A Última Vez escrita por Auto Proclamada Rainha do Sul, KodS


Capítulo 3
Capítulo 3 - The Last Time




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"Eu me encontrei em frente a sua porta, apenas como todas aquelas vezes antes. Não tenho muita certeza de como cheguei aqui, todos os caminhos me guiaram para cá."

Sokka sentia a mulher sobre ele, as mãos dela sob sua camiseta enquanto os lábios dela cobriam seu pescoço e o rosto, mas havia algo errado ali.

Era uma garota comum da tribo da água do sul com quem havia ficado acordado que deveria se casar, um acordo firmado há quase 2 anos. Era um acordo entre as duas tribos, como se o casamento de Hakoda e Malina não tivesse servido para isso tantos anos antes.

Ele tinha certeza de que havia resmungado, empurrando-a levemente pelos ombros. Tentando afasta-la com a maior delicadeza que podia.

⎻ Vamos nos casar amanhã, Sokka ⎻ resmungou a jovem, tentando se manter sobre o seu colo ⎻ Em menos de 24 horas nada disso vai fazer qualquer diferença.

⎻ Por isso mesmo deveríamos esperar ⎻ respondeu tocando o rosto errado. Sua noiva era linda, jovem, mas talvez jovem demais. ⎻ Falta pouco agora.

A garota assentiu contrariada, mal haviam trocado um toque nas mãos desde que afirmaram o acordo e isso a deixava insegura, ele sabia disso, mas não podia evitar quando seu coração claramente não estava mais lá há muitas décadas.

Ele saiu logo depois dela pela porta, sentindo o ar congelante lhe fustigar o rosto. Queria partir sem olhar para trás, mas seria injusto, então voltou até o lugar onde sua irmã e o cunhado dormiam e os encontrou abraçados sob uma pilha de cobertas quentes, apenas o pequeno Tenzin enrolado junto dos pais enquanto Kya e Bumi deveriam estar até em outro comodo.

Só Tenzin era pequeno demais para dormir sozinho no polo frio.

Ele sacudiu o braço marcado pelas tatuagens, observando quando os olhos cinzentos o encararam ainda embasados pelo sono.

⎻ Desculpa te acordar assim, amigo ⎻ respondeu, observando que a irmã ressoava tranquilamente nos braços do marido e ele quase podia se lembrar da conversa sobre a batida de coração que tivera há muitos anos ⎻ Mas eu to voltando para Cidade República e eu acho que vocês deveriam fazer o mesmo.

Ele estava de partida e não esperava que o cunhado lhe respondesse de qualquer forma, por isso a voz carregada de sono o surpreendeu.

⎻ Nos dê uma hora para arrumar as crianças e levamos você.

E foi assim que ele chegou ali. Estava parado em frente a porta dela mais uma vez. Perdera as contas de quantas vezes havia feito isso nos últimos anos. Ela mudara de casa e ele fora atrás como um perseguidor qualquer. Agora podia ouvir um choro de criança do outro lado da porta e o seu corpo se arrepiou, mas tentou se convencer de que só havia parado no endereço errado.

Afinal sua família o avisaria se ela tivesse tido um filho, não era o tipo de coisa que se escondia fácil assim e Katara era quem cuidava dessas coisas dentro do grupo, havia cuidado de Mai e Izumi, porque não cuidaria de Toph que era uma de suas amigas mais próximas?

Claro que eles não sabiam que haviam tido um caso, mas um filho não era um caso no fim das contas.

Tomou coragem e resolveu bater na porta. Esperou por um longo e interminável minuto enquanto, tentado ver ou ouvir qualquer coisa de dentro da casa onde a criança ainda chorava desesperadamente e quando a porta finalmente começou a se abrir ele congelou.

Havia visto a figura dela passando pela janela do quarto em direção a sala, então não podia ser Toph quem o atenderia, pela primeira vez ele pensou na pior hipótese: um filho significava um marido.

⎻ Sokka! ⎻ a voz que o saudou era cordial e nenhum um pouco masculina, ele a reconheceu na hora mesmo que só tivesse conversado com Poppy um par de vezes ⎻ Achei que amanhã fosse o grande dia.

⎻ Era ⎻ ele respondeu com um sorriso um pouco forçado. Haviam se entendido com os Bei Fong, mas havia um abismo imenso entre isso e deixar que um camponês da Tribo d'Água se envolvesse com o cristal precioso que era a filha deles, mesmo que esse fosse um herói de guerra ⎻ Eu fiquei preocupado quando Toph não apareceu.

Não era verdade, sabia o quanto ela odiava os polos e isso era só a ponta do iceberg. Mas então algo lhe tirou da conversa antes que a mãe pudesse responder.

A figura pequena e magricela da dobradora de terra aparecendo no meio da sala, um pequeno fardo em pé em seus braços, chorando sobre o que parecia ser um pano amarelo. Então ele compreendeu que aquele era o bebê que ele ouvira chorando do lado de fora da rua.

⎻ Veja Lin, é o tio Sokka ⎻ ela disse em um sussurro, os olhos brancos perdidos no nada ⎻ Sokka, essa é a Lin, minha filha.

Ele ainda estava parado em frente a porta, encarando a criança cabeluda nos braços da mulher que se aproximava devagar. Lin pareceu erguer a cabeça ao som de seu nome, mesmo sendo pequena demais para entende-lo.

Não podia ter mais do que 2 meses agora, mais nova do que Tenzin por apenas alguns meses. Mas ele não se lembrava de vê-la grávida no nascimento do menino. Observou enquanto Toph virava a menina para encara-lo, os grandes olhos verdes o encarando com tanta curiosidade que ela chegara a parar de chorar.

⎻ Você é uma princesa, não? ⎻ perguntou, esticando os braços para pegar a pequena nos braços e então viu o sorriso banguela quanto bateu os punhos fechadinhos no ar ⎻ E o pai?

⎻ Ela não tem pai ⎻ respondeu mordendo o canto dos lábios.

⎻ Ele é um idiota ⎻ resmungou contra os cabelos negros, puxando ela para um abraço enquanto mantinha Lin segura perto deles ⎻ Eu sou um idiota.

"Essa é a última vez que vou te pedir isso, ponha meu nome no topo da sua lista. Essa é a última vez que vou te pedir porque você parte o meu coração em um piscar de olhos."

⎻ Então... ⎻ a pergunta pairou no ar por alguns instante, a cabecinha negra descansando sobre o peito dele, finalmente nas profundezas de um sono calmo. Parecia gostar dele no fim das contas ⎻ Como ela aconteceu? ⎻ Lin, ele soletrou em sua mente, um nome bonito para aquela coisinha em seus braços, mas também um nome importante e não difícil de decidir que serviria para um menino e para uma menina.

Ele não tinha muita certeza se queria saber como acontecera. Como um criança acontecia não era exatamente o tipo de coisa que se queria ouvir do amor da sua vida, mas Lin estava tão aconchegada em seus braços que pensou que talvez pudesse ter mais de um amor da sua vida, de um outro tipo agora.

Observou o narizinho pequeno de bebê, apoiando a cabecinha mole com as mãos grandes demais. Sempre tivera um medo estranho de crianças, como se elas pudessem quebrar em seus braços, evitara pegar os sobrinhos até que estivessem fortes o suficiente para sustentar as próprias cabeças sobre a coluna, mas Lin não era qualquer criança;

A mão da mulher logo encontrou a dele. Um acidente, estavam desajeitados juntos pela primeira vez desde sempre.

⎻ Eu acredito que você saiba bem ⎻ ela tinha uma risada ma voz, mas não era exatamente daquele tipo provocativo e alegre que compartilhavam antes ⎻ Eu ouvi sobre sua noiva, quebrei algumas mesas sem razão e sumi pela cidade ⎻ fez uma pausa lenta, os dedos ainda enroscados no dele, isso não era um acidente ⎻ Então eu acordei do lado de um estranho que eu só lembro o nome, achei que devia a você uma despedida de solteiro.

Eles riram de verdade agora. Aquelas risadas ruidosas que fazia o bebê entre eles tremer e resmungar. Sabia que não podia cobrar nada dela de qualquer forma e em qualquer momento, ainda mais depois de ter anunciado um noivado com uma completa estranha.

⎻ Lin, você terá que ser mais resistentes a terremotos, criança ⎻ sussurrou a mulher no ouvido pequeno e então se voltou para o homem mais uma vez ⎻ Cinco meses depois eu tive o diagnóstico da rainha açucarada.

Cinco meses, ele pensou. Tarde para uma criança, provavelmente Lin havia sido tranquila até demais, nada parecida com a criança chorona que encontrara quando chegou, mas muito parecida com o anjinho que dormia em seus braços agora.

⎻ Então você nem sabe o nome dele? ⎻ perguntou, uma pontada de esperança surgindo em sua voz. Então não havia significado absolutamente nada no fim das contas.

O soco acertou o braço livre enquanto mantinha aquele sorriso presunçoso nos lábios e o rosto delicado se converteu em uma carranca mal-humorada por parte de Toph, isso fez com que alguma coisa nele sentisse vontade de rir de novo.

⎻ É claro que eu sei o nome dele, o que você pensa que eu sou? ⎻ ela se ajeitou, sentada com as pernas cruzadas em frente a eles, a mão posicionada nas costinhas pequena da menina. Sentindo. ⎻ Eu só não quero nada dele, então não sei porque isso pode ser importante.

Sokka soube naquele momento que ele nunca teria o nome do pai de Lin, talvez ninguém fosse ter no fim das contas. Depois disso embarcaram em um silêncio longo, até que o homem começasse a acreditar que Toph havia dormido sentada a sua frente. Chegou a fazer menção de deita-la quando voltou a falar.

⎻ Eu nunca imaginei ter isso ⎻ disse com a voz frágil ⎻ E se eu for uma péssima mãe? Se ela me odiar?

Sokka sorriu, colocando as mechas longas da franja para trás da orelha de forma carinhosa.

⎻ Você vai ser uma boa mãe e a sua filha não vai te odiar ⎻ respondeu ⎻ E qualquer coisa a Katara ficara feliz em se meter para dar sermões.

Os dois riram de novo e dessa vez, ela se deitou sobre o ombro dele, como não fazia há quase cinco anos. Sabia que tinha sentido falta daquilo demais, mas agora o peso do tempo parecia esmaga-los.

⎻ Você acredita que ela é a melhor coisa que me aconteceu? ⎻ a pergunta pairou entre eles por uma fração de segundo ⎻ Quando você foi embora eu achei que nunca mais ia sentir aquilo ⎻ aquela batida de coração lenta e em sincronia que parecia tornar tudo certo. Sabia de tudo isso sem que ela precisasse dizer ⎻ Mas ai ela nasceu.

Ele percebeu o sorriso pequeno enquanto ela brincava com o nariz pequeno, parecia conhecer bem o rostinho da nenê, como se a tivesse decorado um milhão de vezes.

Sokka não respondeu. Podia entender o que Toph queria dizer agora, era esse sentimento de lar que tinha quando olhava para o mar calmo. Ele estava em casa agora e nada ia tira-lo dali de novo, prometeu a si mesmo enquanto puxava o cobertor de lã por sobre os três, mantendo mãe e filha aninhadas a ele para a noite.

 


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