Ladybug colocou a mão sobre a própria boca ao perceber que tinha falado demais.

— Merda! Não era pra eu ter falado isso! Não era para sabermos nada um do outro, as identidades precisam…

Eu estava tão atônito que nem escutava o que ela dizia. Agora ela estava lá, tagarelando sobre identidades secretas ou sei lá o quê e eu estava ali, ainda sem acreditar no nome que tinha escutado.

— Adrien Agreste? Você estava apaixonada por Adrien Agreste?

— Chat! Precisamos focar no akumatizado! Mas sim! Eu estava apaixonada por Adrien Agreste!

— Nossa. — Disse, completamente atônito.

— Eu sei, eu sei… você deve estar achando que sou mais uma daquelas fãs dele, que pendura fotos no quarto e… bom, eu realmente pendurava fotos no quarto, mas isso não… — Suspirou, pois falava rápido demais.

— Você era realmente apaixonada por Adrien Agreste? Por que você não falou quando eu perguntei naquele dia do Glaciator?

— Porque não devíamos saber nada um do outro!

Eu passei as mãos pelo cabelo. Eu realmente nunca iria imaginar isso.

Ladybug era apaixonada por mim. Por todo aquele tempo, ela era apaixonada por mim! Mas agora… eu não sabia se estava tão empolgado com isso. Quer dizer, se ela tivesse falado há algumas semanas, eu com certeza teria dito que a amava também e…

Caramba! Eu queria tanto ouvir isso no mês passado, mas agora eu só conseguia pensar na tarde que tinha passado com a Marinette.

— Mas isso não importa agora.

Ela falou e eu ia deixar por isso mesmo. Eu realmente queria deixar esse assunto pra lá, eu precisava deixar pra lá. Mas aquele raio da verdade que tinha me atingido não deixou.

— É claro que importa! Porque eu sou…

— Não! Não importa! Precisamos guardar segredos um do outro!

Ela gritou junto comigo, o que, de certa forma, eu agradeci, pois ela não escutou quando revelei minha identidade sem querer.

Nós nos encaramos e então ela se levantou, caminhando até a porta da sala que usávamos para nos proteger do vilão — ou melhor, nos proteger de nossas próprias palavras, que saíam de forma involuntária de nossos lábios e que poderiam revelar nossa identidade secreta para Hawk Moth.

— Eu não gostava dele por ele ser famoso ou por ser bonito. — Ladybug disse por cima do ombro. — Eu gostava dele porque ele foi gentil comigo, porque… ele não guardou ressentimentos de uma garota que o julgou sem conhecer.

— Espera um segundo: você conhece o Adrien Agreste?

Ela assentiu.

— Eu sou amiga dele.

Quê?

— Eu tenho que parar antes que fale demais! — Disse ela, mas agora eu realmente não queria que parasse de falar. Como assim eu conhecia a Ladybug por trás da máscara? E… eu era amigo dela?

— Você é amiga dele? — Eu perguntei, ainda em choque e não conseguindo resistir à curiosidade.

— Chat! Sim, eu sou amiga dele. Na verdade, antes eu queria ser mais que isso. Mas agora eu estou muito confusa e… Por favor, vamos parar de falar sobre isso. O akumatizado…

— Por que eu só fui saber disso agora? — Sussurrei sozinho e Ladybug voltou-se para mim. — Agora… agora eu estou gostando dela… — Pensei alto, lembrando de Marinette.

— O quê? — Ladybug perguntou e eu sabia que era o efeito do raio. Sabia que, assim como eu, ela só queria sair dali e derrotar o vilão antes que revelássemos coisas demais um para o outro.

— Eu… estou apaixonado por uma garota. Eu sempre achei que ela era só uma amiga, mas nesses últimos dias eu percebi que não era só isso. E hoje… bem, eu meio que passei o dia todo com ela e… eu a amo. Desculpa, Ladybug.

— Que coincidência! Eu também passei o dia todo com aquele garoto! — Ela disse.

Como é?

— Com o… Adrien? — Perguntei, em choque.

Ótimo, lá vamos nós tagarelar de novo. É hoje que a gente não sai daqui para derrotar o akuma.

Espera um segundo, o que eu estou pensando? A Ladybug disse que passou o dia comigo! Mas não faz sentido… eu passei o dia com a Marinette! Será que a Ladybug está mentindo?

Claro que não, seu burro! Ela está sob o efeito do raio lá da verdade!

Espera um segundo, se a Ladybug passou o dia todo comigo e eu passei o dia com a Marine…

— É, eu passei o dia todo com ele! Primeiro foi na escola, mas não aconteceu nada, tirando o fato de que ele estava me olhando muito e minhas amigas estavam surtando por causa disso. Disseram que ele já me olhava assim há um tempo e que devia estar gostando de mim, mas é claro que eu disse que ele só me via como amiga, porque ele realmente só me via como amiga, mas isso foi antes, é claro, do que aconteceu hoje. — Sério, ela estava falando muito rápido. Acho que nem ela conseguia entender o que dizia. — Aí eu fui para a casa dele e estava tudo bem, estávamos conversando como amigos e aí o vilão apareceu e atacou a casa, nós fugimos e fugimos e aí ficamos presos e eu estava totalmente desesperada porque eu tinha que sair para lutar contra o akumatizado, e eu estava tão preocupada com você, mas é claro que ele não sabia disso, porque ele não sabe que eu sou a Ladybug, então eu inventei uma desculpa esfarrapada como sempre, mas aí ele disse que estava apaixonado por mim e é claro que se isso acontecesse há umas duas ou três semanas, eu teria surtado, mas agora eu só conseguia pensar em você! Toda hora eu olhava para a porta e pensava em você e se você estaria bem e aí ele disse que gostava de mim, mas eu só conseguia pensar em você dizendo isso pra mim, tanto que teve uma hora que eu achei que ele tinha me chamado de my lady, mas é claro que ele não deve ter dito "eu gosto de você, my lady", e sim ter dito o meu nome, falando "eu gosto de você, Ma…" — Ela colocou a mão na boca, mas não era preciso.

— Marinette. — Eu completei, ainda atônito.

— Isso! Espera, o quê? Não! Como você…

— Você não ouviu errado. Ele não disse "eu gosto de você, Marinette", ele disse "eu gosto de você, my lady"!

— O quê? Por que você… Como você…

— Foi por isso que você se afastou depois! Como se não tivesse consciência de que tinha me beijado! Porque você achou que tinha me beijado!

Ela me olhou com uma expressão confusa. Ok, realmente aquela frase não tinha feito muito sentido.

— Você achou que beijava o Chat Noir, e não o Adrien! E por isso se afastou de mim, dele, depois!

— Isso! Espera! Como você sabe disso? Espera de novo! Você sabe quem eu sou? Como você sabe quem eu sou? Você não devia saber quem eu sou! O Plagg disse que…

Eu me aproximei, segurando as mãos dela e sentindo um sorriso involuntário se formar em meus lábios. Era ela. Era ela o tempo todo. Marinette.

Ladybug parou de falar por alguns segundos e me olhou com uma expressão pensativa.

— Ai meu Deus! Você é ele! Você é o Adrien! Você é o Adrien!

Toquei os lábios dela com o indicador e ela começou a falar mais baixo.

— Caramba! Eu acabei de dizer que… que… — Ela deixou a frase no ar e tocou meu rosto, como se ainda não acreditasse. — É você, é você, é você! — Ladybug começou a rir e, para a minha surpresa, selou nossos lábios com um beijo. — Desculpa, eu não estava aguentando mais essa vontade de te beijar.

Nós dois rimos. Ah, como eu queria ficar ali com ela naquele momento.

— Temos um akuma para derrotar. — Lembrei.

— É, que droga!

Rimos de novo.

— Ok, agora que estamos mais calmos…

— Mais calmos? Você está mais calmo? Porque eu acho que meu coração nunca ficou tão acelerado em toda minha vida! — Ela corou com as próprias palavras — Argh! Droga de raio da verdade! Foco, Marinette, foco! — Ela se aproximou, tocando a ponta do meu nariz com o indicador — Nós vamos bolar um plano para derrotar o akuma e depois teremos todo o tempo do mundo para…

Nesse momento, o vilão derrubou a porta da sala onde nos escondíamos, o que resultou em um grande estrondo.

— Ok, esqueça o plano, vamos no improviso. — Ladybug disse.

— Todo o tempo do mundo para o quê? — Perguntei com um sorriso provocante e ela riu.

Surpreendentemente, o vilão, que até agora não tinha dito uma palavra, falou conosco.

— Vocês estão sob o efeito do raio, então só dirão a verdade. Agora, o meu amigo Hawk Moth quer saber uma coisa muito importante: quem são vo…

— Talismã! — Ladybug gritou antes que ele terminasse a pergunta, nos impedindo de revelar nossas identidades sem querer.

Uma fita caiu sobre suas mãos e, rapidamente, ela cortou um pedaço e colocou sobre os lábios. Arremessou o restante para mim e eu fiz o mesmo.

— Acham que uma fita vão impedir a verdade? Todos os segredos serão revelados! Todos!

Ele se aproximou de nós e iniciou uma luta corpo a corpo, tentando retirar a fita.

— Onde está o guardião dos miraculous? Onde está? — Ele tentava, mas a fita abafava nossas respostas.

Continuamos a batalha e, em um determinado momento, o akumatizado conseguiu me encurralar e tentou puxar a fita do meu rosto, mas, para a surpresa dele — e para a minha também — ela não saiu.

— Por que não sai? — Ele gritava.

— Deve ser mágica… — Eu respondi, mas as palavras saíram bem abafadas por causa da fita. — Cataclismo!

— Quem é você, Chat Noir? Fala! — Ele gritava, mas eu já tinha usado meu poder no objeto em que o akuma estava, libertando a borboleta mágica.

Assim, o akumatizado caiu de joelhos no chão e nós dois puxamos a fita dos nossos rostos.

Logo, Ladybug purificou o akuma e estava prestes a usar seu poder que consertaria tudo, mas eu a impedi, tocando seu braço.

— Espera! Você acha que vamos esquecer tudo? Quer dizer, sobre as identidades.

Ela pareceu surpresa ao perceber isso.

— Talvez. Isso foi meio que uma das consequências do akuma, então… — Respondeu.

— Você quer esquecer? Quer esquecer que eu sou… — Ela tocou meus lábios ao notar que o homem que havia sido akumatizado estava ali ainda.

— Não. Eu não quero esquecer, mas… preciso fazer tudo voltar ao normal. As pessoas ainda devem estar por aí revelando seus segredos sem que elas queiram. — Respondeu e eu sorri. — E, além disso, nossas identidades precisam ser secretas.

— Eu sei. — Falei, sentindo um aperto no peito. — Posso… só te beijar uma última vez antes de esquecer quem você é?

Ladybug sorriu e selamos nossos lábios. Tudo o que eu queria era não esquecer aquele beijo, não esquecer aquele momento, não esquecer que as duas garotas que eu amava eram a mesma pessoa.

— Será que… foi isso o que aconteceu quando enfrentamos o Oblivio? — Ela perguntou.

— Acho que nunca vamos saber. — Trocamos sorrisos tristes e nossos miraculous apitaram.

— E agora? Quer dizer, depois que esquecermos tudo, eu ainda vou "rejeitar" o Adrien porque estou apaixonada pelo Chat Noir e…

Eu a interrompi, roubando-lhe mais um beijo, que logo foi retribuído. Ao nos separarmos, senti a respiração acelerada e quente dela tocando meu rosto. Mantemos nossas testas unidas.

— Tenho certeza de que ficaremos juntos um dia, my lady. Pode levar tempo, mas vamos nos encontrar, eu tenho certeza.

Ela sorriu, mas eu vi uma lágrima percorrer sua bochecha.

Marinette segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos.

— Miraculous Ladybug! — Gritou, jogando o ioiô para o alto, e as joaninhas mágicas começaram a reparar os estragos.

Ela levou nossas mãos unidas até os lábios.

— Eu te amo. — Sussurrou, deitando a cabeça sobre meu ombro e fechando os olhos.

— Eu também te amo. — Sussurrei de volta e fechei os olhos.

Quando os abri, vi as pessoas ao nosso redor, aplaudindo a batalha. Senti Ladybug se afastar de mim.

— Ladybug, Chat Noir, como foi lutar contra esse vilão? Aliás, qual era o poder dele mesmo? Estranho, não consigo me lembrar sobre nada do que aconteceu. — Nadja Chamarck dizia, com o câmera-man ao seu lado.

Mas meus olhos estavam voltados para Ladybug e os dela, para os meus.

— Ai meu Deus! Eu lembro, eu lembro, eu lembro! — Ela gritou, rindo.

— Eu também! — Eu ri também e a lenvantei no ar, segurando-a pela cintura enquanto girava de tanta empolgação. — Mas como? Era para as joaninhas mágicas…

— Eu não sei! Não faço a menor ideia! Só sei que estou tão, tão feliz por isso!

Eu a coloquei no chão e continuamos sorrindo um para um outro.

— Desculpe, mas… do que vocês estão falando? — Nadja perguntou. — Vocês lembram da batalha?

Nossos miraculous apitaram e Ladybug voltou-se para Nadja.

— Não, não lembramos de nada. Temos que ir, Chat Noir, não queremos que ninguém saiba nossas identidades, não é? — Trocamos sorrisos cúmplices.

— Ah, quase esquecemos. — Estendi a mão para fazermos nosso cumprimento.

— Zerou! — Cerramos nossos punhos como de costume e saimos dali, como se nada tivesse acontecido.

— Que bom que deu para mentir, já pensou se ainda estivéssemos falando só a verdade? — Ela disse rindo, enquanto saltávamos sobre os prédios.

— Ah, não vai achando que vai ficar por isso mesmo não! Você revelou muitas coisas quando estava sob o efeito do "soro da verdade". — Eu falei em um tom brincalhão e vi que ela tinha corado.

— Ai, que vergonha. Eu nem conseguia acompanhar o que dizia. O que eu falei?

— Sorte sua que eu também não entendi muita coisa, mas teve uma que eu entendi muito bem. — Eu fingi estar bravo.

Paramos em um telhado, ficando um de frente para o outro.

— Qual? — Ela perguntou com um certo medo na voz e eu me aproximei.

— Você me chamou de… sexy? Foi isso mesmo? — Comecei a rir ao ver seu rosto vermelho.

— Nem vem que eu ouvi você dizer que o meu cabelo era cheiroso! — Ela tentou se vingar, mas percebeu que não adiantou muito. — É, as minhas verdades foram bem mais vergonhosas.

Nós dois rimos e ouvimos os miraculous apitarem, mas nos sentamos sobre o telhado. Não havia mais razão para sairmos correndo.

— Mas eu gostei de ouvir. — Eu disse, me deitando, e ela fez o mesmo.

— Eu também gostei. — Sorrimos e selamos nossos lábios com um beijo rápido. — Acha… acha que terão consequências? Por sabermos nossas identidades? Quer dizer, elas deviam ser secretas, não?

— Sempre tem consequências… Mas eu acho que, se as joaninhas mágicas não consertaram isso, é por algum motivo.

Ela sorriu e nos beijamos de novo, até que lembrei de uma coisa.

— Caramba! Meu pai! Ele deve ter chegado e não nos viu lá e…

Ladybug arregalou os olhos e nos levantamos, saltando rapidamente pelos telhados até minha casa enquanto combinávamos uma desculpa esfarrapada para o caso de meu pai ou a Nathalie perguntarem onde estávamos.

Mas não foi necessário. Nenhum dos dois pareceu ter notado nossa ausência quando descemos as escadas fingindo que nada tinha acontecido.

— Terminaram o trabalho? O sistema de segurança foi desativado há um tempo, mas acho que vocês não perceberam, porque só desceram agora…— Nathalie comentou e eu iria responder com alguma desculpa esfarrapada, mas Marinette me impediu.

— Estávamos tão focados no trabalho que só reparamos agora que a porta estava aberta. — Disse ela, rindo levemente — Mas não terminamos o trabalho, ainda faltam alguns detalhes. — Completou, pegando as folhas que tínhamos deixado na sala.

Logo, estávamos no meu quarto de novo.

— Ué, pensei que já tínhamos acabado o trabalho. — Perguntei.

— O trabalho sim, mas falta terminar uma outra coisa. — Marinette disse, se aproximando com um sorriso provocante. — Não sei se você se lembra, mas nós fomos interrompidos…

Ela estava prestes a me beijar quando Plagg disse:

— Ah, claro! Agora eu sou uma interrupção! Desculpe, mas eu achei que vocês tinham que salvar o mundo! — Tikki arremessou uma almofada nele.

— Plagg! — A kwami falou e nós rimos.

Olhei para Marinette enquanto ela ria, sentindo meu coração calmo, mas ao mesmo tempo, explodindo de felicidade. Não restava mais nenhuma dúvida sobre o que eu sentia por ela. Eu tinha toda certeza de que a amava e, agora, também sabia que ela me amava de volta.