Geisterfahrer - a Menina do Tempo escrita por seethehalo


Capítulo 16
Mobile


Notas iniciais do capítulo

Preciso levar a sério a ideia de "a primeira coisa que vou fazer quando ligar o pc à tarde é postar a fic".
Olha que horas são.

Well, enjoy



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Pendurado no teto

A vida é como um móvel

Girando com os sentimentos misturados

Loucos e selvagens

Às vezes eu quero gritar alto!

Mobile - Avril Lavigne

*-*-*-*-*

     O jeito que ela disse a última frase me deu medo. Bom, depois do almoço, lavamos a louça, a Mari foi pra casa dela e mamis nos chamou à sala.

     - Amores – ela começou -, tenho notado que vocês andam se afastando. Eu não vou perguntar por que causa; porque eu sei a partir de conversas que tive com os dois. Sim, vou abrir o jogo. Tom saberá o que o Bill me disse e Bill saberá o que foi dito pelo Tom. Alguém quer dizer mais algo antes que eu comece?

     Balancei a cabeça negativamente. Tom disso:   

 -Só quero pedir pro Bill não me bater.

     - Tá. Vou começar pelo Tom porque acho que são revelações mais leves. – pausa. – Seguinte. Tom me falou que aquele namoro com a Maria era falso.

     - Ah, sabia! – eu disse.

     - Quieto, Bill. Nenhuma palavra até eu terminar.

     Assenti com a cabeça e ela prosseguiu:

     - A razão disso teria sido uma vingança por causa de uma armação de uma outra menina, com quem vocês dois ficaram.

     - M-mãe... – interrompi. – Pode... pode pular essa parte. Sem querer, eu ouvi um pedaço dessa conversa.

     - Ok, não vou recriminar ninguém. O que eu acho disso? Digo, de fingir namoro por vingança. Tom, você e a Maria tomaram as dores do Bill. De que adiantou fingir pra ela que os dois estavam bem, se o Bill aqui, que era o alvo da armação da dita-cuja, continuou com uma mão na frente e outra atrás?

     - Nada. – Tom disse.

     - Então. Foi uma batalha inútil, certo? Mas continuando, Tom, você sabia que essa sua brincadeirinha afetou o Bill de um jeito mais sério?

     Engoli em seco quando percebi que a minha parte seria revelada. Tom negou com a cabeça e mamãe tornou a falar:

     - No mesmo dia em que você me falou todas essas coisas, Tom, só que um pouco antes, o Bill me disse algo muito sério. – senti minhas bochechas arderem. – Me falou que você não podia saber de jeito nenhum, por achar que você ia enloucar pelo fato de a Maria ser sua ex. Isso um mês atrás. Bill disse com todas as letras que estava apaixonado por ela. Primeiro eu quero saber de você, Bill. Ainda sente isso ou já passou?

     - Queria dizer que já passou, mãe, mas não. Meu coração ainda bate forte, ainda sinto isso. – eu disse com a cabeça baixa.

     - Você tem algo a declarar, Tom?

     - Aham. Er... Bill, tem um tempão que eu desconfiava disso, que você gostava dela... Mas não inventei esse pseudo-namoro por causa disso. E mãe, não fui eu quem tomou as dores do Bill. Eu realmente estava puto de raiva pelo fato de aquela vadia ter me usado, mas pra Maria até então ela não tinha feito nada. Ela é que tomou as suas dores, mano, você precisava ver a cólera que ela estava. Isso depois do fato de que vocês dois tinham acabado de discutir. Eu só propus o plano, ela aceitou sem nem mesmo saber o que era. Mas se eu soubesse que você gostava dela, nunca teria inventado essa história. Foi mal. Se você tivesse me contado...

     - Não ia dar em nada, Tom – interrompi. – Vocês já tinham parado de fingir quando eu comecei a gostar dela.

     - Tá. Mas isso não faz com que eu me sinta menos culpado.

     - Não se culpe, Tom. Lembra que a gente prometeu não brigar mais por bobagem? Então. Agora eu é que não me culpo mais, porque você não vai querer cair me matando por eu gostar da sua pseudo-ex!

     - É.

     Nós três rimos, e mamãe completou:

     - Bom, consegui resolver vocês dois. Mas não se acostumem, vocês é que deviam fazer isso sozinhos.

     - Tá, mãe. A gente vai tentar. – eu disse.

     - Bom, vou indo senão chego atrasado. Tchau, filhotes – mamis despediu-se de nós dando um beijo em nossas testas.

     Alguns minutos depois de ela ter saído, chamei o Tom:

     - Tom! Me ajuda com isso! Terminei a letra que eu tava escrevendo de manhã...

     - E você quer que eu escreva a música?

     - Sim e não. Por que a gente não faz isso junto, pelo menos uma vez na vida?

     - É... Deixa eu ver a letra, então. – ele pegou o papel, leu o que eu tinha escrito e declarou: - Se eu fosse mulher e não fosse seu irmão eu ia querer casar com você.

     - Eu hein, Tom! Tô te estranhando! – fiz uma careta. – Por quê?

     - Olha isso aqui, Bill. Vou arriscar um palpite e dizer que você escreveu essa música pra Maria. Qualquer menina se derreteria ao saber que foi a musa inspiradora de um vocalista fofo.

     - Anyway, ainda tô te estranhando.

     - Tá, parei. Mas é uma coisa muito romântica e galante da sua parte. Você vai mostrar pra ela?

     - NÃÃÃO! De jeito nenhum! Não!

     - Não vai querer gravar?

     - Ah, não sei...

     - Então pra quê quer que eu escreva a melodia, se é pra esconder na gaveta?

     - Pra garantir, Tom. Pra se eu resolver gravar, já está pronto.

     - Em cima disso posso deduzir que você não vai falar nada pra ela?

     - Claro que não.

     - Por que não?

     - Porque não.

     - Tem que ter um motivo.

     Fiquei quieto. Só repeti a primeira resposta após um minuto.

     - Porque não. Dá licença. – fui pro meu quarto.

     Deitei na cama, abracei o travesseiro e ouvi as perguntas de Tom ecoando na minha cabeça:

     “Olha isso aqui, Bill. Vou arriscar um palpite e dizer que você escreveu essa música pra Maria. Mas é uma coisa muito romântica e galante da sua parte. Você vai mostrar pra ela? Não vai querer gravar? Então pra quê quer que eu escreva a melodia, se é pra esconder na gaveta? Em cima disse posso deduzir que você não vai falar nada pra ela? Por que não? Tem que ter um motivo.”

     Quebrei a cabeça tentando descobrir por que causa, razão, motivo ou circunstância eu estava com tanto receio de falar co ela. Afinal, “porque não” não é resposta. E o Tom sabia disse e vai me infernizar até eu dar-lhe satisfação. Peguei o celular, mexi aqui e ali e achei uma foto da Maria que ela mesma tinha tirado. Ela fez uma pose engraçada e tirou a foto de lado, mas ficou linda. Tinha pouco tempo, foi uns dias antes de eu entrar em quarentena por causa da gripe;

     Desistindo de encontrar razão para o meu medo, me pus a analisar a foto. Me veio à cabeça a imagem da Mari de quando nos conhecemos: ela usava uma calça larga e tênis surrados, e uma blusa com aparência de nova. Os cabelos eram curtos e penteados às pressas. E claro, os óculos enormes e redondos que ela mesma dizia que a faziam parecer uma vespa. E olhando de volta para o celular, nossa, como ela mudou. A foto não mostra ela de corpo inteiro, mas eu lembro como la estava naquele dia: calça preta justa, uma bota, blusa branca, um cachecol vermelho-nem-tão-berrante e o moletom verde militar. Os cabelos mais compridos, lisos e sem um fio fora do lugar.

     Desde que nos tornamos amigos, eu dou bastante pitaco no jeito dela de se vestir, e ela também pede minha opinião. É, pode-se dizer que eu meti a colher bem fundo no estilo dela. Talvez sejam meus olhos de apaixonado, mas ela está bem mais bonita agora.

     - Quem sabe um dia eu encontre coragem pra te falar tudo o que eu sinto... – murmurei olhando para a foto e fechando o flip do celular.

     BILL OFF

     Já tem duas semanas que eu e os meninos engolimos a palhaçada de entrar na escola dia sim, dia não. Não que me faça falta, mas isso faz a freqüência despencar e carregar o rendimento junto. E isso é mau. Hoje, sexta, foi “dia não”, e eu voltei pra casa reclamando da frescura. Isso já está ficando até monótono.

     No meio da tarde, me olhei no espelho e vi a monotonia na minha imagem. Deu vontade de mudar alguma coisa... quem sabe os cabelos? Lembrei que era o Bill quem pintava as próprias madeixas e liguei para ele a fim de pedir uma ideia.

     - Alô? – ele atendeu.

     - Bill? Aqui é a Maria.

     - Oie. O que você manda?

     - Então, eu fiquei com vontade de tingir o cabelo, e como lembrei que você pinta os seus sozinhos, liguei pra pedir uma dica.

     - Não me lembro de ter te dito que sou eu mesmo que pinto meus cabelos... – poutz, por que eu só percebo que dou esses foras quando eles já estão dados? – mas enfim, qual é a sua ideia?

     - O Tom que deve ter te dito que sou eu mesmo que pinto meus cabelos... – não tenho nenhuma ideia, por isso quero ajuda, sacas?

     - Aham, Ah, vem aqui em casa, eu tô de bobeira mesmo, aí a gente vê o que dá pra fazer.

     - Tá bom. Tô indo. ‘Té mais.

     - Até.

     Troquei a roupa por uma mais “apresentável” e fui à casa dos gêmeos. Ao chegar, Bill me sentou numa cadeira em frente a um espelho e ficou me rodeando, em busca de alguma ideia. Depois de umas três voltas, parou na minha frente e disse:

     - Por que não clareia o cabelo em cima?

     Apontei-lhe, fazendo um gesto de “boa ideia”.

     - Mas aí – ele continuou -, vai ficar melhor se você cortar o cabelo de outro jeito. Teu cabelo tá sem corte, reto, vai ficar sem graça.

     - Você corta cabelo também?

     - Bom, pode-se dizer que sim. – ele disse com um sorriso convencido. – Vamos na perfumaria?   

     - Fazer?

     - Comprar a tintura, ué. Vai pintar o cabelo com o quê? Papel crepom?

     - Mesmo assim, teria que passar na papelaria! – eu disse rindo.

     - É. ‘Bora.

     Fomos à perfumaria. Ganhei uma lição de cores e tonalidades enquanto passeávamos por entre as prateleiras. Vem cá, de onde ele tira tanta informação?

     - Internet – ele respondeu quando eu fiz a pergunta.

     Voltamos à casa dele, onde preparou um salão improvisado no banheiro de seu quarto: a cadeira giratória e com rodinhas foi posta na frente da bancada da pia, onde havia um arsenal de ferramentas: pente, tesoura, vasilha, pincel, a caixinha da tintura, luvinhas de plástico, toalhas, filme plástico e o escambau.

     - Vamos começar? – ele perguntou.

     - ‘Bora.

     Bill pôs uma das toalhas nos meus ombros, girou a cadeira e molhou meu cabelo com o chuveirinho da pia.

     - Que água fria! – reclamei.

     - Foi mals, mas o aquecedor da torneira da pia tá quebrado... É rapidinho, viu, já acabou, só ia molhar teu cabelo pra poder cortar. – ele explicou enquanto tirava o excesso de água e enrolava meus cabelos em outra toalha.

     - O que você vai fazer com um cabelo, Bill?

     - Você é quem sabe.

     - Sugestão?

     - Tu nunca foi no cabeleireiro antes?

     - Er... já fui, mas é que eu costumo cortar só as pontas...

     - Tá explicado... Mas agora, nada de cortar pontinha. Vamo passar a tesoura! Deixa eu ver, se vai clarear a parte de cima, vamos cortar umas camadas, desfiar pra não ficar armado e uma franja nem muito curta nem muito comprida. Serve?

     - Franja?

     - Nunca teve franja?

     Balancei a cabeça negativamente.

     - Nem quando eu era criança, nem franjinha de tigela!

     - Afe, Mari, então você vai sofrer uma metamorfose. E nada de careta, teu cabelo é liso, não vai ser difícil de cuidar.

     - Ok... – falei meio hesitante – Vai fundo.

     Resolvi confiar e respirei fundo. Passamos a próxima hora calados, eu olhando ora pro espelho, ora pros cabelos caídos no chão, ora para a cara séria de “amador profissional” que Bill exibia o tempo todo. Passado esse tempo, ele disse:

     - Terminei... Agora vem a parte difícil.

     - Por que difícil?

     - Quê, tá achando que pintar cabelo é brincadeira de criança? Engana-se – ele disse enquanto dividia meu cabelo. – Isso é difícil, viu? E você tem que ficar quietinha.

     - Ai, não, por favor! Já me decompus nessa última hora com esse silêncio de tumba, não aguento mais!

     Bill enrolou o filme plástico na parte de baixo do cabelo e passou um creme na minha testa, ao redor da raiz do cabelo.

     - Tá... e vamos fazer o quê, contar piada de pontinho ou brincar de “atirei o pau no gato”?

     - Para de graça, Bill. Tava falando só pra gente pelo menos conversar, só isso... Silêncio me dá agonia.

     - Você tem algum assunto?

     - O que é um pontinho rosa no palco? Tá, parei.

     - Não sei, conta?

     - O Pink Floyd.

     - Nooossaaa! Não conhecia essa! – ele euforizou enquanto mexia uma misturinha cremosa na pequena tigela preta.

     - É a única piada de pontinho “universal” que eu sei. As outras só dá pra contar em português.

     - Mas é ótima, gostei. Hahaha! Agora olha, fica quieta, vou começar a passar a tinta e todo o cuidado é pouco.

     - Tá... Como o asterisco faz pra entrar na festa do ponto final?

     - Hã?!

     - É uma charada! Responde!

     - Como o asterisco faz... pra entrar na festa do ponto final? Não faço a menor ideia.

     - Passa gel.

     Bill levou alguns segundos para processar a informação, e explodiu de dar risada ao entender.

     - Passa gel! Hahahahahahahahaha! Essa foi a melhor charada que já me contaram na vida! Sério!

     - Conta uma você?

     - Qual é o cúmulo da revolta?

     - Morar sozinho e fugir de casa. Conheço essa.

     - Qual é o cúmulo da sorte?

     - Ser atropelado por uma ambulância!

     - Qual é o cúmulo da paciência?

     - Assistir corrida de lesma em câmera lenta.

     - Cúmulo da força?

     - Cortar uma rua e dobrar as esquinas.

     - Cúmulo do esquecimento?

     - Trancar uma gaveta e deixar a cave dentro.

     - Puta que pariu, tem algum cúmulo que você não conheça?

     - Piadinhas de cúmulo são a minha especialidade. Qual é o cúmulo da infantilidade?

     - Costumava ser a minha, também. Não sei.

     - Futebol, 22 marmanjos correndo atrás de uma bala. Rá.

     Continuamos contando charadinhas e trocando lições de cultura inútil por um tempo. Quando Bill terminou de passar a “misturinha cremosa” no meu cabelo, o silêncio voltou.

     POV BILL

     Não estaria exagerando se dissesse que sentia que passava a tarde no céu. Uma tarde inteirinha com a Mari, só com ela, mexendo no cabelo dela... Não poderia querer mais nada. Já tinha terminado, só faltava esperar meia hora e lavar o cabelo de novo quando tornamos a fazer silêncio. Mari diz que tem aflição de silêncio, mas eu às vezes prefiro. Agora, por exemplo. Fora pelo fato de que nenhum de nós tem o que fazer e nos limitamos a trocar sorrisos amarelos. Encontrei o que fazer em cima da pia do banheiro e me pus a arrumar a bagunça, guardando o que não ia mais usar e lavando o pincel e a tigelinha.

     Eu podia falar, eu podia falar... Ou mostrar a música, talvez fosse mais suave... Mas e a coragem? O corpo todo começava a tremer só de pensar no assunto. Eu não ia fazer isso e ponto. Mas acho que não deu pra disfarçar a aflição.

     - O que você tem, Bill? Tá tudo bem? Você tá tremendo.


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Notas finais do capítulo

Eu disse que conpensaria.
Acho que esse é o maior capítulo da fic.
Heey, galëre, quando eu tava viajando, disse que quando voltasse pra São Paulo postaria uma trishot. Pois é, faz um mês que eu voltei, rs.
E não postei ainda.
Mas é que eu tenho UMA POHADA de outras coisas pra fazer, e acabou não dando pra eu digitar ela toda ainda.
Anyway, assim que der eu a posto.
Reviews? Tô me sentindo preterida com a falta de retorno



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