Faca de Bolso escrita por march dammes


Capítulo 1
Marlboro


Notas iniciais do capítulo

yooooooooooooooo primeira vez postando coisa nessa categoria..... duvido que vá atrair alguém, se é que tem alguém do fandom brasileiro, mas???? vamo que vamo. baljeet e buford são muito relationship goals, mas nessa fic eles só são dois otários emocionalmente constipados mesmo, então...espero que gostem!



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Baljeet se acha muito foda.

Essa é a única explicação. A única explicação possível para seu andar mórbido, suas unhas pintadas, sua carteira de cigarros amassada no bolso traseiro da calça de couro e sua atitude de merda.

Baljeet deve se achar muito foda.

Desde que começou a frequentar o Colégio Particular de Danville para Garotos Problemáticos, dois anos atrás, Buford já ouvira falar dele. Seu desdém por autoridades era infame, um de seus colegas lhe dissera, e ele estava ali desde os doze anos.

O curioso, na verdade, era o fato de ele ser um pouco mais novo do que Buford. Geralmente, rapazes peoblemáticos como ele repetiam de ano até serem expulsos.

Veja bem, Buford era um valentão clássico – roubava dinheiro do lanche, arrumava brigas sem qualquer motivo, humilhava nerds com uma proeza que lhe trazia até um certo orgulho; mas, Baljeet? Não. Ele só era um otário, mesmo.

Olhos verdes o observaram atravessar o pátio, escondendo o isqueiro metálico dos monitores que os vigiavam durante seu tempo livre.

Ameaçou um colega com um olhar afiado. O garoto lhe concedeu passagem. Baljeet cuspiu no chão, chutou um punhado de grama e dobrou uma esquina.

“Provavelmente vai fumar lá pros fundos do campus", Buford adivinhou.

Refletiu por alguns segundos.

Baljeet é um daqueles moleques que leva a vida como se fosse um protagonista de Clube dos Cinco. Ou Grease. Seja como for, ele se acha tão ousado, tão atrevido com aquela sua estética de bad boy punk dos anos 80 que chega a dar raiva. O problema, no caso, é que apesar de baixinho e magrelo o garoto sabia acertar um soco. Era quase impossível ganhar dele numa briga – e relatos constavam que ele carregava uma faca.

O que não era permitido nos dormitórios, mas cigarros também não eram.

De qualquer forma, fosse a fonte de sua auto-confiança sua destreza física ou suas botas pesadas, a atitude anarquista e a expressão de não-me-toques de Baljeet deixavam Buford louco.

Louco a ponto de querer mexer com ele. Louco a ponto de querer arrancar alguma coisa inesperada daqueles lábios pintados de gloss.

Buford só não sabia o quê.

O implicante suspirou e olhou ao redor, cuidadosamente. No pátio externo, alguns piás mais novos apostavam cartas de Uno num jogo de bafo (porque os baralhos de Yu-Gi-Oh haviam sido banidos no ano passado, e os de Pokémon no ano anterior) e alguns mais velhos conversavam aos murmúrios, longe dos olhos e ouvidos de cachorro dos monitores da hora do intervalo.

Era como estar cercado de urubus. Só esperando você cair morto.

Buford foi paciente o bastante para esperar uma oportunidade. Pousou seu olhar metódico sobre uma dupla que cochicava entre si, sentados em cima de uma das mesas de piquenique, e observou em silêncio um terceiro garoto passar em frente a eles, percebendo com precisão quando a metade mais feiosa da dupla ergueu os olhos inconscientemente.

—Aí, Kevin! -chamou, mais alto do que o necessário, propositalmente atraindo a atenção de metade do pátio- Se eu fosse você tomava cuidado: o Danny agora mesmo tava de olho na tua bunda.

O “ele tava o QUÊ?” foi esperado e muito bem vindo. Buford sorriu de canto quando Kevin deu três passos longos até Danny e agarrou-o pelas lapelas, o feioso que se explicava com uma expressão confusa, a arruaça que se estabeleceu quando seu amigo fofoqueiro se intrometeu e levou um soco na boca.

Buford mentia, é claro. Ninguém tinha olhado a bunda de ninguém. Bem, só ele que estava de olho na bunda de Baljeet.

Mas ainda assim, soltou um riso baixo quando o mal-entendido escalou para uma porradaria generalizada, envolvendo até mesmo um dos monitores. Enquanto os outros funcionários se esforçavam em apaziguar a situação, Buford meteu as mãos nos bolsos do uniforme e caminhou ao longo do muro que circundava o prédio principal e os outros dois. Chutou o estômago de um aluno que, no meio da selvageria, resolveu que queria prestar contas com ele, e quando o rapaz caiu ao chão com um baque surdo, Buford seguiu seu caminho.

Seu palpite estava certo: Baljeet tinha ido fumar nos fundos da escola.

Buford se aproximou, os coturnos esmagando ruidosamente as folhas secas pelo gramado úmido, que indicavam o início do outono. Não era como se ele estivesse tentando ser discreto – e Baljeet o havia percebido assim que despontou na esquina, ele sabia. Seus olhos escuros e circundados por olheiras profundas que se ergueram e se abaixaram rapidamente quando ele chegara o haviam denunciado.

Baljeet não disse nada, por alguns segundos. Buford parou à sua frente e o observou de cima a baixo.

Os jeans rasgados. A corrente que ligava o cinto ao bolso traseiro. A camisa e gravata do uniforme desleixadas sobre seu corpo, e um pouco largas demais. Como se aquela camisa não fosse sua. Como se fosse de um cara que vestisse tamanho G.

A possibilidade o enfureceu tanto que ele teve de trincar os dentes para não perder o controle.

—Perdeu alguma coisa, seu animal?

A voz de Baljeet era rouca. Buford conseguiu perceber que ele estava forçando, mesmo com o cigarro aceso entre os lábios.

Buford suspirou, um suspiro satisfeito. Estava esperando que ele desse a primeira palavra.

—De jeito nenhum, cavalheiro. -Riu com deboche e encostou-se na parede ao lado dele, imitando Baljeet ao cruzar uma perna sobre a outra e descansar o bico do sapato no chão.

Baljeet soltou um grunhido de pouco interesse. Parecia desconfortável com sua presença, mas não o bastante. Buford decidiu que fingiria, até o último segundo, não ter visto que ele escondera um livro na mochila assim que vira Buford chegar.

Em vez disso, estendeu a mão direita.

—Me dá um trago? -pediu, dois dedos apontando para o cigarro entre seus dentes. Baljeet ergueu uma sobrancelha.

—Você fuma? -pescou o cigarro entre o indicador e o anelar, e cuspiu diretamente no chão- Isso é nojento.

Buford o encarou, confuso. Baixou a mão devagar. Da boca de Baljeet, não saiu nem um centímetro de fumaça – se tivesse saído, ele teria notado.

—Ué? -soltou- Não é você que anda por aí agarrado numa carteira de cigarros como se fosse o cara mais foda do bairro?

—A nicotina mata neurônios. -Baljeet continuou, ativamente ignorando sua observação, fungando e brincando com o cigarro entre os dedos- Deve ser por isso que você é um asno.

—Um o quê?

—Um asno. -Baljeet virou para encará-lo, e Buford fez o possível para sustentar seu olhar. Pálpebras cansadas, testa quase imperceptivelmente franzida, cantos dos lábios repuxados em deboche- Lê uma porra de um dicionário.

Baljeet apagou o cigarro na parede de tijolos, a alguns centímetros da perna de Buford, e o lançou longe com um quebrar de pulso discreto. Se abaixou, pegou a mochila e a jogou por cima do ombro.

Estalou a língua e saiu.

Naquela noite, antes que os monitores dos dormitórios passassem berrando pela porta para que apagassem todas as luzes, Buford folheou o dicionário que havia roubado de um dos alunos com dificuldade de aprendizado. Folheou até encontrar a palavra “asno", o que demorou um pouco mais do que o planejado porque ele não conseguia se lembrar o que vinha antes da letra N.

Asno

substantivo masculino

1. [Mastozoologia • Mamífero] m.q. JUMENTO (‘designação comum', Equus asinus

2. [Figurado (sentido) • Figuradamente] indivíduo desprovido de inteligência; burro.

O monitor meteu a cabeça para dentro do quarto e gritou. “Apaguem as luzes! Não me façam ter de voltar aqui!”. Seus colegas de quarto agitaram-se, atrapalhados entre arrumar as camas, apagar as luzes e meter os genitais para dentro dos pijamas. Buford trocou algumas palavras de educação e outras de insulto com os outros três colegas e se alojou debaixo das cobertas.

Buscou sob o travesseiro outro pequeno troféu: uma lanterna de bolso, daquelas que funcionam à manivela.

Nhec-nhec-nhec-nhec. E a luzinha se acendeu.

Não era muito, mas era útil para fuçar discretamente as páginas dos catálogos de roupa íntima masculina depois que todos já tinham ido dormir.

Buford posicionou a lanterninha sobre a cabeceira da cama, numa gambiarra pré-preparada, e apostaria que tinha mais uns 15 minutos antes que tivesse de girar a manivela de novo.

Era o bastante. Buford aninhou-se contra as almofadas, suspirou, e começou a folhear o dicionário, em busca de uma palavra que combinasse com Baljeet.

Um sinônimo bem chique para putinha.


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Notas finais do capítulo

uhHhHhHhHH deixem reviews? nem lembro mais como faz pra postar fic. obrigade por ler e esperem por mais capítulos!



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