CAPITULO 1.

—Estava pensando, Sin, seria interessante me ensinar a atirar, não?

Sinbad se afogou com sua bebida após ouvir a pergunta de Yumi. Eles estavam jantando tranquilamente em seu apartamento compartilhado até ela levantar o assunto.

—Porque quer aprender a atirar?

—Para proteção?- Ela fez uma expressão confusa como se fosse obvio.

—Você não precisa disso, eu te protejo.

—Não posso depender de você pra sempre, quero aprender a me cuidar.

—As aulas de artes marciais e defesa pessoal não bastam?

—De que adianta eu levantar o punho para alguém que me aponta um revolver?

Sinbad parou e pensou por um momento a analisando de cima a baixo enquanto Yumi o olhava esperançosa aguardando sua resposta.

—Não- Ele respondeu em um tom decidido.

—Porqueeeeeee?? – ela perguntou puxando as letras, como sempre fazia quando queria algo dele. – Todos na força sabem, até a esposa de Dracon q é uma simples dona de casa.

—Armas não são brinquedos Yumi e você não faz parte da força. Além de que Dracon esta sempre fazendo missões fora e não tem muito tempo para cuidar da própria casa, Sahel precisa disso mas você não.

— E se algo acontecer comigo? Se souberem que podem usar a mim para chegar a você? Sabe melhor do que ninguém que nossas vidas não são muito seguras, se lembra do que aconteceu semana passada?

Sinbad congelou enquanto lembrava de quando saiu para atender um chamado na delegacia e quando voltou encontrou o lugar em um estado deplorável. O apartamento estava todo revirado mas nenhum objeto de valor foi roubado, apenas fichas importantes sobre um caso de um traficante de drogas poderoso do qual eles estavam seguindo as pistas a meses e agora provavelmente estão em mãos de pessoas problemáticas.

—Droga...- Murmurou irritado- Mesmo assim, você nem estava em casa aquele dia, por tanto não tem que se preocupar.

—Mas e se eu estivesse? Poderia nem estar aqui ago-

—Já disse que não! Esta conversa acabou.- Ele disse sem nem ao menos encara-la.

Uma carranca se formou no rosto de Yumi e ela levantou irritada, já puxando seu prato e marchando em direção a cozinha para começar a louça.

Sinbad suspirou- Preciso de um ar fresco- falou para ninguém em questão. Depois se levantou e foi em direção a varanda.

Ele odiava a ver irritada mas aquele pedido estava fora de questão, gostaria de conseguir mantê-la permanentemente na sua vida e mesmo assim longe de qualquer perigo, mesmo sabendo que é impossível. A vida de um delegado não é nada fácil e vários criminosos já colocaram sua cabeça a premio, isso obviamente tem consequências sobre as pessoas próximas a ele e principalmente sobre Yumi.

 Querendo ou não, ela é seu ponto fraco.

Tudo que ele queria no momento era que ela continuasse sua vida como sempre, trabalhando como cirurgiã geral no principal hospital da cidade, lá ela não precisa de nenhuma arma, um lugar de certa forma tranquilo e longe dos perigos que geralmente o preocupam. Ele tem plena consciência de que ela não é fraca nem nada do tipo, na verdade a mulher mais forte que ele conhece, tanto física quanto mentalmente.

Sinbad foi arrancado de seus pensamentos pelo tom frio da voz de Yumi- Vou tomar um banho e ir para cama, boa noite- Ela obviamente ainda estava chateada.

Ele murmurou um fraco “boa noite” mas acha que ela nem o ouviu, já que saiu apressada para o banheiro nem lhe dando a chance de fazer algo.

Entrou e trancou a varanda se virando em direção aos aposentos que ele e Yumi compartilham, caminhando calmamente. Já no quarto ele apenas retirou suas roupas e se jogou na cama, não se preocupou em tomar banho, já havia o feito quando chegou, nem em vestir um pijama ou algo assim já que sempre acordava sem qualquer peça de roupa mesmo.

Apenas relaxou sua cabeça contra o travesseiro e esperou o sono vir, o que não demorou muito.

Logo depois Yumi saiu do banho e entrou no quarto já vestida, observou o homem deitado por alguns segundos antes de sussurrar “estupido” e suspirar. Depois apenas deitou ao lado do mesmo e desligou a luz do abajur próximo a cabeceira do seu lado da cama, continuou de costas para Sinbad mesmo sabendo que ele não perceberia, pois estava dormindo e aos poucos foi adormecendo para um sono sem sonhos.

=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-

Na manhã seguinte Yumi foi a primeira a acordar. Uma hora entes do início de seu expediente, como sempre.

Ela se sentou bocejando e esfregando os olhos para adapta-los ao pouco de luz q entrava pelas frestas da persiana, direto em seu rosto. Levantou meio cambaleando em direção ao banheiro para começar sua rotina de higiene pessoal.

Após alguns minutos saiu do banheiro em direção a cozinha e colocou a água para ferver, depois voltou para o quarto para ver Sinbad.

O delegado tinha um sono pesado e cabia a Yumi não deixá-lo se atrasar. Ela ficou ali em pé o observando, pensado em não acorda-lo para demonstrar q ainda não havia esquecido a pequena discussão de ontem e que ainda estava chateada, mas isso seria muito infantil e deixaria ele irritado até demais.

Deixar Sinbad bravo com ela era a última coisa que Yumi queria, já que não ia desistir da ideia de convencê-lo a ensina-la a atirar.

Não é que ela já não soubesse como usar uma arma, na verdade apenas simples automáticas, seu pai a havia mostrado como funciona quando ele saia a trabalho e ela tinha que ficar sozinha em um bairro um tanto perigoso. Ela só não tinha uma boa mira e com os acontecimentos recentes, tinha medo de que isso lhe custasse a própria vida ou de alguém que estivesse próximo à ela e Sinbad.

E além disso, ela queria uma própria para deixar no compartimento da moto, em sua bolsa ou apenas na gaveta do criado mudo já que Sinbad mal a deixava chegar perto das dele. Yumi ama esse cuidado que ele tem com ela, mas as vezes sente como se ele a visse como uma criança e quer mostrar a que pode ser um pouco mais independente dele.

Sentou na cama ao lado do homem adormecido e começou a sacudir o ombro do mesmo mas como já esperava não foi suficiente, então começou a chamar em um tom de voz suave.

— Ei Sin... Sinnnn...- tudo que recebeu em troca foi um resmungo baixo e um movimento brusco do braço que estava sacudindo. Decidiu apelar um pouco.

— Ei Sinbad, ACORDE!!- dessa vez disse em um tom mais firme, quase gritando dando um tapa leve, mas nem tanto, no mesmo braço de antes e por conta disso ele reagiu imediatamente com um pulo.

Sinbad sentou-se em um flash, correndo os olhos um tanto desesperados pelo quarto até encontrar com o olhar de Yumi e suavizar.

— Poxa Yu, precisava ser tão bruta? - soltou um gemido arrastado e voltou a se deitar - Mais cinco minutinhos.

Yumi suspirou, se levantou e foi em direção a janela. Escancarou as persianas e saiu da frente para deixar a luz entrar e incomodar os olhos de Sinbad, que deu a ela um murmúrio irritado e cobriu o rosto com um travesseiro.

— Não me venha com essa, seus "cinco minutinhos" quando percebo se transformam em 10 e depois 20. Ela fez uma expressão irritada - Anda, vá lavar o rosto e-

Seu rosto suavizou quando um ruído agudo chegou aos seus ouvidos - A, esqueci do café.

Sinbad acompanhou com os olhos ela saindo do quarto e quando estava prestes a deitar de novo para tentar recuperar o sono q já estava lhe deixando, Yumi colocou apenas a cabeça para dentro do quarto e lhe lançou um olhar de repreensão.

— ' parece que ela ainda não superou...'- pensou suspirando e se levantando para caminhar até o banheiro.

~~Quebra de tempo~~

Após terminar seu banho e se vestir, Sinbad foi até a cozinha e encontrou Yumi sentada em frente a bancada tomando achocolatado, ela não gosta de café, de costas pra ele.

Pensou que eles deveriam estar brigados e que ela provavelmente estava irritada, com base de como ela o acordou hoje, ela é geralmente bem mais gentil.

Mesmo assim foi até ela e deu um beijo no topo da cabeça de cabelos brancos - Bom dia.

— Bom dia, - seu tom foi bem tranquilo então ele pensou que estava tudo bem - deixei um pedaço de bolo pra você e o açúcar está na geladeira- Ela disse antes de dar o último gole no achocolatado e se levantar para colocar a xícara na pia.

— Obrigado- ele murmurou a observou sair da cozinha, olhou no relógio e viu que era 5:25 então ela vai se arrumar para ir ao trabalho.

 -A, antes que eu me esqueça, Yu- ele falou em voz alta o suficiente para ela ouvir De onde estava - Pist vai comemorar o aniversário, ela não quer algo muito grande então vai ser apenas para os mais chegados. Amanhã no apartamento dela lá pelas 8, o que acha?

— Eu sei, - a voz veio da direção do quarto, mas Sinbad podia ouvir os passos se aproximando e quando percebeu ela estava novamente na cozinha aparentemente pronta, ela não costumava se emperiquitar muito  - Pist comentou comigo ontem a tarde, até fiquei de levar algum prato. Mas acho que vou chegar um pouco atrasada já q sábado encerro 8: 30.

—Uhum- ele assentiu concordando e se levantando, deixando a xícara na pia como Yumi fez antes. Agora era vez dele de se aprontar então foi ao banheiro escovar os dentes.

Por algum motivo, ele queria checar se estava tudo bem mesmo entre eles e fez questão de perguntar - Então, está tudo bem sobre o assunto de atirar? Desistiu?- ele disse antes de colocar a escova na boca.

— Não. - ela disse com um sorriso um tanto presunçoso, se encostando no batente da porta- Ainda vou convence-lo, espere e verá.

Sinbad soltou uma risadinha zombeteira e ainda com a escova na boca ele disse quase ininteligível - Pois está perdendo seu tempo, eu já tomei minha decisão.

Yumi franziu o cenho- Sin, me diga de uma vez qual o problema.

— Eu já disse, você não precisa disso.

—Por acaso tem medo que eu faça algo estúpido? Ah por favor Sinbad, não seria a primeira vez que eu atiraria também e-

— Como é??? Ele disse um pouco irritado, Yumi era nova, tinha apenas 26 anos e Sinbad a conhece desde que começou a cursar medicina. Onde nesse período de tempo ela teve oportunidade de disparar uma arma??

— Eu já lhe disse Sin, morava em uma área perigosa e meu pai e irmãos mais velhos estavam sempre fora, era só eu e meus dois irmãos pequenos.

 Sinbad limpou a boca em uma toalha antes de dizer - Seu pai lhe deu uma arma quando era adolescente?? E eu não me lembro dessa conversa. - Talvez Yumi tenha lhe falado mesmo mas a um bom tempo, por um segundo ele amaldiçoou seu falecido sogro em pensamento ' como ele pôde?'

Yumi estava prestes a dizer algo quando Sinbad a interrompeu- De qualquer maneira, não vai mais acontecer, eu não vou permitir. - passou por Yumi nem dando a ela a chance de responder.

— Ei Sin, onde pensa que vai? Essa conversa não acabou!

— Eu acabei.

— Pois Eu não!

— Não me importo, pode continuar falando que eu não vou responder.

Yumi tentou argumentar mais um pouco, praticamente com as mesmas palavras de ontem mas Sinbad simplesmente a ignorou, até que ela finalmente desistiu de tentar por hoje.

A essa altura era 5:45, eles sempre saiam juntos as 6:00 e durante esses 15 minutos nenhum dos dois disse uma só palavra.

Eles desceram juntos o elevador para chegar ao estacionamento do prédio, lá Yumi já estava subindo na moto, enquanto Sinbad abria a porta do motorista da sua caminhonete, quando os dois se olharam e ficaram assim. Geralmente eles sempre compartilhavam um beijo de despedida e um "tenha um bom dia", mas parece que nenhum deles ia sugerir algo do tipo.

E após 1 ou 2 minutos se encarando Yumi teve a iniciativa e apenas disse baixinho mas o suficiente para ele ouvir - bom trabalho.- já colocando o capacete e ligando a moto.

Sinbad saiu de seu transe e murmurou um "igualmente", que ela apenas assentiu agradecendo antes de sair estacionamento a fora.

Logo depois Sinbad entrou, virou a chave e fez o mesmo que ela e antes mesmo de chegar a delegacia lembrou da discussão e se arrependeu de ter levantado o assunto de novo

— Esse vai ser um dia longo...