Os Retalhadores de Áries escrita por Haru


Capítulo 22
— Kin




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— Kin

Dez anos atrás...

O torneio mundial organizado para decidir qual nação da Terra ficaria com a bandeira de Áries se encerrou de uma maneira inimaginável: com a vitória de uma menininha de oito anos. Kin ganhou a competição após derrotar Lire Seikou, uma jovem com quase o dobro de sua idade. Não foi fácil, mas deu fim à batalha acertando um soco no meio da cara da adversária, um golpe tão forte que a nocauteou na hora e arremessou-a longe. Sentados nas arquibancadas ao redor da arena branca de concreto, os espectadores do reino que a loirinha representava comemoraram, foram à loucura. "A bandeira é de Órion", eles gritavam. "Nós somos Áries".

Orgulhosa de si, Kin sorriu, pôs a mão na ferida da costela esquerda sob a camiseta branca que vestia e olhou para a plateia. Procurava sua mãe e seu pai. Nenhum dos dois estava lá. Aquilo foi como uma avalanche de neve sobre seus ombros, a fez sentir como se sua conquista não tivesse valido de nada, centenas de pessoas a ovacionavam, bradavam seu nome e ainda assim não foi embora a tristeza de não ter ali as pessoas que mais amava. Sua mãe com certeza estava com Arashi. Se soubesse que os dois não iriam vê-la, nem entraria naquela competição. Só Hayate estava lá, ele se misturou com os civis e festejava seu sucesso feito uma tiete.

Assinou alguns documentos, deu uma série de autógrafos, posou para dezenas de fotos e foi para o hospital tratar as contusões das batalhas e tomar um bom banho. Presentearam-na com uma camiseta e uma calça nova, as suas ficaram bastante surradas e cortadas devido as lutas que enfrentou. Saiu de lá horas após, ao cair da noite. O primeiro ministro a esperava bem na entrada do hospital, em seu terno preto e sua camisa branca sem gravata. Ao vê-la cruzar as portas pretas automáticas do centro de enfermagem, estendeu a mão para ela e pediu high five. Um tanto desanimada, a baixinha atendeu.

— Sabia que você conseguiria! — A elogiou. Só podiam lutar naquele torneio os retalhadores recomendados pelo primeiro ministro do reino que representariam.

— Pelo menos alguém que me conhece tava na arquibancada. — Desabafou a pequena.

Hayate afofou com a mão seus loiros cabelos encaracolados e tentou consolá-la:

— Eles estariam lá se pudessem, Kin.

A jovem guerreira revirou os olhos.

— É, já sei que eles tinham coisas importantes pra fazer, mas... — Pretendia continuar reclamando, decidiu, de um instante para o outro, mudar de atitude, então sorriu e disse: — Tá tudo bem! Vou pra casa descansar porque tenho aquela missão amanhã cedo... Até amanhã!

O ministro ficou parado e visivelmente confuso olhando-a ir, não entendeu nada. A mudança de postura dela não significava que ela tinha parado de se sentir mal, ao contrário, só queria dizer que sua dor aumentou. Como falou, sabia que eles tinham coisas importantes para fazer, mas não queria que a situação fosse assim. Todos diziam que ela era sortuda por ter pais importantes, poderosos e famosos, ela acreditava que nem tanto. Às vezes invejava as crianças normais, os filhos de civis. Seria egoísta de sua parte querer que os dois esquecessem o mundo um pouco para ficar com ela? Sabia que era, mas não podia fazer nada se seu maior desejo se resumia a esse.

Não se surpreendeu nada quando entrou em casa e viu sua mãe e Arashi sentados no sofá da sala, conversando sobre a administração da Terra. Bateu a porta com força para que soubessem que ela tinha chegado. Os dois a olharam, Kin forçou um sorriso e balançou a bandeira branca com a insígnia preta de Áries no meio.

— Ganhei! — Anunciou, balançando-a.

Sua mãe correu em sua direção e, toda contente, a espremeu num demorado abraço — bruto, mas confortável para o entristecido coração da garotinha.

— Eu já esperava! Essa é a minha Kin! — Celebrava dançando a Guardiã da Terra de Áries, sem soltar a menina. — Agora eu tenho alguns trabalhos pra terminar, mas amanhã nós vamos pra sorveteria!

A alegria abandonou o rosto de Kin.

— Amanhã...? — Perguntou, desapontada.

Arashi só morava ali há alguns meses, entretanto, entendeu rapidinho o problema. Viu que ter duas lendas mundialmente famosas como pais não era as mil maravilhas que parecia. Se queria ter a amizade da loirinha um dia, não podia ser visto por ela como a criança a quem a mãe dela dava mais atenção. Observador e inteligente, sabia o que fazer para aproximá-las, deixá-las a sós numa data tão importante. 

— Podem ir hoje. — Disse, ajuntando os papéis sobre a mesinha de madeira e ajustando as mangas da jaqueta jeans que trajava. — Terminamos isso amanhã, tem tempo de sobra. 

Kin o encarou. Sacou o que ele estava fazendo. Yume, ainda totalmente por fora, ficou feliz.

— Ótimo! Vem com a gente! — Sugeriu, toda contente. 

— Ah, não, não posso, o primeiro ministro Hizashi me chamou pra visitar meu vilarejo e ver se ainda tenho algo lá pra recuperar... Eu já ia te pedir pra terminarmos esses trabalhos amanhã. — Não mentiu, podia ir com as duas e fazer outro dia o que disse, mas achou melhor que aquele momento entre elas fosse apenas de mãe e filha. Após guardar as folhas numa pasta, despediu-se: — Até mais, divirtam-se!

Dar-se conta das intenções dele aqueceu o coração da loirinha. Não teria problema nenhum se ele quisesse ir, mas gostou do que o viu tentar. Sorriu olhando-o subir as escadas. Eram parceiros na equipe de elite montada por Hayate, notou algumas tentativas dele de se aproximar mas nunca facilitou. Não que fosse grosseira com ele, só não ficavam de muita conversa. A fachada extrovertida que Kin costumeiramente exibia no trabalho escondia o fato de que ela não formava rapidamente laços sólidos com as pessoas.

Sempre foi uma garota sociável, faladora, conversava com muita gente mas, quando o assunto era amizade de verdade, ela era criteriosa. Arashi compreendeu isso em poucas semanas de convivência com a garota e admirava isso nela. Estava disposto a atravessar as muralhas que ela levantava.


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