Esposa de Aluguel escrita por Regina Rhodes Merlyn, Marielle


Capítulo 1
Cap.1- Proposta inusitada


Notas iniciais do capítulo

Olá flores!! Voltando para uma nova postagem inédita como havia anunciado ontem.
Essa história me veio completa e de forma tão forte que até sonhei com ela!!
Serão apenas cinco capítulos e talvez um epilogo (ainda estou estudando a necessidade dele ou não mas está igualmente pronto) os quais postarei a cada semana, no sábado a tarde ou noite, no máximo.
Espero que gostem e divirtam-se lendo-a tanto quanto me diverti escrevendo.
Não esqueçam de deixar suas impressões, elogios, queixas, sugestões etc..
Agradecendo a mais essa capa maravilinda a Picasso das capas, minha linda flor, leitora e amiga Marielle, vamos mergulhar nessa nova aventura Rheese.
Bjinhos flores
Ahhhh, a inspiração veio do filme Namorada de aluguel, Can´t Buy Me Love, aliás, esta é mais uma peculiaridade dessa história: a trilha sonora será toda ela de músicas de The Beatles.
Enjoy !!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/796558/chapter/1

“Can’t buy me love, love;

Can’t buy me love;

I’ll buy you a diamond ring, my friend;

If it makes you feel alright;

I’ll get you anything, my friend;

If it makes you feel alright;

‘Cause I don’t care;

Too much for money;

Money can’t buy me love…”

Can’t Buy Me Love

The Beatles

The Jitters Coffee, (sexta, 11/12/2020 - 06:15 a.m)

Narrador

—Saindo um duplo descafeinado com pouca espuma para o bom doutor! - Sarah anuncia de forma pomposa, se debruçando sobre o balcão para  entregar o pedido ao homem na cadeira de rodas - O que aconteceu doutor Charles? Exagerou nos exercícios de novo ou tentou acompanhar sua filha caçula em alguma estripulia? - pergunta, o médico abrindo um largo sorriso antes de responder.

—Um pouco de cada, devo admitir -confessa, entregando o ticket referente ao pagamento do café a ela  - E você, como vai? E a pequena Sofia, já aprendeu novas palavras além do tradicional e inevitável  Não? - brinca, provocando o riso da jovem.

—Não e no vocabulário dela o Não está cada dia mais potente! - conta ela, não escondendo o orgulho que sentia da filhinha - E começou a dar os primeiros passos sozinha, o que significa que logo irei ganhar alguns cabelos brancos! - brinca, sinalizando ao casal imediatamente atrás do médico se aproximar, pegando os tickets referentes aos pedidos de suas mãos.

—E como está seu curso? Tem conseguido frequentar as aulas? - pergunta o Psiquiatra, posicionando a cadeira de rodas de forma a não atrapalhar o andamento da fila.

—Estou sim, e vai muito bem, obrigada - responde ela, preparando um dos cafés do casal - Na verdade, agora que tocou no assunto, eu gostaria de lhe perguntar uma coisa - anuncia, calando-se a seguir, dedicando-se ao preparo pedido da jovem esposa, mais elaborado do que o do marido havia sido.

—Modo curioso ativado com sucesso! - Daniel Charles brinca ante o silêncio da jovem barista mesmo após haver atendido o casal, já preparando o atendimento seguinte - Mas se não puder ou quiser falar agora, posso lhe passar meu número novamente, caso tenha perdido - brinca mais uma vez, fazendo-a rir de canto de boca.

—Não perdi não e posso falar …. se puder esperar só mais um segundo - pede a garota, entregando mais um pedido.

—Tem até minha carona chegar - avisa o médico, olhando o relógio em seu pulso - O que deve ocorrer, caso ele não se atrase, dentro de vinte minutos, mais ou menos - diz, erguendo os olhos para ela - A propósito, poderia me preparar um café com baunilha? É para agradecer meu amigo sair de seu caminho para levar este velho rabugento aqui! - explica, sacando a carteira, fazendo-a rir mais abertamente.

—Claro. Preparo dois, já que este é o pedido que tenho em mãos - avisa a jovem, sinalizando a garota responsável pelo caixa receber do Psiquiatra, entregando o pedido a garota a sua frente antes de se voltar para o médico mais uma vez, estendendo-lhe o segundo copo de café dentro de uma bandeja de dupla - Aqui, coloque os cafés para não correr o risco de que derramem em seu colo - sugere, ele anuindo com um aceno - Então…- começa ela, dando uma checada rápida na fila, que diminuirá consideravelmente - Minha turma decidiu que faremos uma festa de formatura nos moldes tradicionais, com padrinhos e tudo o mais…- informa, Daniel deixando um “Ahhh, sim” escapar por entre os lábios - Sei que não somos íntimos e tal…

—Sarah, tenho vindo aqui todos os dias, quase religiosamente, há bem mais de um ano desde a manhã seguinte a que nos conhecemos, no metrô, e sempre sou atendido por você, excetuando seus dias de folga, evidente. Acompanhei o final de sua gravidez e até lhe dei alguns conselhos úteis, espero eu - declara, olhando-a por cima dos aros, vendo-a corar um pouco - Se isto não é ser íntimo de alguém, ao menos um pouquinho assim - usa os dedos para exemplificar -, já não sei mais o que é - conclui, olhando-a atentamente - Se está precisando de alguma ajuda, seja em que sentido, basta pedir - libera.

—Agradeço muito sua oferta, doutor, mas não se trata de ajuda o pedido que quero lhe fazer - afirma Sarah, recebendo mais um ticket - Quero saber se aceitaria ser meu padrinho de formatura - convida, olhando-o de soslaio enquanto prepara o pedido.

—Evidente que aceito! Será uma honra e um prazer ser seu padrinho, mocinha - assegura o Psiquiatra, abrindo um sorriso largo - E como padrinho oficial, caso precise de ajuda com algo, tipo vestido ou transporte, não deixe de me avisar, por favor. Ficarei muito magoado caso necessite e não me peça - alerta, girando minimamente a cadeira ao escutar chamá-lo - Aqui - acena, fazendo o ruivo que adentrava esticar o pescoço, localizando-o, abrindo caminho em meio aos fregueses até chegar a ele - Bom dia Will. Se soubesse que viria teria pedido café para você também -cumprimenta, sorrindo gentil.

—Bom dia Daniel - retribui o ruivo, ajeitando a gola da camisa - Então...Jay saiu com meu carro e acabei precisando de carona - explica, rindo sem vontade - Quanto ao café, grato, mas já tomei e trouxe um pouco comigo quando desci - avisa - Já foi atendido? Podemos ir? - pergunta, oferecendo-se para levar a bandeja com os dois copos em seu colo.

—Sim, sim - anui o Psiquiatra, dando atenção a Sarah - Até mais ver minha querida. Dê um beijo na pequena. Nos falamos na segunda. Bom final de semana - despede-se.

—Obrigada. Para o senhor também e darei sim, pode deixar - retribui a jovem, acenando brevemente para Will, que retribui com um sorriso, acompanhando o colega quando este direciona sua cadeira para a saída do local.

—Bonito o amigo de seu amigo - a caixa comenta ao ouvido de Sarah - Pena não ter dado tempo para apresentações, se bem que tô a tanto tempo solteira que, se brincar, nem sei mais como se paquera! - lamenta, fazendo a barista sorri.

—Se você não lembra, imagina eu, que já não era das melhores nesse quesito - rebate Sarah, a outra tapando a boca com a mão, rindo discretamente enquanto reassume sua posição no caixa.

—As duas poderiam reaprender facinho comigo se parassem de dar desculpas para não sair nos finais de semana - reclama a outra atendente do lugar, olhando de uma para a outra ao colocar o prato com a torta sobre o balcão, recebendo o ticket do cliente.

—Não se trata de desculpa, Zoe. Eu realmente não tenho como deixar Sofia com uma babá todo final de semana. Não ganho para isso, não. Sem condição! - Sarah afirma, categórica - Uma vez ou outra vá lá. E mesmo assim teria de deixar ao menos meu apartamento arrumado antes de sair se pretendesse ter o mínimo de descanso no dia seguinte, o que por si só já me deixaria tão cansada que duvido ter ânimo para erguer uma taça de vinho quiçá dançar a noite inteira - enumera, servindo mais um pedido.

—Isto sem mencionar ter de arrumar saco, que nós não temos, para suportar as cantadas baratas que alguns babacas mandam pra cima da gente! Só este esforço já me dá nos nervos - adiciona a caixa, sacudindo os braços.

—Por acaso está sugerindo que levo vocês a locais inadequado Valerie? - Zoe questiona-a, cruzando os braços à frente do peito e estreitando os olhos - Pense bem no que vai responder porque estou com uma xícara de café puro e quente bem ao alcance de minhas mãos! - ameaça, seu tom saindo ligeiramente divertido, estragando o efeito que pretendia dar a frase.

—De forma alguma Zoe - garante a loira, refletindo um segundo - Só que, como direi….- tamborila os dedos no queixo, escolhendo as palavras cuidadosamente - Sarah e eu temos um gosto musical ligeiramente diferente do seu, logo fica complicado encontrar um local que agrade a nós três e, como ela mesma explicou, ainda tem o problema de ter arranjar uma babá que não cobre uma fortuna por umas poucas horas - argumenta, voltando-se para o caixa, satisfeita.

—Ok, admito que somos bem diferentes e que uma babá todo final de semana fica realmente muito dispendioso - admite a ruiva, recostando-se ao balcão da cozinha - Mas vamos combinar: vocês bem que podiam fazer um esforcinho e sair uma vez por mês né não? - questiona-as, não dando a elas tempo para responder - São jovens e lindas. Não podem ficar o tempo inteiro enfiadas atrás de um balcão, servindo café, ou se escondendo em salas de aula ou usando a filha como desculpa para não se divertir - enumera, novamente não as deixando falar - Podíamos determinar um final de semana como sendo o dia das garotas. Daí a cada mês uma de nós escolheria aonde ir e as demais aceitariam de boa - sugere, olhando de uma para outra - Até os meninos poderiam ir junto para evitar cantadas de mau gosto, que tal? - acresce, os dois rapazes que formavam o restante da equipe do lugar espichando os pescoços ao escutarem a citação, curiosos.

—Hã...isso, tecnicamente falando, não quebraria o dia das garotas? - o jovem atendente questiona, Zoe rolando os olhos e dando de ombros.

—Minha idéia, minhas regras! - exclama, fazendo-o enrugar o cenho sem entender nada.

—Podemos pensar nisso - Valerie admite, dando de ombros.

—Prometo pensar a respeito - Sarah se compromete igualmente, erguendo o indicador -Mas somente após as festas de final de ano e depois de Março do ano que vem, quando termino meu curso - condiciona, Zoe fazendo uma careta contrafeita.

—Fazer o quê não é? - diz, enrugando mais o nariz - Ao menos tenho as meninas do lado para sair vez ou outra, embora não sejam tão divertidas quanto vocês - resmunga, fazendo um muxoxo.

—Ouwnnn, obrigada pelo elogio….Mas ainda assim, só irei pensar no assunto ano que vem! - sustenta Sarah.

—O mesmo valendo para mim, por razões diferentes - Valerie avisa.

—E o jeito!! - Zoe abre os braços, se rendendo, cada qual retomando suas funções posto o movimento no lugar haver aumentado consideravelmente, o assunto sendo deixado de lado.

………………………………………..

Gaffney Chicago Medical Center (18:33 p.m)

Com um suspiro exasperado, Connor empurra seu celular para lado, recostando-se no encosto do sofá, mãos atrás da cabeça, dedos entrelaçados, resmungando e praguejando baixinho, fechando os olhos por um segundo enquanto puxa o ar com força a fim de acalmar os nervos agitados, soltando-o lentamente.

—Dia ruim? - ouve, abrindo apenas o olho esquerdo o suficiente para visualizar a irmã que acabara de entrar na sala de repouso, sentando-se despachadamente em uma cadeira junto a bancada aonde se localizavam os computadores, descalçando as luvas com graciosidade.

—Mais ou menos. Tá fazendo o que aqui? - interroga, fechando o olho ao mesmo tempo em que estica as pernas.

—Vim encontrar Will. Marcamos de ir às compras hoje - explica-se, fazendo o irmão arquear uma sobrancelha, sem no entanto abrir os olhos, ao questioná-la.

—Aqui? Na sala de descanso da equipe médica? - indaga, esticando os lábios em um riso cínico ao escutá-la bufar.

—Estava no carro, lá fora, mas fiquei entediada então entrei. Maggie falou que poderia aguardar aqui sem problemas - justifica a empresária - Inclusive ela me avisou de sua presença. Disse que tinha vindo atender uma ligação - comenta, estreitando os olhos ao observá-lo atentamente antes de perguntar - Quem era: mamãe, vovó Dulce ou tia Mathilda? - cita as três mulheres que mais conseguem enervar o irmão depois dela mesma.

—O combo!! - exclama o cirurgião, abrindo os olhos e bufando com força - Estou cada vez mais inclinado a contrair uma doença contagiosa bem na época dessa bendita reunião de família - esbraveja, deixando os braços caírem pesadamente sobre o colo, olhando-a desolado - Por que as mulheres de nossa família são tão teimosas, insistentes e enxeridas? - questiona, fazendo bico.

—Eu não sou nada disso!! - reclama Claire, batendo o indicador na bochecha ritmadamente - Pensando bem, até sou um pouquinho - reconhece, enrugando o nariz em uma careta graciosa, ajeitando-se melhor na cadeira - O que foi desta vez? O de sempre ou algo novo? - quer saber, entrelaçando os dedos, curiosa.

—Como se o de sempre já não fosse aporrinhação suficiente! - resmunga, deitando a cabeça com força exagerada, esfregando a nuca ao senti-la doer.

—Já deveria estar acostumado Connor e veja pelo lado bom: ninguém vai te cobrar ainda não ter filhos a esta altura do campeonato - declara, imitando a voz de sua tia-avó - Até parece que uma mulher só estará completamente realizada e feliz se procriar!! - bufa, cruzando os braços na defensiva, girando na cadeira ao escutar a voz do namorado.

—Procriar? Estão falando sobre filhos? - interroga Will, dando um beijo casto em Claire, olhando dela para o amigo estirado no sofá com cara de bravo.

—E para piorar minha situação você tinha de avisar que vai levar o pateta ruivo ai, seu namorado - Connor resfolega.

—Por acaso é minha culpa sua péssima escolha de namoradas? - Claire cutuca a ferida, enlaçando o braço de Will, não o deixando afastar-se dela - Primeiro aquela Samantha, toda metida e prepotente. Depois a Robin, insegurança em pessoa e ainda por cima ciumenta de doer. E para fechar com chave de ouro, sua coleguinha de especialização, a querida e doce doutora Bekker! - enumera, encolhendo-se e fazendo careta como se estivesse com asco de algo.

—Amor, eu sei que é rica, mas não convém desperdiçar açúcar com quem não merece - Will ralha, sorrindo maroto - Além do mais, a doutora Bekker pode ser acusada de várias coisas, mas certamente não de ser doce! - completa, rindo e desviando da almofada atirada por Connor, esta encontrando a cabeça de Ethan Choi, que adentrava imediatamente a frente de April.

—Hei, seja lá qual foi a acusação, sou inocente - brinca o médico, bem humorado, atirando-a de volta a Connor - Ah, olá Claire. Como vai? - quer saber, seguindo até seu armário.

—Bem, obrigada - agradece a empresária, inclinando levemente a cabeça a fim de visualizar April - Oi April, boa noite.

—Oi. Boa noite Claire - retribui a enfermeira, segurando a porta - Doutor Rhodes, doutor Halstead - cumprimenta os amigos com um aceno.

—Vai dobrar o turno April? - Will pergunta ao perceber que permanecia a porta enquanto Ethan se arrumava para sair.

—Uhum. Uma das enfermeiras da noite ligou de ultima hora avisando que não poderia vir e Mags não conseguiu ninguém assim, em cima da hora - explica, enrugando o cenho ao ver Connor recusar uma ligação com impaciência, quase enfiando o celular no vão entre o braço e o assento do sofá - Nossa, o que o pobre aparelho fez para merecer este tratamento? - questiona, provocando risos.

—Ele nada, mas quem está ligando, tudo!! - Claire exclama, três pares de olhos inquisidores a encarando, confusos - Como você já sabe meu amor - apoia a mão no antebraço de Will -, daqui a uma semana estaremos voando para Nova York para participar da reunião de minha família, algo que não ocorria havia dois anos e meio, aproximadamente, por diversos fatores - conta ela, Ethan e April emitindo “Ahs” de entendimento - Por conta disto, todos os Rhodes, e vejam bem, eu disse Todos os Rhodes - frisa, girando o indicador -, quer residam nos Estados Unidos ou fora dele, quer usem o sobrenome da família ou não, se farão presentes por duas semanas inteiras a fim não apenas de comemorar as festas de final de ano, mas também os cem anos de vovó Dulce e de nosso tio-avô Christopher….

—Que coisa mais linda!! Cem anos de vida merece uma senhora comemoração - April comenta, encantada.

—Não é? - Claire anui, unindo as mãos - E não somente eles estarão completando um século de vida. Nossa tia-avó Mathilda completará, dia dois de Janeiro, noventa e oito anos, então já imaginam o tamanho da comemoração que será - diz, animada.

—Com toda certeza. E merecida - Ethan diz, olhando diretamente para Connor - Então por que ele está nesse mau humor visível a quilômetros de distância?? Pensei que as coisas com o pai de vocês haviam melhorado - supõe o médico, arqueando a sobrancelha.

—E melhorou - Claire adianta-se em dizer, segurando o riso - O problema não é com nosso pai e sim com as já citadas vó Dulce e tia-avó Mathilda, cujo esporte predileto é arrumar casamento para os netos, bisnetos, sobrinhos e outros parentes que por ventura compareçam a reunião desacompanhados - explica, fazendo uma curta e dramática pausa - O que, por infelicidade, ao que tudo indica, irá acontecer este ano única e exclusivamente com apenas um de seus netos e sobrinhos netos! - entrega, espremendo ainda mais os lábios para segurar o riso ao encarar o irmão.

—Connor???? - Will e Ethan interrogam juntos, abrindo a boca espantados quando ela confirma com um aceno de cabeça. 

—Ele é o Único solteiro na família inteira?  Sério? - Will questiona, explodindo em uma sonora gargalhada.

—Eu não o sou o único solteiro na família - contesta o cirurgião, irritado - Ao menos espero que não - acrescenta baixinho.

—Também não acredito que seja, mas certamente o posto de queridinho ainda é seu, logo ambas estão ansiosas para vê-lo casado com uma boa e decente garota, rodeado de filhos e muito, muito, muito feliz! - tripudia Claire, provocando nova gargalhada no ruivo a seu lado e uma expressão feroz no irmão.

—Will, devo lembrá-lo de que precisa necessariamente estar Vivo para casar com alguém, supondo que pretenda, algum dia, levar minha doce irmãzinha ao altar - rosna, cerrando os punhos.

—Desculpa cara, mas agora eu entendo porque tem andado tão irritado e irritante estes dias - justifica-se o médico, enxugando os olhos com o dorso da mão.

—Pois é. Ele está tão estressado que até pensar em mentir dizendo estar doente já pensou - Claire revela, piscando de maneira inocente ao ser fuzilada pelo olhar do irmão - O quê? Era segredo? - pergunta.

—Sério que pensou em mentir para fugir de sua avó e tia-avó? - questiona Will, surpreso.

—Se, melhor dizendo, quando conhecer Dulce e Mathilda você vai entender. Duvido que te dêem sossego até que declare quais são suas reais intenções com Claire. Se brincar, saem de lá noivos, de aliança e tudo, e olhe lá se não conseguirem arrastá-los ao altar da igreja mais próxima - alerta, o riso do ruivo morrendo tão rápido quanto surgira.

—Ele tá brincando, não tá? - interroga, encarando a Claire.

—Evidente que sim - garante a empresária, desafiando Connor contradizê-la.

—Espera, era sobre isso que estavam falando quando entrei? - questiona o ruivo, olhando de um para o outro alternadamente.

—Uhum. Elas, e a mamãe, ligaram para saber se deveriam preparar um quarto para solteiro ou casal, com ou sem berço e coisas do tipo - diz, dando de ombros ao receber o olhar inquisidor do cirurgião - Me ligaram mais cedo perguntando a mesma coisa e querendo saber se Will tinha alguma preferência ou alergia alimentar -conta, tranquila - Por falar nisso, o que disse a elas? - lembra de perguntar.

—Que ainda não sabia se poderia ir - Connor revela, deixando o corpo cair no assento do sofá, desanimado - Tenho que encontrar um jeito de me livrar dessa bendita reunião de qualquer jeito! - resmunga em alto e bom som, não se importando com o que pensariam os amigos.

—Quem diria que um dia veria o todo confiante Connor Rhodes tremer na base por conta de duas adoráveis senhorinhas!!! - provoca Will, desviando da almofada mais uma vez.

—Elas não são tão adoráveis assim - Claire admite, franzindo o nariz - Não pode simplesmente inventar algo e não comparecer, Connor. É ridículo - declara.

—Olha só quem fala! A garota corajosa que fingiu torcer o tornozelo para deixar a todos preocupados e te mimando o verão inteiro - relembra.

—Isto foi a milênios atrás e a ocasião era bem diferente. Vovó e tio Chris completarão um século de vida. Podem não estar vivos no próximo ano e vai se arrepender pelo resto de sua vida - argumenta ela, encarando-o - O que são alguns dias comparado a esta possibilidade? - arremata, fazendo-o suspirar longamente.

—Eu sei - diz, resignado.

—Não pode ser tão ruim assim - Ethan pondera - O que de pior pode acontecer? Te apresentarem alguma prima distante que também não casou, ou a filha de uma amiga, ou de uma vizinha querida….

—É exatamente este o problema! - Claire pontua, estalando a língua - Dulce e Mathilda moram na mesma vizinhança a anos. Connor e eu conhecemos todos os parentes, vizinhos, primos dos vizinhos, parentes dos primos dos vizinhos, que elas conhecem, homens e mulheres, e acreditem, os melhores, de ambos os lados, não estão disponíveis! - assegura.

—Por que não convida uma ex namorada para lhe acompanhar Connor? - April sugere de repente - Ao menos assim poderá escolher alguém com quem se identifique - pondera.

—Seria uma boa idéia não fosse por um detalhe: se terminei com elas deve haver um bom motivo para tal, tipo serem grudentas demais ou irritantes demais ou algo demais que me fez querer o máximo de distanciamento possível! - retruca o cirurgião.

—Sem mencionar que o ideal é meu irmão surgir com no mínimo uma noiva ou nada feito! - Claire avisa.

—E se Connor ligar para alguma ex propondo que o acompanhe fingindo estar tendo um relacionamento sério com ele, vai estar procurando sarna para se coçar - Ethan acresce, claramente contendo o riso.

—Pode alugar uma - Will solta de repente, fazendo todos os olharem como se tivesse nascido uma outra cabeça em seus ombros - Ele pode ir a uma agência de modelos ou escola de teatro e dizer que está querendo contratar alguém para se passar sua noiva ou esposa por uns dias, assim além de evitar dar a impressão errada a alguma ex, não terá de se preocupar com uma paixonite ou coisa do gênero. Basta que assinem um contrato deixando claro o que ele pretende dela e pronto. Caso resolvido - argumente o ruivo, o grupo ficando em silêncio por alguns instantes.

—Não é de todo uma má idéia - Claire começa dizer - Só precisa ter cuidado para não contratar ninguém de alguma agência que tenha feito trabalho para a Dolan ou para a galeria porque mamãe é ótima fisionomista. Ela pode até não lembrar o nome de imediato, mas tem excelente memória para rostos - alerta, encarando o irmão.

—E tem de ter cuidado para a contratada não ter filhos porque pode ficar estranho - April aconselha - Se bem que mães solteiras sempre precisam de renda extra e com certeza são bem menos suscetíveis a devaneios e não tendem a romantizar a situação - pondera a enfermeira.

—Verdade - concorda Claire, animando-se - Mas tem de ser uma criança pequena, de colo. De preferência que ainda não esteja falando ou que fale poucas palavras para não ter o perigo de te entregar - racionaliza.

—Isso. Um gugu-dada é mais do que suficiente - Will não resiste provocar o amigo mais uma vez.

—Não estão falando sério! - exclama o cirurgião, não lhes dando chance responder - Não podem estar - repete, sacudindo a cabeça negativamente - Isso é ridículo. Não vou me prestar a este papel de jeito nenhum! - assegura com firmeza.

—Neste caso, não vejo outra escolha além de você aceitar de bom grado as sugestões de vovó e tia Mathilda. Quem sabe não dá sorte e conhece o amor de sua vida entre as candidatas que elas já devem estar selecionando posto não ter definido claramente se irá acompanhado ou não - sugere a empresária, apoiando a cabeça a mão.

—Eu, no seu lugar, repensaria Connor. Especialmente se for tão terrível quanto estão dizendo - sugere Will, assumindo uma postura mais séria - Brincadeiras a parte, não realizamos muitas reuniões, mas lembro bem quando isto ocorria o quanto era irritante ter alguém perguntando o tempo inteiro quando pretendia me casar e olha que a última vez em que estive em uma reunião da família Halstead, ainda era adolescente - revela o ruivo -Uma noiva ou esposa de aluguel pode parecer frio e até desproposital a princípio. Mas se olhar pelo lado da praticidade e conveniência…- abre os braços, levantando-se.

—E ainda pode ajudar uma mãe solteira que, como eu falei, está sempre precisando de uma renda a mais para fechar as contas - reforça April, acompanhando o cirurgião com o olhar quando ele se levanta - Não estará pagando por sexo, Connor. Apenas para evitar maiores aborrecimentos a você e seus familiares - argumenta.

—Não tome nenhuma decisão agora meu irmão. Ainda tem alguns dias. Pense com carinho - Claire sugere, também se levantando, ajustando a bolsa ao ombro, segurando a mão que Will lhe estendia - Em minha opinião, se for para levar paz e tranquilidade, aceito até ser chamada de titia por uma criança que não verei novamente - recita.

—Humpf!! - limita-se resmungar Connor, pegando sua mochila e casaco - Vocês vão sair agora ou não? - questiona, irritado.

—Nossa, dá pra entender porque está sozinho. Com um humor destes nem a chata da Bekker te suportaria por muito tempo - Will declara, puxando Claire para fora - Vamos indo antes que nos contagie!! - alfineta, escapando ileso do pontapé desferido pelo cirurgião.

—Relaxe Connor. Estou certo de que vai encontrar a melhor solução - Ethan garante, calmo, dando um selinho em April ao passar por ela - Até amanhã amor. Espero que a noite seja tranquila - deseja, a enfermeira cruzando os dedos, sorridente.

—Até segunda Connor e respire. Apenas….respire - aconselha, afagando o ombro do amigo quando este passa por ela.

—Vou tentar -murmura o cirurgião, seguindo alguns passos atrás de Ethan, Will e Claire, acenando a Maggie ao passar pela ilha principal da emergência.

Ainda evitando uma aproximação maior, aguarda a irmã e os dois amigos partirem para somente então caminhar até o próprio carro, destravando-o ao se aproximar, atirando a mochila no banco do carona antes de assumir o do motorista, sua irritação aumentando quando tenta dar a partida no veículo sem sucesso.

—Mas que merda é essa agora? - pragueja, tentando novamente - Vamos lá belezinha, não me deixe não mão justo hoje! - implora baixinho, fazendo mais algumas tentativas (em vão) de ligar o automóvel - Desisto! - exclama, erguendo as mãos, exasperado, recolhendo a mochila, travando o veículo após sair dele.

Impaciente, decide não ligar para o reboque, avisando ao segurança do hospital que deixaria o carro em sua vaga, vindo busca-lo com o guincho na manhã do dia seguinte.

—Tem certeza doutor Rhodes? - interroga o segurança, apressando-se em dizer - Não que haja problema, de forma alguma. Mas o metrô tem andado bem cheio estes dias - avisa.

—Tenho sim Albert. Não estou com paciência para aguardar o reboque e menos ainda para aturar papo furado de mecânico - justifica-se - Além do mais, estou precisando pensar um pouco e caminhar me fará bem - salienta, ajustando a mochila ao ombro - Boa noite - deseja, caminhando a passos largos em direção a estação de metrô algumas quadras abaixo. 

Enquanto caminha, reflete acerca da conversa tida com a irmã e amigos minutos antes, ponderando se realmente não seria ideal contratar os serviços de uma atriz ou modelo para fingir ser sua noiva ou esposa, refutando a idéia ŕsem, no entanto, abandoná-la de vez, pondo seus fones de ouvido a fim relaxar escutando música, observa a movimentação a sua volta ao acessar a plataforma de embarque .

Após alguns minutos, seu olhar é atraído a um ponto alguns metros de onde se encontra, a cena da jovem brincando com a garotinha, o riso espontâneo e contagiante de ambas prendendo sua atenção. Espanta-se ao perceber que sorria enquanto continuava a observar a menininha, aprendendo os primeiros passos, soltar gritinhos de alegria a cada mínimo avanço sob os cuidados da jovem mãe (concluiu se tratar da mãe e não babá devido a grande semelhança entre ambas), girando e agarrando-se às pernas da garota sempre que sentia-se caindo, flexionando as perninhas grossas com vigor renovado a cada incentivo feito pela mãe...Ela não deve ter mais do que uns vinte e três, vinte e quatro anos...calcula Connor mentalmente, admirando a beleza simples da mulher a sua frente, o riso fácil, a forma maravilhada como olhava a garotinha entre suas pernas e de repente a idéia de uma família lhe pareceu imensamente agradável. Um suspiro triste escapa por seus lábios antes que pudesse impedir. 

Por alguma razão que lhe é desconhecida, Connor flagra a si mesmo mesmo olhando atentamente as mãos da mulher em busca de uma aliança de noivado ou casamento, franzindo o cenho quando não encontra, uma onda de revolta e raiva o tomando sem que soubesse entender o porque. 

Como se pressentisse estar sendo observada (ou talvez por ele ter-se aproximado sem que tivesse notado), a jovem ergue a cabeça, seus olhos se cruzando por alguns segundos antes de a menina chamar atenção da mãe para si, soltando gritinhos de entusiasmo enquanto estica os bracinhos em direção a um gato que passava, o riso estampando-se no rosto do cirurgião mais abertamente, fazendo-o dar mais alguns passos em direção a dupla a ponto de chamar atenção da jovem mãe mais uma vez, ela o encarando de cenho enrugado.

—Perdão, não quis ser inconveniente - Connor pede, retirando os fones, parando perto delas - Mas é que sua garotinha, o riso e as brincadeiras dela, quero dizer, chamaram minha atenção - justifica-se, acenando para a menina, que esconde o rosto na cintura da mãe - Espero não tê-la ofendido de alguma maneira - reitera, temendo que o considerasse uma ameaça.

—Não ofendeu - a jovem tranquiliza-o, sorrindo, a voz doce e melódica provocando uma sensação estranha no estômago de Connor.

—Ela é sempre tão agitada? - pergunta a guisa de quebrar o silêncio, tentando avaliar porque havia se aproximado, sorrindo ao sentir a menina segurar a ponta de seus dedos.

—Hoje está tranquila porque está cansada. Geralmente é bem mais elétrica! Ainda mais agora que consegue se levantar sozinha e ensaia caminhar se apoiando nos móveis ou em qualquer coisa que esteja à mão - conta, impedindo a menina escapar a seu controle quando esta agarra a perna da calça do cirurgião - Ou, no caso, pessoas - brinca, o riso dele tendo nela o efeito de milhares de borboletas batendo asas ao mesmo tempo em seu estômago - É uma canseira fazê-la dormir quando está assim - revela, trazendo-a para seu colo tão logo escuta o aviso de que a composição se aproximava.

—Imagino que seja - ele limita-se a dizer, tão baixo que quase não escuta a si próprio, uma idéia absurda ganhando corpo em sua mente…..Não seja ridículo! Só porque não vê uma aliança significa que ela esteja criando a filha sem ajuda ou mesmo que não esteja em um relacionamento com alguém, inclusive o pai da bebê ...admoesta, sacudindo a cabeça ao notar a dificuldade da jovem em arrumar-se para entrar no vagão posto a composição haver chegado e começar a parar - Permita que a ajude - se oferece, solicito, segurando a mochila, bolsa e valise antes que a jovem contestasse, permitindo-a segurar a bebê nos braços, embarcando tranquilamente no vagão.

—Obrigada - agradece tão logo sentam-se, Connor posicionando a mochila e bolsa do bebê aos pés dela enquanto acomoda a valise no banco vago - Obrigada - repete, sorrindo gentil, fazendo-o reter o ar enquanto senta-se na cadeira de frente para ela - A propósito, meu nome é Sarah - apresenta-se, erguendo a filha em seu colo - E esse foguetinho aqui é a Sofia!!

—Muito prazer em conhecê-la Sofia!! - ele exclama, esticando-se para segurar a mãozinha da menina - Em conhecer ambas - acresce, dirigindo um olhar intenso a Sarah, que cora visivelmente - Sou Connor - apresenta-se, sentando-se ereto na cadeira sem desgrudar os olhos das duas.

—Prazer e mais uma vez obrigada pela ajuda - reitera Sarah, inclinando-se para pegar uma mamadeira na baby bag, conseguindo fazer a pequena Sofia sentar-se apoiada a seu tronco, segurando o objeto junto com a mãe, os olhinhos castanhos e vivos, atentos a tudo em volta enquanto saboreia seu mingau, fechando-se devagar na medida em que o cansaço por fim a vence, ressonando, tranquila, quando Sarah retira a mamadeira de seus lábios.

Tomando cuidado para não acordar a filha, Sarah se inclina, abrindo o zíper da bag novamente, colocando a mamadeira vazia e retirando um pequeno cobertor o qual envolve a menina delicadamente. Em seguida, puxa uma bolsa menor, que desenrola revelando ser um transporte para bebês do tipo canguru. Com imensa agilidade e calma, acomoda a bebezinha nele, atando-o a seus ombros e cintura com firmeza, erguendo o olhar para o luminoso, calculando mentalmente quanto tempo ainda dispunha para se organizar antes de chegar a estação na qual desembarcaria, reorganizando as bolsas de forma a reduzir a quantidade para que pudesse carregá-las e a filha sem maiores atropelos. Tudo isto sob o olhar atento e admirado de Connor, que acaba por perder sua parada tão absorto que estava nos movimentos da jovem mãe a sua frente, sobressaltando-se ao vê-la erguer-se repentinamente.

—Desço na próxima estação - ela avisa ao notar o olhar inquisidor dele, puxando a extensão da do carrinho atrelado a valise sobre a qual prendera sua mochila e a baby bag, indo se posicionar de frente para a saída, de costas para Connor - Até qualquer dia - despede-se olhando-o por sobre o ombro um segundo antes de deixar o vagão, o cirurgião demorando-se a entender o que acontecia, pondo-se de pé em um salto, saindo no limite, quando as portas começavam fechar.

—Sarah! - chama, fazendo-a parar e voltar-se, surpresa - É minha parada também - mente, sorrindo amarelo - Estava tão distraído que quase a perdi - acrescenta, caminhando lado a lado com ela.

—Percebi - ela comenta, rindo divertida, posicionando o valise de forma a não enroscar nos degraus das escada rolante - Tem certeza de ser essa a sua parada? Não me recordo de tê-lo visto por estas bandas antes e hoje - diz, completando rapidamente - É um bairro relativamente pequeno e todos acabam se conhecendo em um momento ou outro - explica, saindo da escada com graça e facilidade, encaminhando-se para a saída da estação.

—Sendo honesto com você, não estou bem certo - confessa ele, coçando a nuca - Mudei a pouco tempo e esta é, na verdade, a primeira vez que ando de metrô - mente, em parte - Que volto do trabalho para casa, quero dizer - corrige-se - Meu carro quebrou no estacionamento do hospital e não estava com paciência para aguardar o reboque - admite, rindo junto com ela, ajudando-a, automaticamente, descer as escadas que levavam para a rua -Posso ter passado direto, mas dá para ir caminhando - supõe, franzindo o cenho ao olhar em volta - Acho.

—Seria melhor pegar o metrô de volta ou então um táxi - Sarah sugere - Apesar de ainda ser cedo, não é recomendável sair por aí, caminhando, sem saber se está no rumo certo - aconselha.

—É...eu sei - murmura ele, sentindo-se um completo idiota - Aonde você mora? É longe daqui? Posso te acompanhar, caso não se importe, e tentar me localizar usando algum prédio como referência - argumenta, xingando-se mentalmente pela desculpa esfarrapada, sem entender porque não desejava se despedir dela ainda.

—Moro naquele prédio ali -indica um edifício à esquerda, cerca de trezentos  metros a frente deles - Não sei se vai te ajudar, mas se quiser me acompanhar, fique a vontade - libera, iniciando caminhar em direção sua casa.

—Vale a pena tentar - Connor diz, dando de ombros - Apesar de ter mudado a pouco, como te falei, nasci e me criei em Chicago até meus dezessete anos, quando fui estudar fora. Até então costumava sair quase todas as noites com meus amigos - revela, uma sombra passando por seu rosto ao recordar tais fatos - Acredito que a cidade não tenha mudado tanto nos últimos quinze anos a ponto de me perder - faz graça, gostando da sensação de tê-la feito sorrir.

—Bem, não saberia te dizer já que mudei para Chicago a cerca de três anos  - revela.

—Sério? - comenta, perguntando-se intimamente se ela teria vindo atrás do pai da filha ou se havia engravidado após chegar a cidade, recriminando-se pela curiosidade inadequada - Onde morava antes? - a pergunta sai antes que pudesse se conter e morde a língua como forma de se auto castigar.

—Connecticut - Sarah responde - Quer dizer, Vegas na verdade - corrige-se, não entrando em maiores detalhes, ele respeitando seu silêncio apesar de estar ardendo de curiosidade - Chegamos - anuncia, parando no sopé da escadaria que leva a entrada do prédio - Obrigada pela ajuda e pela companhia - agradece novamente - Espero que algo aqui perto te ajude se localizar, mas honestamente, aconselho que busque um táxi, Uber ou metrô. É bem mais seguro e me deixaria mais tranquila - a pequena confissão fazendo-o vibrar sem entender bem porque.

—Talvez deva seguir seu conselho, muito embora reconheça aquele prédio ali - indica o edifício alguns metros  à direita de onde estão, encarando-a pelo que pareceu a Sarah uma eternidade - Boa noite e desculpe qualquer coisa - pede, estendendo-lhe a mão.

—Boa noite e não há nada do que se desculpar. Foi bom ter um adulto para conversar mesmo sendo por pouco tempo - brinca ela, retribuindo o gesto, sentindo um formigamento ao separar sua mão da dele - Até qualquer dia - repete, se voltando ligeiro, subindo a escadaria ao mesmo tempo em que saca a chave de seu bolso, encaixando-a na porta, somente então se voltando para a rua novamente, surpreendendo-se ao vê-lo ainda parado, observando-a.

Acena um último adeus antes de adentrar o prédio, deixando Connor sozinho em meio a calçada, acenando de forma automática, sua mente repetindo a conversa que tivera mais cedo com a irmã e amigos mais uma vez, mesclando-se a idéia que lhe ocorrera no vagão enquanto observava Sarah e a pequena Sofia interagirem

—Eu só posso estar ficando maluco! - sussurra, olhando a porta fechada - Pare!! - bate nas laterais da cabeça, sacudindo-a, girando no próprio eixo, obrigando-se caminhar de volta para a estação, estancando após ter dado alguns passos, voltando-se para o edifício - Por outro lado, por que não arriscar? Ela me pareceu ser uma garota razoável, sensata, centrada….e é justamente por esses motivos que não pode bater na porta dela pedindo que finja ser sua noiva. Ou esposa. Na melhor das hipóteses vai rir e bater a porta na sua cara. Na pior vai chamar a polícia para te prender achando que é algum tipo de maluco, no que estaria coberta de razão - reconhece, amargo, erguendo o olhar para as janelas, tentando adivinhar qual seria a dela - Mas que diabos! Já estou aqui mesmo. Que me custa tentar? - questiona-se, levando as mãos a cintura - Uma noite na cadeia, é isto que pode me custar - responde a si mesmo, gemendo alto sem mover um músculo sequer - Mas que merda! - passa as mãos pelo cabelo, irritado e indeciso, ponderando o porquê de estar cogitando propor a uma completa desconhecida se passar por sua mulher. Ainda mais uma com uma filhinha. E porque estava tão certo de ser Sarah a escolha perfeita (não certa, Perfeita!) e principalmente o que o levara a pensar que ela aceitaria - Decida-se de uma vez por todas ou vá embora - intima-se, cruzando os braços, soprando forte, caminhando a passos firmes em direção a entrada do prédio, parando de frente com a placa aonde situavam-se as campainhas dos apartamentos identificando cada morador, gemendo outra vez ao ver que haviam quatro inquilinos cujos nomes começavam com a letra S - Droga, por que não perguntei o sobrenome dela? - recrimina-se, passando a mão pelo cabelo uma vez mais, olhando as plaquinhas, indeciso - Vamos lá Connor, coragem. Quem sai na chuva é porque quer se molhar. Agora que se decidiu, faça logo de uma de uma vez por todas! - exclama, escolhendo o primeiro nome constante da lista, apertando o botão, uma voz grosseira atendendo ao segundo toque.

—O que é?? - o homem praticamente berrou, fazendo-o recuar um passo instintivamente.

—Hã...eu poderia falar com a Sarah? - pergunta, indagando a si mesmose alguealguém tão meigo quanto ela se envolveria com um sujeito grosso como aquele, caso seja o apartamento certo.

—Aqui não tem nenhuma Sarah -rosna o sujeito, desligando logo em seguida.

—Muito obrigado. O senhor é muito educado - ironiza o cirurgião, apertando o botão referente ao segundo nome da lista, aguardando alguns segundos, repetindo o gesto, aguardando mais um pouco e repetindo uma terceira  e quarta vez antes de desistir - A terceira é a boa!- sopra, rindo de si mesmo posto haver apenas mais uma campainha além daquela, logo teria de ser uma ou outra, tocando novamente quando não atendem de primeira, aguardando, ansioso, toda sua determinação e autoconfiança caindo por terra ao escutar a voz suave no interfone.

—Pois não!? - Sarah atende, repetindo quando não obtém resposta -Pois não? Quer falar com quem? -acresce, levemente impaciente.

—Hã...Com você Sarah - ele finalmente responde, prosseguindo ligeiro - Sou eu, Connor, o cara que  te acompanhou até em casa e antes ajudou na estação - lembra, não dando espaço a ela dizer nada -Eu sei que vai parecer estranho e meio maluco, mas a verdade é que, por alguma razão que me é, honestamente falando, completamente desconhecida, acredito que você possa me ajudar em uma questão delicada e um pouco, como direi? Indigesta? Irritante? Não importa de fato que tipo seja, apenas que acho você perfeita para me ajudar e gostaria de conversarmos a respeito disso. Trata-se de uma proposta de trabalho pelo qual irei pagar bem e antes que interprete mal minhas palavras e atire alguma coisa em minha cabeça ou chame a polícia, lhe asseguro que nada tem a ver com sexo! - discursa, soltando o ar que mal notara ter prendido, apoiando-se a parede ao término, sentindo-se ligeiramente tonto e ridiculamente idiota.

—Desculpa, mas não estou entendendo. Quer me fazer uma proposta de trabalho agora? Acabamos de nos conhecer! Como pode pensar que sou perfeita para o cargo que precisa preencher? Não sabe nada a meus respeito ...Nem eu a seu ! -pontua a jovem, trazendo um sorriso ao rosto do cirurgião ao reconhecer ter acertado na sensatez dela —Além do mais, já tenho um...bem, dois empregos na verdade -revela -E estudo -acrescenta -Aliás, não posso conversar mesmo que quisesse. Tenho aula em meia hora e preciso me arrumar e comer portanto….

Posso te acompanhar e conversamos no caminho -Connor apressa-se em sugerir, cortando-a - E quanto a seu...seus empregos, não teria necessariamente que deixá-los para trabalhar comigo. Precisaria apenas de uma licença de quinze ou dezesseis dias, dependendo de quanto tempo precisaria para organizar suas coisa e de sua filha - avisa.

—Minha filha? Como assim? Poderia levar Sofia comigo? -interroga ela, a desconfiança em seu tom de voz não passando despercebido a Connor.

—Poderia sim porque...hã...você teria de se ausentar da cidade e não te pediria que a deixasse. E também a presença dela não será empecilho algum - afirma, escondendo o rosto com as mãos, admirando-se da paciência dela, admitindo que se estivesse no lugar de Sarah já teria mandado ele plantar batatinhas!

—Olha só, isso tá ficando muito estranho. Que tipo de trabalho pode propor a uma completa estranha que necessite se ausentar da cidade por um período mínimo, se não entendi errado, de quinze dias e que ainda por cima permita a ela levar a filhinha pequena? -interroga, deixando claro estar desconfiada.

Hora da verdade Connor!!— Então….Sarah…. quero, na verdade preciso urgentemente, desesperadamente, te contratar pra que se passe por minha esposa durante todo o período de festas de final de ano, um ou dois dias a mais que isso- despeja, um inquietante e (para ele ao menos) longo silêncio surgindo entre eles, Sarah quebrando-o com um suspiro impaciente.

—Escute Connor, ou seja lá qual for seu nome… - começa, puxando o ar ruidosamente - Tive um dia longo, estou cansada e conforme falei, tenho aula dentro de alguns minutos. Tenho que me arrumar e dar as ordens a babá de minha filha. Não tenho tempo para brincadeiras de mal gosto. Tenha uma boa noite! -desliga com um baque surdo, deixando-o estático…

Continua…

“...Say you don’t need no diamond rings;

And I’ll be satisfied;

Tell me what you want the king of things;

That money just can’t buy;

I don’t care too much for money;

Money can’t buy me love…”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Me digam o que acharam. Nos vemos semana que vem. Bjinhos flores



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Esposa de Aluguel" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.