Maré de Caos - A Ordem de Ouro escrita por Manon Blackbeak


Capítulo 1
A Ilha das Fadas - Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá! Sejam bem-vindos!
Espero que apreciem a leitura! Não deixem de comentar e façam uma escritora feliz :)



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Capítulo 1

Nerine deslizou pelas águas salgadas do oceano, a correnteza do mar, naquela parte afastada da ilha, era agradável. A lua cheia marcava o céu estrelado da noite. E ela realmente amava aquela luz. De todos os locais que já vivera, de todas as profundezas que já conhecera, aquele oceano, aquele pedacinho do mundo, era o seu favorito. Mas a ilha em questão, como gostavam de chamar, a Ilha das Fadas, era mais do que um simples local para de moradia passageira.

Sereias eram, em sua grande maioria, nômades. Algumas se estabeleciam em costas, golfos, baías ou ilhas, os locais que passavam a amar. Aliavam-se a cardumes. Nerine, de certo modo, temia a ideia de se estabelecer daquele modo. Poderia amar a Ilha das Fadas, poderia amar aquela vista, das montanhas que despontavam do centro, da pequena vila que se formara, e da movimentação dos navios piratas, algo que certamente facilitava o seu trabalho. Aquela promessa sombria e sangrenta que fizera no passado. Mas ainda assim, amava a liberdade, amava ser livre e seu histórico extenso de locais que já conhecera.

Embora já tivesse vivendo há tempo demais ali.

Quando nadou em direção da superfície, a fim de aproveitar a tranquilidade da água naquela noite, para vislumbrar o céu. Sua pele e escamas de cor púrpura e violeta refletiram molhadas, brilhando em pontos dourados graças a lua grande e redonda no céu. Sereias eram filhas da antiga Bruxa do Mar, uma criatura que uma vez fora mulher, nascida voltada para a face anciã da Deusa Tríplice. Portadora de uma magia natural e elementar, poderosa, cuja o principal elemento era água. E amaldiçoada por ter amado um feiticeiro, um homem humano ou fae, não sabia ao certo, que fora sua ruína. Que a transformara em outra coisa, perigosa, feral e feia. E, portanto, a Bruxa do Mar criara as sereias, antes de sumir, para morar nos Confins do Fim. Elas eram metade mulher, metade peixe, selvagens e ferozes, destinadas a viverem sua liberdade e destruir aquilo que ameaçasse tal condição.

E a ruína de uma sereia, era, portanto, amar um homem.

Nerine sabia muito bem daquele fato. Vira aquela perdição ser o fim de uma irmã, a mais querida por ela. E desde então estava sozinha. Liberdade também poderia trazer o sentimento de solidão, quando não tinha ninguém para compartilhar. Quando ergueu os olhos escuros e profundos para cima, encontrou a Constelação de Pisces.

Aquela não era uma constelação obvia, nem fácil de encontrar. Mas sereias tinham suas próprias superstições, e o fato de reconhecer que aquele emaranhado de estrelas, sempre as guiava, era praticamente uma verdade. Nerine viajara sem rumo, por semanas, ou meses, ela realmente não tinha certeza, quando perdera sua irmã. Até encontrar a Constelação de Pisces no céu. A forma parecia com um “V”, e as estrelas brilhavam fraco, mas lhe deram uma direção. Até encontrar a Ilha das Fadas, e um local onde pudera viver com suas semelhantes.

E ganhara um propósito, desde então.

Nerine flutuou, ainda estava em sua verdadeira forma, meio peixe, meio humanoide. Em sua apropriada essência, sereias jamais mostravam aquela face. O fato de que seus verdadeiros rostos não eram humanos, seus cabelos, ou o que se assemelhava a tal, eram, na verdade, um emaranhado de tentáculos delicados, muito semelhantes ao de uma água viva. O rosto, fino, com o nariz pouco saliente, tinha apenas dois buraquinhos, que auxiliavam na respiração quando estavam fora da água. Embora nas profundezas, as guelras, ficavam abaixo dos braços, sobre as costelas, e próximas ao pulmão, que garantiam a respiração por baixo da água.

A sereia permaneceu vislumbrando o céu, as estrelas, quando percebeu algo se movimentando na água. Era muito raro sereias aparecerem na superfície durante o dia, quando vestiam sua verdadeira forma. No entanto, quando seus sentidos aguçados, perceberam que a coisa se movia próxima demais, Nerine atacou.

Movimentou o braço por baixo da água, ostentava nadadeiras violetas, e segurou a criatura que tentara, de forma falha, se aproximar despercebida. Ela não mediu a força, quando ergueu a coisa e se levantou para cima da água. Os dedos de suas mãos, eram colados por uma pele fina, o que facilitava o nado, e as pontas, eram redondas. Não tinha unhas, não precisava daquilo, não quando não estava vestindo a face de uma mulher.

Nerine jamais abaixava a guarda. Não podia. Não confiava em ninguém, por mais que estivesse vivendo com outras sereias por tanto tempo. Eram criaturas selvagens, perigosas e assassinas, e dificilmente confiáveis.

― Não se aproxime de mim desta forma, Corália. ― Rosnou, no idioma comum entre elas. Nerine aprendera também a forma como os homens e os fae falavam, e estava bem afiada na conversação daqueles que frequentavam a Ilha das Fadas. Mas entre sereias, elas tinham a própria forma de se comunicar.

― Solte-me. ― Chiou a sereia de pele e escamas laranjas. A pequena mão violeta apertava seu pescoço, e mesmo que pudesse respirar pela parte do corpo que estava debaixo da água, a força do golpe, fora desferida com o objetivo de fazer doer.

Particularmente, Nerine não confiava em Corália. Mas, a segunda no comando de Delphine, aquela que basicamente governava todas as outras que moravam naquela ilha, geralmente a procurava. Seja por também não confiar, seja para qualquer coisa. Ela realmente não se importava.

― O que você quer? ― Nerine questionou, estreitando os olhos escuros.

Corália se afastou. Deveria estar arrependida de ter se aproximado daquele jeito.

― Há um navio se aproximando, é grande demais, acreditamos ser pirata. Ancoraram um pouco depois da Muralha Cintilante, e estão se aproximando com barcos a remo, pelo Golfo Azul.

Nerine observou-a por um momento, ponderando. Era típico, os navios estacionavam nem tão próximos, mas nem tão longes da Ilha das Fadas, e o ponto logo após a muralha, era o mais comum entre eles. Mas se haviam homens se aproximando, significava apenas uma coisa.

― Delphine quer que façamos o nosso trabalho. ― Constatou. Havia um preço para poder viver ali, e amar tal local, não era suficiente.

A sereia que se intitulava a líder do cardume, cobrava para que continuasse vivendo ali. E era uma tarefa simples: matar homens. Nerine sempre tinha que derramar sangue para Delphine, e fazia de bom grado. Seu ódio e sua natureza selvagem e assassina, certamente auxiliavam.

― Vamos. ― Falou, antes de mergulhar na água salgada novamente.

Nerine não conferiu se Corália estava seguindo-a, embora tivesse certeza que a outra sereia estava bem próxima. Portanto nadou, nadou e nadou, afundando na direção do caminho onde utilizavam barcos para chegar até a ilha. Quando era noite de lua cheia, e coincidia com a chegada de homens, elas iam a caçada.

Ela não se lembrava quando fora a primeira vez que derramara sangue, mas geralmente era algo que satisfazia seus instintos predatórios. Sereias poderiam ser consideradas belas criaturas, com grandes impulsos sexuais, o que nada mais era do que instintos nas épocas de reprodução da espécie. Mas, eram assassinas, letais, perigosas, em praticamente todo o tempo.

Quando percebeu a sombra de um barco aproximando-se na água, Nerine começou a nadar para cima e ao redor. Deixou que a ponta de sua cauda aparecesse em cima da água, e conseguiu ouvir o grito de espanto de um dos homens. Eles sabiam, remar em direção a ilha, em uma noite como aquela, era um perigo grande demais.

Então começou a segui-los, conforme tentavam desesperadamente fugir da sereia. Ela poderia hipnotizá-los com o seu canto, a voz de uma sereia era uma de suas maiores armas. Mesmo que muitos tentassem caçá-las por tal dom, a fim de escravizá-las. Mas Nerine não cantava, não desde que perdera sua irmã.

Preferia ser mais cruel.

Portanto, utilizando-se da força que lhe fora concedida pela Bruxa do Mar, ela bateu no barco, fazendo com que balançasse enquanto flutuava. Para o seu deleite, um dos homens que remava, acabou caindo, soltando o remo e afundando no mar. Nerine sorriu debaixo da água, com os dentes pontudos e predatórios aparecendo. O homem, sua nova presa, abriu a boca como se pudesse gritar, mas saíram apenas bolhas, enquanto começava a se afogar. E tentou, desesperadamente, nadar para superfície.

Mas ela foi mais rápida, puxou-o para as profundezas e fez o seu trabalho. Arrancou a cabeça com os próprios dentes, o sangue manchou a água, e ela ouviu os gritos dos outros homens na superfície, quando a mancha vermelha emergiu.

Nerine soltou o corpo, e deixou boiar para cima, juntamente com a cabeça decapitada. Sereias possuíam pouca magia, apenas o suficiente para fazer a metamorfose de sua forma original, para a forma meia humana. Ela jamais fizera a transformação completa, jamais trocara sua cauda por pernas humanas, por mais que soubesse que pudesse fazer tal transformação. Ela repudiava tais criaturas, e jamais faria de forma voluntária aquela mudança completa.

Mas então, antes de emergir, antes que os homens pudessem avistá-la. Transformou-se. Uma luz irradiou de dentro da escuridão do oceano, enquanto completava a mutação, ela subiu. Metade peixe, metade mulher, a pele branca caia-lhe bem, os cabelos negros alcançavam as costas quando ela subiu na beirada do barco.

Nerine sorriu.

Ela também amava aquela parte do trabalho.

E os homens, começaram a gritar.


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Notas finais do capítulo

Comenteeeeeeeeeeeem.



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