Orgulhosos escrita por Bear91


Capítulo 4
Capítulo 3




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Mai estava exausta, havia dormido tão pouco. Nem mesmo a xícara de café que tomava parecia fazer algum efeito sobre o cansaço que sentia. E o motivo de sua insônia era Seto. 

 Não conseguira voltar a dormir após a conversa que tivera com ele na noite anterior, se é que aquilo poderia ser chamado de conversa. Seto havia praticamente cuspido palavras de desprezo, enquanto ela apenas escutava calada. Nunca havia sido tão humilhada, Mai preferia não ter sido salva a passar por aquilo. Apesar do seu estado lamentável ainda tinha seu orgulho, de modo algum continuaria em lugar onde não era bem-vinda. 

— Samantha, você sabe se o Kaiba está em casa? — perguntou Mai, depositando a xícara vazia na bandeja. 

— Está sim, nos sábados ele geralmente trabalha em casa. — a empregada confirmou, enquanto dobrava algumas roupas. — Mas por que a senhorita quer saber? — indagou ela, virando-se para Mai. 

— É que preciso falar com ele, vou avisá-lo que hoje mesmo irei embora dessa casa. — respondeu ela, com uma expressão séria. 

— Ir embora hoje? Mas você não está em condições de se cuidar sozinha! — exclamou a mulher, alarmada com as palavras de Mai. 

— Eu vou dar um jeito, não estou tão mal assim. Com um pouco de esforço conseguirei me virar bem. O que eu não posso é continuar nessa casa.  

— Você deveria pensar direito. O médico disse que você precisa de repouso e cuidados para se recuperar bem, como vai ficar sozinha? 

— Agradeço a sua preocupação, mas ficarei bem. Eu preciso ir embora dessa casa, não vou continuar aqui dependendo de favores do Kaiba, prefiro passar por dificuldades sozinha a isso... 

Subitamente a atenção das duas fora desviada, quando ouviram algumas batidas na porta e em seguida ela sendo aberta. Era Mokuba. 

— Bom dia, Mai! — disse o garoto sorridente. — Vim para ver como você está.  

— Bom dia! — respondeu lhe retribuindo o sorriso. — Eu estou muito melhor, na verdade acho que já estou bem o suficiente para ir embora. — disse ela de uma vez e o sorriso de Mokuba se desfez. 

— Mas não é muito cedo para isso? Você não parece bem o suficiente para ir embora. O médico disse que demoraria semanas para você se recuperar e mal se passou uma. 

— Eu sei, mas eu já me recuperei o suficiente. E agradeço muito por toda a ajuda, contudo não posso continuar incomodando você e o seu irmão. Eu pretendo ir embora hoje mesmo. 

— Mas senhorita, quem vai cuidar de você? — perguntou a empregada, visivelmente preocupada. — Por favor, pense direito.   

— Não se preocupe comigo, eu consigo me virar sozinha. — afirmou, tentando soar confiante, mas a verdade era que ela mesma não acreditava muito em suas palavras. 

— Bem, se é isso o que você quer. — Mokuba por fim concordou. — Eu não posso te obrigar a continuar aqui, mas realmente não concordo com a sua decisão.  

 

                                            ****** 

 

— Entre. — disse Seto ao ouvir o som das batidas na porta de seu escritório. 

A cena que encontrou quando direcionou sua atenção para a porta, fez com que se irritasse imediatamente. Mai caminhando com dificuldade, por causa do pé que estava imobilizado, sendo auxiliada por uma muleta e pela empregada que a acompanhava. 

— O que significa isso? — ele rosnou, encarando as duas mulheres a sua frente. 

Era ridículo o quanto de esforço uma pessoa era capaz de fazer apenas para incomodá-lo.  Seto não entendia o que aquela garota fazia ali, pois na noite anterior havia claramente lhe dito para ficar fora de seu caminho. 

— A senhorita Mai quer conversar com o senhor. — Samantha respondeu, enquanto ajudava Mai se sentar em uma poltrona. 

— E quem disse que eu tenho tempo para gastar com ela? Além do mais, essa perdedora deveria estar de repouso e não aqui desperdiçando o meu precioso tempo. — disse Seto, lançando um olhar gélido para Mai. 

— Eu serei rápida. — Mai argumentou, lhe devolvendo um olhar cheio de fúria. 

— Bem, eu esperarei a senhorita lá fora. — disse a empregada, antes de se retirar do escritório.  

— Diga logo o que você quer, garota. Como eu já disse, não tenho tempo para desperdiçar com você.  

— Não me chame de “garota”. Eu certamente sou mais velha do que você, deveria demonstrar pelo menos um pouco de respeito. — exigiu ela, visivelmente irritada. 

— Será que você tem mentido por tanto tempo, que agora até mesmo acredita em suas próprias mentiras? — questionou ele, impaciente.   

— Não há mentiras... — murmurou, tropeçando nas palavras. — Do que você está falando?  

— Eu sei a verdade sobre você, Valentine!  

— Como você... 

— É simples. — ele a interrompeu. — Você acha mesmo que eu a deixaria viver sob o mesmo teto que o meu irmão, sem fazer uma minuciosa pesquisa a seu respeito? A verdade é que você é uma grande mentirosa.  Você nem ao menos é maior de idade. E seus pais, eles estão mais vivos do que nunca. 

Ela ficou tão desconcertada com as palavras de Seto que por um momento não soube o que dizer. 

— E daí? Isso não importa! — disse por fim, tentando enterrar aquele assunto. — Eu só vim lhe dizer que estou indo embora daqui, agora você pode ficar tranquilo. Não irá mais ser incomodado pela minha presença em sua casa.  

— Realmente não me surpreende que você não seja inteligente, no entanto existe um limite até mesmo para a estupidez. Você mal consegue andar, como planeja sobreviver sozinha? — perguntou, usando um tom zombeteiro. 

— Isso não é da sua conta! — ela respondeu furiosa. — O importante é que eu estou bem o suficiente para ir embora, prefiro suportar algumas dificuldades a continuar nessa casa. 

— Está certo, se é o que você quer. Contudo, não posso simplesmente deixar que vá embora. Infelizmente eu me responsabilizei por você, então se for embora daqui e algo vier a lhe acontecer, isso pode me trazer problemas.  

— O que isso quer dizer? Você não vai me deixar ir embora? 

— Não, nada disso. Você pode ir quando quiser, o que eu mais quero é você fora da minha mansão. Apenas te darei algumas opções para escolher. — Seto explicou, encarando-a com desdém. 

— Opções? — Mai olhava para ele sem compreender. 

— Sim, apenas me escute e diga o que prefere. 

— Está bem. — concordou se sentindo tensa, tinha um péssimo pressentimento sobre aquilo. 

— Eu poderia ligar para seus pais, tenho certeza que eles ficariam felizes em buscá-la imediatamente. Afinal já fazem tantos anos que eles procuram pela filha… — explicou ele, satisfeito ao notar a expressão que Mai fez ao ouvir suas palavras. — No entanto, se essa opção não te agradar, há outra possibilidade. Eu posso ligar para polícia, eles também ficariam felizes em levá-la, ainda mais com as informações que tenho a seu respeito. 

 — Não! — exclamou ela, sentindo o desespero tomar conta de si. — Você não pode fazer isso, meus pais não! 

— Então suponho que prefira a polícia. Eu esperava que você escolhesse a primeira opção, Valentine. — afirmou fingindo tristeza. — Mokuba provavelmente ficará decepcionado ao vê-la ir presa, mas por outro lado isso o ajudaria a repensar o tipo de pessoa com quem ele faz amizade. 

— Mas do que diabos você está falando? Eu não devo nada a polícia. — afirmou veemente, ainda sentindo o impacto das frases anteriores. 

— Tem certeza disso? Já se esqueceu do seu envolvimento com o Doma? Sem falar dos duelos ilegais dos quais costumava participar.  

Horrorizada, ela indagou: 

— Como você sabe disso? 

— Você é realmente estúpida, não é? A KaibaKorp é a desenvolvedora dos discos de duelos, é muito simples saber de quais partidas um duelista participa. E na minha pesquisa eu descobri algo muito interessante, você esteve envolvida em um duelo ilegal que resultou na morte de um duelista. — explicou Seto, olhando-a de modo acusador. 

Mai estremeceu, de cabeça baixa ela fitava o chão, recordando-se daquela que provavelmente fora a época mais sombria de sua vida. Quando ela acabou no submundo dos duelos, participando de duelos ilegais. Sem imaginar que perder um duelo ali poderia também significar perder a vida.  

Se Valon não tivesse aparecido em seu caminho, ela provavelmente teria perdido a vida em um daqueles duelos. O que talvez fosse um caminho mais digno do que o qual ela havia escolhido trilhar ao entrar no Doma. 

— Não foi culpa minha, ninguém me disse que os choques poderiam ser fatais. Eu não queria que aquele homem... eu juro que não queria que ele morresse. — tentou explicar-se, contendo algumas lágrimas. 

— Isso pode até ser verdade, só não sei se os policiais irão acreditar em você. — comentou, aparentemente desinteressado. — E o que você prefere? Não tenho mais tempo para gastar com uma perdedora.  

— Você... — disse ela, enxugando furiosamente os olhos. — Você está me ameaçando! O que mais eu poderia escolher... 

Ela levantou novamente a cabeça, apenas para encontrar aquele imbecil na sua frente. Seto estava de braços cruzados e a encarava com um sorrisinho que ela adoraria arrancar com um soco. 

— Não são ameaças, apenas estou te dando escolhas que garantiriam o seu bem estar. Bom, meu irmão ficará feliz em saber que você continuará aqui até a sua recuperação. Agora dê o fora do meu escritório! Já perdi tempo demais com você. — disse com a voz fria e desinteressada.  

Aquela tinha sido a gota d’água. Mai estava fervendo de raiva, ele acabara de ameaçá-la e em seguida agia como se não tivesse feito nada. Ela queria tanto ensinar uma lição aquele imbecil arrogante. 

Num impulso se levantou da poltrona, esquecendo-se completamente do pé quebrado. No momento em que seu pé tocou o chão, ela logo arrependeu-se de sua decisão, pois sentiu uma forte dor e não pode evitar se desequilibrar. A garota logo fechou os olhos, preparando-se para uma queda que parecia inevitável, mas que felizmente não chegou a acontecer.  

Antes que ela fosse de encontro ao chão, Seto conseguiu segurá-la, a trazendo para perto de si e impedindo sua queda. O que causou uma proximidade inesperada entre os dois. 

Quando abriu os olhos, Mai ficou sem reação. Seto segurava sua cintura com firmeza, de modo que seus corpos estavam praticamente colados, apenas alguns centímetros os afastavam.  

Ao olhar para cima deu de cara com Seto, seus rostos estavam tão próximos, de uma forma que ela nunca havia imaginado.  

Naquela curta distância ele lhe parecia tão encantador. Ela sentiu-se enfeitiçada pelo seu olhar, nunca havia visto aqueles frios olhos tão de perto. Se surpreendeu ao perceber que alguém amargo como ele, possuía lábios que pareceriam ser tão macios e convidativos. Até o seu perfume aparentava ser mais agradável do que deveria. 

Durante alguns instantes Mai se esqueceu da realidade da situação, nem se lembrava da raiva que estava sentido. Se distraiu completamente.  

Seto por outro lado não estava muito diferente dela, não fora capaz de ignorar a proximidade entre eles. Por um momento até mesmo cogitou acabar de uma vez com a distância entre os dois, ansiou descobrir se os lábios dela eram tão macios quanto pareciam. No entanto, logo recuperou seu bom senso, lembrando-se quem era a mulher em seus braços e finalmente voltando a realidade.  

Ao notar que Mai fitava sua boca, percebeu que a proximidade tinha a afetado tanto quanto a ele. Seto deu um sorriso de canto, se sentido satisfeito pela reação da loira em seus braços. 

— Gosta do que vê, Valentine? — disse ele, numa voz zombeteira. 

As palavras dele instantaneamente a tiraram do transe em que estava.  

— Só nos seus sonhos. Agora tire as suas patas de mim! — exigiu irritada, censurando a si mesma pelos seus pensamentos anteriores.  

— Você é realmente uma ingrata, mas se é isso o que você quer. — disse ele, antes de desvencilhar seu braço da cintura da garota. 

Sem o auxílio dele foi inevitável que perdesse o equilíbrio, ela não conseguiu se manter de pé. Antes de conseguir assimilar as palavras Seto, Mai já se encontrava na caída no chão. 

— Seu bastardo! — gritou furiosa, fazendo uma careta de dor. 

— Apenas fiz o que pediu. — ele respondeu, rindo com desprezo. 

Seto se divertia em ver a situação de Mai, era satisfatório ensinar uma lição aquela garota patética. 

— Mas não se preocupe, vou mandar a Samantha vir te ajudar. — afirmou, caminhando em direção a saída do escritório, mas virando-se mais uma vez para Mai. — No entanto, eu recomendaria que você tivesse um pouco mais de cuidado, esse tipo de coisa apenas atrapalhará a sua recuperação. Então, se quiser ir embora daqui logo, deveria ser um pouco mais cuidadosa. — ele deixou escapar uma risada antes de finalmente sair do escritório, deixando para trás Mai furiosa. 

 

                                           ***** 

 

— A senhorita deveria se acalmar, talvez o senhor Seto não tenha feito por mal. — disse a empregada, enquanto ajudava Mai a se sentar na cama.  

— Acha que ele não fez por mal? Samantha, aquele bastardo me ameaçou! —  afirmou furiosa, sentindo a dor no pé esquerdo a incomodar novamente, dessa vez ainda mais forte, graças a queda de alguns minutos atrás. 

Se não fosse por Samantha ela nem teria conseguido voltar ao quarto, Seto havia a deixado no escritório sozinha com sua fúria.  

— Mai, olhe para si mesma. Como você conseguiria ir embora sozinha? — questionou, olhando-a com uma expressão séria. 

— Eu... — começou ela, mas não havia o que dizer. 

— Mesmo não gostando, tem que admitir que ele está certo. Você precisa de cuidados e eu realmente não entendo porque seria tão mal que os seus pais te buscassem. Se você odeia tanto estar nessa casa, por que não ficar com os seus pais? — indagou a empregada, já se sentindo impaciente com a infantilidade de Mai. 

— Você não entende. — respondeu, desviando o olhar. — Eu jamais poderia voltar aquela vida, não depois de finalmente conhecer a liberdade. — ela não conseguiu impedir a si mesma de se lembrar daqueles amargos anos.  

Mesmo tendo um pai e uma mãe ela se sentia mais como uma órfã, seus pais nunca tinham tempo para ela. Costumavam passar meses sem aparecer em casa, nem mesmo em seus aniversários eles se davam ao trabalho de estarem presentes. Sempre lhe pareceu que eles a odiavam, sempre se esforçando ao máximo para estarem distantes dela. Era mais que claro que ela não era importante na vida deles, só havia espaço para o trabalho. 

O pior era que apesar de serem indiferentes a ela, sempre aparentavam querer tornar a sua vida um inferno. Sua rotina era cheia de regras, não permitiam que ela estudasse em um colégio, era obrigada a estudar com professores em casa. Nunca pode ter um amigo sequer, a única companhia que tinha eram os empregados. A vida naquela casa fora tão sufocante, tão amarga.  Não houve outra opção além de fugir daquele inferno. 

— A verdade é que eu preferia ir para a cadeia, a ter que voltar a viver com aquelas pessoas. — lamentou ela, sentindo a melancolia tomar contar de si. 

— Eu não imaginava que a sua relação com seus pais fosse tão ruim. — confessou, sentindo-se um pouco arrependida pelas suas palavras anteriores. 

— É pior que você imagina, mas felizmente isso faz parte do passado. — admitiu amargurada. — O problema é que parece que não tenho outra escolha senão a de continuar aqui.  

Ela se deu por vencida, afinal aquela era a sua melhor opção. Não suportaria reencontrar novamente com os pais e muito menos queria ir para a cadeia. Continuaria ali até se recuperar, mesmo que a contra gosto. 

                                            ***** 

 

Já estava escuro, quando Seto finalmente encerrou o expediente daquele dia. Ainda sentado à sua mesma, ele organizava alguns documentos que seriam necessários em uma reunião que aconteceria em breve.   

Rapidamente terminou a organização, só precisava colocar os papéis em sua maleta antes de descer para o jantar. Contudo, ao abrir a maleta encontrou um objeto que não lhe pertencia. 

— O que é isso? — murmurou para si mesmo, deixando os papeis de lado e pegando o objeto. 

Era uma pequena caixinha preta, que aparentava ser feita de couro, não tinha mais que onze centímetros. Ao abri-la se deparou com um baralho, quando viu a carta que estava no topo imediatamente se lembrou o porquê de o objeto estar ali.  

A carta era a Harpie Lady, aquele baralho pertencia a Mai. Ele guardou o objeto no dia que salvara a garota, desde então havia se esquecido completamente de devolvê-lo. Não resistiu à tentação de olhar o seu conteúdo, mesmo sabendo que não encontraria nada de relevante ali.  

Encontrou o que já esperava, cartas vulgares e fracas, que combinavam perfeitamente com a perdedora a qual pertenciam. Contudo, ele tinha que admitir que apesar do mau gosto, existia sim alguma consistência naquele baralho. 

Ao pensar em Mai ele não pode evitar recordar o que havia acontecido mais cedo. Seto ainda se lembrava perfeitamente da sensação de ter o corpo dela tão próximo ao seu, mesmo sendo uma perdedora de alguma forma ela o afetava.  

Enquanto guardava as cartas, ele se repreendeu mentalmente pelos seus pensamentos. Jamais se deixaria atrair por alguém tão inferior como ela.


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