Geisterfahrer - a Menina do Tempo escrita por seethehalo


Capítulo 17
Trás de Mí


Notas iniciais do capítulo

Sem notas. TH vem pro Brasil e há cerca de uma hora fui informada de que só tinha um ingresso para Pista Premium. A essa hora não tem mais nenhum.
Eu tô desesperada. Surtando.
Nem sei se vou conseguir digitar o capítulo 18 até sexta, porque esse eu acabei agorinha pra postar.



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Tenho um ticket sem volta

E um monte de sonhos dentro de uma mal

Um adeus aos meus pais,

Muito medo e desejo de viver

Trás de Mí - RBD

*-*-*-*-*

     - O que você tem, Bill? Tá tudo bem? Você tá tremendo.

Gelei. Será que ela percebeu alguma coisa, será que eu tô dando bandeira? Impossível evitar a neurose. Inventei uma desculpa rápida:

     - É... só um pouco de frio. Não liga.

     - Põe uma blusa.

     - Não precisa. Além do mais, se eu sujar alguma blusa com tintura, mamis me mata.

     Ela deu de ombros e voltou a olhar pro nada. Suspirei. Fiquei batucando no mármore da bancada a fim de fazer o tempo passar mais depressa, mas só fiquei mais nervoso.

     Deixei a Mari plantada no quarto e fui à cozinha. Pus uma colher de açúcar num copo d’água, mexi e tomei. O relógio da parede informava que estava perto da hora em que a mamis chega. Acalmei um pouco e voltei, o tempo de espera havia terminado.

     Primeiro enxagüei a parte que tinha pintado, depois retirei o filme plástico e lavei o cabelo todo. Mais silêncio... Apressei um pouco o processo para poder falar alguma coisa.

     - Pronto – falei enrolando uma toalha na cabeça dela -, agora só falta secar. Tem o secador da minha mãe, mas eu não sei secar cabelo...

     - Então o Sr. Perfeito também tem um segredo mortal? – ela brincou – Pode deixar, secar cabelo eu sei. Pelo menos isso, né?

     - É. Vou pegar o secador, já volto.

     Num minuto, fui e voltei do quarto da mamis. Mais dez e Mari já estava com os cabelos secos e naturalmente arrumados. Só a ajudei a colocar a franja no lugar com um pouco de spray e...

     - Voilá! Tá pronto! – ela disse.

     Me afastei um pouco para conferir o resultado. Só faltou babar.

     - Mari, você... tá linda.

     - Er... Obrigada, Bill. Mas foi obra sua, lembra?

     - Pois é, né? Tinha que ser arte minha!

     - Ui, como é modesto... Mas valeu mesmo, eu adorei.

     - Quê isso, disponha. Cadê o Tom? TOOOOOM!

     - Que foi, Bill? – eu irmão apareceu na porta.

     - Olha minha obra-prima. – mostrei as madeixas da nossa amiga.

     - Uhull, cabelo legal, Maria. Foi tu que fez isso, Bill?

     - Aham! – respondi com um sorriso de falsa modéstia.

     - Ficou legal. Gostei.

     - Obrigadinha! – ela disse.

     Tom me perguntou silenciosamente se eu tinha falado alguma coisa, e do mesmo jeito respondi que não e que não pretendia fazer isso tão cedo. Então fomos os três pra sala, esperar a mamis chegar em casa.

     BILL OFF

     Também não entramos na escola na semana seguinte. Mas dessa vez foi de propósito. Comunicamos o nosso problema a D. Silvíe e D. Simone, que foram resolver com a direção da escola. Por causa da união com que enfrentaram o caso, as duas se tornaram amigas – e conseguimos o apoio das autoridades da escola: dali em diante, só seríamos barrados na entrada em caso de atraso.

     Voltamos a freqüentar normalmente na segunda, 19 de abril Segunda-feira... O dia mais inútil da semana.

     O fim do ano letivo corria tranquilo. Passou abril, passou maio, passou a metade de junho. O povo se animava com a nova festa que seria organizada, e eu já decidi que não ponho os pés nem que me arrastem. Bill e Tom foram da mesma opinião. Esta é a última semana de aula e a tal festa será no dia 2, sexta da semana que vem.

     Aqui a coisa é monótona, sempre em fim de semestre tem festa, começo de ano letivo também... E o pior é que tudo é planejado com uma antecedência que chega a irritar: essa do começo do ano, por exemplo, já está sendo comentada por aí, e dizem que vai ser em dia de aula. Quem sabe nessa eu compareça... Vontade eu não tenho muita, mas vai fazer o quê.

     - Escolhemos uma pessoa dessa sala para fazer uma apresentação na festa de início de ano letivo – explicava a profª Gies. – E essa pessoa é a Maria Albuquerque.

     Meu cotovelo escorregou do canto da mesa quando ouvi o meu nome. Que história é essa?!

- Como assim, eu? – protestei – Não me candidatei a nada, nem sei se venho a essa festa; além do mais, vou apresentar o quê? A única coisa que eu sei fazer é dobradura!

     - Desculpe, não fui eu que tomei essa decisão. Só estou encarregada de dar o recado.

     - Mas como assim no último dia de aula me avisam que eu vou ter que fazer alguma coisa sendo que EU não me dispus? Hein? Coloquem outra pessoa, olha quanta gente tem nessa escola!

     - Ih, tá com medinho de pagar mico, Maria? – Sabine se intrometeu.

     - Você cala a boca, que a conversa não chegou no pasto. Mas e aí, não tem como? Eu não quero isso!

     - Não tem. Sinto muito.

     Abaixei a cabeça, sem reação. Vou ter que inventar alguma coisa.

     A aula de Ciências seria vaga, então nos liberaram no fim da de História. Não, eu não sabia e não tinha a menor ideia do que fazer. Tom e eu encontramos o Bill nos armários e fomos os três pra casa. Tom tratou de contar a “novidade” ao irmão, que desfez a feição de euforia ao olhar pra mim.

     - Por que essa cara, Mari?

     - Porque eu não sei fazer nada! Necas, bulhufas, patavinas! Eu não quero isso!

     - Posso dar uma sugestão?

     Dei de ombros.

     - Canta uma música.

     - Bill, imagina um barulho de taquara rachada. Imaginou? Sou eu cantando.

     - Eu te ensino. Cantar é treino. E temos as férias todas pela frente pra começar.

     - Tem certeza de que é uma boa ideia?

     - Confia em mim. Se eu não puder fazer um milagre, te ajudo na hora.

     - Ai, Bill, você não presta pra nada!

     Esse guri é especialista em me fazer dar risada. Mas mesmo assim, não fiquei nem um pouco aliviada pelo que teria que passar. Tudo isso somado ao fato de que eu detesto ser o centro das atenções.

     Anyway, passei a maior parte das férias tendo “aulas” com os gêmeos, pra poder cantar alguma coisa que preste e não passar fiasco na frente de todo mundo.

     Bill passou o mês inteiro dizendo que eu não canto mal coisa nenhuma, e o Tom dava força; quase me convenceram. Mas chegou agosto e eu ainda não sei que raio de música eu canto nessa droga de festa.

     Meu aniversário tá chegando, é. 15 anos. As meninas lá da escola estavam esperando que eu, assim como elas, fizesse uma superprodução pra comemorar. Até já perdi a conta de quantos convites para festas de 15 anos eu já recebi esse ano, mas só fui em quatro, as de Hana, Gabi, Monica e Isabel. Eu não quero saber de festa. Se não quis na minha vida de verdade, por que ia querer na vida de mentirinha? Fora que eu não tenho dinheiro pra gastar com isso, meus pais não existem e... ontem fez um ano que eu vivo clandestina.

     Um ano! Tinha até esquecido. Se duvidar, eu me acomodei tanto que olvidei completamente que eu não existo. Perdida nesses pensamentos, nem notei o Tom entrando no meu quarto.

     - Maria? – ele chamou.

     - Oi, Tom. Nem tinha te visto aí. Cadê o Bill?

     - Castigo. Ele foi testar ontem os dotes culinários que ele não tem e incendiou a cozinha. Minha mãe falou que ele não vai poder sair de casa até domingo.

     Não resisti à risada ao imaginar a cena.

     - Mas o que ele queria fazer na cozinha?

     - Eu vou saber! Eu tava quieto no quarto tocando a última música que a gente escreveu.

     - Coitado. E você, o que te traz aqui?

     - Quero saber novidades sobre a festa.

     - Que festa?

     - A sua. Teu aniversário não é na semana que vem?

     - É, mas eu não vou fazer festa nenhuma.

     - Por que não?

     Abri os dedos um por um enquanto explicava as razões:

     - Primeiro: estou a milhares de quilômetros da minha casa. Segundo: aqui não tem absolutamente ninguém da minha família pra convidar. Terceiro: não vou pagar a cínica convidando a metade da escola sendo que eu mal falo com o povo da sala. Quarto: não tem o que fazer, nem o que tocar. E por último, mas não menos importante; eu acho festa de quinze anos uma futilidade e não tenho grana pra gastar, quanto mais pra desperdiçar com uma coisa besta dessas.

     - Beleza, né... Foi o Bill que mandou perguntar. Quê isso aqui? – ele perguntou pegando um pequeno controle remoto branco que estava sobre o criado-mudo.

     - Nããão, não mexa nisso! Solta essa coisa, o que isso tá fazendo aí?

     - Calma, já soltei, não pego mais – ele disse colocando o objeto de volta no lugar. – Mas Maria, aproveitando que você tocou no assunto, me responde uma curiosidade? E a sua família? Por que você nunca fala dos seus?

     A pergunta fez passar um filme na minha cabeça. Na verdade, um filme ao contrário, que começava com os fatos mais recentes do meu ano de “não-existência” e terminava com as primeiras desgraças de que eu consigo me lembrar a respeito da minha tragédia pessoal. Essa filosofia me fez responder com o silêncio à pergunta de Tom, que insistiu:

     - Maria? Tá aí?

     Ergui a cabeça e pousei o olhar no fundo dos olhos dele. Tentei inventar alguma desculpa, mas o coração não deixou a boca cumprir a ordem do cérebro e tudo o que consegui dizer foi:

     - Não... Eu não vou conseguir mentir pra você, Tom. Eu não posso.


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Notas finais do capítulo

Rezem por mim, só vou poder comprar meu ingresso amanhã. Isso SE a minha mãe tiver compaixão dessa pobre criatura e me ceder um cartão de crédito.



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