Cuidado Com o Que Deseja escrita por Thalita Moraes


Capítulo 5
Capítulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/795359/chapter/5

Quando Lucy saiu do apartamento para o lado de fora, percebeu que ela já tinha estado ali em algum momento. No seu mundo. Ela lembrava de ter passado por aquela cidade em algum momento. Cidade do Carvalho, lembrava de ter sido arrastada para lá uma vez, pela própria guilda. Phantom Lord a tinha sequestrado a pedido de seu pai. Ela imaginava se seu pai tinha ido atrás dela em algum momento e se ele ainda estava atrás dela. Ou se ele ainda se importava.

As ruas eram bonitinhas e arrumadas, a calçada era de paralelepípedos quebrados, ao lado, havia pequenas árvores contidas em cercas brancas bem cuidadas. Ela andou um pouco procurando pela biblioteca, parando em uma lojinha para comprar um mapa da cidade. Se sentiu desconfortável quando o lojista a reconheceu e ela não sabia quem ele era.

Quando ele perguntou de Gajeel e de Akito, ela mudou de assunto, comprou o mapa e tentou sair sem ter que bater muito papo. Não tinha como explicar porque ela tinha que comprar um mapa da cidade onde estava morando por tanto tempo.

Andou mais um pouco encontrando então a biblioteca, não entendendo como que não tinha visto aquela construção enorme ali por perto. Era uma biblioteca de dois andares, ambientado com dois cantos de estudo com espaço para uma mesinha e cadeira com separadores, e dois cantos de leitura, com direito a sofás e poltronas confortáveis.

Quando entrou, percebeu que ela passava muito tempo ali dentro. Ficava ali às vezes até o passar da hora, aparentemente. Pois o bibliotecário, um jovem de mais ou menos a mesma idade que ela, a conhecia.

— Oi, Lucy! Veio procurar o que dessa vez? — Ele perguntou sorrindo. A etiqueta em sua roupa dizia que seu nome era Kotaro. Ainda bem.

— Oi, Kotaro. — Ela tentou fingir que já o conhecia. Sua garganta estava seca. Pigarreou. — Você tem livros sobre magia de manipulação de tempo?

— Uuh, escolha interessante. — Kotaro disse e começou a vasculhar seu registro. — Eu não sei te dizer quais livros tenham de certeza. Tem alguns títulos que enganam. — Disse olhando apenas para o registro. Ele tinha um topetinho que ficava caindo nos olhos. Ele anotou alguns nomes num papel e entregou para Lucy. — Alguns livros que talvez tenham manipulação do tempo e uma sessão que talvez você encontre o que quer.

— Obrigada, você é demais! — Ela disse abrindo um sorriso enorme, provavelmente um dos primeiros dos últimos dias e foi na direção da sessão que procurava. Kotarou a encarou com um olhar bobo, com estrelinhas em seus olhos. Ele era secretamente apaixonado por ela e somente ela não percebia isso. Gajeel vivia brigando com ela por ficar tempo demais na biblioteca, porque temia que ela fosse trocar por aquele rato de livros, não que Lucy soubesse disso naquele momento, já que ela entrou ali sem nem ao menos conhecer Kotarou.

Se tinha algum lugar que deixava Lucy tranquila e relaxada e admirada era uma biblioteca. Se ela não tivesse o desejo de ser uma maga, provavelmente acabaria trabalhando ali. Ela adorava livros, não somente o objeto físico e poder sentir o cheiro das páginas, às vezes meio acabadas. Mas ela adorava saber que havia grande conhecimento dentro de tão poucas páginas.

Em qualquer outra situação, ela teria entrado ali mais que feliz, mas naquele momento, enquanto fazia suas pesquisas, ela não lia apenas por diversão, mas também para conseguir respostas para sua situação.

Leu três livros pela metade, os que Kotarou tinha recomendado, e não encontrou nada que a ajudasse. Tinha magias interessantes, que podiam ser facilmente aprendidas, coisas pequenas como fazer o tempo voltar alguns segundos ou como fazer o tempo congelar por alguns segundos. Não encontrou nada que dissesse a ela como mudar o passado.

Se ela soubesse exatamente como tinha feito aquilo em primeiro lugar, ela provavelmente teria escrito um livro sobre como reproduzir o efeito.

Então, começou a procurar os livros pela sessão. Vasculhava título por título. Ela escolhia um, lia o índice, dava uma olhada no capítulo determinado e depois o colocava de volta no lugar e indo para o próximo.

Ela não fazia ideia de quanto tempo tinha ficado ali, olhando, procurando, pegando livros e colocando de volta. Lucy se lembrava da época em que fazia isso por pura diversão. Se ela tivesse Levy do seu lado, talvez ela conseguisse encontrar alguma coisa nos livros dela. Levy tinha uma biblioteca particular. Se Lucy amava livros, Levy adorava. Elas eram almas gêmeas.

Em algum momento, depois de se jogar para trás na cadeira, encarando o teto, cansada de tanto ler, pensou se ela não poderia pedir ajuda para Levy. Imaginou se ela a reconheceria, talvez não. Ponderou se Levy a ajudaria, uma completa estranha. Sabia que Levy adorava qualquer desculpa para revirar seus livros e arrumar eles novamente nas estantes, mas imaginava que ela não faria isso por Lucy.

Enquanto tentava pensar em uma forma de fazer Levy a ajudar, massageou suas têmporas, sentindo uma dor de cabeça forte começar. Respirou fundo e se levantou da cadeira para devolver o livro que tinha pego de volta ao lugar correto, quando esbarrou em alguém o que fez o livro em suas mãos cair de qualquer jeito no chão. Se abaixou rapidamente para evitar que as páginas fossem amassadas e só então encarou a pessoa que estava na sua frente.

Era Gajeel, e ele estava perto demais dela. Seu rosto ficou vermelho e ela deu um passo para trás.

— Eu estava te procurando. Você sabe que horas são?

Lucy gaguejou. Ela não percebeu as horas passarem. Ela abraçou o livro como se aquele livro sobre Conceitos Pseudocientíficos a Respeito da Passagem do Tempo fosse socorrê-la naquele momento. Gajeel parecia bravo. Ela engoliu em seco e sentiu sua garganta seca.

— São quase quatro horas da tarde. Dentro de uma hora eles fecham a biblioteca.

Lucy deu um passo para trás instintivamente. Gajeel suspirou e passou a mão no cabelo espetado. Ele parecia cansado. Estava procurando por Lucy desde a hora que chegou em seu apartamento e não a encontrou. Quase cinco horas sumida. Esse tempo todo estava escondida na biblioteca.

— Eu não estou brigando com você. Eu só estou preocupado.

— Bom, parece que está brigando comigo. — Lucy atacou, dando um passo para trás. Ela não sabia como agir com ele. — Eu só vim ler um pouco.

— Você comeu?

— Comi o sanduíche que você fez.

— Eu fiz isso de manhã. — Gajeel respirou fundo, se segurando para realmente não brigar com ela. — Você não pode fazer isso. Você precisa cuidar de si mesma.

Lucy pensou em diversas formas de cortar ele, mas nenhuma delas era boa o suficiente. O que a fez ficar tempo demais pensando em como responder ele, e acabando por ficar em silêncio, com uma careta de irritação.

— Vem comigo. Vamos comer alguma coisa. — Gajeel disse e ofereceu a mão dele. Lucy ficou encarando e ela não sabia se ele queria que ela devolvesse o livro para ele ou se ele queria pegar a mão dela. Então, deu o livro para ele.

Gajeel pegou o livro e colocou em uma mesinha de canto e voltou para pegar a mão dela, delicado porém irritado. Ela acabou sendo arrastada para fora. Kotarou sorriu para Lucy e deu um tchauzinho, Lucy parou para acenar de volta e Gajeel quase rosnou enquanto a puxava para fora.

— O que foi isso? — Lucy perguntou, finalmente colocando seu pé no chão, e puxando sua mão de volta. Kotarou conseguia escutar os dois brigando da janela, embora não estivesse olhando para eles.

Gajeel respirou fundo de novo. Ele sabia que ela não se lembrava de nada, o que era difícil agir de forma diferente, mas ele estava se segurando para cuidar bem dela. Quando ele abriu a boca para falar, Lucy o interrompeu.

— Você quase arrancou meu braço fora. Qual o seu problema?

— Qual o meu problema? — Ele perguntou erguendo seu tom um pouco demais. — Você sumiu quase o dia inteiro! Eu estou te procurando o dia inteiro!

— Quando eu acordei, você também tinha sumido!

— Pelo menos eu deixei um bilhete dizendo onde que eu tinha ido! Você nem ao menos se deu ao trabalho de pensar em mim! Você parou para pensar em mim em algum momento?

Lucy segurou a língua, querendo chamar ele de um monte de nomes feios. Sua mão estava tremendo, e não era de raiva.

— Se você tivesse parado para pensar em mim, teria pelo menos me avisado. — Gajeel disse baixinho, deixando Lucy mais irritada ainda. Ele deu às costas para Lucy e então lembrou-se de avisar. — Ah, eu estou indo para a casa agora. Ta vendo como que faz?

O olhar de Lucy era capaz de fuzilar Gajeel se ela tivesse essa capacidade.

— Problemas no paraíso? — Kotarou perguntou para Lucy, a assustando. Ela se virou e pegou ele a olhando debruçado na janela. Ele deu uma risadinha baixinha. — Me desculpa. Não quis te assustar.

— Não me assustou. — Não quis admitir.

— Mas eu estou surpreso. Acho que é a primeira vez que eu vejo vocês dois brigando. Vocês geralmente parecem que se dão tão bem juntos. — Kotarou comentou e aquilo deixou Lucy pensativa. Será que Gajeel estava certo? — Espero que vocês consigam se resolver. Mas se você precisar de alguém com quem desabafar, eu estou aqui.

Lucy sorriu, agradecendo o cuidado. Mas ela sentia que precisava voltar para casa. Bom, tudo que ela estava fazendo, ela estava fazendo com a intenção de voltar para casa. Naquele momento, ela sentia que precisava voltar para Gajeel, e pedir desculpas.

Ela estava realmente pensando somente em si mesma.

Deu tchau para Kotarou que acenou de volta para ela, suspirando alto enquanto ela dava as costas para ele. Andou rapidamente atrás de Gajeel, conseguindo por pouco alcançá-lo.

— Me desculpa, tá bom? — Ela disse, agressiva. Gajeel não gostou daquelas desculpas. — Olha, eu to fazendo isso não somente para mim. Eu to fazendo isso por você também.

Gajeel continuou andando, mas olhou para ela sem conseguir entender o que ela quis dizer. Afinal, na perspectiva de Gajeel, ela tinha agido de forma completamente egoísta.

— Se eu conseguir voltar para casa, para a minha realidade, talvez a sua Lucy volte para cá. E então, vocês…

— Para, para com isso!

— Mas e a sua…

— Você é a minha Lucy! — Ele gritou e as pessoas que estavam ao redor deles o encaravam, preocupados. Gajeel suspirou efalou baixinho. — Vamos falar sobre isso em casa.

Mas Lucy não queria ir para casa. Ao invés disso, ela fez a mesma coisa que ele tinha feito anteriormente. Ela agarrou seu braço e o puxou para um canto escondido atrás de uma casa, que ela não teria reparado que existia se ela não tivesse comprado aquele mapa. Tinha um espaço atrás da casa até o começo da floresta. Era uma colina íngreme, mas era escondido o suficiente para que eles conseguissem entrar em um acordo antes mesmo que voltassem para casa.

— Para onde tá me levando? — Gajeel perguntou olhando ao redor.

— Aqui não tem ninguém. — Ela soltou o braço dele e Gajeel acariciou seu punho, no lugar onde ela tinha o agarrado. Ela não conseguiu controlar sua força. — O que você quis dizer?

— Eu quis dizer… — Disse em um tom normal — Que para mim, não tem essa de minha Lucy e outra Lucy. Para mim, você é a única. Você pode não se lembrar nada que aconteceu entre a gente, mas eu to realmente tentando cuidar de você. Não me importa se você não se lembra de nada, eu só preciso te conquistar de novo.

Lucy ficou em silêncio, surpresa com a resposta.

— Eu fiz uma vez e eu consigo fazer isso de novo. — Ele disse, super confiante.

— Não está funcionando.

— Por enquanto. — Sorriu.

— O que te faz acreditar que você consegue me conquistar?

— Você se apaixonou por mim uma vez. — Gajeel disse. — Lucy, eu não te disse de novo depois que isso aconteceu com você… Mas eu te amo. Eu me apaixonei por você desde o primeiro momento em que eu te vi. Por isso que eu quero estar do seu lado para te ajudar. Mas eu preciso que você me deixe te ajudar. — Ele disse pegando as mãos dela e segurando firme próximo do coração dele.

Talvez fosse a forma como Gajeel tinha dito aquilo ou o fato de que ele tinha segurado a mão dela de forma tão atenciosa que aquilo tinha cativado a atenção dela. A forma como ele a olhava naquele momento fazia o coração dela se acelerar. Ela estava nervosa agora. Ela gaguejou.

— Ta bem. — Pigarreou. — Eu deixo… Você me ajudar.

O fato de que ela não conseguia encarar ele nos olhos enquanto dizia isso fazia Gajeel acreditar que ele estava conseguindo. E era somente isso que ele precisava. Conquistar ela de novo. Formar memórias novas.

Naquele momento levemente romântico, o estômago de Lucy fez um barulho alto, estragando o clima. Lucy se sentiu envergonhada.

— Agora vamos comer alguma coisa?

Lucy sorriu para ele e Gajeel considerava aquilo como uma vitória.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que estão achando? Deixem um comentário para incentivar este autor a continuar! (Na verdade, eu já tenho a história quase completa, mas comentários fazem os capítulos sair mais rápido)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cuidado Com o Que Deseja" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.