A Última Vez escrita por Auto Proclamada Rainha do Sul, KodS


Capítulo 1
Capítulo 1 - Exile




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"Eu posso ver você de pé querida, com os braços dele ao seu redor, rindo de uma piada que nem é tão engraçada."

⎻ Você consegue ver eles dançando juntos? ⎻ ele sabia que era uma pergunta idiota no momento em que a fez, mas não tinha mais como voltar atrás.

Quase podia ouvir o tom irônico em sua voz na hora da resposta, mas então ela suspirou e apenas deu de ombros. Talvez estivesse de bom humor no fim das contas, ou bêbeda o suficiente para socializar sem dar qualquer patada em um idiota lerdo e esquecido como ele, talvez só estivesse cansada demais para lembra-lo toda a vez que esquecia a sua cegueira.

⎻ Bem... Você sabe...⎻ ela apenas deu de ombros, os pálidos e estreitos ombros pálidos e cravejados de pintas escuras, indo para cima e para baixo no vestido sem mangas. Nunca havia reparado em como eram delicados e bonitos, não com as roupas largas e o uniforme da policia. ⎻ Não é como se eu visse muita coisa ⎻ moveu os pés descalços por sob o tecido longo e então ele pode ver as pontas dos dedões ⎻ Mas... É... eles definitivamente estão bem perto.

Era uma festa, mas eles não tinham muita certeza do que comemoravam. Parecia que sempre estava havendo uma festa em que a presença de todos era muito mais do que vital. Tudo havia começado há alguns anos, quando Aang e Katara resolveram ficar noivos, eles eram os padrinhos no fim das contas e não podiam simplesmente virar as costas para isso, mas não foi ai que os problemas maiores começaram.

Se virou para olhar a ex mais uma vez. Parecia feliz nos braços de seu amigo. Eles eram tão amigos que Zuko havia lhe perguntado se tinha importância ficar com Suki. Claro que estavam juntos na época, Sokka sabia, todos sabiam e ele não pode dizer não. Agora ela estava ali com um vestido vermelho e verde, enroscada no homem mais poderoso da Nação do Fogo, enquanto ele sussurrava e lhe beijava os ombros. Estavam apaixonados.

As coisas começaram a ficar ruins mesmo quando Mai adoeceu. Ela estava nas últimas semanas de gravidez e então Suki decidira que tinha que passar todo o tempo livre segurando a mão do Senhor do Fogo, claro que o relacionamento com Sokka já não estava bom. Ele nunca falou nada sobre isso. Ele e a Senhora do Fogo eram as peças que sobravam no fim das contas e nenhum dos dois percebeu na época.

⎻ Vai ficar tudo bem, amigão ⎻ ela sussurrou, batendo com o punho no braço dele. Não o suficiente para doer dessa vez, talvez Toph estivesse ficando com pena dele no fim das contas ⎻ Você vai achar outra garota em algum lugar.

Deu de ombros mais uma vez, se afastando com os quadris balançando de um lado para o outro, por alguns instantes ele se distraiu naquele balanço, acompanhando com os olhos azuis como se estivesse hipnotizado, alheio a tudo. Talvez devesse começar a pensar em parar de beber pela noite.

Então voltou os olhos para o novo casal.

Não era uma questão de achar outra garota, certo? Quer dizer que ele a amara por quase 12 anos agora. Claro que há muito tempo não tinham nada, o relacionamento havia esfriado e mais de uma centena de vezes ele se perguntava se não estavam juntos só pelo conforto, mas, se fosse o caso, porque ainda doía tanto?

Eram perguntas demais para uma noite de festa descontraída. Haviam combinado que seria descontraído, mesmo que o coração dele se partisse um pouco toda a vez que a via girar nos braços dele, toda a vez que se inclinavam um para o outro sussurrando e sorrindo. Haviam sido esse tipo de casal um dia? Parecia que sempre estiveram em grupo, como se não conseguissem ficar sozinhos. Enquanto, com Zuko, ela parecia estar completamente alheia a tudo ao redor, sozinhos mesmo no meio de uma multidão.

Suki havia segurado uma das mãos de Mai enquanto Izumi nascia, enquanto Toph segurava a outra, cuidando os batimentos cardíacos. Mas fora Suki quem mal esperara um ano para se envolver com o viúvo e não a dominadora de terra.

Ele deu passos largos pelo salão e não demorou para encontrar a sua melhor amiga, afastada em um canto da sala. Odiava multidões, se sentia desconexa e incapaz. Sokka, por outro lado, era o tipo de homem sociável, mas naquela noite podia entender exatamente como ela se sentia.

⎻ Você não quer dançar comigo? ⎻ ele perguntou estendeu a mão para ela, antes de perceber que era idiota, a segunda ação idiota na noite, ela não podia ver de qualquer forma.

⎻ Não! ⎻ respondeu, a boca em uma linha descontente enquanto se perguntava de onde havia vindo aquilo. Toph estava bem há alguns minutos, não normal, mas certamente não hostil.

Ele tentou tomar a mão dela com delicadeza, mas ela escapou com alguma violência.

⎻ Eu não vou dançar com você para fazer ciúmes na sua ex, meathead ⎻ respondeu e então Sokka ficou estaqueado, embasbacado.

Isso nem havia passado por sua cabeça, nem por um segundo sequer. A única coisa que ele pensou quando foi chama-la foi em como poderia aproveitar alguns minutos de uma boa companhia que sempre parecia afasta-lo da multidão. E não tinha como Suki ter ciúmes de Toph. Claro que era, provavelmente, a pessoa mais forte e talentosa do mundo e havia virado uma mulher linda nos últimos anos, mas não era a mesma coisa.

Claro que se divertiam juntos, eram amigos e tinham intimidade, a dobradora de terra claramente conseguia afastar qualquer pensamento ruim de sua mente, mas nunca haviam cruzado nenhuma linha sobre nada. Às vezes se deitavam sob o céu estrelado, sabendo que só ele podia ver, e então conversavam sobre como seus respectivos relacionamentos pareciam ir mal. Toph era sua conselheira e nada muito mais que isso.

Uma conselheira de pele macia e ótimo senso de humor, mas não mais do que isso.

⎻ Alias, eu acho que vou indo para a casa ⎻ ela respondeu, se afastando da parede ⎻ Estou cansada disso aqui. Vejo você amanhã?

Ele sorriu, sabendo que não seria visto. Ela já estava alguns passos a sua frente, como sempre.

⎻ Eu levo você ⎻ respondeu quando a alcançou e então deu um último olhar de relance para o casal distante na pista de dança ⎻ Não é como se ainda tivesse alguma coisa para mim aqui.

"Eu posso ver você o encarando, querido. Como se ele fosse seu substituto. Como se você tivesse lutado com unhas e dentes por mim."

⎻ Eu vi você nos encarando ontem a noite ⎻ ela disse, colocando um canudo no copo de suco, meio alheia ao que fazia, sem nem prestar atenção real no homem que um dia amou.

Era um dia terrivelmente quente e a quantidade de asfalto que parecia recobrir a metrópole global que Cidade República havia se tornado não ajudava em nada. Ele podia sentir o suor escorrer por sob a camiseta leve que resolvera colocar e agora podia senti-la colando em sua pele de uma forma desconfortável.

⎻ O que você queria que eu fizesse? ⎻ perguntou de forma automática, sua cabeça estava longe demais para se preocupar com o que havia visto na noite anterior. Havia feito coisas mais interessantes do que encarar a ex e seu novo namorado dançando e rindo por horas a fio.

⎻ Como eu vou saber? ⎻ ela retrucou a pergunta antes de tocar a mão dele. Um arrepio percorrendo sua espinha e o trazendo de volta para a realidade deles ⎻ Sokka, eu achei que nós estivéssemos bem?

Ele olhou nos grandes olhos azuis da jovem guerreira. Ela estava linda naquela manhã, como se a pele branca brilhasse sob o sol da manhã, refletindo cada raio de sol, como se o próprio namorado a estivesse observando dali como Yue fazia com ele. Ele se distraiu por um momento.

⎻ Você nem se importou quando eu fui embora ⎻ era verdade? ele se perguntou, repassando aquele dia na cabeça.

Sokka podia ter corrido atrás dela na rua, ter se agarrado na mala e não deixado ela ir. Podia até mesmo ter tentado resolver o relacionamento deles muito antes de Mai ficar doente, quando começara a reclamar com Toph que a namorada não o ouvia, que não se comunicavam e que não era fácil como no início.

Então seu coração pareceu afundar no peito, os últimos doze anos voltando a sua mente com a violência de uma enxurrada, levando tudo que encontrava pelo caminho. A lembrança do sorriso branco que ela dava contra o ombro de Zuko enquanto estavam envolvidos em seu próprio mundo o atingindo como navalhas afiadas, como as facas da falecida Senhora do Fogo.

⎻ E estamos ⎻ ele respondeu, passando o dedo grosso sobre a mão dela, como fizera tantas vezes antes ⎻ Eu dormi com a Toph ontem.

Ele não tinha muita certeza porque dissera aquilo, havia um pouco de culpa naquela confissão, mas também provocação, queria que ela soubesse como se sentira. A mão da mulher recuou sob a sua. Se recolhendo para o colo e longe de sua visão enquanto o rosto se fechava em uma carranca, Sokka reconheceu o ciúmes no mesmo momento, mas isso só o deixou pior e não por causa de Suki.

"Eu não vou dançar com você para fazer ciúmes na sua ex, meathead", ela havia dito antes de irem para casa dela, meio cambaleantes. Antes de caírem na cama, um nos braços do outro, ele se lembrava da forma como os cabelos negros se espalharam pela roupa de cama enquanto ele lhe beijava o pescoço, do calor em sua boca quando finalmente cruzaram a linha, ele nunca havia se tocado que queria tanto cruzar aquela linha.

Toph havia confiado nele no fim das contas e agora ele tinha traído ela apenas para amaciar o próprio ego.

⎻ Então vocês dois estão juntos? ⎻ ela perguntou, sorrindo uma risada dolorosa e afastando o olhar ⎻ Porque eu não to surpresa com isso?

Ele não tinha certeza se estavam juntos. Não falaram sobre isso depois, acordaram lado a lado, mas parecia errado que dissessem qualquer coisa que não fossem as brincadeiras e banalidades de sempre.

⎻ Claro que ela nunca escondeu que era apaixonada por você ⎻ completou, mas ele já não estava ouvindo de novo ⎻ Bom, desde que vocês não se machuquem no fim.

Não! Ele não havia brigado, não havia batido o pé para que ela ficasse naquela noite. Não havia lutado pela mulher que amara por 12 anos, apenas fez as malas e partiu, acreditando que era o melhor para eles no fim das contas. Achando que voltariam quando estivessem com a cabeça fria e isso já tinha 4 meses agora.

Ele observou enquanto ela se levantava, os cabelos chicoteando no ar atrás dela enquanto se movia a passos largos pela rua, sumindo no meio da multidão.

Invés disso ele foi para a casa da única pessoa que poderia ajuda-lo a se distrair. Katara e Aang o fariam se sentir culpado com seu amor perfeito e Zuko... Bem... seria a escolha mais esquisita. Tinha outros amigos, mas não eram tão próximos.

Suki nunca havia dado sinais de que queria que ele lutasse por ela, nem antes e nem agora, achou que fosse apenas algo que os dois concordavam, que estava na hora de dar um tempo, encontrar um sentindo e então voltar para algo mais sério e firme.

Sokka não foi atrás dela.

Nem naquela vez e nem agora.

 


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