INTERATIVA - Sem Alma escrita por By Thay gc


Capítulo 6
Ela está morrendo


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos, antes quero me desculpar pela demora. Como disse antes, estou escrevendo meu livro e participando de um concurso, então, tive dificudade em pensar direitinho.

Não vou dizer que é um capitulo mais ou menos, só pra não ficarem sem ter o que ler, mentira. Fiz com carinho pensando num texto que avançasse a história. Espero que me perdoem por erros, eu reli, mas sabem, as vezes escapa.

Espero que vocês gostem do capitulo. Qualquer critica construtiva, não esqueçam de comentar. É muito importante pra que eu cresça mais como escritora.

PS: Musica para ouvir;
https://www.youtube.com/watch?v=83GSoYQxi9c&t=14s&ab_channel=TVSeries



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Ela está morrendo

 

Os joelhos de Isaach ardem de tanto ficar apoiado no chão encaroçado, acaricia vagamente os cachos secos de Aneli. Um gemido escapa da garganta, uma oração estranha que seu pai lhe ensinou numa das viagens de trailer pelo país. É a única oração que Isaach conhece e acha que acalmaria Aneli, por mais que a pobre criança não dê indícios de ouvir. A menina ergue o tronco frágil numa tosse áspera. Isaach leva até a jovem um balde e ela o enche com mais vomito. Sua cabeça pende de volta na filipeta que era o travesseiro. O suor derrete a pele quente. Isaach seca sua bochecha e sente a febre aumentar. Para ele tudo está tão apertado a sua volta que a palavra desesperança passa a fazer sentido, como um sussurro no fundo da mente, que aumenta a cada dia ao acordar naquele estacionamento velho e úmido.

O som da porta para o corredor é mexido com violência. Todos que passam por perto conseguem escutar o ressoar do eco pelo estacionamento.

Eleonor corre até a saída acompanhada de Saliel, a porta se encontra cheia de destroços e objetos pesados, tudo para quando a sem alma viesse a derrubar sua fúria naqueles que, sem perceber, protege.

Os dois reforçam os olhos através da janela quadrada da porta, sons de arranhões próximos ao chão os fazem estremecer, a coisa estava rastejando? Eles se entreolham. Outro murro na janela, dessa vez pares de olhos evidentes através da vidraça. Eleonor reconhece a expressão entediante do rapaz e pede a chave ao porteiro, um menino alto e gordinho, com uma barriga grande demais para uma temporada tão escassa de comida. O olhar amedrontado diz que não aconselha abrir a porta, mas se dependessem do pavor dos sobreviventes, todos já teriam morrido de fome há muito tempo.

Eleonor retira as madeiras e tralhas. Analisa sob os ombros de Kantu e vê uma jovem sendo carregada em suas costas. Através dela, Elo verifica se não há um sem alma por perto. Aparentemente tudo limpo. 

—Vocês estão com um grande problema com a guarda do prédio. – grita Kantu como se adivinhasse o pensamento.

—Como? – questiona Saliel ao se aproximar da janela.

—Não vão me deixar entrar antes de colocar o papo em dia?

Os três se conhecem há muito tempo, mas Kantu sempre foi do tipo lobo solitário, ele e seu fiel companheiro, Cão. Eleonor jamais tentou convence-lo a ficar com eles no acampamento, entendia sua preferência e respeitava, acima de tudo. Aquela era uma das poucas coisas que existia entre os humanos no meio da calamidade.

Com frequência, o jovem Kantu passava pelo estacionamento, de vez em quando trazia algumas barras de cereal ou garrafa d’agua, no mais, todos mantinham seus assuntos particulares para si. Kantu jamais foi considerado o leva e traz do grupo, mas era obvio, e ele não escondia, que sempre seria um cara aberto a quem merecesse. Talvez fosse por esse motivo, por sua lealdade escondida, toda vez que Kantu dava as caras no acampamento, eles o deixavam entrar. Sempre.

Kantu joga a desacordada nos braços de Saliel, surpreso, ele o olha numa carranca. Reparando em alguns cortes nos braços e pescoço do turista, incluindo gotas de sangue na pata do Cão seguindo-o por onde anda.

—O que você fez, cara?

Isaach aparece assustado, olhando a situação enquanto aquela palavrinha continua a sussurrar em sua cabeça, mais forte, a desesperança tempera o cérebro, causando um marejar nos olhos barrosos.

—Dá ela pro Isaach, ele vai saber o que fazer.

Saliel ignora o pensamento e repassa a jovem nos braços molengas de Isaach, como se Victoria fosse um boneco. O curandeiro não contesta, leva-a para longe nos braços como um cavaleiro medieval. Ele a deixa deitada no chão, onde estendeu um lençol esburacado. A enfermaria é um pequeno espaço onde os mais doentes ficam, onde Aneli está.

Eleonor abraça Kantu enquanto acaricia os pelos macios do Cão, tanto ele quanto o dono retribuem o carinho.

—Não temos café hoje, mas pode falar qual o problema que temos. – os dois sorriem, o sorriso escondendo-se atrás de uma preocupação.

Saliel se encontra estático de frente para a porta, é muito difícil tal reação, isso assusta a todos que o acompanham para ver do que se trata o espanto.

—Quando mataram a sem alma? – pergunta Kantu numa sincera curiosidade. 

Aquilo que um dia foi uma mulher permanecia com sua face desfigurada para o chão, os braços antes longos já possuíam o tamanho normal, alguns tufos de cabelo presos a cabeça estão num aspecto oleoso e escasso. A menina apodrecia rápido demais, como se já tivesse passado meses que o corpo pútrido permanecia intocado, livre de alma, livre de um demônio. Sem odor cadavérico, apenas se decompondo.

Eleonor a vê estirada no chão e encara Saliel com a raiva em chamas, o rapaz dá de ombros a qualquer repreensão, como ele poderia saber que a sem alma estava quase morta quando atiraram?

—Isso é um puta problema, mas vocês têm outro pior.

Elo ofega se martirizando pelo que pensa em fazer. Amarra os dread de qualquer jeito para que não encostem no defunto, pega a sem alma pelas pernas e arrasta seu corpo no canto do corredor. Ao jogar o tronco, um dos pés acaba se soltando. Saliel encara com nojo, esquecendo-se do pânico que o invadia antes.

Todos retornam ao acampamento e fecham a porta, não se preocupando em trancar.

Na enfermagem, Isaach passa um pano úmido na ferida da testa de Vick, e prepara num copo de metal amassado, um liquido escuro para que ela bebesse quando acordar. Pedaços de alguma folha desconhecida boiam no copo. Isaach limpa o sangue seco do rosto dela, até que seus olhos azuis se abrem com dificuldade.

A luz toca as pupilas ao contestar não estar sozinha, a primeira coisa que escapa dos lábios pálidos, é o nome de seu meio irmão. Philip.

Isaach a acalma com seu olhar acolhedor, a contragosto sentindo o mundo rodar ela permanece deitada.

—Onde é que eu tô?

—Num acampamento no subsolo.

Eleonor aparece enfurecida, Kantu e Saliel tentam impedi-la, mas ela se desfaz de seus protestos. Por sua feição está obvio que Kantu abriu a boca e contou algo sobre a estranha viajante. Elo aponta seu facão na direção de Vick, a mesma zonza encolhe. A mulher tateia o corpo procurando a arma. Kantu tenta convencer Elo a não se precipitar por em quanto, mas a jovem não dá indícios de prestar atenção.

—O que você quer aqui? – esbraveja.

—Eu? Como assim? Ficou louca? Eu tava desmaiada, nem sei quem é você.

A mulher armada projeta o corpo para frente, o clima é tenso entre eles, e Victoria sente o coração acelerar como um despertador.

—Sabe muito bem, aquele merda do Konrad te disse pra vir atrás de mim, é melhor não mentir, não vou hesitar em enfiar isso no seu olhinho azul.

Seu rosto contém puro ódio, e o sentimento deixa Vick ainda mais confusa, sabe que se tentar arrancar o facão dela, do jeito que a cabeça girava pelo machucado latente, teria alguma parte do rosto de modelo rasgado. Ela decide permanecer no lugar, sem movimentos bruscos, as mãos em amostra o tempo todo.

—Konrad? – pergunta após o plano de escapar falhar, o nome gira como um peão.

—Acho que conhecem ele como Reverendo Prescott, Elo. – avisa Kantu de braços cruzados, ignorando qualquer tentativa de convencer a amiga.

— E aí? Vai dizer que porra quer aqui?

Victoria pondera as palavras que ouve. Cerra o cenho, o machucado arde em resposta. Fraca demais.

— Você é a Eleonor?

Ter seu nome reproduzido pela viajante causa um estranho comichão na pele de Elo, ela passa a ter dificuldade em respirar, contudo, mantém o controle das emoções distintas. É estranho olhar para a garota no chão.

—Pois é lerdinha, sou eu. Tô esperando. Você tem um tempo limitado pra me dizer o que queria nesse acampamento.

—Elo, calma, ela tá assustada. – intervém Isaach levantando do chão, deixando o corpo entre sua amiga e a desconhecida.

—Fica fora disso, Isaach, eu só estou tentando proteger esse lugar que chama de casa.

As palavras são duras, deixando o curandeiro entristecido. Ele já não sabe mais como chamar o estacionamento. A palavra casa parece distante.

—Escuta, sei o que tá fazendo, mas eu não vim machucar ninguém aqui. Só ia te levar pro Reverendo como ele me pediu. – diz Vick num tom apaziguador. Suas mãos erguem em paz, mostrando que não irá fazer nada com ela ou ninguém do subsolo. Mas Victoria concentra sua respiração, se precisar se defender, fará sem pensar.

Eleonor joga o corpo, empunhando seu facão afiado pelo ar. Isaach sente a ponta da lâmina na barriga, Eleonor recua vendo que o curandeiro não desistirá. Ela se irrita ainda mais com a defensiva do rapaz.

—Pelo amor, Isaach, você nem conhece ela.

—Sei disso, Elo. – engole seco, certeza que quando levantasse a camisa veria um pequeno machucado na barriga por ter agido inesperadamente. – Não estou tentando defender, mas estou cansado disso. – seu olhar ladeia o ambiente, alguns curiosos os olham distantes, mas quando Eleonor fica daquela maneira, já está na cara que não devem se meter. – Já basta de matança do lado de fora, a gente tem que ficar em buracos pra não sermos pegos pelos sem almas e outros como nós. Por favor, abaixa isso e deixa ela se explicar. Se não acreditar nela, então faz o que quiser.

Pensamentos mostram-se insólitos. O olhar alterna do rosto impetuoso de Isaach, para a garota atrás dele. Seus dedos seguram com força na haste do facão, a arma é pesada agora, então ela abaixa a mesma, sentindo os braços tremerem.

—É melhor não mentir pra mim, garota. Não importa quem é você, eu te mato na primeira oportunidade que tiver, tá me entendendo? – Vick assente num manejar rápido – Você está no nosso acampamento, não tente dar uma de espertinha.

Eleonor escapa incomodada da enfermagem, enquanto Kantu é o único a segui-la, Victoria joga a cabeça no amontoado de roupa velha, a única coisa que poderia ser usado para um travesseiro, não é a coisa mais confortável do mundo, mas serve. O peito arfa, recobrando os lábios carnudos da tal Eleonor, ela não imaginava que fosse tão bonita.

—Nossa, - ofega, percebe que a vida poderia ter acabado ali mesmo. – Obrigada por me ajudar. Isaach, né?

O curandeiro morde o lábio indisposto, a pele onde a faca forçou doí um pouco.

—Isso. – responde – Não precisa agradecer, eu só fiz o que acredito, não tem a ver com você. – a dor perdura nas linhas de expressão, visivelmente novo, todavia, obrigado a amadurecer - Acho melhor você ir com Saliel, ele vai te levar pra falar com a Eleonor. – hesita - Faça um favor a si mesma, não mente, ok?

—Não tenho medo dela. – se defende, a insinuação de que não sabe cuidar de si é um tanto insultante.

—Não precisa ter, mas aqui é nosso lugar, tenha respeito pelo menos. É só o que resta pra gente fazer.

Ele abaixa a cabeça e dá um leve toque no ombro de Saliel, confirmando que deve levar a menina. Isaach deixa um curativo pronto no colo de Victoria e os abandona sozinhos, retornando a cuidar de Aneli.

Saliel limita-se a dizer, seu olhar observa o corpo esguio de Victoria, a mesma finge não ver, já acostumada com isso. Após deixar a bandagem sob o machucado ela segue Saliel que vai na frente, agradecendo mentalmente que continuasse atrás, longe da vista do pervertido.

Eles chegam num ambiente estreito atrás de um carro esporte sem os pneus e completamente amassado na lataria onde um dia fora preta. Há uma mesa de madeira improvisada e uma fogueira apagada. Kantu, está sentado num caixote de pinus enquanto passa um antibiótico na pata do Cão, o animal chora em contragosto, contudo, a maneira que encara seu amigo, demonstra grande agradecimento.

Eleonor acende a fogueira com um isqueiro, a brasa nos pedaços de madeira e folhagem seca se acendem num calor suave, esquentando a atmosfera fria que era o subsolo. Ela também se aconchega em outro caixote, passando os dedos na lâmina do facão. Seus olhos brilham pelo fogo refletido, acalentando os braços desnudos da camisa que ela rasgou anteriormente.

Vick senta no chão do outro lado da fogueira, ainda receosa com a atitude violenta de Eleonor. A mesma ignora sua presenta, pensativa encarando o fogaréu subir.

Saliel arrisca acariciar a cabeça do Cão, mas o animal responde num baixo rosnado, afastando Saliel no mesmo instante. O homem tenta outra vez, e agora o Cão cheira sua mão para lamber em seguida.

—Se viesse com mais frequência, ele não esqueceria de mim. – brinca ele para Kantu num sorriso jocoso.

—Ele é meio desconfiado com cuzões, Saliel. – algo quente além da fogueira paira, mas mantém no completo esquecimento com a voz de Eleonor sobressaindo os estalos do lume.

—Seu nome.

—Victoria Ford. – responde sem perceber o tom amigável na voz. – Eu morava na congregação Espada e por muito tempo permaneci por lá. Não sei desde quando, perdi as contas um dia. – seu olhar se perde em meio ao quente alaranjado. – Eu fui pra lá em uma das minhas andanças procurando uma cura.

— Cura? – pergunta Eleonor claramente debochada. – Tá falando sério?

Victoria finge não ouvir a piadinha, aquele jeito de indagar sobre uma esperança não é novidade. Na congregação jamais ousou dizer sobre isso, conhece bem seus princípios e o que pensam sobre ciência.

—Sou cientista. E como qualquer cientista eu não podia ficar parada vendo o mundo morrer.

A frase ensaiada não é uma verdade absoluta. Tinha o desejo de voltar a sua vida perfeita, ao lado de seu irmão ou daquilo que ela chamava de família. Não era para salvar alguém ou ser altruísta, só queria sua vida rica novamente. Contudo, havia um tempo que a riqueza mudara sua face, e a miséria se mostrava uma amiga leal.

—Pelo que vi quando fui lá fora, você não achou ainda. – brinca Saliel sentado ao lado do Cão.

Ela dá de ombros.

—Gostou do que viu na Espada? – Eleonor mantém uma expressão pura de sarcasmo.

—Não. – Victoria treme por dentro – Por um tempo pensei que fossem de bem, que estavam tentando manter a fé das pessoas em meio a esse caos, mas tudo se trata de submissão e controle. Vi algumas coisas bem ruins e preferi partir, foi quando o Reverendo me disse sobre você.

—E o que ele disse exatamente?

—Queria que eu te buscasse.

Eleonor ajeita seu assento, o facão coça em sua palma.

—Não. O que ele disse de verdade? Você não pode ser uma simples garotinha burra que saiu da congregação por que ficou chocada com uma morte inocente. É obvio que ele confiava em você. Até sabia que sobreviveria do lado de fora também, você não é fraca Victoria. Agora diz o que ele realmente te pediu.

Seu tronco curva-se para frente após a fala escapar áspera. Victoria se surpreende com seu tom, observando a maneira com que a líder falava do sacerdote, havia mais entre eles que o Reverendo havia dito.

—Que eu matasse você.

Uma leve comoção enche a saleta. Olhos se chocam com a verdade dita, exceto Kantu que continua impassível pelo que já desconfiava.

—Sério? Acha que ela conseguiria?

—Com certeza, Saliel. Como eu disse, Konrad não é burro, ele sabia da capacidade dela.

—Ela conseguiu imobilizar um sem alma com um tiro no olho antes de desmaiar. – diz Kantu prendendo o cabelo. Saliel dá olhadelas para o rapaz, gosta da maneira despojada com que fala.

—Interessante. – contempla Saliel, não sabendo se a observação é para o feito de Victoria ou por Kantu e seu interesse sutil na menina. – Mas ainda não entendi o motivo de mandarem você pra cá, ainda mais com um sem alma na entrada, seria complicado até mesmo pra alguém tão boa.

Novamente aquele olhar estranho para Victoria, agora, no entanto, assemelha mais a um tipo de analise por parte dele, como se esforçasse em entender algum pensamento que o rodeava em relação a novata.

—Eles a seguiram, Elo. Estavam tentando achar você. Conheciam os riscos, mas Vick – ela revira os olhos pela insistência no apelido –, seria uma ótima distração pro demônio enquanto eles atravessariam o corredor e acabassem com você aqui dentro.

—Você roubou ele, Eleonor. – pragueja Victoria de repente, pensando nas palavras do Reverendo, no ultrage que o pastor passava sentir.

Saliel sorriu, até mesmo o Cão pareceu interessado na conversa, suas orelhas mexem instintivamente pelo tom aumentado na voz da cientista. Todos no acampamento, jamais perguntam como Eleonor conseguiam suplementos, em sua maioria, tão bons. Sempre era melhor manter certo mistério, muita das vezes matar seria a única opção para poder se alimentar, portanto, ninguém se atrevia a saber. Com certeza, a resposta que Eleonor daria, não seria das mais confortáveis.

Tal afirmação não faz a exploradora reagir, sua feição demonstra satisfação pela resposta.

—Roubei pelos meus. Aquele bosta tem de sobra tanto alimento quanto de remédio, tem gente aqui que precisa muito mais. Roubei e roubaria de novo. – Victoria permanece quieta, como se não acreditasse. – O que? Acha que eu precisava pensar com mais moralidade?

Silêncio.

Moralidade é algo difícil de achar nos dias de hoje, e todos ali sabem disso. Victória não diz em voz alta, mas soa errado, o Reverendo Prescott podia ser tudo, mas ele mesmo foi quem lhe deu comida e medicamento na busca pelo acampamento. Ele não recusaria ajuda...

—Elo, Konrad deve ter pedido pra outra pessoa vir, além dela.

Kantu não se move. Mantém impassível, como se nada fosse o suficiente para arrancar um olhar de surpresa genuíno dele.

—Você disse que a seguiam, viu alguma coisa quando estava vindo pra cá?

O rapaz nega enfático. A conversa é forçada a pausar quando Isaach aparece em prantos numa correria desenfreada até o grupo da fogueira.

—Elo, por favor, é a Aneli, eu não sei mais o que fazer... – ele ofega procurando ar – Ela tá morrendo, Elo.

Não é preciso pedir novamente, todos se apressam acompanhando o curandeiro, até mesmo o cachorro fica de prontidão para seguir.

A cena é comovente. Aneli está toda suja com o próprio vomito esverdeado pelas roupas e o colchão. A criança está pálida e definha, lagrimas secas em seu rosto, deixando um rastro branco na pele. A pequena tosse rouca, respira com muita dificuldade. Isaach chora sob a menina e tenta limpar o rosto um pouco de água quente. A enfermidade é forte, a impossibilitando desferir qualquer palavra de adeus. O curandeiro coloca uma pílula em sua boca, mas a menina cospe para fora, Aneli recusa num sorriso débil o medicamento. Isaach pede que ela tome, mas a menina já não o escuta mais.

—Prescott jamais recusaria remédio a uma criança se você tivesse pedido.

Eleonor não desvia sua atenção, mas as palavras de Victoria são amargas demais para não responder.

—Escuta o que você disse, garota. Morou lá, viu muita coisa. Me diz agora, tem certeza que ele me ajudaria com ela? Uma ajuda sem pedir nada em troca, pense bem, ele me ajudaria, Victoria?

Outro silêncio. A cientista não sabe como responder.  Não já uma resposta, a dúvida paira. Ponderando as cenas grotescas que viu, incerteza denomina todo o resto. Ele daria remédio pra salvar uma criança que não fosse de sua congregação? Seus testes para saber se mereciam passar pelos portões da Espada eram cruéis, até com pessoas indefesas, ele realmente daria o remédio?

Aneli não tem forças, um ultimo suspiro é dado e com ele o brilho lamurioso esvai enquanto a vida escapa de seu corpo, deixando uma carcaça pequena no colchão sujo. Todos escaram a criança, ninguém do grupo ousa dizer nada, nem uma piadinha ou comentário esperto. O choro do Cão concentra uma melodia tristonha enquanto Isaach chora descompassado, entre um soluço e outro, um pedido de desculpas.

—É melhor levar ela pra fora, ou vão ter uma guerra de sem almas aqui dentro.

A surpresa encontra todos, virando-se para trás, encontram um homem segurando uma katana, olhando-os sem emoção, ignorando a cena comovente como se não fosse nada. A psicose em seu rosto chega a assustar até mesmo o Cão.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos pelos comentários. Estou bem feliz escrevendo esta história.

Até o próximo, e obrigada novamenteeee :)



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