fofa debaixo dos seus sapatos até que eles chegassem às grandes portas de carvalho do saguão, que se abriram sem que nenhum dos dois movimentasse a varinha. O salão principal tinha as portas abertas, mas estava escuro lá dentro, com as velas voadoras todas apagadas. O saguão tinha os archotes acesos, porém ainda assim havia algo sombrio nele sem os alunos circulando como normalmente faziam. Cordélia se lembrou de, num dia de chuva, enquanto fazia a ronda, encontrar Cedrico naquelas escadarias de pedra, esperando por ela, e afastou a lembrança como alguém que afasta a ferroada de uma abelha.

                Os ingredientes que trouxera consigo dentro de sua maleta de repete pareceram mais pesados do que eram.

                Ao invés de pegarem o ainda familiar caminho para as masmorras, eles subiram na direção das torres do castelo, onde, numa delas, se encontrava o escritório do professor. Propositalmente, Cordélia fechou bem sua mente com oclumência, não por causa de seu padrinho, mas porque o diretor de Hogwarts era um dos legimentes mais poderosos do mundo mágico.

                Os ferimentos que fizera na palma de sua mão estavam ardendo agora, mas a dor era bem-vinda, pois a distraia dos corredores familiares, dos quadros a olharem curiosos, das janelas com vistas para os jardins escuros, dos arcos no teto e de todas aquelas coisas que ela tanto amava, mas que eram tão dolorosas. Parte dela vinha estando esperançosa em voltar para Hogwarts, mas foi como descobrir que voltara para casa e todas as escadas haviam perdido um degrau. Ela subia às pressas, ansiosa com o ambiente, então se via tropeçando em seus pés com um engano que ela não deveria cometer.

                Ela estava de volta no tempo. Snape andando ao seu lado era apenas um fantasma, uma lembrança, muito menos real do que a sensação de que a qualquer momento Cedrico surgiria, com seu sorriso infinito, com seus encontros surpreendentes, com sua doçura amorosa e com aquele olhar; como se ela fosse a coisa mais incrível que ele já havia mirado em toda sua vida.

                Mais rápido do que ela esperava, eles pararam de frente para a familiar Gárgula de pedra que guardava a entrada da sala do diretor. Cordélia estivera ali poucas vezes; uma vez para pegar os documentos de sua transferência para Beauxbatons, outra vez para entregar os documentos de sua volta. Em seu último ano, fora ali chamada para beber uma poção que a permitiria ficar desacordada debaixo d’água pelo tempo necessário para que Cedrico a fosse buscar no fundo do lado na segunda tarefa do Torneio Tribruxo e, por fim, estivera ali uma última vez no dia seguinte à morte dele.

—Varinhas de alcaçuz. –Severus falou em voz alta, parecendo preferir tomar um de seus venenos, como se as palavras descessem amargas em sua garganta. Cordélia teve que admitir que o padrinho soava estranho dizendo nomes de doces aleatórios em voz alta.

                A gárgula começou a girar, relevando uma escada giratória que os levaria para cima, que os dois tomaram. Severus bateu na porta de madeira, mas entrou sem esperar pela resposta, e Cordélia o seguiu, menos impetuosamente.

                A sala era como ela se lembrava: circular, com retratos de antigos diretores e diretoras nas paredes, cheia de janelas e muitos objetos estranhos em cima de mesas finas: objetos de prata e ouro, que chiavam ou se moviam e dos quais Cordélia não tinha nenhum interesse em se aproximar. O chapéu seletor ficava empoleirado em cima de alguns livros e a sonserina de repente quis experimentá-lo de novo, se sentir em casa, esperançosa, voltar ao começo. A fênix empoleirada perto do chapéu, vermelha e dourada, porém, a lembrava de que ela não podia voltar.

                O diretor, o familiar homem de olhos muito azuis, barba muito branca e oclinhos de meia-lua, se postava junto de um armário aberto, que guardava uma penseira dentro de si.

—Srta. Bloxam. –Ele comentou, a voz rouca como são as vozes dos homens velhos, mas bondosas como são as vozes dos homens sábios. –Você mudou muito.

                Ela levantou as sobrancelhas em descrença. A maioria das pessoas a reconhecia com muita facilidade; tinha a mesma altura e peso da época em que se formara e seu rosto ainda tinha maçãs do rosto altas e um queixo fino. Os cabelos eram apenas um pouco mais curtos do que foram naquele período, mas, para a maioria das pessoas, ela tinha mudado muito pouco, e podia confirmar isso vendo seu reflexo num dos objetos de prata. Seus grandes olhos verdes a encararam de volta, curiosos.

—Ah, não acho que seja uma mudança que você verá num espelho. –O velho diretor a avisou, notando seu olhar. –Severus a disse porque a chamei aqui?

—Na verdade, não. –Respondeu, os olhos verdes agora perscrutando o diretor, que se encontrava parado, apoiado com dificuldade contra a escrivaninha.

                Ao invés de dizer qualquer coisa, o conhecido bruxo mais poderoso de seu tempo puxou para baixo as mangas das vestes roxas, relevando uma mão enegrecida, como se a carne houvesse apodrecido em torno dos ossos até a superfície onde ficava a pele. Ao invés de se inclinar para trás com nojo, Cordélia levantou as sobrancelhas e observou com atenção por cerca de um minuto inteiro.

—Magia antiga. –Diagnosticou. –Magia negra.

—Agora vê porque a quis aqui. –O diretor suspirou, se deixando cair na cadeira onde ela mesma se sentara um ano e três meses antes para ouvir sobre a morte de Cedrico. –Severus entende de magia negra em um bom tamanho, mas poucos bruxos hoje em dia se especializam em magia antiga; e não muitos deles são confiáveis.

                A pocionista ignorou o fato de que o diretor de Hogwarts confiava nela com um segredo daquele tamanho; ex grifinório, sempre dando proteção à casa dos leões, ela não imaginara que ele confiaria em uma sonserina com facilidade. Suspirando, ela se aproximou para olhar de perto, ajoelhando-se à frente do professor, que colocou a mão apodrecida por cima de um de seus joelhos para que ela pudesse olhar melhor.

                Tirando a varinha das dobras das vestes, Cordélia fez uma série de encantamentos detectores de magia; e alguns testes em encantamentos antigos de reversão, os últimos sem dar sucesso algum. Depois de cerca de dez minutos, virando a palma enegrecida para cima e para baixo, testando o pulso do diretor e tocando a pele morta, ela finalmente se levantou com o que achava ser um diagnóstico.

—O senhor foi amaldiçoado. –Observou, então virou os olhos verdes astutos para o diretor. –Mas para uma maldição assim ser aplicada, seria preciso um objeto mágico de grande poder... como o famoso Colar de Opalas ou uma Mão da Glória. Alguém fez um bom trabalho contendo a maldição. –Agora o diretor olhou para Severus, calado como uma estátua atrás dela, mas Cordélia não seguiu seu olhar. –Porém, apenas a atrasou. Vai continuar subindo até que o mate em, talvez, poucas semanas. Com o que o senhor andou mexendo?

                O diretor suspirou pesadamente e sua mão boa fez um caminho por cima da mesa até uma caixa de prata, que foi aberta. De lá, ele tirou um anel produzido grosseiramente, mas de ouro, encrustado com uma pedra preta claramente mágica, que ele colocou nas mãos de Cordélia. Esta levantou o objeto até a altura dos olhos. Qualquer maldição que estivera sobre ele já fizera o trabalho que tinha que fazer e fora anulada, mas sempre ficava algum rastro –magia, especialmente magia negra, sempre deixava rastro. Algo sobre o anel fez com que ela se arrepiasse e ela deixou que ele caísse de volta na mesa.

—O que é isto? –Ela perguntou, a voz revelando sua hesitação com o objeto.

                Dumbledore a olhou como se a avaliasse. Cordélia levantou o queixo para ele, as sobrancelhas inclinadas num ângulo impaciente. Ele suspirou.

—Um ano e alguns meses atrás, você, neste mesmo escritório, me disse que pessoas não voltavam dos mortos. –Ele começou a dizer. –Você tinha razão, é claro. Acontece que Voldemort nunca morreu realmente; ele apenas precisava de um corpo, pois pedaços de sua alma continuavam a existir, muito vivos, em nosso mundo.

                Cordélia o interrompeu, sem que pudesse evitar.

—Horcrux. –A palavra soava como um palavrão em sua boca. Algo para não ser dito em voz alta.

—Seis horcruxes para ser mais preciso, eu suponho. –O diretor a lançou um olhar por cima dos óculos de meia-lua. –Você entende que esse é um assunto de extrema confidencialidade, não entende, Srta.?

—Claro que é. –Cordélia disse, mas não estava prestando atenção. Pensava no anel e no absurdo que era alguém repartir sua alma em sete pedaços. Se perguntou se podia ser verdade. –A horcrux foi destruída, é notável, mas o Lorde das Trevas não teria deixado um objeto tão importante desprotegido. –Agora ela lançou um olhar muito astuto ao diretor. –O senhor deve ter sido incrivelmente descuidado para despertar a maldição antes de destruir a horcrux.

                O olhar que ele a deu de volta era igualmente inteligente.

—Sempre somos descuidados quando se trata daqueles que amamos e perdemos, Srta. Bloxam. Acho que sabe disso. –Por precaução, Cordélia levantou as barreiras em sua mente, mas não sentia ninguém lá dentro, então talvez ele estivesse apenas falando.

                Ela decidiu fazer como se não houvesse entendido.

—Se eu puder levar o anel comigo para o Instituto Flammel, em alguns dias devo ser capaz de identificar a maldição e criar uma contra maldição em forma de poção que o senhor possa tomar para retardar um pouco mais o agir do encantamento. Talvez ganhar alguns meses. –Cordélia olhou muito séria. –Eu realmente lamento.

—Não lamente por um velho que viveu mais do que o suficiente. –Ele sorriu, mas pareceu muito cansado quando se deixou encostar na cadeira, os olhos cerrados na luz amarelada das velas. –A Srta. gostaria de se hospedar em seu antigo salão comunal? Eu poderia arrumá-la um quarto.

                Cordélia se deixou, por um segundo, imaginar a ideia de dormir num quarto nas masmorras sonserinas sem Mary e Lana. Havia sido diferente em seu intercâmbio em Beauxbatons porque não era o quarto delas. Mas, mesmo em sua imaginação, não foi uma ideia agradável.

                Seu padrinho interferiu por ela.

—Vou arrumar a dormida de Cordélia em meus aposentos se me permite, diretor. –Dumbledore acenou com a cabeça, os olhos ainda fechados.

—Ah, e Severo? O Ministro da Magia insiste que eu concorde, como chefe da Primeira Corte e Cacique Supremo da Confederação Internacional dos Bruxos, em mandar nossos prisioneiros para Nurmengard. Eu insisto que isso não seja feito e que Nurmengard seja deixada em paz, ou esquecida, pela Inglaterra. Azkaban, porém, não é segura, e conto com você para procurarmos uma solução.

                Os dois sonserinos se despediram do diretor e fizeram seu caminho para as masmorras, ou o conhecido esconderijo das cobras. Agora, com tantas outras coisas na cabeça, as memórias nem a atingiam com tanta força; eram quase reconfortantes. Pedaços de um mundo muito mais simples, onde sua maior preocupação era ficar detenta ao ser pega aos amassos com Cedrico numa sala vazia.

                Estava tão cansada que considerou, mais uma vez, adiar seus planos. Poderia coloca-los em prática no dia seguinte, depois de um café da manhã digno de Hogwarts, talvez na mesa de sua irmã mais nova, pois não conseguia se imaginar sentando sozinha na mesa da Sonserina. Mas, então, se ela trouxesse Cedrico de volta ainda naquela noite, eles poderiam tomar café juntos na mesa da Lufa-Lufa, como faziam às vezes quando ela estava mais corajosa.

                A imagem mental foi o suficiente para convencê-la.

 

                Ao contrário do credo do corpo discente da escola, os aposentos de seu padrinho não eram de forma alguma um lugar desagradável. Junto de seu laboratório de poções, havia uma porta de madeira de carvalho que dava para uma aconchegante sala muito parecida com sua casa; com as paredes cobertas de estantes, uma grande lareira, sofás verde-esmeralda que pareciam roubados do salão comunal da sonserina e um tapete diante das chamas amareladas.

                Outra porta no aposento estava fechada, mas seu padrinho andou com ela até lá, revelando um quarto limpo e organizado, com uma cama de dossel sem cortinas, um grande armário de mogno e uma escrivaninha simples coberta por pergaminhos enrolados uns nos outros.

—Você fica com o quarto. –Ele insistiu, mesmo quando ela tentou negar, afirmando que o sofá seria o suficiente. Seu padrinho apenas acenou a varinha transformando a mobília numa cama tão confortável quanto a do quarto. –Eu fico aqui fora.

                Ele então a levou até o lavabo, onde ela poderia lavar o rosto antes de dormir. Ao invés de tirar seu casaco e botas, porém, Cordélia se virou para o padrinho. Pela expressão dele, Severus sabia o que viria.

—Vou trazê-lo de vota esta noite. –O padrinho apertou os lábios até que estes estivessem brancos. –É o lugar perfeito. Eu apenas... preciso ir.

—Sei que precisa. –Ele disse, e dessa vez parecia saber mesmo. –Vai precisar de mim?

—Não. –Ela se apressou em negar. –É mais seguro para você se não for indiciado comigo se algo der errado.

                Ele deu um suspiro apologético.

—Por favor, Cordélia, garanta que nada dê errado.

                Ela pensou que foi uma das coisas mais doces que ele já a dissera. Então pegou sua maleta e deu o fora dali.

 

                Cordélia quase podia fingir que tempo algum havia se passado. Ela tinha dezessete anos de novo quando andava pelos corredores familiares das masmorras, esperançosa pelo futuro, dona de seu nariz, apaixonada de forma que era quase dolorosa. Os corredores em formato de arcos, feitos de pedras, o som familiar de seus sapatos batendo no chão. Quantas vezes ela havia feito seu caminho das masmorras à superfície do castelo? Poderia fazê-lo de olhos fechados.

                Não encontrou ninguém no caminho. Nenhum aluno fora da cama no primeiro dia de aula. Quase ficou desapontada. As coisas eram mais animadas em sua época, mas aqueles pobres coitados não tinham as festas proibidas de Rogério Davies ou as ideias gentis de Cedrico. As paredes sussurravam para ela conversas antigas: Mary dando em cima de algum novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, Edmundo rolando os olhos e respondendo mordaz quando ainda era apaixonado pela sonserina, Hugh chateado por Ivan não o ter chamado ao baile: todas aquelas coisas que pareciam tão preocupantes na época.

                Mais cedo do que esperava, já estava no saguão, saindo pela porta de entrada sem se demorar ali; onde as lembranças eram muito vivas, muito coloridas, muito recentes. Desceu o caminho de terra até o lago como fizera inúmeras vezes; o podia achar mesmo no escuro, aquele ponto específico do lago embaixo de um salgueiro onde ela e Cedrico passaram tantas tardes.

                Ali, ela armou seu caldeirão de prata tamanho sete que tirou de dentro da mala, além de montar, com alguns feitiços em madeiras caídas à beira do lago, uma pequena mesa improvisada, onde desembrulhou seus ingredientes das cuidadosas embalagens onde ela os havia colocado, então separou tudo por ordem de uso ao alcance de sua mão. Embora fosse, sim, uma poção complexa, o Levante do Assassinado tinha a curiosidade de levar apenas algumas horas para ficar pronta, como se fosse uma simples poção para adormecer.

                Mesmo assim, ela não tinha tempo para perder.

                Como sempre acontecia quando começava a preparar poções, Cordélia entrou num estado de completa concentração, em que não importava se estava fazendo uma poção do sono, uma Veritasserum ou a mistura que traria seu namorado de volta dos mortos. Nada seria capaz de distraí-la, nem se a lula gigante resolvesse dançar balé ali à sua vista, do que ela estava fazendo. Conjurara um par de chamas para poder enxergar melhor e evitar cometer erros. Vendo a cor, densidade e brilho da poção, seria mais fácil decidir o que fazer em seguida; pois cada ingrediente tinha uma função e um resultado previsível, e se ela cometesse algum erro, poderia repará-lo se agisse rápido o suficiente.

                Não viu a hora passar e, sem o sol em cima dela, não podia contar de forma alguma. O céu estava estrelado, o que era uma coisa boa. Cedrico sempre gostara das estrelas. Se estivesse ali, seria capaz de apontar para ela cada constelação e as estrelas nela contidas e sussurrar em seus ouvidos os segredos que elas sussurravam para ele.

                Logo, ela pensou para si mesma, com insistência.

                Os quatro últimos ingredientes da poção deviam ser colocados um a um numa sucessão de poucos minutos. Os dentes de um assassinado embebidos em suco de mandrágora para seus ossos. O sangue de seu assassino para justiça. A chama congelada de um dragão seria sua alma e vida. Uma memória de alguém amado para o coração.

                Descuidada, Cordélia deixou que sua varinha tremesse em sua têmpora, hesitando.

                Sempre somos descuidados quando se trata daqueles que amamos e perdemos, Srta. Bloxam. Acho que sabe disso, a voz rouca e sábia de Dumbledore soou em sua cabeça e, em um segundo, ela percebeu o que havia acontecido realmente com sua mão. Ele havia sido descuidado porque, por algum motivo, pensou que teria a oportunidade de ver alguém que amava e perdera. Talvez pensasse que a horcrux teria esse poder; era difícil dizer.

                Cordélia o havia julgado. Como havia sido hipócrita de sua parte.

                O seu próximo movimento foi, talvez, impulsivo, mas, no fundo, ela percebeu que jamais realmente teria levado aquilo adiante. Cedrico estava morto, agora ela sabia disso. Só precisara de tempo, e se passara tempo demais.

                A poção se espalhou aos seus pés borbulhando quando ela derrubou o caldeirão com um empurrão. Não a queimou, entretanto; de alguma forma, era fria ao toque. Abalada, a sonserina ficou observando o líquido escuro serpentear da poça em seus sapatos até o lago, onde, por algum motivo, começou a borbulhar em contato com a água.

                Ao invés de se afastar, a sonserina olhou entorpecida pelos seus atos as bolhas subindo o gramado em sua direção. Talvez estivesse um pouco amortecida da realidade pelos rumos que a noite tomou. Ela havia planejado trazer Cedrico de volta, mas uma série de eventos mudaram sua opinião. Não queria que ele fosse nada como o Lorde das Trevas, mesmo que para isso ele precisasse morrer e permanecer morto. Além disso, ela não cometeria o mesmo erro que Dumbledore.

                Quando uma bolha estourou perigosamente perto de seus tornozelos, ela tentou levantar o pé para dar um passo para trás –e percebeu que estava presa em seu lugar.

                Não apenas isso. Deslizava para o lago cada vez mais rápido, caindo de bunda na grama. Tentou alcançar sua varinha, mas nenhum feitiço de retardamento, como impedimenta ou protego a ajudaram. Nem mesmo o feitiço de limpeza, scourgify, teve qualquer efeito sobre a poção, que parecia ter criado vida para se virar contra ela.

                Desistindo da magia, Cordélia se virou, tentando se segurar na grama, cravando seus dedos na terra, sujando as unhas até que quebrassem contra a areia escura, então nas rochas à beira do lago, que machucaram suas mãos ao ponto de sangrar enquanto ela era arrastada para o lago com uma força maior do que a sua. Perdeu a varinha no processo e, por um segundo, um profundo pânico se abateu sobre ela. Ela morreria. Ali, em Hogwarts, onde Cedrico havia estado morto pouco mais de um ano antes.

                Não queria morrer.

                Depois desse pensamento –quase uma realização –só teve tempo de colocar em seus pulmões o máximo de ar possível antes que sua cabeça fosse submersa dentro da água escura e fria do lago.

                À princípio, seguiu se debatendo, fazendo um esforço para voltar à superfície, um esforço inútil. Suas pernas batiam contra a água fria, ela não conseguia ver nada à sua frente mesmo quanto abria os olhos, e seus braços procuravam o ar acima, mas, em dado momento, estava tão fundo que não conseguia mais colocar a mão acima, acenando, pedindo ajuda a alguém que não estava lá. Sentia como se houvesse nadado numa tempestade apenas para morrer à praia, enquanto a água entrava em seus pulmões.

                Estes pareciam estar sendo espremidos, queimavam, doíam sem ar, mas, por algum motivo, a dor começava a diminuir conforme suas pálpebras ficavam mais pesadas. Ela sentia como se fosse explodir caso não inspirasse alguma coisa –qualquer coisa. Não havia sido nada como isso em seu último ano em Hogwarts, quando ela precisara que Cedrico a resgatasse.

                Como se pensar no nome dele o invocasse, a água do lago se agitou ainda mais –ela agora havia desistido de lutar, e tudo ficara calmo e silencioso ali embaixo –quando alguém mergulhou; ela só pôde diferenciar um corpo masculino e o brilho de uma varinha acesa. Se tivesse forças, ela teria rido, de alívio, de alegria, seu peito, antes ardendo, se encheu de amor, amor, amor...

                Cedrico, ela pensou vertiginosamente, antes de apagar.

 

                Ela acordou algum tempo mais tarde com a pressão de alguém fazendo uma massagem cardíaca nela. Não soube dizer quem era a figura em cima dela, porque ainda estava escuro –o que era uma coisa boa; significava que não passara muito tempo desacordada.

                Uma vez acordada e consciente, Cordélia se jogou de lado para vomitar e tossir a água que havia se acumulado em seus pulmões. Era uma sorte que não houvesse comido nada no jantar ou a bile com água teria uma massa nojenta misturada a si quando foi expelida pela sua boca. A pessoas junto dela a estendeu sua varinha, que Cordélia usou para limpar a grama, então a sua boca.

                Ela precisou respirar fundo antes de se virar.

                Vítor Krum a olhava com uma carranca que o fazia parecer com o garoto que ela vira pela primeira vez em Hogwarts: as sobrancelhas tão juntas que eram quase uma só, os lábios apertados e os olhos escuros brilhando de forma perigosa. Num último fio de esperança, Cordélia olhou ao redor, mas eles estavam sozinhos. Respirando fundo, ela se deixou cair na grama de novo, os pulmões queimando abafando a dor em seu coração.

                As estrelas eram tão brilhantes no céu lá em cima que era quase como se zombassem dela.

—Focê está bem? –Vítor continuava a olhando atentamente.

                Cordélia piscou duas lágrimas pesadas e quentes que haviam se acumulado nos cantos de seus olhos, deixando-as escorrerem pela sua têmpora até se perderem no cabelo escuro.

—Estou bem. –Admitiu, a voz rouca das lágrimas. Estava bem, fisicamente. Viva. Não achava que sairia viva. –Como você me encontrou?

                Ele hesitou, mas apenas por um segundo, então sentou ao lado dela, na mesma direção, de forma que ela podia ver apenas o lado de seu rosto.

—O seu padrrinho me pediu para ficarr de olho em focê. –Ele deu de ombros. –Achava que estava fazendo algo perrrigoso. Quando cheguei aqui, focê já estava no lago.

                Ela ficou surpresa por um segundo e chateada no outro. Desejou que Severus houvesse escolhido outra pessoa; Mary ou seu pai. Por algum motivo, Vítor era a última pessoa no mundo que ela queria que a pegasse naquela situação.

                Vítor ainda não tinha terminado. Ele pigarreou.

—Focê estava... trrazendo Diggory de volta. –Ele pontuou. Não era uma pergunta.

                Ela fechou os olhos para não ter de ver a expressão no rosto dele. Era surpreendentemente machucada. Ela o havia machucado.

—Eu... sim. Eu... desisti. –Falou, em parte se explicando, querendo tirar aquela expressão do rosto dele. –Magia Antiga pode ser temperamental.

                Ele acenou. Ela esperou que ele dissesse mais alguma coisa, mas ele não o fez. Ele curou as palmas machucadas de suas mãos e a secou precariamente com feitiços, de forma que ela continuou se sentindo úmida e fria. Estendeu uma mão para ela e não a soltou enquanto eles andavam de volta para o castelo; molhados, cansados. De alguma forma, o peso que ela vinha carregando no peito se abrandou. Achava que seria pior agora, que se tornaria mais pesado, que sentiria tudo de novo. Ela se sentia mais leve do que há muito tempo.

 

                Não soube como conseguiu acordar cedo o suficiente para pegar o café da manhã no dia seguinte. Muitos alunos de Hogwarts encararam enquanto ela e Vitor andaram das masmorras até o salão principal pelos corredores em formato de arco. Ela até acenou para alguns quadros mais conhecidos. Algo nela havia ficado no lago na noite anterior; aquele pedaço dela que doía ao andar por Hogwarts. Agora ela sentia apenas uma saudade que era, na verdade, gostosa.

—Cordélia Bloxam? –Alguém perguntou em voz alta à entrada do salão principal. Até então, ela tinha estado distraída com Vítor, comentando sobre a saudade que ele sentia de Durmstrang, comparando à experiência dela em Hogwarts.

                Cordélia se virou. Alguns alunos tentaram disfarçar que encaravam o casal de formados andando por Hogwarts, mas muitos deles esticavam o pescoço e espremiam os olhos para ver melhor. Ela não se importou; o fato de Hogwarts ainda ser a mesma, movida por fofocas, era um pouco reconfortante.

                Quem a chamara fora Cho Chang, que devia agora estar em seu último ano. Ela vinha andando com a garota que Cordélia lembrava de ser Marietta Edgecombe. A asiática agora também tinha uma insígnia de monitora-chefe no peito, e um sorriso curioso no rosto redondo.

—Cho Chang! –Cordélia sorriu de volta, o que fez a corvina abrir mais o próprio sorriso. –Parabéns. –Ela apontou para o peito da colega. –Pela monitoria.

—Alguém tinha que substituir você. –A menina deu de ombros. –O que faz aqui? Não resistiu de saudade de Hogwarts?

—Vim fazer um favor ao professor Dumbledore. –Não entrou em detalhes. –Você viu minha irmã caçula? Ela é da sua casa.

                Cho assentiu com a cabeça.

—Lucy? Ela vai tentar uma vaga no time de quadribol esse ano, espero. Acho que ela já está no café.

                Com mais um aceno na direção da corvina, Cordélia entrou no salão seguida de Vítor, ignorando as cabeças que se viraram para eles. Ambos estavam com suas maletas, pois iriam embora após comerem algo. Cordélia foi até a mesa da Corvinal, mas Vítor andou até a mesa da Sonserina, onde se sentou num espaço mais vazio. Dumbledore, de seu lugar, deu uma piscadinha para ela. Cordélia se perguntou se ele sabia o que havia acontecido na noite anterior, e se não se incomodava de Vítor ter aparecido assim sem avisar.

—Ei. –Cordélia se aproximou da irmã, sentada com Orla Quirke e Stuart Akerley, que olhava para Krum com assombro. –Que tal seu primeiro dia?

                Lucy levantou suas sobrancelhas para ela, que eram visíveis mesmo debaixo da franjinha que agora fazia parte de seu visual, e grudou um par de olhos azuis nos verdes de sua irmã com a boca apertada. Ela usava o uniforme da Corvinal; que não destoava de suas roupas que já era geralmente peças naquele tom de azul, como se ela precisasse assinalar sua lealdade mesmo sem o uniforme.

—Você devia ter me dito que estava vindo. –Apontou a mais nova, fingindo indiferença ao se servir de café, ignorando o suco de abóbora que a dava alergias. –Chegou agora?

—Noite passada. –Cordélia a corrigiu. –É só uma visita rápida, já estou indo embora.

—Podia ter dormido no meu dormitório. –A corvina insistiu, os olhos se trancando com os da mais velha com reprovação.

—Eu sou uma sonserina.

—Era.

—Sempre serei. –Cordélia riu e se inclinou para dar um beijo nela. –Eu devo voltar nas próximas semanas, então vejo você, certo? Prometo.

                A caçula, agora terceiranista, parecendo mais madura do que Cordélia se lembrava de ela ser, acenou com a mão enquanto a mais velha se dirigia para a mesa verde e prata ao lado, para junto da travessa de panquecas que sempre fora seu ponto da mesa, e justamente onde Vítor havia decidido se sentar.

                Ela respirou fundo, e as encharcou de mel, sob o olhar atento de seu padrinho na mesa dos professores. Havia tido tempo de conversar com ele mais cedo; Severus parecia muito aliviado de sua escolha de última hora, embora houvesse pontuado que ela havia demorado a criar consciência.

 

                Ao invés de voltar para seu apartamento em Londres, Cordélia aparatou na casa de seus pais, que não era tão longe assim do castelo de Hogwarts. Sua mãe não sabia o que estava acontecendo e não fez perguntas. Ao invés disso, preparou kransekake –de verdade, não o que ela fazia em seus tempos de Hogwarts –e deixou que a filha ficasse em casa sem fazer comentários. Não falaram sobre como Cordélia havia estado certa sobre a volta do Lorde das Trevas, ou sobre como estava mesmo na hora de ela superar. Cordélia se sentiu triste e feliz e de luto, e sua mãe a fez companhia.

                Ele estava morto; mas ela sobrevivera.

 

 “Mas eu devo admitir que sinto sua falta terrivelmente. O mundo é muito quieto sem você por perto
—Lemony Snicket.

 

Lados e Escolhas


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Notas finais do capítulo

Okaaaay
Não sei se esse era o final que vocês esperavam. Eu tentei fazer um final diferente várias vezes, mas em nenhuma delas soou convincente e, apenas ao não trazer ele de volta, eu consegui ficar satisfeita. Eu não consegui condensar toda a dificuldade que seria ter Cedrico de volta em poucos capítulos.
As próximas postagens são bem mais leves, de pequenas cenas Cedrico/Cordélia, Vítor/Cordélia e Cordélia em Beauxbatons. Mais leve, prometo. Espero que tenham gostado, mas me deixem saber comentando aqui embaixo!
O link embaixo do capítulo é da minha nova Fanfic, que vai se passar nesse mesmo universo (o que significa que vocês poderão ver Cordélia aqui e ali), mas se passará com novos personagens e novas intrigas. Espero vê-los por lá!
XOXO



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