Sobreviventes de Cthulhu escrita por Beyond B Nat


Capítulo 11
Dia 4


Notas iniciais do capítulo

Olha só que história está com capítulo novo! Bom, eu havia começado essa jogatina faz um bom tempo, mas acabei voltando pra jogar mais coisa nesse dia, para adicionar mais elementos, aí somando com minhas obrigações acabou demorando um pouco. Enfim, espero que gostem.



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HOJE

Todos estavam dormindo na sala dos funcionários, onde parecia ser mais seguro e levemente mais confortável comparado às outras partes daquele espaço minúsculo. Não passando muito tempo após o sol nascer, Jade acordou sendo levemente sacudido no ombro, então percebeu que era Lucas. Este fez um gesto para fazer silêncio e moveu a cabeça em direção à porta. Foi possível notar que Gabriel acordou também, então ele percebeu que Lucas queria conversar enquanto Sabrina ainda estava dormindo. Assim que saíram e se afastaram um pouco da porta, Lucas falou:

— Então, direto ao ponto, o que a gente faz agora? — Perguntou Lucas aos outros.

— Mais direto impossível — Falou Gabriel alongando um pouco o pescoço pelo jeito desconfortável que estava dormindo — Com tudo o que aconteceu, a princípio não deixaria ela saber onde é nossa base tão fácil, mas depois do que ela contou, largar ela no mundo seria sacanagem.

— É, deu pra perceber que estava desconfiado, por isso não falei nada — disse Jade ficando pensativo por alguns segundos — Não acho certo deixá-la sozinha. Creio que dá para nossa base ser um lugar seguro para ela ficar por um tempo.

— Nem pra gente tá muito, mas você tem razão.

— Se vocês concordarem — Jade continuou —  ela pode passar um tempo conosco aí depois cabe a ela decidir se ficará ou não, afinal, ao mesmo tempo que não sabemos nada sobre ela, ela não sabe nada sobre a gente.

— Sem mencionar a “coisa com M” então.

— Exato.

— Falando nessas coisas, tenho pensado em algo — Gabriel falou, enquanto roía um pouco a unha do polegar.

— O Quê? — Jade perguntou.

— Pela descrição que ela deu ontem, foram desmortos que atacaram a base dela. Além dos carniçais, são o mais perto de “zumbis”. Ao menos dos monstros que a gente conhece. 

— Faz sentido, mas porque lhe veio mencionar isso?

— Pelo o que sei mais ou menos, inclusive de coisas que o velho falou, eles não formam grupos grandes a menos que alguém esteja os controlando — Gabriel suspirou por um segundo e continuou — Pode ser que tenha algum cultista ou alguém que conheça esse tipo de magia por trás disso.

— O aumento da quantidade de carniçais, o ataque à base do senhor Francisco, o ritual de ontem, os insanos e agora isso… Isso cheira a problema. — Jade disse pensativo.

— É. Com isso, estamos lascados.

— Como se já não estivéssemos — Lucas falou suspirando. Ele encarou uma de suas mãos pensativo por alguns segundos e continuou — A gente pode tentar entender o que tá acontecendo depois, tipo, se há uma chance de acontecer um problema maior, mas primeiro precisamos cuidar da base. Se ela continuar do jeito que os carniçais do outro dia deixaram, vai ser um inferno.

Os outros concordaram com a cabeça. De repente eles ouviram uns ruídos vindo da sala dos funcionários e notaram que Sabrina havia acordado, com ela abrindo a porta e olhando pros lados até os avistar e dar um "oi". Não parece que ela ouviu muito da conversa deles. Todos a  cumprimentaram de volta. Ela parecia visivelmente cansada, mas não era muito diferente de como eles estavam nesse momento, já que todos não dormiram de forma tão confortável.

Jade se aproximou, disse que o local onde eles costumam ficar não era longe e a perguntou se ela se importaria de ir com eles, propondo ficar por um tempo. Ela ficou pensativa por alguns segundos, mas aceitou acompanhá-los.

Após finalmente arrumar seus pertences, eles seguiram em direção ao refúgio. Todos se moveram de forma discreta e silenciosa, enquanto ficavam atentos ao redor. O céu estava nublado e um pouco de vento úmido passeava entre os restos de construção no caminho.

Felizmente, eles conseguiram chegar na base sem encontrar monstros. Eles se moveram pelo caminho que não havia armadilhas e finalmente entraram.

Cada um dos presentes colocou a própria mochila em algum lugar, enquanto isso Jade perguntou se alguém queria comer alguma coisa, ao mesmo tempo que se dirigia onde estavam alguns enlatados. Para Lucas nem era necessário perguntar e Gabriel sacudiu a cabeça dizendo que não estava com fome, mas que iria comer alguma coisa. Jade pegou o suficiente para todos, mas Sabrina disse que não precisava para ela, pois já possuía um pouco em sua mochila e que poderia estragar se ela não comesse logo. Ele deu de ombros e deixou ela comer o que tinha.

Enquanto comiam, era fácil notar que na casa cabia mais gente que apenas eles três, apesar de não ser muito grande. Jade falou de forma superficial algumas coisas que haviam no local que eram visíveis e tentou descontrair um pouco. Não era muito do jeito dele desconfiar de alguém, ele nem percebia nada de incomum com Sabrina, mas ele sabia que certas coisas eram melhor não serem mencionadas por enquanto, como a existência da saída secreta e como funciona a obtenção de energia do lugar.

— E… Alí é onde a gente usa de garagem, só que agora é só um espaço vazio?

— “Agora”? O que vocês tinham?

— Uma moto. Só não digo quem e como quebrou.

Lucas olhou pro lado, mas não de forma discreta o suficiente para essa atitude não o entregar. Sabrina acabou deixando escapar um leve riso pela reação dele. 

— Falando em coisas quebradas… — Gabriel puxou o assunto enquanto comia devagar — Temos coisa pra resolver, né?

— Está falando desse lugar, não é? — Perguntou Sabrina — Digo… Ouvi vocês conversando mais cedo de que precisavam cuidar da base.

— Sim, a coisa tá um pouco feia — Lucas falou — Você quer ajudar?

— Acho que posso tentar alguma coisa, apesar de que nunca tentei nada do tipo.

— A gente dá um jeito.

Infelizmente, não muito depois deles terem terminado de comer, começou a chover e a chuva não possibilitou que eles trabalhassem por muito tempo.

Passou mais de uma hora, como não parecia que pararia de chover tão cedo, Gabriel se rendeu e decidiu tirar um cochilo. Enquanto isso, Jade decidiu montar na oficina um arco e algumas flechas, enquanto Lucas e Sabrina tentaram consertar algumas armadilhas que conseguiram pegar do lado de fora antes da chuva.

Durante o meio da tarde, a chuva deu uma trégua, porém não parecia que eles conseguiriam fazer os reparos da base antes de anoitecer, havia muito para ser feito.

Gabriel, depois que acordou, estava um pouco pensativo sobre os ocorridos do dia anterior enquanto rabiscava no seu caderno o que conseguia se lembrar do ritual que viram na floresta. Era bem similar ao que eles viram na época que Pedro ainda estava com eles e conseguiram aquela “coroa” de espinhos. No local do ritual, a grama estava com um aspecto seco e de uma cor amarelada de uma mistura estranha de dourado com mostarda e o ar naquela área do parque estava complicado de respirar. Sair de lá o mais rápido possível foi o melhor que podiam fazer, pois era provável que se render à curiosidade e tentar entender o que estava acontecendo com aquele lugar era a atitude mais suicida que poderiam fazer.

Com a sua mente viajando em teorias e voltando um pouco para o que viu no dia anterior, lhe veio em mente tanto os insanos que atacaram Sabrina quanto os que eles avistaram que aparentemente capturaram uma pessoa. O que tudo isso significava? Poderia haver alguma ligação? Pessoas quando perdem a cabeça e ficam naquele estado, são destrutivas e desorganizadas. Se for verdade o que Sabrina falou, que quando a avistaram a atacaram por que ela era “ mais um” para algo… Será que ela…? Não...

No fundo, Gabriel não tinha certeza se o que estava pensando fazia sentido ou estava paranoico, porém, pensando um pouco sobre isso, ele poderia dar uma olhada naquela área não muito longe dali onde eles avistaram os insanos.

Ele guardou seu caderno no bolso e andou pela base atrás dos outros. Parecia que Jade conseguiu fazer um arco e estava nesse momento fazendo algumas flechas. Quanto ao Lucas, estava conversando com Sabrina sobre uma série de fantasia medieval, ela apenas assistiu a série de tv, mas ele conhece desde os jogos. Lucas estava mais empolgado falando desse assunto do que quando trocava ideia com Jade sobre ficção científica. Era de certa forma reconfortante ter mais alguém com eles, porém ao mesmo tempo era difícil possuir tanta tranquilidade.

Gabriel desviou-se de seus pensamentos e os interrompeu, já que se ficasse esperando alguma brecha não falaria nunca. Ele avisou que iria aproveitar que a chuva deu uma trégua e checar o que sobrou no local em que avistaram os insanos.

— O que anda acontecendo nos últimos dias tem deixado minha cabeça a mil. Talvez tenha ficado alguma coisa lá.

— Não acha arriscado? — Sabrina perguntou.

— Sempre é, mas sei me virar — Gabriel deu de ombros. 

Lucas concordou que pode haver alguma coisa, porém Jade não acreditava nisso e era visível a sua preocupação. Gabriel disse que como é perto não havia problema. Relutante, Jade acabou cedendo, apesar de não gostar nenhum pouco da ideia.

Gabriel saiu da base levando consigo o facão e uma das bolsas. Jade não pôde evitar de dar uma suspirada.

— Esse jeito de vocês dois parece um pouco de duas pessoas do meu grupo — Sabrina puxou assunto.

— Sério?

— Eles eram irmãos, hu. A Sofia, que era a mais nova, tinha um jeito um pouco implicante e de “ah, eu consigo fazer isso” e Samuel era um pouco protetor.

— GC às vezes é um pouco mais contido, mas a implicância não deixa de ser verdade.

— Você tem quantos anos? —  Lucas perguntou.

— 21.

— Então GC ainda é o nosso caçulinha, hehe… Acho que com a proximidade amigos acabam agindo como irmãos mesmo. Principalmente depois daquilo tudo...

Lucas ficou levemente pensativo.

— Você tem, ou “tinha”?

— Sim… Apesar de ser óbvio, considero só que “não sei” o que aconteceu com ele.

— As coisas aconteceram quando a gente tava na faculdade — Jade falou — Se viu as notícias na época, deve saber que foi um dos primeiros alvos dos cultistas.

— Sei.

— Eu morava bem longe — Lucas continuou — então nunca consegui voltar pra casa. E ele até que pôde ir a pé, mas ficou sozinho já que nossos pais sumiram.

— Entendo… Eu tava no trabalho quando começaram a acontecer as notícias, não lembro se foi no horário de almoço ou quando a movimentação estava baixa e fiquei mexendo no celular… Só sei que minha reação foi, tipo... No começo de “indignada” porque a primeira coisa que vi foi sobre a explosão de uma das igrejas do Centro, e depois vi coisas maiores ainda aí fiquei confusa.

— Muita coisa aconteceu de uma vez.

— Deve ter sido terrível ficar no meio do “fogo cruzado”.

— Nem faz ideia — disse Lucas, lembrando de alguns acontecimentos quando ocorreu o ataque na faculdade — pior é que não tinha como fazer nada.

— Oh! — Jade mudou de assunto, se levantando — Não faço ideia se o arco que fiz tá funcionando direito. Bora testar?

— Treinar como aposentar os cultistas? Partiu!

Eles passaram alguns minutos testando o arco. A arma estava funcionando bem e as flechas não desviavam muito do curso para o alvo improvisado que montaram com os assentos do sofá da sala.

Com o passar desse tempo, foi possível perceber que Gabriel estava demorando e o grupo começou a se preocupar. Antes de considerarem procurá-lo o amigo, Gabriel entrou pela porta principal, porém possuía uma expressão de desconforto.

— Finalmente você voltou! O que aconteceu? — Perguntou Lucas.

Gabriel ficou em silêncio por alguns segundos, depois falou por que demorou.

Ele havia chegado no local o qual avistaram os insanos com aquela pessoa que eles não tinham como ajudar e encontrou vários restos de madeira queimada. 

— Aí, hum, encontrei isso aqui.

Gabriel tirou da mochila um objeto que era um aro feito de uma espécie de cipó, com o centro preenchido por um fino fio prateado, que se entrelaçava entre si e no centro havia uma pedra metalizada com um símbolo gravado.

— Isso aqui parece só um filtro dos sonhos, mas acho que pode fazer alguma coisa.

— Será que isso estava com o cara que eles pegaram? — perguntou Lucas, pegando o objeto.

Gabriel deu de ombros indicando não saber e disse:

— Eu o encontrei no chão. Pode ter caído ontem ou só estava lá por acaso. Fora essa coisa… Demorei pra voltar porque depois de achar isso percebi uns insanos correndo atrás de alguém perto de onde estava, aí me escondi… Até eles irem embora.

— Pera, você achou mais alguém? — Sabrina perguntou.

— Sim. Antes que pergunte, não tinha como eu ajudar. 

Todos ficaram alguns segundos em silêncio. Gabriel, com os braços cruzados, contraiu um pouco os ombros, esperando alguém dizer alguma coisa, até que Jade disse:

— Bom, ao menos nada aconteceu com você. É… tendo incidentes com insanos duas noites seguidas, talvez seja uma boa passar essa noite com vigia.

— Espero que amanhã não chova — Lucas comentou soltando um riso de nervoso. 

Logo a noite chegou. Mesmo com os incidentes do dia atual e o anterior e com a vulnerabilidade da base, não havia sinal de inimigos no lado de fora. Parece que mais uma vez a sorte estava do lado deles.


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