Os Retalhadores de Áries escrita por Haru


Capítulo 12
— Você é minha fraqueza




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— Você é minha fraqueza

Kin entrou em um bar que caía aos pedaços, um estabelecimento empoeirado, escuro, com piso e teto de madeira, mesas viradas, cadeiras quebradas. A luz do sol atravessava as fendas das janelas e iluminava algumas partes do salão. Havia um homem sentado sem camisa de costas para a porta, debruçado sobre o balcão. Kin cautelosamente foi até ele, tomava todo o cuidado para que seus passos não provocassem ruídos no assoalho. De repente, sem que o sujeito precisasse mostrar o rosto, ela deu-se conta de que era quem procuravam. Arashi. Ergueu a mão direita, criou uma espada de luz e se preparou para apunhalá-lo. Hesitou. Uma das coisas nas quais não parou para pensar foi se seria capaz de feri-lo. Acabava de descobrir que não. O rapaz a olhou.

Não era o guerreiro glacial que conhecia e amava. Sim, tinha os mesmos olhos azuis claros dele, os mesmos cabelos, algo em sua feição, todavia, dizia-lhe que aquele cara ali não era nada como o garoto com quem ela cresceu e por quem se apaixonou. E não só porque ele estava mais velho, mais alto e mais musculoso — perceber isso a fez engolir seco, seu rosto esquentou e corou de timidez. Tinha muito mais a ver com a aura dele. Começando a crer que Santsuki podia ter razão sobre a índole do Arashi daquele universo, deu dois passos para trás. Sem esperar, ganhou um abraço.

— Meu amor! Sabia que voltaríamos a nos ver! — Ele comemorava, alegre. Seu humor mudou de uma hora para a outra. — Mas você não deveria estar aqui... Eu matei você para nos encontrarmos no outro lado! — A afastou de si com um empurrão, a chutou e, com uma espada de gelo, investiu contra ela.

Kin teria sido morta se Kenichi, enviado por Santsuki, não tivesse aparecido e dado um pontapé na lâmina glacial. Quem chegou em seguida foi Sora, mas o Raikyuu errou o soco que desferiu contra o rosto do oponente e só não levou um chute porque Santsuki entrou na frente e segurou a perna do agressor. Que a diversão comece, o retalhador de terno sorriu e pensou, depois se agachou e esquivou-se de uma pernada giratória. Arashi encheu a mão de força para golpear quem entrasse em seu caminho, mas Kenichi, a fim de detê-lo, segurou seu punho. As ondas do impacto foram tão poderosas que devastaram toda a entrada do bar e atiraram Kin e Sora para o meio da rua.

Kenichi recuou para perto dos dois com um salto e lhes deu a mão para ajudá-los a levantar. Ele é mais forte do que o Arashi da nossa dimensão, notou o ruivo, sorrindo com empolgação. Olhou para Kin. Sabia que ela não iria conseguir dar tudo de si naquela luta, que ela não poderia machucar alguém em quem visse o guerreiro glacial, e Santsuki já deixou claro que não ajudaria. Era com ele e Sora. Arashi pulou para a rua e atacou Kin, Kenichi se colocou entre eles, desviou a espada do oponente para baixo e acertou um cruzado de esquerda na cara dele, depois levou um cruzado de direita idêntico. Uma troca de golpes em velocidade supersônica se iniciou.

O retalhador de cabelos rubros sorria, estava se divertindo. Conforme a batalha ficava mais violenta e a velocidade dos socos e chutes aumentava, Arashi, ao contrário, se tornava mais sério. Kenichi tentou acertá-lo na face com um chute alto, seu rival segurou sua perna, se preparou para contra-atacar mas hesitou quando percebeu que Kin vinha do alto com sua característica espada dourada. Para escapar do ataque aéreo da loira, soltou a perna do aliado dela e correu vários passos para trás. A primeira ministra atingiu a terra com tanta força que ocultou a arena numa densa nuvem de poeira.

Sora viu na momentânea cegueira dele sua chance de vencê-lo, partiu para o ataque e o acertou no queixo com um pontapé. Kenichi o cercou, imobilizou-o com uma gravata e, quando a poeira se esvaiu, contou com Kin para dar o golpe final, mas com a ponta da espada a milímetros de distância do estômago dele, a retalhadora parou. Eu não posso, ela dizia a si mesma, fitando assustada o azul claro dos olhos dele. Arashi se livrou do domínio de Kenichi, o atirou em cima de Sora, levou a mão até a garganta de Kin e a ergueu o mais alto que pôde. Um doloroso zumbido agudo explodiu nas orelhas de Arashi e salvou a orioniana da morte, os dois foram ao chão, ela tossindo e ele com as mãos tapando os ouvidos.

O Raikyuu catou do chão a lâmina dourada de Kin, tentou matar Arashi com ela, o alvo ficou de pé, esquivou-se da estocada dele mas não do golpe com montante de Kenichi, que o arremessou para bem longe de todos eles, tanto que os fez perdê-lo de vista.

— Tudo bem? — Kenichi ajudou Kin a se reerguer e lhe perguntou.

— Tudo, eu só preciso de um tempo. — A jovem ministra respondeu, apoiando-se nele. Estava mais ferida emocionalmente do que fisicamente. — Me desculpa por não ter finalizado ele naquela hora, joguei fora nossa grande chance...

— Não se preocupe com isso, só temos que achá-lo. — Disse o retalhador de elite, confiante.

— "Não se preocupe com isso"? Tá brincando, né? — Sora não sabia de onde vinha tanta confiança. — Nós três estamos tendo trabalho com ele! Eu-

Um punhal caindo cortou Sora no meio da fala e chamou a atenção dos três. A mão que o soltou pertencia à última pessoa que eles esperavam ver ali.

— Não pode ser... — Disse a moça. Tratava-se de Yue. Uma versão bem menos positiva e, à primeira vista, gentil, da Yue que eles conheciam. Ela andava com os pés descalços, de short e com uma camiseta branca sem mangas toda manchada de terra, seus cabelos eram curtos como os da Yue da Terra deles, mas castanhos claros. Pelo espanto que tomara sua expressão, ela também não esperava vê-los. Lágrimas escorriam de seus olhos. A garota os enxugou, foi até Sora e deixou todo mundo de queixo caído quando o beijou. — Eu pensei que nunca mais fosse te ver! Não acredito! Não posso acreditar, diz que eu não tô sonhando de novo! — Ela exclamava, abraçada a ele. Seus olhos saltaram de felicidade quando viram Kin, ela soltou Sora e a abraçou. — Até você! Eu jurava que ele tinha...!!

— Lamento, nós não somos-

— Também sentimos sua falta! — Sora interrompeu Kin, pois a loira estava para revelar que eles não eram quem ela pensava.

Quando o Raikyuu tentou beijar Yue, Kin segurou a cara dele com a mão e contou a verdade. Em seguida, eles se reuniram para ouvir a história dela. Santsuki não mentiu em nada: Arashi enlouqueceu e, sozinho, acabou com toda a vida no Reino de Órion, Yue só sobreviveu por causa do sacrifício de Haru e Sora, porém, queria enfrentá-lo e o faria mesmo se isso significasse sua morte. Com esse propósito foi atrás dele. Seu peito ardia de ódio, suas mãos tremiam de raiva. A verdade era que queria vingança. Toda vez que fechava os olhos, a imagem de seus amigos, de seu pai e de sua irmã morrendo brilhava em sua mente.

Esmurrou a terra para extravasar um pouco da fúria. Respirou fundo, jogou os cabelos para trás e os olhou.

— Precisamos pegá-lo antes que ele mate mais pessoas. Só peço uma coisa: eu o mato! — Foi a exigência dela.

— Nós não podemos matá-lo, nosso objetivo aqui é enfraquecê-lo e levá-lo para a nossa Terra. — Disse Kin.

— Olha, eu sei que lá no seu planeta vocês são um casal, aqui no nosso também era assim antes do que o Santsuki fez com ele, mas esse Arashi não é o que você conhece! Tá bem? Ele vai matar todos nós caso tenha a chance!

Kin recuou. Foi o Santsuki quem fez isso...

— Sem mortes. — Kenichi interviu.

Yue fechou a cara e os advertiu:

— Então é bom vocês me segurarem.

Logo a seguir, ela saiu andando. Sabia onde encontrá-lo, era a sensitiva da equipe.

— Ela é bem mais legal do que a Yue do nosso universo, podemos trocar? — Comentou Sora.

Os quatro voltaram a se juntar e traçaram um plano. De acordo com o combinado, Kin iria até o inimigo, o distrairia com algumas palavras, confundiria sua cabeça e os outros o atacariam quando ele menos esperasse. Encontraram-no na beira de um rio, observando quieto o fluir das águas. Kin seguiu o planejado e foi sozinha. No segundo que aterrissou, que desfez suas asas, teve a presença percebida. Arashi a olhou por cima dos ombros, só se virou depois de um breve tempo a olhando em silêncio.

O coração de Kin ficou em pedaços. Sua memória trouxe à consciência as palavras de Yue: "aqui no nosso também era assim antes do que o Santsuki fez com ele".

— Eu sei que você não queria nada disso. Você, tanto quanto os outros, foi uma vítima daquele infeliz. Você ainda pode consertar as coisas, nós dois ainda podemos ficar juntos, podemos ser muito felizes. — Falava com o coração, muito embora seu objetivo fosse confundi-lo. Andou oito passos na direção dele, esticou a mão, sorriu e pediu: — Vem comigo.

Visivelmente perplexo, o rapaz se deixou levar pelas palavras dela e se rendeu. É a nossa deixa, Sora, observando tudo de bem longe, relatou ao restante da equipe, e como ficou acertado, ele e Kenichi apunhalaram Arashi em regiões não vitais do corpo, o contendo até ele perder a consciência. Como o esperado, quem ficou fora de controle foi Yue, ela correu com o punhal para atravessar-lhe o coração, mas Sora soltou a espada com a qual perfurava o abdômen do adversário, entrou na frente e a abraçou até acalmá-la. Relaxa, sussurrava no ouvido dela, acariciando seus cabelos como jamais fizera com alguém.

Santsuki chegou e nocauteou Yue com um rápido golpe na nuca, ela caiu nos braços de Sora. O Raikyuu se voltou indignado contra ele:

— O que você fez...?!

— Nada, ela só vai dormir por algumas horas. Seria muito mais difícil contê-la se ela me visse aqui. — O vilão se justificou.

— Você! — Kin esbravejou para o retalhador de terno. Quando ele girou para olhá-la, o socou na cara, depois o segurou pela gola da camisa social branca e protestou: — Você causou todas essas desgraças aqui, como fez no nosso universo! Você é o culpado por tudo o que aconteceu de ruim com a gente!

— Para com esse teatrinho e me agradece pelo que eu fiz aqui, se não fosse por isso, o seu Arashi ficaria sem os poderes! — Replicou, livrando-se das mãos dela. Olhou o relógio prateado que portava no pulso e os notificou: — Vamos indo porque já deve estar perto das quatro lá na Terra de Áries do nosso universo, anda, venham pra perto do tio.

Santsuki fez o teletransporte e os deixou no hospital de onde os tirou, exatamente na frente do quarto de Mahina. Kenichi e Sora deitaram o Arashi de outro universo em três dos cinco bancos que havia ali, Kin apoiou a cabeça dele em seu colo e o olhou com o coração arrasado de misericórdia. Pediu com gentileza a seus três aliados que a deixassem a sós com ele, disse que os veria depois, eles saíram. Minutos depois, muito fraco, extremamente pálido, Arashi acordou com as lágrimas dela molhando sua face.

Ele alongou a mão até o rosto dela.

— Eu sinto muito pelas coisas terminarem assim... Me perdoe pela culpa que eu tive nisso... — Desculpava-se a jovem primeira ministra, incapaz de parar de chorar.

Em um evidente sinal de lucidez, o guerreiro glacial fez das seguintes palavras as suas últimas:

— Não importa o universo do qual você venha, nem as circunstâncias ou o que você faça... Eu sempre amarei você...

Ele pereceu nos braços de Kin, enquanto ela chorava quase tanto quanto choraria se nunca mais fosse vê-lo. Não demorou muito para que seu cadáver se transformasse em uma nuvem de energia azulada e desaparecesse sem deixar vestígios. Kin respirou fundo e se recompôs. Agora, precisava ter certeza de que o seu Arashi tinha a saúde e os poderes de volta. Foi pelo que lutou desde o começo.

O interruptor em sua orelha esquerda tocou.

— "Kin?" — Era Arashi. Ouvir a voz dele novamente a tranquilizou. — "Eu não sei como aconteceu, nem quando, mas... recuperei meus poderes... e me sinto bem.

A primeira ministra esfregou o nariz e sorriu.

— Eu tô no hospital, me encontra aqui na frente da sala da Mahina. Vou te explicar tudo. 

Claro que esconderia algumas coisas dele, não podia contar que pediu a ajuda de Santsuki, o que o crápula fez para conseguir o que ela queria e nem que prometeu dar a essência de Hanzuki. Suspirou com pesar e lançou as mãos no rosto, apreensiva. Aquilo só piorava. 


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