Midnight Lovers escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

"Dark Paradise" - Lana Del Rey



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Blair Bishop tinha uma voz serena e maternal, em seu vestido esvoaçante ela guiava Selena e Scorpius para um gazebo escuro, coberto de vinha e iluminado por velas enegrecidas. Macabro, mas ela chamava de lar, um lugar onde podia espairecer e pensar sem ser interrompida.

— Chegamos.

— É… Parecido com o da nossa casa — Selena sopra, assustada com a semelhança.

— Selena, querida, o Limbo está integrado com a Terra, mas em planos diferentes — Explicou sentando-se na cadeira de metal — Aqui é o terreno do falecido Blackwaters e também onde eu morava com a minha irmã.

Scorpius se engasga com a própria saliva, agora entendia o porquê de nunca se sentir confortável naquela casa. Para ele, era fria e sombria, sempre distante e solitária, mesmo conseguindo ouvir sua mãe o chamar de todos os cômodos. O bruxo preferia a pequena casa ao lado do museu, lá ele se sentia em casa, enquanto na Mansão Blackwaters, um intruso.

— Você está bem, tio?

— Sim, hum… Claro, Lena — Mentiu, passando as mãos pelo cabelo, desconfortavelmente.

— Você pode senti-la, não é? — Perguntou o espectro, apontando para as duas cadeiras vazias, mas Scorpius se recusou a sentar-se.

— Ela apareceu para mim no meu estúdio e me mostrou como foi sua morte em 1692… Não posso afirmar que a sinto, se é isso que quer saber — Retrucou, arrumando seu casaco de couro.

— Eu sinto muito — A voz de Blair soa como um sussurro, fraco — Bridget sempre foi impulsiva… Esse lado colérico foi o que a levou a ruína.

— Achei que tivesse sido o Williams Phips — Brincou, mas ninguém sorriu.

Selena pigarreia, revirando os olhos.

— O que quer dizer com isso, Blair?

— Minha irmã se envolveu com o filho de William Phips, o Anthony. Porém, ele deveria se casar com outra moça, uma filha de um governador influente ao sul — Suspirou — A aliança tinha sido feita para nos ajudar nos tempos de frio, que eram severos na região, mas Anthony encontrou Bridget e, bem… Acho que sabem o final dessa história.

— Ela se entrega à Anthony e, pouco tempo depois, é levada para sua execução. Grávida.

— Ela não estava mais grávida, jovem bruxo — Blair comenta, brincando com as pontas de seu cabelo — Descobri alguns anos depois que minha irmã havia sim conseguido dar à luz antes de ser executada — Parou para encará-los, sabia que ambos desconheciam esse pedaço da história — Um menino. Draiko.

— O que? — Exclamou Scorpius se apoiando na mesa de metal no centro do gazebo. Ameaçador.

— Não se exalte, ou chamará atenção de coisas que não saberá lidar, meu jovem — Retrucou elegantemente, oferecendo mais uma vez a cadeira vazia — A criança nasceu algumas horas antes de Bridget ser morta. 

— Como descobriu? — Selena perguntou, confusa — Não estava com ela quando tudo aconteceu.

— Dezessete anos depois um jovem bateu em minha porta. Cabelos cor de fogo, como o dela, mas olhos castanhos escuros — Ela para, precisava conter suas emoções — Sabia que era descendente dela, as feições eram as mesmas. Seu sotaque era puxado, britânico. Apareceu tão rápido quanto sumiu. Naquele instante eu tinha certeza de que ele não era um bruxo. Pelo menos não como nós.

— Precisamos recitar feitiços e não simplesmente desaparecer — Scorpius continuou.

— Meu pai consegue.

— Seth é meio feérico, Lena — Resmungou o bruxo, finalmente se acomodando na cadeira.

— Dez anos se passaram desde que encontrei o menino — Ela suspirou, cansada — Um homem veio atrás de mim. Vlad Dawnton, um conde. Me contou tudo o que aconteceu naquela noite e tudo sobre Draiko, o filho de Bridget. Meio bruxo e meio vampiro.

Scorpius deita na cadeira, tudo aquilo parecia demais. Absurdo. Voltou o seu olhar para Selena, que sentava-se ereta e atônita, absorta em toda a história. Repousou sua mão em cima da de sua sobrinha, tentava lhe passar conforto, uma certeza de que ele estava ali, de seu lado, disposto a fazer tudo por ela.

— Vinte sete anos passei sem saber que tinha um sobrinho. Vinte sete anos que usei formando e cuidando de minha família — Blair se levanta, apoiando-se na beirada de madeira do gazebo, pensativa — Tinha duas filhas na época e, mesmo assim, o conde Dawnton queria que eu largasse tudo para procurar Draiko.

— Ficou em uma encruzilhada — Afirmou Scorpius, apertando um pouco mais a mão de sua sobrinha.

— Eu tinha duas opções: ficar com as minhas meninas ou largar tudo para encontrar Draiko — Continuou, analisando a paisagem do Limbo — Acho que sabem o que eu escolhi.

— Suas filhas…

— Exato, pequena bruxa. As escolhi, mesmo sabendo como foi o Chamado de Draiko — Ela se vira para Selena, calma — O Chamado é um momento importante na vida de um bruxo, Selena, acho que sabe disso.

— Sim, senhora.

— Mas é difícil entendê-lo quando a criança nasce híbrida.

— Então eu…?

— Não, Lena. Seu Chamado não terá complicações — A voz de Scorpius soa paternal, aconchegante e rouca — Apesar de seu pai ser híbrido, o gene feérico é mais fraco que o bruxo. Não se preocupe.

— O gene vampírico, por outro lado, é bem mais forte, mesmo vindo de uma pessoa mordida — Ela explicou, gesticulando com leveza — A grande pergunta surge com essa combinação: como funciona o Chamado bruxo em uma cria vampírica?

— Nunca li relatos sobre. Normalmente seres sobrenaturais evitam os vampiros, por conta de sua ligação com poderes obscuros — Scorpius fala, ainda sem soltar a garota — Não é à toa que eles sobrevivem da coisa mais preciosa na magia natural. O sangue.

— Exatamente, Scorpius — Blair sorri — O conde Dawnton me disse que no dia em que Draiko deveria ser Chamado, um eclipse lunar aconteceu…

— Péssima notícia…

— Não entendi — Selena diz, envergonhada.

— Eclipses solares, minha querida, são para as bruxas, onde nosso poder é aumentado pela união do sol com a lua — Scorpius explica — Enquanto um eclipse lunar ocorre quando a Terra fica entre o sol e a lua, apenas criaturas voltadas para o poder obscuro se beneficiam desse momento, como Caçadores e…

— Vampiros — Blair respira fundo, virando-se para o homem à sua frente — E demônios.

— Nykkia estava certa?

— Ela é muita astuta e inteligente — O espectro assente — Sim, os Sete líderes do Inferno realmente existem. Na verdade, estão pisando em um dos domínios deles.

Selena sente seu corpo tremer, medo. Nykkia tinha sido deixada para trás, em território demoníaco, sozinha. Scorpius a sente tremer, seu magro corpo esfriando aos poucos, respirando fundo, ele se apoiou na mesa, fuzilando Blair com o olhar, estava prestes a matá-la, se ela não estivesse, bem, morta.

— Quer dizer que me fez deixar a minha namorada em solo infernal? — Sua voz saiu como um grunhido, feroz.

— Ela que quis ficar, meu jovem…

— Não teria ficado se tivesse nos avisado!

— Vocês deviam estar cientes do que estavam fazendo, meus jovens — Ela fala, indiferente — Aqui é o Limbo e não um parque de diversão.

— Acredite em mim ou não, Blair, mas eu nunca estive aqui — Brincou, mas seu semblante era sério, quase felino. Pronto para atacar — Agora, você vai deixar de lado toda essa história e vai me dizer como paramos o que quer que seja que está acontecendo em Salém.

Blair se cala, estava analisando o homem.

— Matem aquilo que começou tudo.

— Você só pode estar de brincadeira comigo — Scorpius sibila, colocando as mãos na cintura e virando-se para Selena — Posso matá-la?

— Ela já está morta, tio — A garota fala, revirando os olhos — Como espera que matemos alguém que foi enforcada e está enterrada em um pedaço de terra qualquer? Não fazemos parte da série Supernatural, sabe? Estamos no mundo real.

— Quem disse que Bridget Bishop está morta?

Scorpius ergue as mãos para o alto.

— Você, Blair. Você disse que ela está morta.

— A morte vem de várias formas — Sua voz soa fria, como se tudo aquilo fosse uma conversa trivial — A de Bridget veio primeiro pela carne.

— Do que está falando.

— Ela está viva.

Selena engole em seco, sentindo seu corpo afundar na cadeira.

— Mas possui outro nome agora — Continuou — Azazel, o demônio da Ira.

Scorpius sente seu corpo vacilar, sendo forçado a se apoiar na cadeira. Sua respiração estava irregular, mas precisava manter a postura. Ele queria que Selena se sentisse segura ao seu lado. Sua mão se aproxima da de sua sobrinha, apertando-a mais uma vez.

— Eu não acredito em você.

— Acredite ou não, o problema é seu. Mas essa é a verdade — Ela se levantou, serena — Antes de morrer ela fez um voto, algo impensável para uma bruxa, mas acho que não ver o próprio filho crescer era um fardo maior. Cedeu seu corpo para Azazel e, em troca, daria ao demônio sua alma antiga — Blair suspira, repousando as mãos em seu peito — Deixara para trás a garota alegre, confiante e determinada que era.

— Ela virou uma Casca? — Scorpius pergunta, sentindo-se enojado.

— Dia dez de junho de 1692 morreu a minha irmã, mas também marcou o início da vinda dos Sete Líderes do Inferno — O espectro se virou para Selena, com um semblante sério no rosto — Bridget, infelizmente, foi a primeira.

Lena.

Um sussurro ecoou pela mente de Selena, tão fraco que passou despercebido.

— Não há como lutar contra isso — Scorpius afirma, cansado — Você, mais do que ninguém, deveria saber disso…

— Nada é impossível, meu jovem e… — Blair tenta falar, mas é interrompida por Dorothy Good, que parecia assustada — O que houve?

A criança a encara, estava chorando.

preciso de ajuda.

Dessa vez a voz de Sebastian soou clara como o amanhecer, fazendo Selena saltar da cadeira, respirando pesadamente.

— Lena, você está bem?

Bash!

Gritou, tentando chamá-lo, mas nada acontece. Nenhuma resposta.

— É o Bash — Ela murmura, sentindo seu olhos se enxerem de lágrima — Ele precisa de ajuda.

— Como você sabe? — Seu tio pergunta, segurando-a entre seus braços em uma abraço apertado. Ele podia senti-la tremendo.

— Ele acabou de falar comigo e…

— Reaper? Como assim? — O espectro fala, interrompendo os dois

— O que está acontecendo, Blair? — Scorpius perguntou, ainda com Selena em seus braços.

— O Limbo foi aberto — Ela fala, fria, petrificada.

A bruxa sente seu corpo travar por completo, se não tomasse cuidado, era capaz de chorar até não conseguir mais. Precisava ser forte, tirar Nykkia dessas terras malditas, encontrar Sebastian e, se tudo der certo, derrotar Bridget, ou melhor, Azazel. “Fácil!”, brincou, respirando fundo.

— Precisamos ir — Ela soa determinada, uma guerreira.

— Certo… Os guiarei pela saída — Blair diz, altiva — Pegaremos sua amiga e iremos.

Scorpius assente, seguindo o espectro pelo mesmo caminho. Selena ia quieta ao seu lado, ainda tentando conversar com seu irmão, mas, apesar das diversas tentativas, falhando. O coração do homem batia rápido, seja lá o que existisse no Limbo, é essencial que permaneça ali. “O mundo não é dividido em quatro à toa”, pensou, irritado.

— Isso tem que ser coisa da Bridget — Acusou Scorpius, ardendo de raiva.

— Azazel — Corrigiu Blair, sem olhá-lo.

— Tanto faz — Resmungou, virando-se para a sobrinha — Alguma coisa?

— Nada. Não consigo falar com ele… Parece que algo está bloqueando o caminho das minhas mensagens… — Ela suspira, encolhendo-se ainda mais — Talvez eu devesse tentar o telefone de novo. A essa altura ele teria ligado o celular para pedir um uber ou algo do tipo, não?

— Eu não sei, minha querida. Vamos fazer o seguinte… — Suspirou, precisava ser forte por ela agora — Assim que sairmos daqui, voltaremos para a mansão e lá decidiremos o que vamos fazer, pode ser?

— Parece um bom plano — Selena dá um sorriso amarelo, brincando com as pontas de seu cabelo — Tio… Você acha que temos uma chance?

Scorpius se cala, engolindo em seco.

“Vale a pena mentir?”, pensou, pigarreando logo em seguida.

— Somos os Bishop, não somos?

— Sim, mas…

— Se não conseguirmos resolver essa bagunça, ninguém mais conseguirá.

— Reconfortante… — Selena suspira, voltando o seu olhar para o chão de terra batida.

— Presunçoso demais? — Ele sorri, socando-a de leve no ombro.

— Confiante, eu diria e…

— Ela não está aqui — Blair alerta, gélida como mármore e cortante como uma adaga — Nykkia deveria estar aqui.

— Como assim não está aqui? — Scorpius sibila, raivoso.

— Veja com seus próprios olhos, rapaz.

Nada. Vazio.

Uma paisagem etérea, escura e mórbida.

— Nykkia! — Ele a chamou, sentindo seu coração estilhaçar em milhares de pedaços — Droga! Tem certeza que pegou o caminho certo?

— Não estou errada, Scorpius… — O espectro suspirou, observando o horizonte — A notícia da barreira ter se desfeito está se espalhando rápido. Vão! — Ordenou apontando para uma brecha de luz que iluminava a escuridão do Limbo — Espero que a amiga de vocês tenha saído… Aqui não é mais seguro.

— Não podemos abandoná-la! — Selena interveio, pisando firme na terra.

— Vocês não sabem nem onde ela está! — Avisou, severa — Como eu disse, ela pode ter saído pela brecha e aconselho que sigam o mesmo caminho — Blair segura a pequena mão de Dorothy — Podia os proteger, mas agora não mais. A ordem foi desfeita.

— Mas…

— Por favor, Scorpius — Ela pede, ou melhor, implora, apontando para a luz — Vão! Não há mais nada que precisam saber e nem muito o que contar. Por favor, saiam daqui.

O coração de Selena congela, virando apenas uma pedra dura e sem vida em seu peito, esfriando todo o seu corpo. Com os olhos marejados, ela segura a mão de seu tio, afinal, Blair estava certa, Nykkia podia ter saído pela brecha e, se estivesse presa no Limbo, seria mais fácil tirá-la estando do outro lado.

— Tio…

— Eu sei — Grunhiu, soltando a mão fina da garota — Se ainda estivesse viva, Blair, eu a mataria.

— Também sentirei saudades, jovem bruxo. Agora, saiam já daqui!

Selena assentiu, caminhando em direção à luz.

Antes que pudesse atravessar a brecha, ousou olhar para trás. Dorothy acena, dando adeus para os visitantes, enquanto Blair estava virada para a horda de massas deformadas e enegrecidas, criando uma barreira invisível e impedindo que os espectros escuros passassem.

— Vou tentar segurá-los! — Gritou, cerrando os punhos — Saiam!

A bruxa murmurou um “obrigada” e atravessa. Seus olhos são invadidos por uma luz branca e quente, que a acolhia como um abraço materno. Sua mente rodava, pensando em diversas formas de achar Nykkia, enquanto Scorpius é invadida por uma raiva de proporções desconhecidas.

Os dois partiram.

Incertezas o seguiam e a promessa de um caos completo era tudo o que tinham.


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