Algo Sobre o Futuro escrita por Vanilla Sky


Capítulo 5
Capítulo Cinco - Uma Espécie de Família


Notas iniciais do capítulo

E chegamos ao último capítulo desse prelúdio. Mas não saiam daqui não, tem um epílogo curtinho depois!
Como vocês estão, galera, tudo bem? ♥ Vanilla na área para finalizar essa fic. Ela deu origem a outra fic que será postada em breve (vou avisar aqui e no grupo do Nyah no facebook quando fizer). Esse capítulo tem muitas coisas importantes para a continuação, então leiam com carinho!
Vou deixar os agradecimentos para o fim.
Beijão e aproveitem ♥



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Wanda sentou-se na cama e observou a escuridão através de duas janelas com as cortinas entreabertas. A luz fraca de um abajur aceso na mesa de cabeceira ao seu lado dissipou o breu, bem como a luminosidade advinda de prédios nos arredores de onde estava. Com o canto dos olhos, viu a sacola plástica trazida por Natasha, a roupa de cama dobrada ainda na ponta do colchão, e seu próprio corpo coberto por uma manta branca. Definitivamente, a moça estava de volta em seu hotel.

Instantaneamente, Wanda pôs uma mão sobre a barriga e acariciou-a, aliviada. Respirou pesadamente ao lembrar do pesadelo que tivera, e da sensação horrível que fora procurar os indícios de gravidez e somente sentir o vácuo. Como se ela não fosse digna de carregar uma criança no ventre; e talvez realmente não fosse, por ser exatamente o que Visão tão repetidamente disse no sonho – uma aberração.

Ela balançou a cabeça em negação, uma tentativa de esquecer os pensamentos intrusivos remanescentes do pesadelo, e usou a outra mão para se apoiar na cama e colocar os pés para fora, tomando um minuto para observar ao seu redor. Seu acompanhante, Visão, não estava nas proximidades, contudo, ela notou a porta do banheiro aberta e uma quase imperceptível luz amarelada advinda da lâmpada acesa acima do espelho. No reflexo, era possível ver uma figura robótica não mais com seu disfarce humano, e sim com as roupas de super-herói, a cabeça baixa encarando algo na beirada da pia.

O teste de gravidez.

Wanda conhecia o sintozóide suficientemente bem para supor que ele havia encarado a tira branca com duas linhas vermelhas por horas sem parar. Certamente não era a maneira que ela desejava que os eventos se desenrolassem; porém, somente lembrava de ter desmaiado no chão da cafeteria, e depois sua mente ficava obscura, sem saber diferenciar a realidade do longo pesadelo..

Ainda sentada na cama, Wanda fez algum esforço para falar, mas sem saber o que dizer. Não tardou para Visão perceber que ela havia acordado, então, deixando o teste sobre a pia, virou o corpo e flutuou até chegar na cama. Aproveitou para pegar um copo com água na cabeceira e ofereceu-o a ela antes de sentar ao seu lado e dizer:

— Sente-se melhor?

 

Ela olhou-o com o canto dos olhos e bebeu um pouco da água.

 

— Sim, Vizh. – Respondeu, colocando o copo de volta na mesa. – Muito obrigada.

 

Silêncio.

 

O distanciamento entre Wanda e Visão era inerente ao seu relacionamento incomum e, portanto, não lhes causava estranheza ou incômodo. Na época em que ambos residiam na Base dos Vingadores, bastava estarem um ao lado do outro para sentirem-se completos em noites solitárias nas quais não era possível repousar. Foram incontáveis as vezes em que ambos se deitaram sob as estrelas e deixaram a taciturnidade falar por eles, apenas se encarando e sorrindo enquanto a joia da mente brilhava fracamente na testa dele.

 

Entretanto, naquele momento, o silêncio não era uma maneira de se expressarem, mas, sim, a ausência de uma explicação devida por ambos. A falta de palavras doía em Visão, que recém descobrira a gravidez de sua supostamente namorada, e machucava Wanda por ela não ter tido a chance de se expressar como deveria, mas não se sentia bem na posição em que ocupava, principalmente por Visão ter sumido por um período tão longo.

 

— Wanda.

 

A voz metálica de Visão, apesar de baixa, ecoou pelo quarto do hotel, e puxou Wanda de seus devaneios da mesma maneira que seu braço pesado fizera no pesadelo. A escuridão ao lado de fora demonstrava estarem na densa noite, talvez madrugada.

O brilho amarelado da joia da mente refletia nos olhos esverdeados da moça, a única fonte de luz tão próxima que permitia ver o rosto de seu sintozóide com tantos detalhes. Marcas de lágrimas cobriam suas bochechas metálicas, e ela instintivamente levou as mãos ao redor de seu rosto, pondo-as acima de seus maxilares, um gesto que demonstrava todo seu afeto desde o período que moravam em Nova Iorque.

 

Com toda a delicadeza que seus dedos permitiam, ela acariciou o trajeto do choro e sorriu em uma tentativa de transmitir a confiança que ela mesma não possuía. Visão já havia cessado a dispersão de líquidos através de seus canais lacrimais sintéticos, contudo, era reconfortante receber o carinho de Wanda daquela forma. A mesma carícia que ele fizera quando ela lacrimejou mais cedo.

 

— Wanda... Você está grávida?

 

Não havia palavras pela metade. Visão fora incisivo em sua pergunta.

 

— Sim, Vizh. – Wanda engoliu em seco ao responder, sentindo as mãos, ainda ao redor de seu rosto, tremerem com aquela afirmação. – Eu estou grávida.

 

O tempo parecia ter congelado naquele instante, pois nada era audível além da respiração de Wanda. Nem mesmo o barulho dos hóspedes pelo corredor, ou carros buzinando na rua abaixo da janela. Aquele momento, o ínfimo momento entre a pergunta e a resposta, era só deles. O universo inteiro parou para ouvir Wanda anunciar um pequeno milagre.

 

— Quando você começou a sentir os indícios de gravidez?

 

— Eu não sei precisar... Quatro semanas, talvez? Minha menstruação atrasou bastante, e os enjoos se tornaram repetitivos.

 

Visão suspirou, algo que Wanda havia presenciado poucas vezes.

— Eu... Eu não acredito que estive longe de você por tanto tempo, Wanda!

 

Subitamente, o sintozóide passou os braços ao redor dos ombros esguios de Wanda. Ele puxou seu corpo frágil para perto em um abraço carinhoso, acariciando devagar os longos fios de seu cabelo cobre.

 

Wanda agarrou as costas de sua roupa de super-herói, sentindo lágrimas brotarem em seus olhos semiabertos. As pontas das unhas pintadas com esmalte incolor seguravam firmemente no tecido bizarro e estranhamente macio, e ela suspirava devagar, deixando as lágrimas pendentes daquele mesmo dia mais cedo caírem livremente.

 

— Ah, Vizh, você não sabe a falta que você me faz.

 

Por alguns minutos permaneceram juntos, os braços de Visão apertados ao redor da moça enquanto ouvia a respiração entrecortada devido ao choro. Ele gentilmente corria os dedos avermelhados pelas mechas de seu cabelo, pequenos gestos que aprendera a fazer com o tempo, desde as madrugadas que passavam conversando até os beijos roubados nos lindos jardins de Wakanda. O remorso – sentimento que descobrira da pior maneira possível – se tornava cada vez mais abundante em seus sistemas; e a preocupação havia dobrado, já que agora havia duas vidas que deveria proteger.

 

— Por que você sumiu?

 

Era a pergunta presa na garganta de Wanda desde o momento em que se encontraram. O robô endireitou a postura, segurando carinhosamente a amada pelos braços e observando seus olhos marejados.

 

— Eu não tenho uma resposta clara em meus sistemas para isso, Wanda. – Disse, buscando a melhor maneira de se expressar. – O volume de trabalho na Base estava gigantesco, e o Secretário Ross estava cada vez mais desconfiado. Sei que deveria ter saído sem chamar a atenção para ir vê-la, mas não o fiz. Foi um erro.

 

— Está tudo bem. – Wanda usou os punhos para secar algumas lágrimas insistentes. – Eu sei que você nunca me abandonaria. E deve ser estranho para você descobrir que vai ser pai...

 

— Não tão assustador quanto para você, que será mãe. – Visão se aproximou novamente e beijou sua testa com ternura. – Os enjoos, inchaços, tudo deve ser muito assustador.

 

— Você... Você não desconfiou de mim? – Perguntou Wanda, acanhada.

 

— Desconfiar? – Visão arregalou os olhos o máximo que seu rosto metálico lhe permitia, antes de entender que ela se referia a uma possível traição. – Jamais, querida Wanda. Eu senti o seu amor por mim naquele dia. Senti que pertencíamos um ao outro. Que o nosso futuro é estar junto.

 

Uma nova lágrima rolou pelas bochechas de Wanda enquanto Visão colocou a mão sobre sua barriga.

 

—  O futuro está aqui.

 

Com todo o carinho que seu corpo conseguia externar, Visão ajoelhou-se no chão e beijou a pequena barriga de Wanda, levantando-se em seguida para beijar seus lábios. Os dedos logo se entrelaçaram com os dela, e ambos ficaram em pé, beijando-se por vários minutos enquanto sorriam um para o outro. Por um momento, Wanda esqueceu dos Tratados de Sokovia, do fato que ambos eram criminosos procurados e que poderiam ser presos a qualquer momento. Que fugir com o bebê seria ainda mais complicado, e ela não havia um lugar para se esconder em definitivo; mas, quando seus lábios encostavam nos lábios sintéticos de Visão, aquelas preocupações se dissipavam como o vento no horizonte, e ela apenas imaginava sua barriga crescendo. O primeiro contato com o bebê. Visão brincando com o menino, ou menina, e depois colocando-o para dormir. Beijos suaves na sua testa enquanto fazia a comida ou antes de se deitar à noite. Uma vida normal e pacífica, algo que ambos mereciam há muito tempo.

Após se afastarem, Wanda estremeceu de frio, notando que vestia somente uma camisola.

— Desculpe, Wanda. – Disse ele, se aproximando da mala em que ela trazia suas roupas. – Não queria deixar você com as roupas que saímos, então tirei-as e separei para lavar.

 

— Então... Você já tinha visto a gravidez?

 

— Afirmativo. Antes de ver o teste sobre a pia.

 

Visão remexeu na mala até encontrar peças de vestimenta adequadas para ela enfrentar o frio naquele dia de inverno. Depois, o próprio utilizou de seus poderes para vestir roupas humanas, apesar de manter a aparência robótica, depois de devidamente vestidos, Wanda indagou:

 

— Você trouxe aquelas tortas para cá?

 

Visão sorriu.

 

— Estão guardadas no frigobar.

 

Antes que ela pudesse abrir a pequena geladeira, foi parada por Visão postando-se em sua frente.

 

— Coma algumas frutas antes. Vão fazer bem para você e para o bebê.

 

Contrariada, ela grunhiu antes de aceitar, e o sintozóide deitou na cama sob as cobertas, e deixou o espaço dela na cama pronto para Wanda não precisar fazer qualquer esforço.

 

— Não foi muito fácil levar você no colo, as tortas, e pedir para os humanos não chamarem a ambulância. – Wanda deitou ao lado dele com algumas frutas picadas sobre um prato plástico. – Depois voar novamente para o hotel e entrar pela porta dos fundos com você desmaiada sem parecer um maníaco.

 

Wanda soltou uma sonora gargalhada.

 

— Peço desculpas pelo transtorno.

 

— Seria engraçado se eu não estivesse tão preocupado com você ter desmaiado sem motivo algum! – Ele explicou, o tom de voz monótono levemente alterado na porção final da frase. – Quando cheguei em segurança no hotel, fiz uma checagem rápida de saúde, que apontava hiperglicemia. Quando troquei sua roupa para algo mais confortável, percebi o inchaço na barriga, e fiquei ainda mais preocupado por não ser possível levá-la a um hospital. Foi então que entrei no banheiro e uma tira branca chamou minha atenção sobre a pia.

Enquanto comia as frutas que Natasha trouxera mais cedo, ela escutava atentamente cada palavra de Visão. Havia um quê de orgulho em sua voz, ao contar de como descobrira a gravidez.

— Eu nunca havia visto um teste de gravidez positivo no período que estou aqui. Foi um pouco difícil entender o que era. – Ele sorriu ternamente.

— Bom, não era a maneira que eu me imaginava contando a novidade para você, porém, é um pouco melhor que a cafeteria barulhenta.

 

As breves risadas deles precederam um tranquilo silêncio. Finalmente, eles estavam em paz com a taciturnidade daquela noite serena, sendo que Wanda terminara de comer suas frutas e se ajeitara em um travesseiro macio para ficar abraçada em Visão.

 

A luz advinda da joia da mente era branda, e a feiticeira havia percebido que isso infligia diretamente nas emoções de Visão. A sensação de felicidade deixava a luminescência em tom plácido, e, em momentos de tensão, seu brilho amarelado tornava-se intenso. Ainda em silêncio, ambos fecharam os olhos, Wanda prestes a dormir, quando deixou escapar o último pensamento do dia:

 

— Você estava observando aquelas crianças? Na livraria e na cafeteria?

 

Ele beijou sua testa suavemente, uma maneira de aninhá-la.

 

— Tenho observado interações humanas há bastante tempo, Wanda. Especialmente depois que começamos a nos encontrar. Muitas dessas interações descobri com você. – Ele sorriu e prendeu uma mecha do cabelo ruivo da moça atrás de sua orelha. – O amor, a timidez. Mas as interações familiares ainda eram um mistério. Em especial, conceber uma criança através do amor. E aquelas crianças hoje pareciam um recado para mim. Uma maneira de antever essa maravilhosa surpresa. – Com a mão oposta, ele segurou a barriga de Wanda. – Esse pedaço de nós dois que eu quero proteger com todas as minhas forças.

 

Visão fez uma longa pausa. Depois, ao perceber que Wanda dormia tranquilamente, disse em um sussurro:

 

— Podem tirar toda a vida de meu corpo. Mas jamais vou deixar que machuquem vocês.

 

Todavia, Wanda ainda não havia dormido, somente fechara seus olhos para se concentrar nas belas palavras de Visão. Ela evitava de cair no sono, pelo medo de repetir o pesadelo que tivera horas antes, e, mais que isso, receio de Visão ir embora sem se despedir mais uma vez. Permaneceu quieta, e segurou firmemente a gola da roupa humana que Visão vestia, uma maneira de mantê-lo próximo.

 

O atento sintozóide não demorou a perceber a turbação no sono da moça, perguntando-a:

 

— Não consegue dormir?

 

Wanda respirou fundo antes de responder:

 

— Não quero perder a hora que você for embora.

 

Ela decidiu ocultar sobre o pesadelo. Entre eles, pairava uma áurea etérea, algo simbólico daquele momento especial, portanto, seria melhor não tocar no assunto, já que as visões não deveriam se repetir.

 

— Quem falou em ir embora?

 

Visão beijou sua testa devagar, acariciando a bochecha da moça.

 

— Como assim? – Wanda abriu os olhos, confusa.

 

— Eu não vou embora, Wanda. Vou ficar com você.

 

Ela sentou na cama, incrédula com o que ouvia de Visão;

 

— Mas você fez uma promessa ao Stark. Que voltaria.

 

— Prefiro fazer promessas para você.

 

Sentando-se na cama ao lado dela, o sintozóide tomou as pequenas mãos humanas de Wanda entre seus dedos avermelhados, entrelaçando-os e trazendo as costas da mão dela em direção aos seus lábios. Beijou suavemente sua pele macia, sentindo o delicioso aroma exalado por seus poros, para somente depois levar a palma da moça em direção a sua testa e, com a mão livre, sentir a pequena barriga despontando.

 

O palmo de Wanda sentia o calor emanando da joia da mente e, portanto, utilizou a áurea escarlate emanando de seus dedos para conectar-se com ela e seu portador. Sentiu, dentro de seu coração, o amor, o carinho, o aconchego. Também sentia a delicadeza da mão de Visão sobre sua barriga, pressionando-a devagar. E, assim, eles permaneceram por longo período de tempo, a promessa tácita de que jamais deixariam um ao outro.

 

Não era o ambiente ideal, mas, pouco a pouco, eles se tornavam uma família.


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Notas finais do capítulo

Psiu! Clica ali embaixo para ler o epílogo dessa fic ♥



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