Ela acordou horas depois, o sol estava alto e sua barriga roncava. Madame Pomfrey lhe trouxe comida, bife e pudim, ela comeu tudo antes que a enfermeira voltasse, Lily apenas sorriu se sentindo meio envergonhada por sua fome extrema. Ela vestiu as vestes limpas que a enfermeira lhe entregou antes de sair em busca de Dumbledore. 

Lily não sabia ao certo que horas eram, mas pelo silêncio dos corredores poderia dizer que estava na hora do almoço. Ela caminhou até a diretoria repassando mentalmente tudo o que estava acontecendo e torcendo para que aquilo fosse apenas uma alucinação de sua cabeça. Lily desejou tão profundamente encontrar a diretora McGonagall sentada em sua sala que quase tomou um susto ao dar de cara com a mulher.

—Diretora! - Lily exclamou dando um passo para trás e colocando a mão sobre o peito. - A senhora quase me matou de susto.

A velha professora a encarou com seus olhos felinos, de cima para baixo como se tentasse descobrir que tipo de espécime ela era.

—Você deve ser a garota que Dumbledore falou. - McGonagall disse sem desviar o olhar do dela. - A que foi achada na Floresta.

—Sim. Eu mesma. E estava agora mesmo indo ver Dumbledore sobre esse assunto. - Lily apontou para o corredor que levava até a sala do diretor. - Se me der licença.

—Dumbledore pediu para eu levá-la até lá. Já estava indo a enfermaria para encontrá-la. 

Lily assentiu e deixou que McGonagall a levasse até Dumbledore. Elas entram pela escada em caracol até o escritório, Lily observou os quadros nas paredes, os antigos diretores, todos elegantes e sérios. Dumbledore estava sentado em sua mesa olhando atentamente para um anel em sua mão. 

—Vejo que já está melhor, senhorita Potter. - Dumbledore disse com sua calma e tranquilidade de sempre. 

—Sim. Já estou bem melhor. - ela afirmou enquanto se sentava na cadeira à frente dele. 

—Potter? - McGonagall indagou, confusa. Lily olhou para o antigo diretor questionando silenciosamente se poderia ou não dizer algo, Dumbledore assentiu e gesticulou com a mão para que ela falasse. Lily se virou sorrindo para sua futura diretora e disse.

—Lily Luna Potter. 

—Potter?

—Sim, acho que você conhece meu pai, Harry Potter. - Lily inclinou a cabeça e piscou os olhos. McGonagall suspirou.

—Dumbledore, diga que isso é uma brincadeira. 

—Sinto muito, Minerva. - Dumbledore disse com seu tom calmo. 

—Uma Potter. Uma Potter vinda do futuro. - a mulher se lamentou balançando a cabeça em desaprovação. - Não deveria estar surpresa, mas estou. Uma viagem no tempo, algo digno de um Potter.

—Weasley. - ela completou. - Weasley-Potter. Sei que papai tem uma sorte questionável, mas devo dizer que talvez minha tendência em atrair confusões também se deve a minha parte Weasley.

McGonagall a encarou como se ela fosse um ser exótico. Um animal de duas cabeças ou coisa pior. 

—Uma Weasley-Potter? Oh céus, acho que deverei entrar com minha aposentadoria mais cedo.

Lily riu sabendo que era melhor não contar a ela sobre os Weasleys que entrariam em Hogwarts em alguns anos. 

—Minerva, Lily ficará conosco por algum tempo enquanto busco respostas para levá-la ao seu tempo. Você será responsável por ela, não confio em mais ninguém para isso. 

Minerva suspirou, mas olhou com determinação para a garota. Lily conhecia aquele olhar, era o mesmo que a mulher dava quando se preparava para entrar em um longo discurso sobre como os estudantes estavam proibidos de sair do castelo depois do toque de recolher. 

—Deixe comigo, Albus. Cuidarei da senhorita Potter com a minha vida.

—Não esperava menos de você, Minerva. Mas primeiramente acho que devemos mudar um pouco a jovem Lily, começando pelo seu sobrenome.

—Styles. - ela disse sem hesitar. Aquele era o sobrenome do segundo Harry que ela mais amava. - Lily Styles.

—Pois bem, senhorita Styles, bem-vinda a Hogwarts. - Dumbledore disse sorrindo. 

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—A qual casa você pertence, Styles? - McGonagall indagou enquanto caminhavam até a torre da Grifinória. 

—A Grifinória, como mamãe e papai. - ela disse e pode ver os lábios da sua futura diretora de erguer minimamente. 

—Todos os Weasley são da Grifinória?

—Não todos. A maior parte, pelo menos. Mas somos muitos, então não faz muita diferença. - Lily deu de ombros e olhou ao redor observando o silêncio sepulcral que assolava o local. Raios de sol iluminavam os corredores do castelo vazio deixando um clima de paz que Lily desconhecia, geralmente, até mesmo depois do anoitecer, os corredores estavam cheios de alunos. - Onde estão todos?

—Provavelmente à caminho do salão principal para o almoço. - McGonagall falou e então suspirou. - Terei um dia agitado agora que a senhorita está aqui.

—Sinto muito. Não gosto de causar confusão. - ela murmurou seguindo McGonagall.

—O senhor Potter também afirma isso, embora quase sempre ele esteja envolvido em alguma confusão. 

Lily reprimiu a risada, seu pai sempre dizia que odiava quando era repreendido por McGonagall, algumas vezes ela podia ser pior do que sua avó. 

—Onde eu ficarei? 

—Há dormitórios vazios na torre, você poderá ficar lá enquanto Albus resolve a sua situação. Entretanto, como hoje é o último jogo da Grifinória, não fará mal a senhorita participar.

McGonagall tinha aquele olhar que Lily conhecia bem, era a típica expressão de orgulho que ela tinha quando se tratava do quadribol. Lily pensou em dizer algo, mas parou quando seus olhos encontraram a pessoa vindo em sua direção. Longos cabelos vermelhos vibrantes e olhos castanhos, aqueles olhos que sempre a encaravam com amor apenas lhe lançaram um breve olhar de reconhecimento, para que ela não parecesse soberba,  antes de se voltarem para McGonagall.

—Está tudo bem, srta. Weasley?

—Sim, professora. Eu apenas gostaria de saber se você conseguiu falar com o professor Snape sobre Harry. - Gina disse. 

—Severus está irredutível sobre o castigo. E eu concordo com ele. Potter deve aprender com seus erros.

—Professora, eu sei que Harry é um idiota. Mas ele é um idiota com grande potencial. Por favor…

—Não há como mudar. Potter estará de castigo pelo resto do mês e vocês devem jogar sem ele. 

Lily observou a versão mais nova de sua mãe cruzar os braços e colocar aquela expressão de impaciência em seu rosto. Agora fazia sentido quando seus tios diziam que elas se pareciam em muitas coisas. 

—E se não ganharmos? 

—Nós vamos ganhar, srta. Weasley. Garanto isso. - McGonagall lançou um sorriso calmo para Gina e então disse. - Volte para o time e acalme seus companheiros, e tente, pelo amor de Merlin, não gritar com o Potter.

Lily reprimiu a risada quando ao se afastar acompanhada de McGonagall, ouviu Gina murmurar.

—Não posso garantir isso.

Elas seguiram para a torre da Grifinória em silêncio. Lily tentou lembrar exatamente que dia era aquele, o jogo final e a festa.

—Por que pap...quer dizer, por que Harry está de castigo?

—Potter fez algo inadmissível, usou magia negra contra um aluno. Irresponsável e imprudente, embora não me surpreenda que tenha agido por impulso.

Lily olhou surpresa para a diretora e se sentiu incomodada com aquela descrição de seu pai. Geralmente ele era centrado e cauteloso, nunca fazia nada sem ter um plano concreto e eram raras as vezes que ele deixava seus impulsos dominarem sua razão. Lily lembrava que na maioria das vezes que seu agia apenas por agir, eles acabavam em situações que sua mãe classificava com um grunhido irritado e sussurro de "Potter". 

—Vovó sempre falou que papai era um tanto complicado quando era mais jovem. - ela disse tomando cuidado com a escolha de palavras, sabia que a qualquer momento McGonagall poderia se fechar e decidir não compartilhar sua opinião com ela. - Mas eu não pensei que ele fosse rebelde.

—Potter não é rebelde, longe disso. Ele é um garoto encantador que segue as regras até que elas se intrometem em seus planos. Na maior parte das vezes que ele se meteu em confusão não foi totalmente sua culpa. Por algum motivo, as coisas simplesmente acontecem ao redor dele.

—James sempre usa essa desculpa. Você nunca acreditou nela. - Lily murmurou soltando uma risada, mas parou quando McGonagall a encarou com os olhos arregalados.

—James Potter? - a diretora tinha uma expressão perdida, quase como se não soubesse o que decidir. - Quantos irmãos você tem?

—Dois, três! Três irmãos. Teddy não tem o meu sangue, mas ele é meu irmão. - ela explicou rapidamente, mas McGonagall parecia afundar em seus próprios pensamentos.

—Potter's. - McGonagall murmurou balançando de leve a cabeça.

Quando elas chegam ao retrato da Mulher Gorda, McGonagall falou a senha e a deixou entrar, porém não a seguiu.

—Diretora?

—O quarto vazio é no final do corredor, ao lado do quadro de garotas nas flores, tenho certeza que não irá se perder. Mandarei algumas roupas limpas e um pouco de comida.

Lily assentiu.

—Posso ir ao jogo?

—Claro. Mas por precaução, evite conversar com os outros alunos e chamar atenção para si, está bem?

—Sim, senhora. - Lily deu um leve aceno com a cabeça e entrou no buraco em direção ao salão. Havia poucas pessoas na sala então ela não se preocupou muito, apenas subiu as escadas e seguiu pelos corredores, colocou a mão na maçaneta e abriu a porta. O quarto estava vazio, cinco camas vazias, ela entrou e seguiu direto para a primeira cama que viu, aquela perto da janela com vista para a floresta. Lily deitou na cama e fechou os olhos, decida a tirar um pequeno cochilo antes de pensar no que faria e torcendo internamente para que quando acordasse estivesse em sua própria cama cercada de suas amigas.