Crepúsculo escrita por Allison126Tw


Capítulo 2
Capítulo 2 - Almoço




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Finalmente, depois de algum tempo e muito esforço, a casa nova estava parecendo mais com uma casa de verdade do que com uma garagem abarrotada de coisas. Minha previsão sobre minha mãe estava certa. Renée mudou as coisas de lugar tantas vezes que eu nem lembrava mais de como originalmente havíamos planejado. 

No meio de toda a bagunça chegou um momento em que eu e Sara resolvemos simplesmente parar e fingir desempacotar algumas roupas no meu quarto enquanto nossas mães discutiam a posição do sofá e da televisão na sala.Foram quase duas horas de:

—Se a TV estiver tão longe do sofá, como vocês vão enxergar?

—Você sabia que sentar muito perto da tela faz mal aos olhos?

—Realmente, a tela não vai machucar seus olhos se seus olhos não a enxergarem.

— Eu gosto assim, e a casa é minha, então...

—Tudo bem, tanto faz, mas depois quando você quiser puxar esse sofá pesado mais para perto, não vem pedir minha ajuda.

Era de se admirar que duas mulheres que brigassem tanto se dessem tão bem. Mas sempre admirei a relação de cumplicidade que elas mantinham. Às vezes minha mãe passava meses sem ligar para tia Cora, não por nenhuma briga ou desentendimento, simplesmente eram muito ocupadas. Mas quando finalmente resolviam se ligar passavam horas no telefone, e era como se tempo nenhum tivesse passado. Nesse ponto eu e Sara éramos bem parecidas. Raramente conversávamos pelo celular ou trocávamos mensagens mas sempre que nos víamos, quando uma visitava a outra nas férias, ficávamos super próximas. Eu gostava disso. Infelizmente não podia dizer o mesmo sobre minha relação com meu pai e meu irmão.

Sam era seis anos mais velho que eu. Sua mãe morrera quando ele tinha apenas três anos, então eu nunca a conheci. Minha mãe também não. Renée disse que Joshua nunca falou muito sobre ela, e que achava que era porque ele nunca tinha realmente superado sua morte. Eu tinha curiosidade, mas nunca perguntei ao meu pai sobre o assunto, não parecia certo fazê-lo. 

Eu o visitava todo ano, nas férias de verão. Mas sempre acabava dividindo o tempo entre a casa deles e a da tia Cora. Por mais que eu gostasse da Reserva, e passear na praia de La Push fosse um dos meus passatempos favoritos, era um pouco estranho estar lá. Todos eram muito gentis, claro, e sempre me tratavam bem. Mas ao mesmo tempo, eu me sentia meio deslocada. Eu conhecia o lugar quase de cor, e cresci ouvindo as lendas e os costumes antigos, vovô e papai fizeram questão de me ensinar, principalmente antes de eu me mudar para Phoenix. Mas eu não conhecia tudo. Parecia que havia sempre algo mais, algo escondido que todos sabiam menos eu. As vezes eu suspeitava que era porque eu não era totalmente de lá. Afinal, minha mãe não era da Reserva e não pertencia a tribo e nenhum de seus descendentes. E claro, eu não tinha passado tanto tempo lá quanto meu irmão, por exemplo. Então era normal que ele soubesse muito mais sobre a tribo que eu, e que os anciãos gostassem mais dele que de mim. Mas não era nada de mais, certo? Provavelmente era tudo coisa da minha cabeça, e eu estava enxergando coisas onde não tinha. Mas às vezes eu não conseguia pensar em mais nada. E enquanto eu dirigia a velha caminhonete que meu pai tinha me dado, rumo à casa dele, esses pensamentos inundavam minha cabeça novamente.

Renée estava calada no banco do passageiro, o que não era típico dela.

—Você está bem, mãe?

—Claro! Por que não estaria? - respondeu ela, rápido demais.

—É que você está quieta demais.

Dessa vez ela demorou um pouco para responder:  — Não acha que vou estar invadindo o almoço? Quer dizer, seu pai convidou você provavelmente para ter algum tempo de qualidade com os filhos. Sinto estou indo de penetra, sabe?

—Se ele não quisesse você lá não teria te convidado. - respondi simplesmente.

— Ou ele só não queria ser mal educado, mas esperava que eu não fosse. – ela contra-argumentou.

De repente, a mais estranha das ideias cruzou a minha mente. Será que Renée estava nervosa por causa de Joshua? Nervosa no sentido de... com sentimentos? Era mesmo uma ideia muito estranha, mas era uma possibilidade. Não é como se eles tivessem tido um relacionamento longo e firme no passado, pelo contrário, tinha sido uma coisa bem casual. Minha mãe precisava de emprego, meu pai precisava de alguém para ser caixa na sua loja de conveniências, ela foi bem na entrevista, eles começaram a sair juntos no horário de almoço (e fazer sabe-selá mais o que, eu não queria pensar nessa parte) e de repente ela estava grávida. Lembro quando Renée me contou a história, depois de eu insistir muito:

—Então foi um acidente? - Eu perguntei.

—Sim, mas, foi o melhor acidente da minha vida, quero que saiba disso.

Eu tentei fingir desinteresse quando perguntei se eu era acidente, mas lembro que a resposta dela me deixou muito aliviada. Minha mãe contou também que depois que ela descobriu a gravidez, meu pai propôs que eles morassem juntos, mas ela sabia que não daria certo, eles eram muito diferentes, e o relacionamento dos dois nunca teve pretensão de ser algo realmente sério. Mas isso não significava que não houvesse sentimentos, não é? E será que agora, depois de todo esse tempo fora, alguns sentimentos podiam estar voltando a tona?

—Mãe... – comecei a perguntar, mas desisti. Continuei olhando para a estrada.

— O quê? – ela quis saber.

—Nada. – fiquei constrangida, eu não devia me intrometer.

—Ah, não, nem ouse fazer isso. Vai, me fala. – ela era curiosa demais para deixar para lá.

—Não era nada... – menti.

Ela olhou para mim incrédula: —Não vou parar de perguntar até você falar. 

E eu sabia que ela estava falando sério. Ela sempre fazia isso, não gostava de segredos, principalmente entre nós. Mesmo que fosse algo pequeno.

—É só... você está nervosa de ver o Joshua? Tipo, não sei... talvez... por causa dos velhos tempos? – gesticulei com uma das mãos, sem tirar a outra do volante. 

Ela entendeu o que eu quis dizer, mesmo eu me enrolando toda para perguntar. 

Imediatamente respondeu: —Você quer saber, se está rolando algum flashback de sentimentos? É isso? Porque se for o que está perguntando, a resposta é não. Não. E não de novo. Só para deixar claro. - Ela reafirmou. —É só... é estranho ir comer na casa dele. Não lembro a última vez que fiz isso. Provavelmente quando ainda estava grávida. Sempre que você o visita eu só te levo e depois te busco.

Eu podia jurar que minha já tinha ido comigo jantar na Reserva alguma vez, mas agora, parando para pesar, eu não lembrava disso ter acontecido.

—Entendi. – respondi. Mas na verdade eu não entendia muito. Eu nunca tinha tido um namorado, como que eu iria entender uma relação de ex-namorados e pais separados? Mas continuei refletindo sobre o que minha mãe tinha falado enquanto entrava na rua da casa.

Além da moto de Sam e da picape de Joshua, estacionados na entrada, havia mais um carro estacionado.

—De quem é o sedan? – minha mãe perguntou.

—Talvez seja da Emily?

Sam saiu na porta para receber a gente enquanto eu estacionava. Demorei um pouco, o tamanho da caminhonete sempre me atrapalhava, e não havia tanto espaço por causa dos outros veículos. Depois, de alguns minutos finalmente consegui. 

A casa estava exatamente do mesmo jeito que eu a tinha visto pela última vez no ano passado, e igual a todos os outros anos anteriores. Não era muito grande, mas também não era tão pequena, havia espaço suficiente para os dois homens que moravam lá. A pintura vermelha estava começando a desbotar.

—Olá, Renée, como vai? – cumprimentou Sam, um pouco formal demais. Até hoje eu não sabia direito oque ele pensava da minha mãe. Sempre me perguntei se era estranho para ele que o pai tivesse tido uma filha fora do casamento, mas nunca conversamos sobre o assunto, ele era meio distante.

—Oi Sam, que bom vê-lo novamente, quanto tempo não é? - Minha mãe respondeu.

Estranhei o fato de ele estar usando apenas uma camiseta de mangas curtas quando estava tão frio. Eu estava com duas blusas embaixo do moletom. E minha mãe usava uma de suas jaquetas grossas.

— E aí Bella? – Ele me abraçou e pude sentir que, apesar do vento, ele estranhamente estava com a pele bem quente.

— E aí? – respondi meio sem jeito. 

— Vamos entrar. Convidei a Emily para almoçar conosco, espero que não se importem...

—Claro que não, imagina. – Respondeu Renée, antes que eu tivesse a chance de dizer o mesmo.

Ao entrarmos Emily veio nos cumprimentar. Ela também estava com uma jaqueta que parecia grossa .Eu já a conhecia, então foi fácil não reparar na grande e saliente cicatriz em seu rosto, mas fiquei apreensiva pela minha mãe. Ela sabia do machucado, claro, mas não tinha a conhecido ainda. E era difícil não encarar quando você via o rosto de Emily pela primeira vez. Eu nunca entendi a história do acidente direito, meu pai e Sam não gostavam de falar sobre, e eu nunca tinha tido falado com ela sobre isso, mas aparentemente um animal selvagem a atacou enquanto ela acampava uma vez, por isso agora havia marcas de garras, arranhados profundos, em seu rosto. Lembro que foi logo no início do namoro dos dois.

—É um prazer conhecê-la, senhora.– começou Emily.

—Oh não, senhora não, por favor. – minha mãe disse rindo. Ela passou os olhos rapidamente pelo machucado e acho que Emily notou o olhar, mas não demonstrou. Já devia estar acostumada com as reações. — Me chame de Renée, por favor. É um prazer conhecer você também.

Enquanto ela ainda falava meu pai saiu da cozinha.

—Olá meninas! Sejam muito bem vindas, novas moradoras de Forks. – Ele abraçou a mim e depois a minha mãe. Foi um abraço um tanto constrangedor o dos dois. 

— Bella,eu fiz seu prato favorito. Torta de camarão.

—Sério? Ah, obrigada, já estava com saudades dessa iguaria. – falei animada. 

Eu já sabia que ele faria esse prato. Desde que eu comentei a primeira vez que era a minha comida favorita ele sempre fazia para me receber. Era muito gentil da parte dele, e eu adorava.

—Já está na mesa. – ele falou.

Saímos do hall de entrada e fomos para a sala de jantar, que também era a sala de estar. Eu devia ter lembrado o quanto meu pai era pontual nas refeições, nós devíamos estar um pouco atrasadas pelo horário dele, mas ele não comentou nada.

Nos acomodamos na mesa e começamos a nos servir.

—Então, como está indo com caminhonete, Bella? Ela está aguentando? – perguntou Joshua.

—Está ótima. Ainda demoro um pouco para estacionar, mas acho que peguei o jeito. E ela é tão econômica, estou adorando essa parte.

—Que bom, fico feliz. – ele respondeu.

—Já conseguiram tirar todas as coisas da caixa? – perguntou Emily.

—Quase tudo. – falou minha mãe.

—Todas que ainda faltam são dela. – Comentei.

—Eu gosto de fazer devagar e do meu jeito – era o que ela sempre dizia – até o mês que vem eu termino.

Nós rimos. Continuamos conversando sobre a mudança, sobre o arranjo dos móveis e da decoração, e sobre como era estranho o caminhão ter vindo um dia mais cedo. Essa foi a parte que eu convenientemente escolhi para manter minha boca cheia de torta. Não queria me sentir culpada de novo por mentir. 

Todos comeram e repetiram. A torta estava uma delícia, como sempre. De sobremesa tivemos mousse de maracujá, que era o favorito da minha mãe. Achei interssante da parte do meu pai ter lembrado disso também. Acho que eu não o dava tanto crédito quanto devia pela sua memória. Depois de comermos a sobremesa continuamos sentados à mesa, conversando sobre o pessoal da Reserva, e como estava todo mundo.

— Ah, Bella e Renée, antes que eu me esqueça, – falou Emily de repente – eu trouxe o papel com os documentos que vocês precisam levar para fazer a matrícula na escola da Reserva. – Ela pegou sua bolsa para tirar o papel - Eu estou trabalhando lá no momento. Se precisarem de alguma coisa, é só falar comigo.

Ela me entregou o papel, e eu peguei, mesmo sem entender direito. —Obrigada Emily, mas na verdade eu não vou estudar na escola da reserva. Vou para para o colégio de Forks. 

Ao ouvir isso, ela e meu pai e Sam ficaram imediatamente sérios. Senti a necessidade de explicar, então continuei: —É mais perto de casa, e além disso, Sara estuda lá. Ela é só um ano mais nova que eu, então teremos algumas aulas juntas.

Mas eles ainda continuavam sérios. Me perguntei o que havia de errado. Será que a escola da cidade tinha o ensino ruim? Ou era alguma outra coisa?

—Eu preferiria que você não estudasse naquela escola Bella. - Meu pai começou. — Queria que você estudasse na escola da reserva, acho que é a melhor escolha.

—Mas ela nem mora aqui na reserva Joshua, não vão deixá-la se matricular. - Minha mãe disse.

—Vão sim, eu falei com o diretor Bob. Somos amigos, e ele abriu uma exceção para a Bella.

Fiquei constrangida. Por que meu pai tinha falado com o diretor? Não tinha necessidade. Achei que fosse óbvio que eu fosse estudar na escola da cidade quando me mudasse.

—Obrigada pai, mas não precisava. Eu até já combinei com a Sara de dar carona para ela todo dia, e eu também já conheço alguns amigos dela de lá. Acho melhor ficar assim... – Na verdade eu só conhecia uma amigada Sara, Angela Weber, mas achei melhor deixar "amigos" no plural para soar mais convincente. 

Porém ele, Sam e Emily ainda estavam sérios. Notei que eles se entreolharam e pareciam... preocupados. Troquei um olhar com minha mãe, e ela também parecia não entender.

— Bella... – Joshua falou – não acho uma boa estudar lá. Não sei se é seguro.

Pude perceber que ele queria falar mais, mas Sam lançou um olhar de advertência para ele.

—Acho que o que nosso pai quer dizer... – continuou Sam – é que algumas pessoas lá podem não ser confiáveis. Mas aqui na reserva nós conhecemos todo mundo, então é mais seguro. 

Essa conversa tinha se tornado muito esquisita muito rápido. O que eles queriam dizer com pessoas que não eram confiáveis? Além disso, Forks era uma cidade pequena, todos se conheciam na cidade inteira. 

Como se soubesse o que eu estava pensando minha mãe falou: —Mas todos se conhecem fora da reserva também.

Houve mais silêncio e os rostos ainda estavam sérios. Pensei no que poderia dizer para amenizar o clima e mudar o rumo em que a conversa tinha tomado, mas não sabia o que.

— Sei que fica mais longe, mas eu posso ajudar a pagar a sua gasolina Bella.

— Joshua, não há necessidade. É só uma escola. – minha mãe estava começando a ficar irritada com a insistência dele, e para ser sincera eu também. E então, como se lembrasse de algo, ela acrescentou: – Isso não tem nada a ver com os Cullen, tem? 

Tia Cora e Sara tinham nos falado sobre os Cullen. Uma família rica formada por um médico que com sua esposa tinha adotado cindo filhos, eles moravam numa mansão chique fora dos limites da cidade e tinham vindo de outro lugar, Alasca se não me engano. Aparentemente, o pessoal da reserva não gostava muito deles. Alguns meses atrás, Sara teve uma gripe forte, e tia Cora a levou no hospital. O Dr. Cullen foi o responsável pelo caso dela. Elas disseram que ele foi muito atencioso e era um ótimo médico. Mas no dia seguinte meu pai apareceu na casa delas para "alertar sobre ele" ou o que quer que isso significasse. Elas não entenderam, até porque ele não falou muito, mas foi insistente no aviso. Quando Renée soube, ficou indignada. Ela sabia que o pessoal da Reserva era desconfiado com estrangeiros mas dessa vez achou que eles tinha ido longe demais.

— Porque eu sei que você foi até a Cora para falar deles, e sinceramente, não acho isso muito legal. –continuou minha mãe. 

Agora Sam parecia irritado. Emily colocou a mão sobre a dele, e lhe lançou um olhar de esguelha. Meu pai, igualmente, não parecia feliz.

— Vocês não os conhecem.

— Mas você parece conhecer muito bem, então nos diga, o que há errado? – Agora minha mãe também parecia zangada. Ela parecia prestes a brigar com ele, mas felizmente, nessa hora o telefone tocou na cozinha. 

Sam levantou com tanta força para ir atender que quase derrubou a cadeira.

—Era Paul. Preciso ir. – Ele falou quando voltou. Sam não era um cara de muitas palavras na maior parte do tempo, e agora parecia ser menos ainda. Mas antes de ir ele falou: – Pense sobre a escola, Bella. Só queremos que fique segura.

—Tudo bem – eu respondi. 

Não queria mais discutir, então decidi fingir que iria pensar no assunto.

Após se despedir de nós, Sam saiu rapidamente. Emily se esforçou para mudar o assunto, falou da mudança de novo, e eu fiquei grata pela tentativa dela, mas o clima não voltou a ficar leve como antes. 

Após ajudar a limpar as coisas, fomos embora. Na saída, ao me abraçar, meu pai falou: - Espero que não tenha ficado chateada com o negócio da escola, mas eu falei sério. Me preocupo com você, querida.

Não sabia o que responder, então só falei: - Eu sei, obrigada. 

No caminho de volta para casa não tocamos no assunto, mas eu sabia que Renée estava tão curiosa quanto eu sobre o porquê da atitude tão incisiva de meu pai e Sam sobre os Cullens. E eu não conseguia deixar de pensar a mesma coisa que tinha pensado na ida: Que havia algo a mais ali que eu não sabia.


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