Cuidado Com o Que Deseja escrita por Thalita Moraes


Capítulo 4
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/795359/chapter/4

 

A única vez que Lucy se lembrava de ter ficado tão ansiosa daquela forma, foi quando seu período atrasou. Ela ficou cinco minutos sentada na tampa do vaso, sentindo sua vida passar na frente de seus olhos. Então quando o resultado negativo apareceu, ela se sentiu tão aliviada que poderia dormir o dia inteiro.

E agora, esperar pelo dia amanhecer era tão estressante quanto aquilo. E Gajeel pode ver que ela estava ansiosa. Não era normal ver Lucy daquela forma, então, quando ela ficava nervosa, Gajeel conseguia perceber facilmente. Ele a conhecia, por mais que ela não fosse a mesma pessoa. Ele preferia acreditar que ela era, sim, a mesma pessoa. Os mesmos gostos, as mesmas vontades, talvez até a mesma personalidade. A única coisa que mudava eram as memórias. 

Lucy não tinha dormido nada, o arrependimento e culpa não tinham deixado ela em paz aquela noite. Ela não sabia o que estava esperando com o amanhecer, estava encarando a quietude da cidade da madrugada, tentando se lembrar de Natsu um pouco mais. Mas não conseguia.

Ela estava começando a ficar com medo de que fosse esquecer dele. Tinha medo de não conseguir voltar ao normal.

Talvez esse fosse ser o seu novo normal e ela teria que se acostumar com aquilo.

Lucy não tinha nem conseguido deitar na mesma cama que Gajeel, ao lado dele. Ele disse que dormiria na sala, mas ela sabia que ela não ia conseguir dormir. Então, ficou sentada ao lado dele, observando a noite.

Em algum momento, adormeceu sentada. Gajeel percebeu e a aconchegou na cama, debaixo da coberta. E quando Lucy acordou, estava sozinha novamente na cama. Eram dez horas da manhã.

Quando foi para a cozinha, percebeu que Gajeel não estava em casa. Ele deixou um café da manhã pronto para ela e um bilhete. “Para caso você acorde antes de eu voltar”, ao lado do copo de suco já com os cubos de gelo derretidos. Ele tinha feito um sanduíche bonito.

Isso explicava por que ela ainda estava com ele por tanto tempo. Lembrava que tinha namorado com outros no passado, mas casos que nunca passaram de mais alguns meses. Eles estavam juntos há o que, dois anos ele tinha falado? Provavelmente era por causa dessas coisas pequenas e fofas que ela ainda estava com ele.

Será se ela deveria se conformar com o fato de que ela estava com ele, sem saber exatamente como era o relacionamento deles, ou será que valia a pena tentar ir atrás de um relacionamento que ela sabia que era trabalhoso e dificil?

Ela comeu o sanduíche, mas não sentou para comer. Começou a olhar pela casa inteira, tentando procurar alguma outra coisa que a fizesse entender um pouco mais o mundo em que estava agora. A casa em que ela estava com Gajeel era pequena, porém confortável. Eles tinham um sofá marrom pequeno e macio, tinha uma ou duas toalhas úmidas em cima do encosto. Lucy pegou as toalhas e procurou pelo cantinho da lavação, jogando em qualquer canto. Ela tentou imaginar Gajeel, um homem grande daquele jeito, deitado todo desconfortável no sofá pequeno.

A cama era mais confortável do que o sofá, era uma cama de casal enorme, quadrada, ocupava quase o espaço todo do quarto. E, provavelmente, a outra Lucy… Ou melhor, ela também escrevia. Sentou-se na mesa, procurando pelo que ela tinha escrito recentemente. Apenas algumas páginas de romance aleatório, sem continuação. Aparentemente, o problema que ela tinha de não conseguir terminar nada que começava seguia firme e forte.

Ela encontrou cartas, mas não eram endereçadas à sua mãe. Eram cartas escritas pelo seu pai, tentando entrar em contato com ela. Pedindo para que ela o respondesse logo. Lucy não sabia agora se ela tinha respondido seu pai. Provavelmente, não. Se a única coisa que mudou foi a partir do dia em que conheceu Natsu.

Se ela tivesse realmente o poder de voltar no passado e modificá-lo, ela desejava poder voltar e trazer sua mãe de volta. As memórias de sua mãe estavam tão no passado, tão escondidas, tão longe que ela não conseguia se lembrar muito bem dela. Se lembrava que ela era linda.

Olhou pela janela, pensando se deveria passear pela cidade em algum momento, para fazer um reconhecimento. Ela precisava entender onde que estava agora. Precisava entender o que mais tinha mudado agora que ela estava ali.

Se ela tinha conseguido mudar um pequeno detalhe, e tinha, de uma certa forma, “recriado” Phantom Lord, então ela imaginava o que mais esse pequeno detalhe tinha mudado no mundo.

Mas ela não estava com paciência de ir atrás disso naquele momento. Tudo que ela queria era… apenas deitar e dormir de novo. Ela ainda se sentia extremamente cansada, ainda. Mas precisava tomar um banho antes disso, se sentia imunda e grudenta.

Quando foi procurar por roupas para vestir, sentiu-se aliviada pelo fato de que pelo menos seu senso de moda não tinha mudado. Ela continuava vestindo o mesmo tipo de roupa. Escolheu uma blusa branca decotada em V e uma saia azul.

Antes mesmo de entrar no chuveiro, parou na frente do espelho. Ela não via nenhuma diferença grande em seu rosto ou em seu corpo. Talvez a única coisa que tinha de diferente agora era que seu rosto estava levemente inchado por causa do choro e tinha uma ruga se formando no meio de sua testa, evidenciando o tempo que ela tinha ficado fazenda careta enquanto pensava preocupada sobre sua vida que tinha ficado para trás. A ruga, a cara de choro e o cabelo despenteado trazia uma aparência de exausta para Lucy. Ela nunca tinha se visto daquela forma.

Suspirou e entrou no chuveiro, esperando relaxar um pouco. Não adiantava ficar preocupada com tudo aquilo, porque naquele momento, ela ainda estava tentando se conformar com o fato de que ela não voltaria mais para sua casa, para sua vida. O que era… frustrante. Porque tudo que ela tinha construído, tudo que ela tinha conseguido alcançar, que ela se lembrava pelo menos, estava na outra vida. No outro mundo.

Ela não tinha nenhuma memória do que tinha acontecido naquele mundo. Exceto pelo pequeno detalhe de ter conhecido Gajeel. Nem se lembrava direito do seu relacionamento, quanto mais namorar com ele.

Talvez quanto mais ele falasse com ela sobre isso, mais sua memória voltaria. Ou se criaria. Ela ainda não tinha certeza de como que aquilo funcionava.

Quando ela saiu do chuveiro, limpa e cheirosa, mas não tão relaxada quanto queria estar, viu alguma coisa diferente no espelho. Voltou e encarou seu reflexo, não encontrando o que tinha visto de relance. Deu de ombros e voltou para o quarto, onde colocou a roupa e deitou-se na cama. Ela não queria admitir, mas ainda estava tentando pensar no que ela poderia fazer voltar ao normal.

Porque voltar ao normal, não incluia apenas Natsu. Incluía todos os seus outros amigos, incluía sua vida, suas conquistas e os rascunhos de escrita que ela tinha. Inacabados, mas pelo menos ela tinha memória de ter escrito aquelas coisas.

Como se só então ela percebesse desse detalhe, se sentindo tonta por não ter lembrado disso antes, procurou pelas suas chaves mágicas. Estavam na última gaveta de sua mesa, quase escondidos, como se estivessem esquecidos.

Aquário, Touro, Libra e Câncer. Nada de Gêmeos, nem Leão. Provavelmente Loki ainda estava na Fairy Tail. As outras chaves que tinha conseguido enquanto estava na Fairy Tail, não tinha mais. Sentou-se de pernas cruzadas na cama e abriu a chave de Aquário, esperando que pelo menos no mundo espiritual as coisas ainda estivessem normal.

Aquário estava mais puta do que o normal, já chegou no quarto reclamando. Geralmente, ela reclamava de estar sendo chamada muitas vezes, mas dessa vez, reclamou que tinha sido poucas vezes. Que fazia meses que não tinha sido chamada.

Lucy não disse nada, apenas abaixou a cabeça. Aquário percebeu que tinha alguma coisa errada.

— Não que eu me importe, mas alguma coisa aconteceu com você?

Lucy não sabia se chorava ou se ria.

— Era isso que eu estava esperando que você me dissesse. Eu não sei o que aconteceu comigo. — Lucy completou e Aquário, pela primeira vez em muito tempo, parou para escutar o que ela tinha a dizer. Ela era a mais próxima que tinha de um amigo. Ela contava as coisas para Levy ou Mirajane, mas…

— É a primeira vez que eu escuto algo assim acontecer. — Aquário disse, sentada junto com Lucy na cama, da melhor forma que conseguia, de braços cruzados. Apesar de ter dito que estava sem paciência para aquele tipo de coisa no começo da história, quando viu que Lucy estava quase desesperada, ela parou para escutar.

— Eu também. — Lucy disse, para baixo. — Se eu ao menos soubesse que tipo de magia poderia causar isso, eu poderia fazer alguma coisa para fazer isso mudar.

— Levanta esse ânimo, caralho! — Aquário gritou e Lucy arrumou sua postura. — Você acha que é pra isso que eu sirvo? Para ser sua psicóloga pessoal?

Lucy estava surpresa e não conseguiu falar nada.

— Se você está com problema, então, tira a poeira do corpo e faz alguma coisa! O que você espera conseguir ficando sentada na cama o dia inteiro?

Por mais que Lucy tinha ficado ofendida, Aquário estava certa. Ela não tinha que ficar parada e esperando que alguma coisa acontecesse.

— A Lucy que eu conheço já teria feito alguma coisa a respeito disso. Então levanta a bunda e vai! — Aquário disse, se preparando para voltar ao mundo espiritual. — Agora, se me dê licença, eu preciso encontrar com meu namorado. Ah, e não se esqueça de tirar a poeira da nossa chave de vez em quando. É horrível ficar muito tempo esperando para ser chamado.

Disse por fim ao voltar para o mundo espiritual. E o que ela tinha dito fazia sentido. Lucy realmente precisava se mexer. Portanto, ela colocou as chaves no seu cinto, secou e arrumou o cabelo e saiu do apartamento, procurando pela biblioteca mais próxima.

Era hora de fazer algumas pesquisas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cuidado Com o Que Deseja" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.