Midnight Lovers escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

"Drive Forever" - Remix - Sergio Valentino, xakavir



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Sebastian sentia que estava sendo dominado pela luxúria, seu coração batia tão rápido contra seu peito que ele tinha certeza que o barulho ecoava por todas as paredes do cômodo. O brilho levemente alaranjado era captado pelo largo espelho em sua frente, o bruxo, naquele momento, não era mais o irmão protetor e o filho irritante, era um homem irresponsável e sedento por mais.

Uma besta movida pelo desejo.

Magnus fazia isso com ele, algo naquele humano deixava Sebastian perdido em si mesmo. Os lábios dos dois travavam uma árdua batalha enquanto tentavam se controlar para não causar danos maiores ao escritório vermelho da boate.

Aquilo tudo se resumia a uma insanidade feroz que consumia ambos avassaladoramente.

Sebastian se sentia sujo, impregnado com uma névoa densa que o impedia de racionalizar seus movimentos. Agora ele prendia Magnus contra o espelho, mordiscando seu pescoço e aproveitando o seu odor levemente alcoólico. Se Lena estivesse aqui… 

Seu corpo trava e um enjoo toma conta de Bash.

Gatilho.

Ele queria estar sob algum feitiço, qualquer um, pois se recusava a aceitar o que estava fazendo. Sua mente via tudo aquilo como um ato de autodepreciação, render-se dessa forma a Magnus era sua maior vergonha. Entretanto, seu corpo queria mais, seus ouvidos clamavam por mais gemidos, seus olhos vasculhavam cada pedaço do homem submisso.

Todos os instintos do bruxo pediam por mais, mas ele não podia ceder.

Pelo bem dele, Sebastian não podia continuar.

Respirando com dificuldade, o bruxo se acomodou no divã. Precisava voltar a pensar, usar seu cérebro para fazer as coisas.

“Eu não acredito que fiz isso”, ele pensou “Com ele…”.

A verdade era que Sebastian havia adorado e, por mais que odiasse admitir, tê-lo em seus braços, tão frágil e vulnerável, era delicioso. O jovem bruxo encarava o chão enquanto ouvia os suspiros de Magnus, ainda parado e apoiado no espelho. 

— Eu sou um animal… E não no bom sentido — Resmungou baixinho, a vergonha tomava conta de suas bochechas.

— Não me importo, Sebastian — Ele murmura, passando seus dedos finos pelo cabelo ruivo e bagunçado do mais novo.

— Magnus… — Pigarreia, tentando esconder o rubor em seu rosto.

— Ugh… Esse nome — Seus olhos reviram enquanto fala com tranquilidade.

Sebastian vira a cabeça, perdido e confuso.

 — Vocês humanos são uma graça.

Uma bola de dúvida se acumula em sua garganta..

— Eu sabia que havia algo errado com você… — Sebastian sibila, utilizando a cadeira de couro como apoio para se levantar.

— Ah! Não se engane, pequeno bruxo — O homem continua, vestindo-se com um robe de seda negra — Magnus é apenas um humano miserável. Malicioso, mas nada além disso. Um jovem garoto, como você, mas amargurado pela família dele — Sua voz soa cansada, como se a noite de excessos tivesse o abalado — Ele me serve de casca. Uma forma de eu andar pela Terra sem ser, bem, digamos que facilmente reconhecido.

— Mas… — Sebastian engasgava em suas próprias palavras não só por conta da raiva, mas também pela vergonha de ter ficado tão próximo de tal criatura.

— Eu sou o Asmodeus, o demônio da luxúria — Ele sorri maliciosamente, arrumando suas madeixas douradas — E você, querido Sebastian, está me devendo uma noite de prazeres… Não sabia que seria tão controlado.

— Eu… Não — Seu corpo ardia, a raiva consumia-o aos poucos.

— Ah, pobre criatura, mal consegue falar, não é mesmo? — Magnus, ou melhor, Asmodeus ri, piscando delicadamente.

Seus olhos humanos foram se transformando, aos poucos, em felinos. Amarelos como o sol, com as pupilas finas e vingativas.

Perigo.

Corra.

A mente de Sebastian gritava para que ele se movimentasse.

— Não ache que vai escapar de mim, queridinho — Asmodeus fala, mexendo seus dedos — Você é um pedaço de mal caminho… Meu pedaço — Ele murmura, aproximando do garoto, que estava preso ao chão, tocando seu abdômen, descendo até…

— Ah! — Sebastian grunhi, cerrando o maxilar logo em seguida.

Precisava se manter são, forte o suficiente para não cair na tentação do demônio loiro.

— Levante-se. Tem alguém que quer te ver.

— O que… — O bruxo balança a cabeça, confuso — Quem?

— Família…

A palavra soou fria, sarcástica e venenosa.

Diabólica.

 

⇻♡⇺

 

Selena sentia que seu corpo parecia uma gelatina, mole e frágil. As vozes de Nykkia e de seu tio ecoavam em sua mente como um mantra, lindo, sereno e poderoso. Eles entoavam um feitiço que pedia permissão para adentrar no mundo das almas e a jovem bruxa estava ansiosa. Ela cerrava os olhos com força, não queria falhar; sua vida dependia disso.

A morte, ou melhor, o que existe depois da vida sempre foi um mistério para os humanos, mas os seres sobrenaturais sabiam exatamente o que acontecia. Havia o Limbo, onde as almas atormentadas ficavam, sem chances de retornar a Terra, vagando no vazio, sem propósito algum. Caso, por motivos externos, uma pessoa viesse a falecer sem cumprir sua missão no mundo dos vivos, ela tornava-se um Espírito. Seres isentos de sentimentos, condenados a uma jornada eterna de contemplação. Por último, quando havia completado sua finalidade, a alma é levada ao Mundo Etéreo, onde gozaria de plenitude e boas-aventuranças e, assim que tiver se recuperado, retornaria à Terra com uma nova missão.

Entretanto, há sempre uma exceção à regra: contratos esquivos e mortes cruéis. Aqueles que morreram tendo vivenciado uma das exceções corre o risco de ter uma alta tão perturbada que pode ficar perdida entre os planos. Alheia ao mesmo tempo que é participante. Apática e empática. Raivosa e serena. Certa e perdida.

Selena sabia disso, mas o que ela não sabia era que o Limbo era um lugar tão tranquilo.

Ela sentiu algo lhe tocar o ombro, fazendo com que abrisse os olhos. Uma criança. A mesma que havia a guiado até o Darkside River, e a afundado na água. Vestia-se com as mesmas roupas coloniais, mas agora, por conta da proximidade das duas, Selena pôde ver que os lábios da garota, pequenos e finos, estavam costurados com uma linha prata.

— Mas…

— Lena?! — Uma voz masculina grita o seu nome, mas a bruxa decide ignorar.

Selena segura as mãos geladas da criança.

— Qual o seu nome?

— Ela não pode falar — O som era sereno, parecia uma brisa — Estava ansiosa pela sua chegada, Selena.

Os olhos das duas mulheres se encontram. Por um momento a bruxa sentiu o chão abrir debaixo de seus pés. A pessoa na sua frente era idêntica a Andrômeda, exceto as vestes. Um vestido antigo, de tecidos escuros e de muitas camadas, semelhante à da criança que Selena segurava.

— Mãe?

— Me chamo Blair, minha jovem — Ela continua, calma como uma manhã de verão — Acho que sabe quem sou…

Selena engole em seco, se engasgando com a própria saliva. Sentia-se estúpida, uma criança de três anos ainda aprendendo como o próprio corpo funciona.

— Devemos encontrar seus companheiros de jornada — Blair pronuncia, afastando da garota, guiando-a pelo Limbo — Siga-me.

A bruxa tenta falar algo, mas sua atenção é voltada para o desaparecimento da garotinha que havia a acordado. Mesmo segurando as mãos da criança, ela se dissolveu no ar, sumindo como se nunca tivesse existido. Selena segurava o nada, pensativa, incerta se devia seguir Blair ou contemplar o vazio do Limbo.

Era um lugar de terra enegrecida, névoa e silêncio.

Vazio.

— Não devemos perder tempo — O fantasma encoraja.

— Quem era ela? A garotinha? — A jovem indaga, respirando fundo, tentando se esquecer de quando se afogou no Darkside River.

— Dorothy Good.

O nome era estranho para Selena, como um sussurro fraco por entre as ondas do mar.

— Ela se veste como você…

— Foi acusada como bruxa por William Phips — Ela explica, ainda caminhando pelas terras desconhecidas pela jovem bruxa — Sua punição foi mais severa do que a de minha irmã. Queimada.

Uma grande rocha de mais de cem quilos desaba nos ombros de Selena, a bruxa podia ter certeza que seus pés se afundam no chão. “Uma criança… Queimada”, pensou sentindo seu sangue pulsar em suas veias, fazendo seu estômago revirar.

— Lena! — Scorpius grita acelerando em direção a sobrinha, segurando seus braços e checando seu corpo. Ele precisava estar certo de que Selena havia feito a passagem da forma correta — Você está bem?

Suas mãos, levemente ásperas, tocam o rosto da garota com cuidado, procurando algum machucado ou, até mesmo, pelo simples fato de poder tocá-la. Apesar de terem se conhecido a poucos dias, Scorpius sentia que devia muita coisa a sua sobrinha, principalmente por ela ter confiado nele e o seguido cegamente pelo Ritual da Lua.

Porém, não era só por conta disso.

Selena era idêntica a Electra.

Cópia e fotocópia.

Quando o bruxo pousava o seu olhar sobre a jovem bruxa ele via sua irmã ainda adolescente, no entanto mais serena, delicada e calma. “Uma versão melhorada de Electra”, ele pensava.

— E-Eu… Sim, tô bem, tio.

— Ainda bem… — Ele suspirou, aliviado — Eu… Achei que tinha te perdido… Nykkia e eu estamos vagando aqui por um bom tempo. Uma duas horas, eu acho.

— O tempo do Limbo não é o mesmo da Terra, meus jovens — A voz de Blair soa mais concreta, cheia — Acho que deve me conhecer, não é Scorpius?

— Sim. Blair Bishop?

— Exatamente — Ela sorri — Mas sinto que devo lhes dar uma péssima notícia… Quando os vivos vem ao limbo pelo Ritual da Lua, eles estão em busca de resposta, estou certa?

— Certíssima — Nykkia assente.

— Bem, para que eu sane vossas dúvidas, uma pessoa deve ficar para trás…

— Uma moeda de troca — Uma voz obscura ecoa pelo Limbo, parecia uma ordem.

Selena sente seu corpo esfriar, como se conhecesse quem estava falando.

— Tio? — A garota o chama.

Scorpius respira fundo e segura a mão de sua sobrinha. Gélida como a noite. “Ela está com medo”, pensou sentindo seu coração apertar.

— Eu fico.

— Não seja idiota, Scorpius! — Nykkia protesta — Você que tem as perguntas… Homens, é incrível como sempre escolhem a opção errada — A bruxa revira os olhos e cruza os braços — Eu fico, Blair. Onde posso esperar?

— Você se parece muito com a sua ancestral, Nykkia — O espectro comenta, sorrindo de forma singela e elegante — Tituba, a Prima de Salém, teria orgulho.

A mulher mais velha sorri envergonhada.

— Obrigada.

— Creio que não poderá esperar em outro lugar, senão aqui — Blair continuou — Evite andar por essas terras, não sabe como funciona o Limbo.

— Sim, senhora.

— Não converse com ninguém, mesmo que chamem o seu nome, ou peçam ajuda. Não há almas aqui voltadas para a luz, jovem bruxa — Alertou, tocando o ombro de Nykkia com delicadeza — E, por favor, não deixe ser encantada pela perspicácia de Reaper.

“Reaper…”, o nome ecoou pela mente de Selena como uma canção.

Nykkia assente, enrolando-se em seu cardigã.

— Você tem certeza disso? — Scorpius soa machucado, triste e, acima de tudo, preocupado.

— Tenho sim — Ela sorri — Sei me cuidar, garanhão.

Scorpius suspirou, soltando a mão da bruxa que amava, voltando o seu olhar para Blair, estava determinado. 

Um leão pronto para caçar.

— Quando podemos começar?

— Para a juventude tudo tem que ser resolvido o mais rápido possível, não é? — Ela fala, andando para longe deles — Venham. Sigam-me. Iremos para um lugar seguro.

 

⇻♡⇺

 

Sebastian sentia que estava sendo arrastado pelo vento, levado pela brisa fria de Asmodeus a um destino desconhecido. Vendado, dependia apenas de seus outros sentidos que, agora, falhavam como nunca antes. Seus ouvidos o enganavam ao apenas captar o som de rajadas de ar e nada mais. Seu olfato não captava nenhum odor exceto o próprio suor frio, que exalava o medo que batia fortemente contra o seu coração.

Ele sabia que seria irracional de sua parte se tentasse usar sua magia contra tal criatura, um demônio, mas havia algo que ele ainda podia tentar.

Lena?

Ele tentou, mas não havia ninguém para ouvi-lo.

Irmã, se pode me ouvir, eu… hum, preciso de ajuda.

Era inútil, ele sabia, mas precisava tentar.

Seus ouvidos captaram uma risada feminina, fria e faminta. Quase primitiva. O coração do bruxo parou e, pela primeira vez em sua vida, ele quis que seus instintos estivessem errados, falhos assim como seus sentidos. Por um momento, ele rezou para que estivesse errado, mas algo dentro dele alertava-o do contrário.

Não sabia como, mas estava certo de quem aquela risada pertencia. 

Não havia espaço para dúvidas.

Era ela.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
xoxo



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