Recomeços escrita por Sophia Snape


Capítulo 28
The Very Thought of You


Notas iniciais do capítulo

Comecei a escrever esta história porque, assim como todo mundo, eu também preciso de um recomeço. Sei que vocês estão doidos para pular logo para o capítulo, mas é a primeira história longa que eu não só finalizo, mas publico (A sua cor também está finalizada, mas longe de estar do jeito que eu quero, então ela ainda vai ficar parada por alguns meses – desculpa mesmo).

Desde 2013 que a minha vida está uma bagunça absoluta. E 2020 e 2021 conseguiram ser piores do que qualquer outro ano. Sério, universo, não é uma competição! Vamos dar um tempo pra escritora respirar aqui, hein? E em termos de depressão, esse ano foi definitivamente o pior de todos. Extrapolei qualquer limite possível da minha saúde mental, que se antes existia em frangalhos hoje evaporou de vez. E escrever Recomeços foi como ter a chance do meu próprio, sabe? Não foi só uma fuga como outras coisas que escrevi. Foi possibilidade.

E esperança é tudo que precisamos, certo? Acho que o Severo também foi se agarrando a pequenas coisas para seguir com um propósito de continuar vivendo, porque todo o resto, para ele, era dispensável – ótima conversa que tive com a Gladis ♥. Então eu, e milhares de escritores, tentamos dar a ele um motivo além da mera sobrevivência, e aqui no meu caso entra a Hermione. Eu sempre me identifiquei muito mais com o Severo entre todos os personagens de Harry Potter, mas desta vez, a Hermione daqui tem muito de mim. Assim como ela, todo mundo esperava que eu fosse brilhante e fizesse N coisas até os meus 25 anos. Mas assim como ela, eu me perdi. De tanto tentar agradar todo mundo, nos perdemos no meio do caminho até que tudo explodiu.

A diferença é que a Hermione é um milhão de vezes mais corajosa que eu, e lutou para se encontrar. Estou tentando por aqui também, mas por hora, vamos curtir o felizes para sempre desse casal que merecia muito ter se encontrado num outro contexto.

Como sempre, agradeço imensamente a todos os leitores que deram força comentando. De verdade. Estão todos no meu coração. Agradeço imensamente à minha equipe de ADMs do Severo Snape Fanfictions, que além de tudo tem se tornado cada vez mais amiga. Agradeço a minha alma gêmea da amizade, Daniela Teixeira, pelos comentários incríveis e pela força de sempre. Agradeço a Chiasan, que é uma leitora fiel desde A sua cor ♥ e tem arrasado na escrita – por que demorou tanto? E agradeço também, claro, a Julia Mabon, minha beta, pelos surtos e revisões de última hora.



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In a beautiful world

I wish I was special,

You're so fucking special.

 

“Por favor, viva”

“Por favor, não me deixe”

“Eu não posso...”

“Por favor...”

“Eu... deuses! Alguém... Façam alguma coisa!”

“Só... fica comigo”

“Eu...”

Severo acordou suando frio, e seu coração estava disparado. O mesmo sonho, sempre ele. Mas agora, as mãos suaves que tocam a sua testa, sua bochecha e param no seu peito não são mais estranhas, porque o rosto que paira em cima dele é agora tão nítido, tão claro, que é até absurdo que ele não tenha conseguido ver das outras vezes. É o rosto dela, o cabelo dela, o cheiro dela... É tudo sobre Hermione Granger.

— Merlin. — Severo se jogou displicentemente na cadeira e olhou para o estado desordenado da cozinha enquanto tentava acalmar uma leve crise de pânico que estava começando a rastejar lentamente pelo seu corpo. Severo tivera crises mais do que suficientes em toda a sua vida para saber que ele estava no caminho de algo muito pior se não parasse agora e tentasse respirar.

Mas ficava tudo muito mais difícil quando ele simplesmente não se importava. A última vez que ele tivera uma crise tão forte foi justamente na noite em que ele decidira ir embora da sua casa de infância, na Rua da Fiação. Ele estava se enterrando vivo naquele lugar, e decidira ao menos tentar ter uma vida diferente da que ele levara até ali. Na mesma noite, ele decidiu também não pensar mais na mulher que o assombrava em seus sonhos, que o acalmava, o tocava com carinho.

Severo tentara por meses encontrá-la. Ele ficou obcecado, até entender que provavelmente tudo aquilo fora fruto da sua imaginação, do seu coração cansado tentando preencher sua vida com um pouco mais de sentido. E ele não queria mais ansiar por um fantasma. Não. Ele passara duas décadas tentando consertar um erro, tentando honrar a memória de uma amiga que ele magoara profundamente, fazendo o possível e o impossível para manter o filho dela vivo.

E ele não queria mais isso. Não queria basear a sua vida em uma ilusão. Severo não planejou nada do que viera depois. Sempre um homem que contava cada passo, ele se viu perdido depois que se recuperara e acordara sozinho em um quarto no St. Mungus. Ele não esperava viver. Ele não queria viver. Os meses que se seguiram foram uma agonia constante. Severo vagava pelas escadas de sua casa de infância como um fantasma.

Ele até tentou voltar a fazer poções para Hogwarts em um laboratório improvisado nos porões da casa; ele até chegou a receber convites de trabalho — alguns até irrecusáveis, ele diria. Mas ficar na Inglaterra não parecia um futuro tão promissor naquele momento, então ele foi embora.

E agora... Ele estava tão perdido quanto quando chegara.

— Você me pediu, Granger, e eu estou vivo. O que eu deveria fazer com isso? — ele murmurou, amargo.

Olhando ao redor da cozinha, ele torceu a boca. Severo nunca havia sido um homem desorganizado. Tudo bem, ele poderia ser um pouco no que se limitava ao escritório e papelada burocrática, mas em todo o resto sua vida se resumia a zelo. Ele não poderia se dar ao luxo de errar, porque obviamente isso poderia resultar em uma tragédia.

Além disso, ele nunca tivera muitas coisas quando criança. Seus materiais eram poucos, geralmente de segunda mão, então ele se esforçava para ter o máximo de cuidado e zelo: uma pena cinza bem cuidada, livros meticulosamente organizados ao lado da mesa, a mochila gasta no canto esquerdo e um malão de couro meio desbotado embaixo da cama que ele tirava algumas vezes por mês para feitiços de limpeza.

Mas o estado atual do seu chalé indicava o contrário do que ele estava acostumado. Várias xícaras se empilhavam na pia, e havia pelo menos três garrafas de whisky trouxa por cima da ilha. Três casacos estavam jogados nas costas do sofá e a bota de couro de dragão estava caída displicentemente no corredor.

As lembranças do dia anterior começaram a passar lentamente pela sua cabeça. Os últimos dias foram infernais. Ele fugira dela quando ela o confrontara, exigindo que ele fosse honesto, que ele a olhasse nos olhos e dissesse a verdade. E ele fugira. E amanhã o prazo que Hermione pedira terminaria, e ele não sabia como iria chegar à Botica todos os dias sem a presença calorosa dela iluminando o seu humor sombrio.

Ele deixou a testa cair novamente na mesa de madeira, gemendo tanto pela dor de cabeça terrível quanto pela sensação de Hermione nos seus braços. Seu peito doía a ponto de ele mal conseguir respirar pensando nisso. Ela havia escorregado da escada enquanto tentava alcançar um frasco que poderia facilmente ter levitado até ela com apenas um aceno de varinha, mas não. Hermione Granger vivia para dar pequenos taquicardias ao seu coração, o que fez com que ele conseguisse alcançá-la antes que ela atingisse o chão.

Todo o seu corpo foi tomado por pânico enquanto a cena se desenrolara na frente dele. Ele não sabia como havia atravessado a loja tão rápido, mas num segundo ela estava caindo e, no outro, estava segura em seus braços. Foi como um pedaço do paraíso. Ele estava louco de preocupação, com tanto medo de que ela se machucasse que naquele momento nada mais importou.

E a sensação... Deuses, era poderosa. Ele fechou os olhos para deixar a sensação da lembrança invadi-lo. O cheiro do seu perfume, o calor do seu corpo, seus lábios rosados tão perto...

Mas bruscamente ele a soltara, antes que seu corpo cedesse. Ele tentou fugir para os fundos da loja, mas ela fora mais rápida, exigindo respostas que ele não estava pronto para dar. Porque a verdade é que, com ela, Severo não tinha mais o controle de nada, e era assustador. Num mundo perfeito, ele seria exatamente o homem que ela merecia; mas naquele mundo ele era só uma aberração, um homem quebrado além de qualquer reparo, muito distante do que ela merecia para ser feliz.

Hermione não via? A rota de fuga para longe dele estava bem ali, então por que ela simplesmente não ia embora?

Ele estava sendo um idiota? Provavelmente. Mas ele estava assustado. Severo jamais admitiria isso, é claro. Mas ele nunca havia se sentido assim antes, e se expor, deixar o seu coração vulnerável, era assustador. Hermione vira lados dele que ninguém jamais ousava saber. Ele a deixou entrar, e ela mentira para ele.

— Merda. — ele suspirou, exausto. Ele passou a mão rapidamente pelo cabelo e puxou o sobretudo das costas do sofá. Seus olhos pousaram rapidamente no cachecol verde caído no chão e ele resistiu ao impulso de pegar e guardá-lo, mas uma batida na porta o distraiu.

Severo franziu o cenho, se perguntando quem poderia ser. Ele sabia que a Valérie estava atrás dele por dias, ansiosa para conversar, mas Severo sabia que o assunto inevitavelmente chegaria à Hermione e ele não estava pronto para conversar. Ainda não.

Amaldiçoando baixinho, ele abriu a porta com força, uma má resposta na ponta da língua, quando ele foi surpreendido pelo rosto familiar de Draco Malfoy parado do outro lado. Severo foi pego de surpresa, e por um momento não soube o que dizer. Ele não falava com a família Malfoy há anos.

— Então é aqui que você tem se escondido?

— Draco? O que você... Como?

— Não imaginei que veria o dia em que Severo Snape ficaria sem fala.

O comentário tipicamente zombeteiro fez Severo reagir. — Você pode me culpar?

Draco deu de ombros displicentemente, colocando as mãos no bolso da calça. O garoto parecia exatamente o mesmo, e totalmente diferente ao mesmo tempo. — Não vai me convidar para entrar?

Severo franziu a testa e hesitou, perplexo. Depois de um momento ele apenas virou de lado, dando espaço para ele passar.

Malfoy andou pelo corredor estreito e parou, dando uma boa olhada ao redor. Seu olhar cruzou com os copos de whisky que se acumulavam em cima da mesa e ele levantou a sobrancelha, dando um olhar questionador para o bruxo mais velho. Severo revirou os olhos. — O que você quer, Draco? Imagino que não esteja aqui para olhar para a minha mobília.

Draco suspirou dramaticamente. — Na verdade, estou muito curioso. Você sumiu por todos esses anos, e sempre me perguntei o que você poderia estar fazendo.

— Bem, como pode ver, nada muito glamoroso.

— Não vai me oferecer uma xícara de chá? Ou só temos whisky por aqui?

Severo resmungou, desejando estar em melhores condições para não se sentir tão vulnerável perto do garoto. Na verdade, ele estava emocionado por Draco estar ali. Todo esse tempo e ele pensava que a família Malfoy nunca mais olharia para ele, especialmente Draco. Mas ao que parecia, ele estava errado. De novo.

Ele aproveitou que estava de costas enquanto colocava a chaleira no fogo e exalou profundamente, tentando controlar sua ansiedade. Seja o que fosse que o garoto queria estando ali, ele não estava preparado.

— E então — Severo abriu os braços ao se sentar na poltrona, esperando que Draco elaborasse. O menino, que há muito havia passado dessa fase, olhou em volta da sala e seu olhar pousou, curioso, na árvore de Natal. Severo sentiu o seu pescoço esquentar, mas continuou impassível mesmo quando o Draco levantou uma sobrancelha divertida na direção dele. — Sou um homem muito natalino.

Draco bufou, se inclinando para pegar a xícara na mesa de centro. — Desde quando?

Severo o ignorou. — O que você quer, Draco? Se veio buscar respostas, sinto muito. Você não veio num bom dia.

— Foi por isso que eu vim. — ele tirou um pequeno pedaço de papel que rapidamente tomara a forma original, depois jogou elegantemente na mesa de centro. — Toda a Grã-Bretanha leu O Profeta, você sabe. Foi uma surpresa.

— Qual parte?

— Tudo. Mas principalmente o seu relacionamento com a Granger.

— Draco, não ultrapasse a linha.

Ele balançou a cabeça. — Não vim julgar suas escolhas, Severo. Só foi inesperado. De certa forma, vocês combinam.

Isso pegou Severo de surpresa. — Bem — ele se remexeu na poltrona.

— Estou feliz por você. Nós estamos, na verdade.

Severo bufou, duvidando muito disso. — Defina “nós”.

— Eu e minha mãe, claro. Meu pai e eu não nos falamos muito hoje em dia.

— Entendo.

Draco sorriu sem humor, balançando a cabeça. — Mesmo? Porque aconteceram muitas coisas em que gostaria de ter contado a você. Queria que não tivesse desaparecido.

— Draco.

— Você poderia ter mandado uma carta, sabe. Qualquer coisa. Qualquer sinal de que eu seria bem-vindo.

— Você sempre será bem-vindo aqui, Draco. Sempre.

Draco desviou o olhar, e Severo teve um súbito desejo de abraçar o garoto. Sua relação com o jovem sonserino era o mais perto de uma relação familiar que ele já havia chegado antes de se mudar para a França. O garoto era quase como um filho para ele, se Severo pudesse ser totalmente honesto consigo mesmo.

— Então por que você nunca entrou em contato? Quer dizer... Eu- Merlin.

Severo observou, em choque, enquanto o homem diante dele se desfalecia completamente no menino que ele conhecera enquanto piscava para espantar as lágrimas. Durante todo esse tempo e Severo jamais imaginou que Draco pudesse sentir a sua falta. Ele era um idiota.

— Achei que não iria querer falar comigo.

— Por que eu não iria? — a voz dele se elevou em completo choque. — Você salvou a minha vida, Snape. Você fez a porra de um voto inquebrável para me proteger.

— Eu era um espião.

Draco se levantou repentinamente, e Severo fez o mesmo. — E você acha que eu me ressentiria disso? Droga, eu poderia abraçar o maldito Potter porque ele matou aquela coisa. Saber que você fez parte disso só me faz admirá-lo mais. Fui um covarde a minha vida toda.

Severo riu sem humor. — Você tinha 16 anos, Draco. Não seja um idiota.

— Sempre fui um covarde. — Draco murmurou baixinho, e Severo apertou o ombro dele num gesto reconfortante.

— A maneira como você tem lutado para proteger a sua família nos últimos anos diz o contrário.

Draco se virou de repente, surpreso. — Como você sabe?

Severo suspirou, dando de ombros. — Acompanho você. É o único motivo pelo qual ainda leio aquele jornal estúpido.

Draco franziu o cenho.  — O Profeta? Mas eles nunca-

— Não esse, o outro.

Malfoy parou por um segundo até que começar a rir. — Por algum motivo, eles são muito respeitosos com a minha família. A garota Lovegood não tem nenhum motivo para fazer isso. Eu realmente não entendo porque ela faz. Às vezes me irrita. Queria que eles dissessem como sou um filho da puta, e não divulgassem para onde o dinheiro Malfoy tem sido investido.

— A Srta. Lovegood esteve aqui no final de semana retrasado.

— Mesmo?

Severo assentiu em resposta. — E a Granger? Posso perguntar como vocês...

Severo desviou o olhar enquanto voltava a se sentar. Ele passou a mão pelo cabelo várias vezes antes de decidir falar novamente.

— Você aceita uma bebida?

Draco olhou para o relógio caro em seu pulso e riu, balançando a cabeça. — Eu já bebi em horas piores. Por que não?

Com um aceno na varinha e Severo fez com que uma garrafa e dois copos levitassem até eles. Eles se serviram e Severo deu um longo gole antes de falar novamente.

— Ela veio trabalhar para mim na Botica. No começo, eu odiei. Mas ela é uma coisinha irritante e obstinada. Cada dia que passava eu a admirava mais. Ela é... Merlin, ela é brilhante. No começo pensei que estava enlouquecendo. Depois, pensei que talvez pudesse ser só a minha vontade de ter alguém, de me sentir menos sozinho. Mas no final, não era sobre ter qualquer pessoa. Era sobre...

— Ela. Apenas sobre ela.

Severo acenou, se inclinando sobre os joelhos enquanto cruzava as mãos. — Eu tentei sair com algumas mulheres aqui na vila. Turistas, claro. Mas nunca passou do jantar. Não parecia... certo. E me chame de antiquado, Draco, mas não costumo levar mulheres aleatórias para a minha cama.

Draco riu. — Eu fiz isso por muito tempo. É superestimado. Então Granger é maravilhosa, etc, etc, e você está apaixonado. Não consigo ver qual é o problema.

— Ela mentiu para mim, Draco. Na Batalha Final, foi ela quem me salvou na Casa dos Gritos. E foi ela quem cuidou de mim durante os meses que se seguiram.

— Você estava numa ala restrita. Ninguém conseguia visitá-lo. Tentei várias vezes, mas nunca me deixaram passar.

Severo acenou. — Eu sinto muito.

— Não sinta. Muitos Comensais queriam machucá-lo na época. Ela só estava cuidando da sua segurança. O que me leva a perguntar: por quê? Algum amor platônico por professor, ou o quê?

— Draco. — Severo avisou.

— Tudo bem, tudo bem! Eu só, não sei... fiquei curioso. Mas o fato é que ela salvou você, Severo. Por que isso deveria significar algo tão terrível?

— Hermione mentiu para mim.

— Isso é realmente motivo suficiente para afastá-la? Relacionamentos têm problemas, Severo. Você não pode fugir sempre que ficar com medo.

— E desde quando você se tornou um especialista?

Draco riu, balançando a cabeça. — Desde que fiquei noivo.

Severo recuou, surpreso. Toda a sua irritação anterior pelas perguntas invasivas do garoto foi esquecida pelo sentimento de orgulho que instantaneamente o dominou. — Isso é novo.

Malfoy sorriu, dando de ombros. Severo reparou que havia um brilho diferente no olhar petulante dele, alguma coisa entre o carinho mais profundo e a paixão mais avassaladora do início de um relacionamento que, pelo que parecia, seria para a vida toda. — Não contamos para ninguém ainda. Apenas para a minha mãe, claro.

Severo assentiu. Haviam muitas informações naquela frase, mas Severo sabia que não era o momento para perguntar. Ainda. — Parabéns, Draco. Estou feliz por você. Tenho poucas lembranças da Srta. Astoria, mas é uma boa família.

— Eu não a mereço.

— Os homens dificilmente merecem as mulheres.

— Touché.

Severo parou por um momento, se sentindo sobrecarregado com a emoção de se sentir tão feliz por Draco. Ele tivera muito medo de perdê-lo ao longo da guerra, e vê-lo ali, na sua frente, parecendo tão feliz, tão maduro, era motivo mais do que suficiente para sentir esperança.

— Vocês vão ser bons um para o outro.

Draco assentiu, se reclinando contra o sofá. Eles ficaram vários minutos mergulhados no silêncio.

— E o que você vai fazer em relação a Granger? Foi ela quem me deu o endereço daqui. Disse que você adoraria me ver. — Draco riu, balançando a cabeça. — Grifinórios. E para onde ela vai, você sabe?

Severo inclinou a cabeça, confuso. — Como assim?

— Não é o último dia dela?

Severo tentou mascarar o quanto a perguntara o afetara. — É amanhã, na verdade.

Draco ficou em silêncio, temendo ter dito mais do que deveria. — Bem, ela estava indo embora hoje cedo, quando passei na sua loja.

Severo tentou processar o que Draco acabara de dizer. — Você deve ter se enganado. O último dia dela é amanhã.

Draco franziu a testa. — Não acho que seja o caso, Severo. Ela parecia bem chateada. Tentou esconder, claro, mas Hermione Granger e sutileza nunca combinaram muito bem. O que exatamente aconteceu ontem?

Severo levantou tão rápido que quase derrubou o copo. — Preciso falar com ela.

— Agora? — Draco piscou, confuso.

— Sim, agora.

— Mas, Severo, acho que ela foi embora. Você não escutou o que eu disse?

— Não. Você está errado.

Severo ouviu a própria voz soar estranha no ar entre eles. Ele podia escutar o som do próprio coração batendo rápido, e um zumbido forte e agudo na cabeça. Ele sentiu a sala girar e balançar sob os seus pés.

— Severo? — Draco o segurou pelos ombros, tentando acalmá-lo, mas Severo sequer pareceu escutar.

— Tenho que encontrá-la. — Era a única resolução na sua mente.

— Você não pode aparatar assim, vai estrunchar. Se acalma. Para onde você acha que ela pode ter ido?

— A Valérie. Hermione com certeza disse algo a ela.

Severo pegou a chave do carro às pressas, deixando um Draco confuso parado no meio da sala. — Quem é Valérie?

 — Você vem ou não?

Draco hesitou, ainda parado no meio da sala. — Você realmente consegue dirigir essa coisa sem nos matar no caminho?

— Sim ou não, Draco? Não tenho tempo para isso.

— Tudo bem, tudo bem!

Severo quase o empurrou porta a fora, xingando baixinho quando o ar frio vindo do mar o atingiu. Ele vagamente ouviu Draco falar alguma coisa enquanto voltava até a sala. — Hey, devia ter te encontrado antes. Vai ser divertido.

Severo grunhiu, puxando o casaco com força. Depois, enquanto Draco tagarelava qualquer coisa sobre como a França era infinitas vezes melhor que a Inglaterra, Severo pensou melhor e recuperou o cachecol esquecido no sofá.

...

— Severo, meu amigo! O que faz aqui?

— Bernard, a Valérie está? Preciso falar com ela.

Bernard torceu a boca, entrelaçando as mãos em cima da barriga, onde um avental dizendo “This Shit is Going to Be Delicious” se apertava. — Não acho que seja uma boa ideia, Severo. Ela não está feliz com você, sabe? Talvez seja melhor se-

— Então agora você quer conversar?

Uma mulher furiosa abriu mais a porta com força, e Severo teve um vislumbre de uma variação bizarra de Minerva McGonagall extremamente descontente. E ele não gostava de enfrentar mulheres que ele respeitava quando elas estavam bravas com ele.

— Valérie-

— Você fugiu de mim a semana toda, Severo Snape. Não gosto muito de você nesse momento.

—  Ele está acostumado com isso, senhora. — Draco comentou alegremente atrás dele, e Severo fechou os olhos, irritado.

— Quem é o garoto pomposo com você?

Draco se adiantou. — Draco M- digo, Draco. Só Draco.

Valery recuou, incapaz de se conter.

— Você ia dizer Malfoy?

— Uau — Draco piscou, rindo. — Estou acostumado as pessoas reagindo mal ao nome Malfoy, mas essa...

— Nós não temos tempo para isso. — Severo interrompeu, impaciente. — Valérie, por favor, você sabe para onde ela foi?

Lentamente, Valérie desviou o olhar de Draco de volta para o Severo, deixando claro que aquela conversa ainda não havia acabado. — Então agora isso é relevante? — ela bufou, cruzando os braços. — Honestamente, Severo. Estou muito desapontada. Você tratou aquela garota terrivelmente mal nas últimas semanas.

— Sim, bem. Ela mentiu para mim. A preciosa Hermione Granger, na verdade, é uma grande mentirosa!

— Ela nunca quis estar nesse altar que você a colocou! Acorda, meu querido, Hermione é um ser humano, não uma musa inalcançável e perfeita da droga do romantismo. Ela erra. Eu erro. Você também erra. Mas ela se desculpou. Várias vezes. Você realmente não podia perdoá-la ou era só você sendo um idiota com medo de se machucar de novo?

Os dois travaram olhares furiosos, e Draco sabiamente decidiu que era melhor sair de cena e deixar Severo conversar em paz.  

— Eu vou... esperar no carro. — ele sussurrou, torcendo para que nem reparassem na sua saída.

— Não. — a voz firme e feminina o parou na metade da escada. — Entre e tome um café.

— Não, sério, eu estou-

— Bernard, leva o garoto pra dentro. Nós somos educados aqui, Sr. Malfoy. Podemos ser trouxas, mas ainda servimos um bom café. Isso, claro, se você não estiver com medo de entrar numa casa sem magia?

— Eu- Draco piscou, olhando para o Severo em busca de ajuda. — Não, senhora.

— Ótimo. Bernard, acompanhe o Sr. Malfoy. Severo e eu temos muito o que conversar.

— Não seja muito dura com ele, querida. — Bernard riu enquanto puxava um Draco confuso e chocado pelo braço. Vagamente, Severo pode escutar Bernard comentando sobre a nova receita que ele estava experimentando enquanto Draco tentava acompanhá-lo, provavelmente muito chocado por interagir tão abertamente com um trouxa.

— Valérie, eu só preciso encontrá-la. Sei que fiz besteira. Fui um idiota. Eu entendo agora porque ela não me contou.

Valérie balançou a cabeça, pesarosa. — Por que você faz isso consigo mesmo, meu menino?

Severo enfiou as mãos no bolso do casaco, se curvando para dentro da sua fortaleza. Ele se sentia cru, exposto, tão distante da sua zona de conforto que quase o paralisava. Só que maior do que o seu medo era a sua vontade de encontrar a Hermione, e por ela Severo enfrentaria qualquer coisa. Inclusive, e talvez principalmente, os seus próprios demônios. — O que eu faço agora? Me sinto perdido. A coisa toda me escapa.

— Você já sabe o que vai dizer a ela?

Severo soltou uma risada seca, passando os dedos pelo cabelo que estava úmido pelo sereno. — Não. Pensei algo em torno do: Eu sou um bastardo idiota que te ama muito e sabe que você deveria fazer muito melhor do que estar comigo. Mas mesmo assim, pode me perdoar?

Valerie torceu a boca. — Não é tão ruim. Talvez implorar, ficar de joelhos?

Severo finalmente sorriu, olhando para a Valérie com nada menos que puro carinho. — Se for preciso.

— Senti sua falta, garoto. — Valerie estendeu a mão até o ombro dele, apertando suavemente. — Não fuja assim de novo.

— Não vou. Prometo. Por falar nisso...

Valérie acenou no ar, interrompendo-o. — Nós ainda temos muito o que conversar. Mas outro dia. Agora você tem alguém para encontrar.

Severo assentiu. — Obrigado.

— A propósito, ela te deixou uma coisa.

A Sra. Valérie tirou um pequeno retângulo do bolso, e Severo reconheceu imediatamente a letra de Hermione. Era a mesma carta que a Luna tentara entregar a ele na semana passada. Ele teve que resistir ao impulso de tomá-la rapidamente para si.

— Você sabe onde ela está?

A Sra. Valérie suspirou pesadamente, e assentiu. — Ela disse que voltaria à Grã-Bretanha, e depois partiria para a Austrália.

Severo a olhou com espanto. — Ela contou a você então?

— Brevemente. Ela apenas disse que precisa consertar isso, antes que “ela destruísse mais uma relação”. A pobre garota estava muito magoada.

Severo sentiu um peso terrível no estômago. Era como ser atingido várias vezes por um cruciatus.

— Potter não vai me dar o endereço dos pais dela.

— Você só vai saber se tentar. Além do mais, se ela realmente foi para a Austrália, espere pelo menos um dia. Ela terá uma longa conversa com os pais, mas vai ficar feliz se puder te ver no final de tudo. Para o bem ou para o mal.

Severo assentiu quase imperceptivelmente, traçando rapidamente um plano em sua cabeça. Até que...

— E se ela não me perdoar, Valérie? E se... — Eu estraguei tudo. Se eu a perdi?

— Aquela garota ama você, Severo. Tudo que precisa fazer é tentar.

Nada mais precisava ser dito. A carta em suas mãos queimava para ser lida, mas Severo não queria uma plateia. Valérie pareceu entender isso e, dando um tapinha amigável em suas mãos, o deixou sozinho na varanda.

Severo respirou fundo, sentindo os dedos trêmulos de medo. Por que ele foi tão idiota? Por que ele a deixou escapar em primeiro lugar? Se ele a perdesse, nunca mais se perdoaria.

Querido Severo,

Fiquei horas pensando no que escrever para você, até entender que não havia nada melhor que a verdade. Então...

No dia da Batalha Final, naquela noite terrível, eu sentia que algo estava terrivelmente errado. O que, claro, é absurdo, porque tudo estava errado. Era uma guerra, por Merlin. Vi amigos queridos morrerem, vi crianças ficando órfãs, vi meu melhor amigo caminhando para a morte, temi pelos meus pais mesmo sabendo que os tinha deixado em segurança.

Mas o medo que estava sentindo era diferente. Uma sensação terrível, como se algo fosse esperado de mim. Como se eu precisasse fazer alguma coisa muito específica, e eu não fazia ideia do que era.

Até que... eu te vi morrer. Quando ouvi você caindo, quase comprometi a todos nós. Meu corpo queria ir em sua direção, com tanta força que Harry precisou me segurar. Não sei como não fomos pegos naquele momento, porque mal consegui impedir que a minha magia fluísse.

Severo respirou fundo. A lembrança desse dia ainda o atormentava. Reviver aquela noite era como sentir tudo de novo, mas ver da perspectiva dela tornava tudo um pouco menos opressor porque o acalmava saber que ela estava ali. Saber que tinha alguém ali, por ele. Que ele não estava sozinho como pensava que estivera.

Quando o Harry se ajoelhou para pegar as suas lágrimas, senti tanto medo, tanta fúria, tanta tristeza. Sabia que algo não estava certo em relação a você. Não poderia acabar assim.

Senti algo nos conectando naquele momento, e só meses depois entendi: eu invoquei uma magia de proteção, e isso o manteve vivo até que eu conseguisse voltar e desaparatar com você para o St. Mungus.

Uma magia de proteção. Claro! Fazia todo o sentido, mas então... não fazia nenhum sentido que alguém invocasse uma magia tão poderosa assim por ele. Severo nunca, nem nos seus sonhos mais loucos, podia imaginar que alguém se sentiria assim sobre ele. Nunca. O lado acadêmico dele queria saber mais a respeito, entender os detalhes, mas naquele momento era irrelevante.

Até aquele ponto ninguém além de Harry sabia onde pousava a sua lealdade. Mesmo assim eu fugi com você bem no meio da Batalha. Segui meus instintos, e eles estavam certos. Mas mais do que isso: eu queria proteger você. Eu queria salvá-lo.

Merlin. — Deuses, Hermione. Eu fui um idiota.

Todos os dias, durante oito meses, visitei você em segredo. Só o Harry sabia, embora ele não compreendesse. Mas nós dois lutamos pela sua liberdade. Se você estivesse em condições de falar por si mesmo, sei que teria detestado isso. Mas você ajudou o mundo bruxo, Severo. Era o mínimo que poderíamos fazer por você. Se não contei isso antes, foi porque não queria que se sentisse em dívida comigo. Você não deve nada a ninguém. Não mais. Sua vida é sua, apenas sua, e você merecia fazer o que bem entendesse com ela. Não te dei a sua liberdade, você a conquistou sozinho e por todos esses anos. Achei que deixar você em paz era a maneira de te agradecer por tudo.

 “Você não deve nada a ninguém. Não mais. Sua vida é sua, apenas sua, e você merecia fazer o que bem entendesse com ela.”. 

Severo releu a mesma passagem pelo menos três vezes, porque o tocara tão profundamente que ele mal conseguia respirar. Quando alguém já havia se importado em garantir que ele tivesse uma escolha? Quando alguém já havia feito qualquer coisa para ele sem esperar algo em troca?

 Depois, quando voltei à Hogwarts para terminar o sétimo ano e ajudar na reconstrução da biblioteca, pesquisei exaustivamente sobre a magia que nos uniu naquela noite. Mas antes mesmo de descobrir o que éramos um para o outro eu já o admirava profundamente. Fiquei obcecada. Queria saber tudo sobre você. E quanto mais descobria, quanto mais via os riscos que correra, como deve ter sido aterrorizante viver entre dois mestres... Eu só queria abraçá-lo. Queria ter estado lá com você. Queria que tivesse tido amigos para desabafar. Queria que tudo tivesse sido diferente.

Severo continuou devorando a carta, mas nesse momento ele precisou parar por vários minutos. Sem perceber, ele quase amassou o papel em seus dedos, sentindo os olhos arderem com a percepção de que ela estivera cuidando dele durante todo esse tempo.

Contra todas as probabilidades, você melhorou. Venceu sua própria batalha. Naquele dia, quando falou pela primeira vez, foi a mais feliz e a mais triste das notícias. Fiquei em êxtase por saber que estava definitivamente longe de perigo, mas apavorada por deixá-lo. Sabia que não poderia voltar ou você faria perguntas. Deixei o St. Mungus naquela tarde e não voltei, mas continuei observando-o a distância. Queria ter a certeza de que seria bem tratado até que pudesse ter alta.

E então você deixou o mundo bruxo. Saiu em todos os jornais. Achei que já tivesse superado qualquer amor platônico bobo e absurdo que eu tivesse por você, mas naquele momento doeu. Doeu tanto. Nós nunca entramos em contato por todo aquele tempo, mas saber que pelo menos vivíamos na mesma cidade me fazia sentir estranhamente reconfortada. E quando percebi que você recomeçaria sem mim, sem nem sequer lembrar que eu existia, sem eu poder fazer parte da sua nova história. Merlin, doeu mais que tudo. Mas você precisava partir.

Severo riu, amargo. Ele pensava que ninguém se importaria se ele deixasse aquela casa esquecida por Deus. Quando na verdade... ela sofrera por isso. Como ele poderia imaginar?

E, novamente, tomei a decisão errada — estava ficando uma especialista nelas. Me casei. Porque era o que todos esperavam. Eu estava feliz, não estava? E eu e o Ron... nós tentamos. Mas perder o meu bebê foi de longe a pior coisa que poderia ter vivido. Me culpei por todo esse tempo. Mas isso também me fez perceber que eu precisava tentar antes de seguir em frente. Precisava te contar toda a verdade, ou isso me consumiria, porque sabia que não estava sendo justa com você.

Eu só não estava contando que... bem, ainda amava você. E, Severo, eu amei você. Desde o começo. E tentei muito não amar. Merlin, como tentei. Mas não consegui. É você. Sempre foi. E vai ser para sempre. Não me aproximei de você com um plano pensado. Eu só queria estar perto, tentar entender o que meu coração, teimoso, insistia.

Sinto muito que tenha bagunçado tudo no meio do caminho. Sinto muito ter me apaixonado de novo por você. E pelo homem real, não uma lembrança. Não uma expectativa. Só posso esperar que você me perdoe um dia, e que encontre alguém que mereça o seu amor.

Com todo o meu coração — que é seu,

Hermione.

Severo não saberia dizer quanto tempo ficou ali, parado, com a carta presa entre os dedos. Ele só sabia que sua boca estava seca, e seu coração batia furiosamente dentro do peito. Suas pernas se moveram trêmulas até a balaustrada, onde ele se inclinou, com medo de que pudesse cair a qualquer momento.

— ... tivemos uma boa safra ano passado, com certeza. Mas a desse ano será melhor.

Vagamente, Severo ouviu a voz animada do Sr. Bernard se aproximando e ele rapidamente se recompôs, endireitando a postura e piscando as lágrimas para impedir que caíssem.

— ... adoraria! Minha noiva adora a França, na verdade. Ela vai adorar conhecer a vila.

— Não deixe de vir! Ficaremos muito felizes. Não é, querida?

Quando eles finalmente chegaram até a porta, Severo se virou, levemente confuso por ver que em apenas 20 minutos Draco já estava completamente íntimo da família. Ele parecia leve e feliz, tão diferente do menino que ele fora em Hogwarts que seu coração se encheu de orgulho por ver o homem que se tornara.

— Draco, nós temos que ir. Vou voltar com você para a Inglaterra.

— Inglaterra? — Bernard perguntou, levemente confuso.

— Preciso encontrar alguém que sabe onde Hermione está.

Bernard sorriu. — Muito bem, Severo! Vá pegar a sua garota. Draco, garoto, foi um grande prazer. Volte quando quiser! Meu filho mais velho conhece as melhores propriedades da região.

Severo levantou a sobrancelha. — O que eu perdi?

Draco virou para ele, os olhos brilhando, e dessa vez se parecendo bastante com o menino que ele fora um dia, mas sem a malícia habitual. Havia só o mais puro contentamento.

— Severo, o que acha de sermos vizinhos?

Severo parou por um momento, olhando para o semblante animado de Bernard, e depois para a expressão maliciosa da Valérie, e murmurou a única coisa que poderia. — Merde.

...

— Sei o que merde significa, sabe. — Draco comentou depois de um tempo, depois que a chave de portal os deixou em segurança nos terrenos da nova propriedade Malfoy. Severo não conhecia o lugar, e olhou ao redor. Parecia estranhamente... caseiro. Como um lar. Tão diferente da antiga mansão que ele exalou o ar que estava segurando. Ele não suportaria voltar para aquele lugar terrível.

— Você quer um elogio por saber o básico de uma língua latina? Que é a base de praticamente todo e qualquer feitiço que o bruxo usa há séculos?

Draco revirou os olhos. — Eu realmente gostei do lugar. Não moraríamos sempre, claro, mas seria legal passar as férias.

Severo suspirou. — Passei muitos anos sozinho, Draco, e nunca fui muito bom em socializar.

— O eufemismo do século. — Draco bufou, divertido.

— Muito engraçado. De toda forma, não seria... tão terrível ter você por perto.

— Uau.

— Se alguém perguntar, nunca disse isso.

— Bem, fico feliz então que não será “tão terrível” para você. Vai ser legal ter um pequeno Malfoy correndo pela praia no verão.

Draco quase murmurou a última parte, mas isso fez Severo parar totalmente. — O que disse?

Malfoy apenas sorriu, colocando as mãos no bolso do casaco. — Astoria e eu estamos esperando.

— Draco, isso é... É ótimo.

— Obrigado. É importante para mim ouvir isso.

— Vai ser um menino de sorte.

Draco bufou, balançando a cabeça. Ele chutou uma pedra minúscula no chão, evitando o escrutínio do seu padrinho. — Não sei nada sobre isso. Mas vou dar o meu melhor.

Severo o olhou intensamente, falando com toda a certeza. — É o suficiente. O garoto já tem nome?

Ele sorriu, acenando. — Vai se chamar Septimus. Septimus Malfoy.

Severo o olhou levemente chocado. — Como?

— O quê?

— É horrível. Esse nome é horrível. Merlin, Draco, não traumatize a criança assim.

— Tudo bem! Nossa, não precisa ser tão enfático. Temos uma segunda opção, de qualquer maneira.

Severo assentiu. — Bom. Vai ser um garoto de sorte se você não traumatizá-lo com um nome terrível antes.

Draco riu. — Não seja tão idiota. Eu estava gostando de você nas últimas duas horas. Agora vai, você precisa encontrar o Potter. E boa sorte com isso, aliás. Ele não deve estar feliz com você.

Severo suspirou, massageando a testa. Ele não estaria, de fato. E por uma estranha ironia do destino, a opinião do garoto era importante para ele agora, porque era importante para a Hermione.

— E já que vai voltar ao Mundo Bruxo, poderia jantar comigo e Astoria em algum momento.

Severo assentiu, tocado pelo convite. — Eu vou. E a propósito, qual a segunda opção?

Draco franziu levemente a testa.

— Do nome. Qual a segunda opção?

— Oh! – ele exclamou, e depois, com orgulho, gritou enquanto Severo pegava a varinha para aparatar. — É Scorpius. Scorpius Malfoy.

Severo ficou parado por alguns segundos para entender se valia a pena ou não comentar. Depois, pensando melhor, ele simplesmente assentiu e desaparatou, pensando divertido que seria uma geração de crianças com nomes muito terríveis, de fato.

...

Hermione sentiu a areia macia sob os seus pés e respirou profundamente o ar marítimo. Ainda era cedo, e o sol estava só começando a aparecer no horizonte, então o vento passava por ela em ondas suaves, refrescantes, mas não o suficiente para impedir que o calor começasse a se infiltrar na sua pele.

Ela estava há quase 48 horas sem dormir, e o seu corpo estava cobrando o preço por isso. Mas depois que ela deixara a França, despedaçada demais para permanecer mais um segundo que fosse na vila, ela apenas partira para A Toca para tentar entender qual seria o seu próximo passo. E era óbvio: conversar com os seus pais. Ela estava exausta, e seria difícil conseguir uma chave de portal tão em cima da hora, mas Hermione não queria esperar nem mais um segundo para acertar a sua vida.

Harry e Gina tentaram acalmá-la, claro. Convencê-la de que ela precisava descansar e pensar com calma. Mas ela não podia. Porque ela já havia esperado tempo demais. Tempo demais adiando a verdade. E isso a custara muito. Custara principalmente o seu relacionamento com o Severo.

Ela o magoara profundamente, e entendia isso. Ao mesmo tempo, ela não sabia como podia ter feito diferente. A verdade era sempre o melhor caminho, mas estar tão perto dele, tendo a chance de conhecê-lo num nível que jamais ousara esperar, foi muito tentador. Nublara qualquer bom senso. E pensar nele, nos braços dele a envolvendo, segurando-a protetoramente contra si, aquecendo-a nas noites frias do início de janeiro... Era como se alguém estivesse pegando o seu coração e o apertando com as mãos. A falta dele doía fisicamente.

O som de uma onda quebrando na praia a despertou, e ela inspirou mais uma vez antes de sentar na areia e fechar os olhos. Seus pensamentos correram livremente. Ela não podia fingir que eles não estavam ali, então Hermione deixou ir.

A conversa com os seus pais fora difícil. Foram longas três horas de conversas e verdades dolorosas, mas no fim foi como se um enorme peso tivesse sido tirado das suas costas. Foi o melhor e o pior dia, porque a verdade doía, mas era capaz de fazê-la respirar novamente. Hermione só desejava que... bem, que ele estivesse aqui. Para apresentá-lo aos seus pais, para conhecer Sidney, para caminhar na praia de mãos dadas.

O que ela faria agora?

Se ao menos...

— Posso ouvir os seus pensamentos daqui.

A respiração de Hermione engatou. Seu coração bateu furiosamente dentro do seu peito. Ela realmente tinha escutado isso, ou estava finalmente enlouquecendo? Devagar, tão devagar que ela quase poderia ver o tempo se movendo infinitesimalmente ao redor dela, Hermione olhou para trás.

E lá estava ele. Aquele homem impossível. Poderoso. Bonito. Sensível. Tão sensível, tão amoroso, tão leal. Parado bem atrás dela, num contraste estranho do preto com as cores quentes da aurora e o branco ofuscante da areia.

E então...

— Severo? Eu- ela não sabia o que falar quando ele estendeu a mão para que ela segurasse. Por vários segundos Hermione ficou completamente imóvel, sem saber o que fazer, até que ele tirou a mão para se ajoelhar na frente dela.

Os olhos dela correram pelo rosto dele, captando os olhos vermelhos, igualmente exaustos como os dela, as marcas do tempo em seu rosto, a barba por fazer, e o cabelo escuro como a noite um pouco bagunçado pela brisa fresca e leve da manhã.

— Você não é real. — ela sussurrou, sentindo a garganta arder. Ela não suportaria acordar por mais um dia e perceber que ele não estava realmente ali.

— Hermione. — ele suspirou, segurando o rosto dela com as mãos grandes e calejadas. Hermione não aguentou. Seus olhos tremeram e ela soltou o choro que estava segurando nos últimos quatro dias. Quatro longos e infernais dias. — Estou aqui. Eu prometo.

— Eu — ela piscou, sem saber o que dizer. Ela queria pular no colo dele, abraçá-lo, beijá-lo até sentir seus lábios dormentes. Mas-

— Severo, me descul-

— Não — ele a silenciou suavemente a ponta dos dedos, e Hermione soluçou. — Não diga nada. Fui um idiota.

— Não, Severo, eu menti para você. Por favor, me perdoe.

— Perdoar? Hermione, você salvou a minha vida. E tudo que fiz nas últimas semanas foi tratá-la da pior maneira possível. É você quem deve me perdoar. Por favor, me desculpe por ser um idiota.

Ela balançou a cabeça com força, se ajoelhando para ficar frente a frente com ele. § Eu entendo que tenha ficado bravo. Não deveria ter escondido isso de você. Severo, eu te amo. Os últimos dias-

— Foram infernais. Senti tanto a sua falta que dói. O que você fez comigo, pequena feiticeira?

Hermione riu e chorou, encostando a testa na dele. — O mesmo que fez comigo, Severo.

— Não me deixe de novo. Fique comigo, more comigo. Divida a vida comigo, Hermione. Uma vida sem você é como caminhar sem uma parte do meu coração. É vazio, triste. É só uma meia vida.

— Não vou. Eu prometo.

— Bom. Eu amo você. Merlin me ajude, eu amo. — Severo beijou as suas lágrimas, depois, carinhosamente, beijou as suas pálpebras fechadas, e o gesto fez Hermione chorar ainda mais. Ela sentia tanta falta dele...

— Estou uma bagunça. — ela murmurou contra o pescoço dele, e Severo riu.

— Você precisa descansar.

— Não. Eu não quero ficar longe de você. Por favor, Severo, eu-

— Não vou embora, Hermione. Mas você realmente precisa dormir um pouco. Conversamos quando acordar.

— Vem comigo. — ela deslizou a mão pela dele, entrelaçando os dedos, com medo de que se não fizesse isso ele pudesse simplesmente escapar dela como uma lembrança.

— Hermione, os seus pais-

— Eles já sabem sobre você. — Hermione o cortou suavemente, e Severo franziu a testa, espantado.

— Entendo. Você finalmente conseguiu contar tudo a eles, presumo.

Hermione assentiu. — Sem mais segredos.

Sua resolução estava implícita, e Severo sorriu, colocando um cacho perdido para trás da orelha. — Sem mais segredos. Prazer, eu sou Severo Snape. Já fui um Comensal da Morte, servi a dois mestres, matei Alvo Dumbledore e, não fosse por uma jovem bruxa irritantemente obstinada, teria sido morto durante a Batalha Final. Essa jovem e brilhante bruxa acabou me salvando de mais maneiras do que posso realmente contar, e estou profundamente apaixonado por ela — mesmo sabendo que ela poderia fazer muito melhor do que ficar com um homem velho e amargo como eu.

Hermione deu um sorriso triste enquanto tocava o rosto dele suavemente. — E eu sou Hermione Granger, membro do Trio de Ouro, ou a irritante sabe-tudo para alguns — ela piscou para ele, e Severo revirou os olhos, soltando um bufo divertido —, futura medibruxa, e atualmente muito irremediavelmente apaixonada por um mago escuro e terrivelmente sexy que mora numa vila trouxa francesa.

Severo a puxou para perto, sem aguentar esperar mais, e a beijou profundamente. — Como eu senti sua falta. — ele disse depois de um momento, apertando-a com força contra si.

Hermione tentou dizer o quanto sentira a sua falta de volta, mas o seu peito se apertou, e as lágrimas transbordaram em seus olhos. Desejando que Severo não pudesse ver o seu colapso, ela enterrou o rosto em seu pescoço, tentando conter um soluço.

— Hermione — ele a chamou, mas Hermione se recusou a olhar para cima. — Hermione, meu amor. Olha para mim.

Virando o rosto choroso para Severo, Hermione foi embalada pelo carinho profundo em seu olhar. — Estou aqui agora, e não vou embora sem você — a menos, claro, que você me diga.

— Nunca. Por favor, venha para casa comigo.

Severo suspirou. — Não quero me separar de você, mas não gostaria de conhecer os seus pais assim. Não ficaria confortável.

Hermione mordeu o lábio inferior. — Eles não vão se importar. Severo, por favor.

Ele ponderou um pouco, mesmo sabendo que jamais poderia dizer não a ela. — Tudo bem. Mas só porque você é muito teimosa e quero que descanse.

Ela sorriu, mas de repente, como se todas as células do seu corpo estivessem liberando pouco a pouco o estresse, ela sentiu o cansaço mais profundo invadi-la. — Vem, vamos te levar para casa.

Severo a puxou suavemente para o lado, passando o braço esquerdo pelas suas costas enquanto caminhavam pela praia. Hermione finalmente sentiu que podia respirar de novo, e suspirou satisfeita o perfume que era só dele. Ela já estava em casa.

...

Hermione acordou sem saber onde estava. Ela sonhara com ele — de novo, e perceber isso fez seu coração arder. Doía. O sonho fora tão real e-

— Hermione? — a voz rouca a alcançou, e ela se virou lentamente, piscando os olhos. Havia uma luz morna no quarto, indicando que o sol já estava se pondo, e isso só a deixou mais confusa.

— Está tudo bem?

De repente, ela começou a chorar. Não tinha sido um sonho, afinal. — Graças a Merlin!

— O que-

Ele tentou perguntar o que havia de errado, mas foi sufocado pelo cabelo dela quando Hermione o abraçou com força. — Achei que tinha sonhado de novo. É um sonho horrível que tenho tido em que nós somos casados, felizes, e então eu acordo e não é você ao meu lado. É o Ron. E no sonho você — ela engoliu um soluço — está morto. E acordar e realmente não ter você ao meu lado...

Severo devolveu o abraço, apertando-a contra si, enquanto acariciava o cabelo dela, murmurando palavras doces para acalmá-la — ou acalmar o seu próprio coração, ele não sabia. — Estou aqui, pequena feiticeira. Você não está sonhando. Estou aqui.

Eles ficaram assim por vários minutos, até que Hermione finalmente o soltou para olhar para ele. — A quanto tempo estou dormindo?

— Já está quase anoitecendo. Você precisava descansar.

Ela assentiu, e Severo passou o polegar pela bochecha dela, limpando uma lágrima.

— Eu sou um idiota. Não queria fazê-la sofrer. Sinto muito. Sinto-

— Severo, não. Eu entendo. Vamos só seguir em frente agora. Por favor.

Ele suspirou, assentindo. Não valia a pena reviver tudo que passaram nas últimas semanas agora. — Meus pais sabem que você está aqui?

Os olhos dele brilharam, e ele se remexeu desconfortável na cama. — Não exatamente.

Hermione levantou o torso, apoiando a cabeça na mão esquerda. — Como assim?

— Bem — ele começou, limpando a garganta —, disse a eles que estava hospedado num hotel, mas aparatei direto no seu quarto. Não queria deixá-la.

— Você está dizendo que se esquivou até o meu quarto como um adolescente? — Hermione perguntou, rindo, e Severo rapidamente lançou um Muffiato.

— Se você quiser eu posso ir e-

— Não se atreva, Severo Snape. — ela o puxou pelo casaco, e o movimento fez com que ele ficasse em cima dela. Ela não tinha intenção de provocá-lo, mas os seus corpos se encaixaram com tanta perfeição que Hermione ofegou, qualquer piada se perdendo no espaço infinitesimal das suas bocas.

— Senti a sua falta. — ele murmurou, fechando os olhos, e Hermione observou fascinada enquanto o homem em cima dela se desfalecia pela primeira vez desde que chegara. Ele estava sendo forte por ela, mas as emoções das últimas semanas finalmente o alcançaram.

Ela tocou a bochecha dele com a ponta dos dedos, sentindo a pele áspera da barba por fazer, e o puxou para um beijo suave nos lábios. — Nós estamos aqui agora, amor. Não vou a lugar nenhum.

— Tive tanto medo de te perder. Hermione, a sua carta- eu... deuses, queria ter lido antes. Fui tão teimoso.

— Então você leu?

Severo assentiu, deitando de lado para não forçar o peso sobre ela. — Sim. Ontem. Algumas horas depois que saiu da vila. Valérie me entregou.

— Como você sabia onde eu estava? Não lembro de ter dito a ela o endereço daqui.

Severo desviou os olhos, hesitante. — Ela não sabia.

Hermione franziu a testa. — Então como...

Severo deu a ela um longo olhar. — Oh. Harry? Você foi até a Inglaterra só para perguntar para ele onde eu estava?

— Claro que sim. Acho que eu poderia ter te encontrado de outras maneiras, mas não queria esperar mais tempo. Ele era o caminho óbvio.

Hermione suspirou, chocada demais para falar. — E como foi?

— Ele não esperava me ver do outro lado da porta, garanto a você. O que me deu alguma vantagem para começar a falar antes que ele me expulsasse.

Hermione fez uma careta. — Sinto muito. Não queria que tivesse passado por isso.

— Você ainda não entendeu, Hermione? Eu iria até o fim do mundo por você. Estava fora de mim, eu precisava vê-la. Nem que fosse para gritar comigo e dizer para deixá-la em paz. Eu só precisava vê-la.

— Achei que tivesse te perdido naquele dia. Na Casa dos Gritos.

Severo franziu a testa. — Ainda me confunde porque você voltaria para me salvar. Eu li a carta, mas ainda assim não entendo. Por mais que a magia do nosso vínculo tenha me protegido, por mais que a sua magia tenha me mantido salvo, eu ainda era um assassino.

Hermione balançou a cabeça, tentando fazer com que ele entendesse. — Eu mal te conhecia. Quer dizer, você era apenas o meu professor. E entre nós, você não gostava muito de mim.

Severo deu um pequeno sorriso, revirando os olhos. — Em minha defesa, Hermione, eu não gostava de ninguém naquela época.

Hermione riu. — Justo. E eu era uma criança bem irritante, eu sei. De toda forma, quando ouvi o seu corpo caindo... não sei, doeu como o inferno. Porque eu queria ao menos a chance de te fazer feliz. E depois, no hospital, durante aqueles meses, enquanto você estava meio que desistindo de viver, parecia que meu coração estava sendo arrancado. Meu coração estava partindo sem nem ter tido a chance de amar você.

Severo engoliu em seco. — Hermione.

— E então eu prometi que se você vivesse te pouparia do fardo de me ter como uma obrigação. Queria que você fosse livre para fazer o que quisesse. Para amar quem o seu coração escolhesse.  Agora percebo que posso ter sido condescendente. Quis tanto te dar uma escolha que acabei te privando dela. Não posso expressar o quanto sinto por isso.

— Hermione, não. — ele a silenciou com os dedos, urgente. — Por favor, esqueça isso.

— Amo você. — era a única coisa que Hermione conseguia dizer enquanto a sua garganta se apertava. E era a verdade.

— E eu amo você. De todo o coração. Um coração cansado e quebrado, sim, mas ele é seu.

— Todos os pedacinhos? — Hermione sorriu, sentindo os olhos arderem com a intensidade do momento.

— Todos os pedacinhos. E se você me aceitar eu- ele hesitou. Por mais que ele estivesse sonhando com isso, nunca imaginou que teria realmente a chance de fazer. E não daquele jeito. Mas ele não pode evitar.

Hermione apenas o olhou com espanto, a realização rastejando lentamente sobre ela.

— Hermione, você-

— Merlin, isso é... Severo, você está propondo?

Ele suspirou falsamente. — Estou tentando, mas claro que você tem que me interromper.

Hermione riu alto, empurrando-o de brincadeira enquanto se ajoelhava no colchão. E então, sem dizer uma palavra, ele se levantou e a puxou suavemente para fora da cama. E bem ali, no meio de um quarto na Austrália, Severo Snape se ajoelhou.

— Eu ardo por você, Hermione Granger. Com tudo o que eu sou. Com tudo que eu tenho. Pertenço a você. Meus pensamentos são seus. Você me salvou naquela noite terrível, e depois quando apareceu na vila, me forçando a ver que tudo aquilo que eu desejava ainda estava aqui, embaixo da minha pele, implorando para sair.

Hermione soluçou, chorando, enquanto aquele homem maravilhoso estava ali, de joelhos, se declarando para ela. E então...

— Você, Hermione Granger, aceita se casar comigo? Aceita esse homem idiota, ranzinza e mal-humorado, mas que te ama, como seu marido?

O coração de Hermione batia tão rápido que ela achou que pudesse desmaiar. Ela tinha certeza que parecia uma bagunça com o rosto inchado de tanto chorar, as olheiras das várias noites sem dormir, o velho pijama que ela lembrava vagamente de ter colocado antes de apagar completamente, mas... ela não conseguia se importar, porque naquele momento ela se sentia a mulher mais sortuda do mundo.

E quando ela finalmente conseguiu abrir a boca para formar qualquer coisa coerente, só havia espaço para um retumbante “sim”.

— Sim. Sim, eu aceito! Sim, sim, sim!

Ela o abraçou com tanta força que Severo quase se desequilibrou, rindo profundamente enquanto ela dava vários beijos pelo seu rosto. Hermione sentiu em seus lábios o gosto salgado de uma única lágrima que Severo não conseguiu esconder. Não conseguiu ou não se importava. Porque naquele momento, eles eram um só. E não havia nada que eles não pudessem enfrentar juntos a partir de então.

Era, finalmente, um Recomeço.

...


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Notas finais do capítulo

AAAAAAA é isso, pessoal! Espero que tenham gostado. Beijos beijos e até o Epílogo!



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