*Centauros*

*Uru P.O.V*

Suspiro tirando a mecha de cabelo que caiu na minha testa, olho para o chão respirando várias vezes tentando amenizar o calor. 

Mordo o lábio trocando o peso das pernas pego o martelo e a tábua, encaixo a tábua no buraco e com a outra mão pego um prego e coloco-o na tábua, fazendo malabarismo para segurar a tábua no lugar junto com o prego e começo a bater com o martelo.

Quando o prego está todo para dentro da madeira eu pego outro prego, e faço o mesmo procedimento com a outra extremidade da tábua. 

— Acabei ali atrás! Eu acho que sua casa não vai passar por uma tempestade como aquela de novo._ Suspiro parando de martelar e olho para quem se aproxima. _ Sabe, deveria aceitar minha proposta._ Sorrio minimamente e o olho secando o suor de minha testa. 

Kazuo tem cabelo liso e marrom, um castanho escuro que me lembra madeira molhada. O cabelo não muito grande, chega até o queixo, num penteado bagunçado e natural, os olhos puxadinhos de um castanho claro, as bochechas gordinhas e a pele queimada de sol, sempre com as bochechas, nariz e ombros descascando e uma aura muito simpática e brincalhona.

— É muito gentil, mas minha casa tem que aguentar muito tempo ainda. _ Ignoro sua última frase.

— Não ignore minha proposta, por favor, sabe que só ganhará com isso._ Ele vem para meu lado e pega o martelo da minha mão, acabando de enfiar o prego na madeira e fechar o último buraco. Suspiro e o olho agradecendo com um meneio de cabeça. 

— Sua proposta é realmente muito boa. . . Mas, eu prefiro esperar, ver se não tenho realmente uma alma gêmea._ O olho de cima a baixo. 

Kazuo é um amigo meu que me fez uma proposta que a maioria das pessoas aceitariam se tivessem no meu lugar. 

Moramos em uma vila pobre, as casas são precárias e tudo aqui é simples e atrasado em comparação com o resto do reino. Moro na casa no topo de uma colina, é somente uma estrutura fraca que me protege do Sol e chuva, de somente um cômodo, e a única coisa que tenho é uma pilha de feno para deitar. 

Kazuo é o mais rico dessa vila, isso quer dizer que a casa dele é feita de uma madeira forte, a casa tem mais de um cômodo e é resistente. Porém, nada mais que isso. 

Ele não tem alma gêmea, pelo que soube, não sei porquê, mas ele não tem. 

Por isso ele veio até mim com a proposta dos sonhos de qualquer um nesta vila. Ele quer acasalar comigo, o que me faria ir morar com ele e dar a luz a sua prole. Ele não é uma pessoa má, e sua parte cavalo é de um marrom brilhante, lindo, é como um verdadeiro garanhão. 

Traduzindo, eu teria uma casa melhor, melhor condição, e meus filhos seriam de uma genética boa. 

Mas eu disse não.

Porque ele pode não ter sua alma gêmea, mas eu talvez tenha a minha. . .

— Está bem. . ._ Ele suspira cansado e me olha. _ Se precisar de algo, sabe onde estou._ Ele vira e quando começa a andar para longe eu o paro.

— Obrigado! Por me ajudar de novo, me salvou de novo._ Ele olha para trás sorrindo e acena levemente para mim.

— Sabe que não é saudável ficar no Sol por tanto tempo. _ Ele murmura e então sai andando. Coloco minhas mãos na cintura e entro em casa, não tem piso no chão, é terra com um matinho crescendo aqui e ali. 

A madeira fina que é a minha casa está mofando e cheia de remendos de vários outros pedaços de madeira que acho por aí. Tem teia de aranha nos cantos e os espaços entre as tábuas faz água e Sol passar por ali. Não é um lugar muito arejado, mas também não é abafado. . . 

Penso que só sobrevivi esses anos todos porque sou centauro, porque os invernos são rigorosos e os verões também, se fosse humano não teria a menor chance. 

Suspiro e vou até um dos cantos do fundo da minha casa, onde tenho  meu montinho de feno, me deito alí, e olho para o meu corpo equino passando a mão nos pelos cor de areia, esticando as patas no feno e encosto as costas na madeira que está apodrecendo. 

Sou um centauro classificado como fêmea. Minha parte humana é de homem, mas minha parte cavalo é de uma égua. . . Seria meio vergonhoso se isso não fosse normal de acontecer, mas ainda sim não é uma coisa agradável. Pra mim. 

Tanto mulheres com a parte cavalo macho, quanto homens com a parte cavalo fêmea existem, isso explica tantos casais que os humanos julgariam homossexuais, que tem família com filhos de sangue.

É claro que existem aqueles que são completamente macho ou fêmea, eles até se acham superiores algumas vezes, mas não é nada muito gritante.

A semana fértil está vindo, ela acontece de 6 em 6 meses, duas vezes ao ano, nunca me preocupei com ela porque não tinha idade o suficiente, não tinha alcançado a minha maturidade sexual ainda. Ainda. 

A semana fértil é a única oportunidade de um centauro de encontrar sua alma gêmea. É quando somos dominados pelos instintos e sentimos a ligação com nosso companheiro, e então vamos ao encontro um do outro, e antes da semana acabar voltamos para casa. 

É chamada de semana fértil porque, para que os companheiros possam se achar de novo, quando a semana passar, eles acasalam. Os companheiros só se acham de novo pelo vínculo de pai com o filho. Traduzindo, só se acham de novo se a fêmea ficar grávida, então o pai vai atrás de seu filho e acha sua companheira.

Alguns falam que é precoce, mal se conhecem e já vão ter um filho, só se conhecem depois do bebê já ter sido concebido. Mas os que já acharam as almas gêmeas, discordam, que quando se vêem é amor à primeira vista, é como se já se conhecessem a anos.

Bem, eu não sei.

Eu estou ansioso, sei que muitos não encontram o companheiro nas primeiras semanas, ou então o filhote não é concebido, mas mesmo assim. É a minha chance, não é?

Mesmo que eu não lembre, mesmo que não encontre, estou nervoso e ansioso para que aconteça, estou ansioso para que a semana chegue logo.

Espero encontrar meu companheiro, estou com medo, mas ansioso.