Os Retalhadores de Áries escrita por Haru


Capítulo 25
— Final: Garotas crescidas não choram




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— Final: Garotas crescidas não choram

Haru, Naomi e Arashi estavam com Yue na loja dela, ajudando-a a terminar de pintá-la e de arrumá-la para abrir no dia seguinte. Kin não pôde estar com eles porque perdeu no "cara ou coroa" com Arashi e teve que ir a uma reunião diplomática de quatro horas com os conselheiros do reino, Sora, com a bênção e os agradecimentos de Kin, provavelmente foi embora de Órion. Um ensolarado dia tranquilo brilhava sobre a nação.

Aqueles momentos com eles estavam fazendo Yue se sentir em família de novo. Aos poucos, ia vendo Arashi como um irmão mais velho. Além de ter lhe dado a loja de presente, o guerreiro glacial foi lá passar o dia ajeitando tudo com ela. Nunca pensou que ele fosse tão humilde. Em Haru, via um irmão mais novo, alguém por quem era responsável. Tinha medo de que a amizade dele com Sora o tornasse igual ao Raikyuu. Já em relação a Naomi se sentia diferente. Via nela a mais semelhante a si entre todos, sua gêmea de alma.

Sem nem imaginar a admiração com a qual a dona da loja os olhava, Arashi dobrou as mangas da camisa azul clara e branca quadriculada, mergulhou o pincel na tinta verde clara, se esticou até ficar na ponta das botas marrom escuras de couro e terminou de pintar a última pilastra da parede. Haru veio dos fundos do estabelecimento com uma caixa bege cheia de coisas e a pôs sobre o balcão de madeira ao lado do qual Yue finalizava o nó de um enfeite de barbante rosa. Em cima de uma cadeira no centro da sala, Naomi concluía a instalação do ventilador de teto. Aprendeu a virar uma "faz tudo" enquanto trabalhava com Santsuki.

O relógio marcava treze horas da tarde, eles estavam ali desde as dez da manhã. Sem contar as horas que trabalharam no começo da noite anterior. Pararam para comer depois de Yue sair e voltar com o almoço deles, agradecendo insistentemente pela ajuda, tão insistentemente que Naomi deu uma bolada de tinta na curta camiseta cor de abóbora que ela veio vestindo. Prometeram que fariam isso se ela agradecesse de novo e cumpriram. Ela, aparentemente, sorriu e aceitou. Quando ia devolver, alguém entrou de surpresa na sua loja.

Arashi, agachado, ergueu o olhar e logo reconheceu o visitante inesperado, mesmo ele estando de costas para eles. Era Gray. Fechou a cara. Se o conhecia bem, deve ter esbarrado com alguma namorada na rua e correu pra lá se escondendo dela. Levantou-se, com a mão pediu silêncio aos amigos, foi lentamente até o loiro e cutucou o ombro da camiseta branca dele, fazendo-o saltar de susto.

— Qual é?! Quer me matar do coração?! — O retalhador de elite brigou com ele, em seguida olhou para a rua pelas portas transparentes da loja.

— Te matar? Talvez. Não sei se do coração. — Respondeu. — Você entra aqui do nada, não sabe que estamos carregando produtos frágeis? Estamos trabalhando nisso há horas, podíamos ter estragado alguma coisa por sua causa!

— Ah, era só me mandar a conta depois! — Retrucou, sem tirar os olhos das calçadas. Sussurrou: — Agora fala um pouco mais baixo pra aquela doida não nos ouvir!

Arashi respirou fundo. "Quando você vai crescer, Gray?", perguntou em pensamentos, olhando-o. Teve uma ideia e, com ela em mente, sussurrou de volta:

— Ok, mas se quiser ficar aqui vai ter que nos ajudar.

A garota de quem Gray se escondia passou bem na frente deles, o loiro se jogou de costas no piso amadeirado e, com os lábios e o olhar, sinalizou para Arashi um rápido e desesperado pedido de socorro. "Rasteja pra lá", sugeriu baixinho o primeiro ministro, apontando os fundos da loja, onde estavam Haru, Yue e Naomi. Assim que viu seu conselho obedecido, escancarou as portas e procurou a menina, achando uma que, desorientada, olhava de um lado para o outro. A rua não estava muito movimentada naquele início de dia, então só chutou que era quem pensava.

Foi até ela.

— Tá procurando o Gray, né? — A inquiriu. Uma bela jovem de longos cabelos castanhos claros, calça comprida preta e camisa amarelada, demonstrou espanto quando achou que Arashi a conhecia. — Ele me falou muito de você. Pode entrar, ele está lá dentro te esperando.

O fugitivo quis matá-lo. "Traíra desgraçado", o insultou em pensamentos, sorrindo e acenando com a mão para a perseguidora quando ela adentrou a loja. Ali os seis passaram grande parte da tarde, com Gray tentando escapar da garota, Arashi empurrando-o pra ela e Yue, Naomi e Haru dando risada das caretas e das discussões silenciosas. Vez ou outra Yue ajudava Arashi a dificultar a vida do loiro. Foi quando todos menos esperavam, entre as brincadeiras, que a loja ficou pronta. A dona saiu sozinha e toda orgulhosa para a entrada dela, queria ver a fachada. Juntou as mãos frente ao nariz, olhou o letreiro cor de rosa e sorriu como não fazia há anos.

"Beauty Fashion", diziam as letras. Estava diante da realização de seu sonho. Chorou feito uma criança, tão emocionada ficou. De onde estava, estendeu os braços pedindo um abraço para o amigo que lhe presenteou tão generosamente, ele correu até ela, parou a seu lado e deu o que ela pediu, depois se inclinou o bastante para a baixinha deitar a cabeça em seu ombro e enxugou os olhos dela acariciando seu rostinho. Haru e Naomi, animados, ajuntaram-se ao redor deles para um carinhoso abraço em grupo, Gray teria se unido aos quatro se sua "namorada" largasse seu braço por um minuto.

— Já sabe quem vai contratar pra te ajudar? — Naomi jogou no ar uma pergunta na qual Yue nem tinha pensado.

Por não saber responder, a retalhadora estilista resolveu brincar:

— Isso foi um pedido de emprego? Não vou cobrar currículo de você.

— Ah, mademoiselle, eu adoraria, mas acho que o Haru ia pedir antes de mim... — Jogou a bola para o ruivo, cutucando-o com o cotovelo.

— Eu, hein, sai fora! — Ele repeliu a ideia de imediato. — Quero passar os meus dias treinando, não dentro de uma loja de roupas femininas!

Arashi não segurou a risada. Aquela resposta o fez ver em Haru a criança que um dia foi, o alegrou ver inocência nele mesmo depois da variedade de coisas ruins que aconteceu. Shiori lhe veio à memória. Ela, sim, aceitaria com prazer trabalhar com Yue, teria se candidatado no minuto que ouvisse dela a ideia de abrir a loja. Olhou para o alto, cabisbaixo. Pela primeira vez em muito tempo passaria o ano novo longe de sua irmã. Quando começou a pensar que os pais dela tinham razão em afastá-la deles, a última pessoa que lhe deu uma dura por pensar assim apareceu.

— Tem lugar pra mais uma nesse abraço aí? — Kin abriu os braços e, bem humorada até demais, brincou. Eles abriram espaço e a acolheram. — Oh, o Gray e a namorada dele estão aqui! É hoje que você vai pedir ela em--

— Não termine essa frase! — O loiro gritou, lá da outra ponta. Todos riram.

— Ah, Yue, — a garota se dirigiu à ela — eu sei de alguém que gostaria de trabalhar com você. O nome dela é Kyoko, posso falar pra ela passar aqui amanhã?

— Claro! Obrigada! — Disse Yue. — Vamos voltar pra dentro da loja antes que as pessoas estranhem sete doidos parados aqui e isso espante a clientela...

Kin deixou-os ir e segurou Arashi pela mão, precisava falar algo com ele em particular. O retalhador estranhou.

— Que foi? — Voltou-se para a loira, delicadamente retirou do rosto de Kin uma mecha de cabelo e levou-a para atrás da orelha dela. — Alguma coisa errada na reunião?

— Tá rolando uma guerra na Terra de Touro e mandaram um pedido de ajuda pra cá pro Reino de Órion. — Revelou. Pegou do bolso de trás da calça azul clara de linho a folha com o pedido formal, deu na mão dele e continuou: — Os conselheiros querem que você vá lá... Eu demorei porque estava tentando convencer todo mundo a mandar uma tropa de retalhadores normais, mas não consegui. Parece que a coisa tá feia mesmo.

Ele leu o pedido rapidamente. Não viu impedimentos.

— Tudo bem. Sem problemas, eu vou. — Concordou.

Não entendeu tanta hesitação da parte dela em dar a notícia, mas a fala seguinte da primeira ministra esclareceu tudo:

— Querem que você vá hoje. A nave vai levar dias pra chegar lá e eles têm medo de que você chegue tarde demais se sair amanhã.

Kin não suportava a ideia de passar aquela virada de ano sem ele, a primeira que viveriam juntos desde que começaram a namorar. Arashi também não gostou mas uma Terra amiga precisava de ajuda, não podia dar as costas para eles. A amizade do Reino de Órion com a Terra de Touro vinha desde que Yume era viva, foi iniciada e firmada por ela. Definitivamente não podia deixá-los na mão. Deu um abraço e um amoroso beijo em Kin, expressando, com estes gestos, o quanto sentia por ter que ir para longe dela naquela data. Nem pensaram que ficariam meses sem se ver e saber um do outro.

Ele achou uma solução. 

— Vou ligar pra você quando der meia-noite. — Sorriu melancolicamente. — E não fique sozinha hoje, comemore a virada com seu irmão, a Yue, a Naomi e o máximo de amigos que der, tá?

A primeira ministra assentiu e, de olhos fechados, mostrou o mais belo sorriso que pôde.

— Me desculpa por não conseguir te tirar dessa, eu tentei... — Disse, com as mãos firmes no colarinho da camisa dele e a testa apoiada em seu nariz. — Promete pra mim que vai voltar? Que não vai inventar de se meter no meio de outra explosão por causa dos outros? 

Respondeu-a com um selinho na boca e um segundo na testa. Afastando-se de ré, jurou, olhando-a:

— Eu vou estar de volta antes de você poder sentir minha falta.

Então finalmente deu-lhe as costas e se foi. Sem sair do lugar, a loira manteve os escuros olhos castanhos nele até ele sumir do campo de visão deles. Deu-se conta ali de que desde o dia que se conheceram nunca ficaram tanto tempo distantes quanto estavam para ficar. Não podia nem imaginar sua vida sem ele. Arashi se sentia da mesma forma. Na cabeça dele, no entanto, aquela experiência serviria para fortalecer sua relação, pois longe um do outro iriam conseguir olhar mais atentamente para si mesmos e ver o que faltava — se é que faltava algo. 

Pensou que o guerreiro glacial tinha razão, que ficar sozinha naquela noite não lhe faria bem, por isso, seguindo a recomendação dele, reuniu seus mais próximos amigos em sua casa e, com a ajuda de Naomi, preparou alguns comes e bebes. Todos foram muito bem vestidos, a equipe inteira dos retalhadores de elite foi para lá. Riram, brincaram, dançaram, em certo ponto da festa lembraram de Kenichi e Mahina, choraram, voltaram a brincar. Foi uma verdadeira montanha russa de emoções.

Em sua curta camisa preta abotoada com mangas longas, sua calça cinza e seu sapato de salto, imitando Arashi na feição e na voz, Naomi tirou Kin, a mais calada da festa, para dançar. Os outros convidados afastaram-se e se puseram à margem do centro da sala para assisti-las. A primeira ministra, num vestido vermelho cereja, ficou sem graça e hesitou a princípio, pretendia fugir com a desculpa de que seu namorado ia ligar mas eram apenas dez horas da noite e a francesa sabia a hora que eles marcaram de se falar. Não teve escapatória.

A sala de Kin, forrada com um extenso tapete vermelho de barbante, não foi enfeitada, ela apenas removeu os móveis e pôs algumas mesas com as comidas que comprou e com as que aprontou para seus amigos. Nas paredes cor de vinho permaneceram os retratos, os quadros, no teto continuou a única lâmpada, forte o bastante para iluminar cada canto do recinto. O ar foi cuidadosamente perfumado — tarefa que Kin delegou a Haru e Yue. 

Yue puxou Haru, Shin chamou Hana e em pouco tempo não haviam um na sala que não estivesse dançando. 

— Pra onde cê acha que o Sora foi? — Haru segurou a mão da amiga e a indagou.

Yue estava muito bonita naquela noite. Diferente do ruivo, que optou pelo mesmo modelito de sempre — camiseta preta sem mangas com capuz, bermuda bege e chinelos de dedo —, inovou, escolheu uma camisa lilás clara com o ombro direito caído, sapatos e saia jeans azul escura da metade para baixo e branca da metade para cima. Dividiu os cabelos com os clips e maquiou as pálpebras de rosa claro. 

Tentando fingir que não pensara na pergunta de Haru, falou:

— Não importa, se ele quis ir embora, o problema é dele. 

As duas horas que faltavam para a ligação de Arashi passaram voando. A exceção de Kin, todos subiram para o segundo andar, queriam ver a queima de fogos. A primeira ministra esperou a ligação do namorado na janela a esquerda da porta.

Ele não demorou a ligar, nem ela a atender:

— E aí? 

Feliz ano novo! — O amor de sua vida lhe desejou. A ligação, evidentemente fraca, prestes a cair. — Amo você

A retalhadora sorriu, suas bochechas queimavam de tão coradas.

— Feliz ano novo, amor! — Retribuiu, lutando para esconder a emoção. Engrossando a voz para falar como ele, disse: — Também amo você. 

— Vou desligar, tá? A chamada vai cair. 

Ela concordou com a cabeça, fez um gesto mudo impensado.

— Tá. Volta, hein. Você prometeu.

Antes de você poder sentir minha falta. — Se repetiu. 

 Fim.


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