Situação complicada escrita por Parcimônia


Capítulo 4
Ainda é um genjutsu?


Notas iniciais do capítulo

Voltei!!
Não me mate, prometo que explico o motivo do desaparecimento no final.
Aproveita a leitura...



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O hospital de Konoha não era muito diferente do de Suna. Paredes brancas, chão de linóleo, ambiente esterilizado, doentes, pacientes, enfermeiros e ninjas médicos disputavam espaço pelos corredores. Era uma clínica ambulatorial, o que significava que além das consultas de rotina, as salas de espera estavam lotadas de familiares esperando notícias. Aquela imagem também lhe era comum — no mundo shinobi ferimentos faziam parte da rotina — entretanto, sentiu um aperto diferente no peito ao passar por uma mulher desesperada segurando um ursinho de pelúcia. Uma espécie de angústia que deixou suas mãos inquietas — involuntariamente, seu olhar parou no bebê Nara. O aperto afrouxou um pouco ao constatar que ele estava bem, babando enquanto tentava engolir os dedos sem tirar a chupeta.

O que há de errado? Perguntou-se, assustada.

Estar em território inimigo, ou numa situação de estresse constante sem poder confiar em ninguém não lhe preocupava tanto, afinal, havia sido exaustivamente treinada para isso — por ser uma shinobi e filha do Kazekage. Porém, aqueles sentimentos confusos eram aterrorizantes, para além das suas habilidades físicas, dependia da sua capacidade de discernimento e inteligência estratégica. Shikadai podia ser a maior das armadilhas, pois só de pensar em ferir a criança algo dentro dela se revirava.

Seguiu Shikamaru até uma ala específica, ele parecia ter alguma autoridade por ali já que não foram parados durante a caminhada — nem mesmo questionados. Ele deu duas batidas em uma das portas, mas a abriu antes de receber uma permissão.

— Não tenho tempo pra você hoje, Shikamaru — a ninja médica sentada à mesa falou sem mesmo tirar os olhos da papelada que lia — Sai está em missão, então essa semana só vou trabalhar meio expediente, volte na segunda e a gente conversa sobre os problemas que perturbam seu coraçãozinho.

— Ino — a simples palavra bastou para fazer a mulher encara-lo com seriedade, talvez tenha sido por conta do tom empregado a ela.

A loira barulhenta ainda era extremamente bonita, seu cabelo estava mais longo e seu olhar refletia uma maturidade que falava pouco sobre a idade, e tudo sobre experiências vividas. Quando seus olhos azuis fitaram Temari, a Sabaku viu vários sentimentos atravessá-los numa fração, a preocupação genuína sendo o predominante entre eles.

— Aconteceu algo? — era mais uma afirmação que pergunta, mesmo assim o Nara respondeu.

— Sim... — Shikamaru hesitou e se voltou para a esposa, ambos trocaram um breve olhar, ela sabia que uma mensagem silenciosa deveria estar sendo passada, mas não conhecia os códigos daquele cara, então só deu de ombros para demonstrar que não tinha entendido — Temari perdeu a memória — disse por fim.

— O quê? — se a pergunta não demonstrasse sua surpresa e alarme, a expressão em seu rosto com certeza daria a dica.

— Ela perdeu a memória dos últimos 8 anos.

— Durante um treinamento?

— Não, ela acordou assim.

— Certo, posso usar o jutsu...

— Você não vai entrar na minha cabeça — a Sabaku negou com veemência. 

— Seja razoável, Temari — o Nara parecia só cansado — precisamos descobrir o que aconteceu, o jutsu do clã Yamanaka é...

— Foda-se, acham que sou idiota? — soltou um riso sob a respiração, não com humor, mas descrença — não confio nem em você, perdedor, acredita mesmo que vou deixar alguém da Folha mexer na minha cabeça?

Como se percebesse o clima pesado do ambiente, Shikadai começou a chorar desconsoladamente. Em um gesto automático, o Nara mudou sua atenção para o garotinho. Um momento constrangedor se seguiu, onde Shikamaru confortava o menino de forma doce, Ino observava tudo com o cenho franzido e Temari se sentia deslocada no meio daquela situação cada vez mais descabida.

— Tudo bem, existem métodos tradicionais — Yamanaka interveio com um ritmo apaziguador — podemos fazer exames físicos e descobrir se são causas naturais ou algum tipo de jutsu, talvez até mesmo um desvio de chakra.

— Quero uma explicação de cada coisa que vocês fizerem — ordenou.

— Claro — Ino respondeu de pronto, com um grande sorriso nervoso.

A Sabaku ouviu o Nara resmungar algo, porém, antes que pudesse iniciar outra briga foi empurrada para fora da sala por Ino. Ao longo do dia foi espetada, examinada, cutucada, passou por diversas salas e processos complicados — sempre mantendo um olhar avaliativo sobre o que estava sendo feito, atenta a qualquer uso de chakra ou técnica suspeita. 

Entretanto, o que mais a perturbou foi que durante todas essas horas, Shikamaru ficou ao seu lado como um maldito cão de guarda. Em certo momento — incomodada com a preocupação e familiaridade como ele a tratava — o questionou se não deveria estar em outro lugar, trabalhando ou vagabundeando por aí, contemplando as nuvens. Porém, recebeu de volta uma simples frase: "Isso é importante”.

Com o rosto queimando e a sensação estranha de borboletas no ventre — uma reação bem bizarra — Temari passou a ignorá-lo. Mesmo quando ele interagia com o pequeno Nara, seja alimentando — a criança realmente gostava de comer — ninando, confortando ou trocando. Surpreendentemente, o fracote era um bom pai e exercia cada função com confiança e habilidade.

No fim da tarde, aguardou até que Ino pudesse sentar com ela numa das salas para dar o diagnóstico. Em sua mesa, várias pastas e resultados de exames estavam abertos, sua cara não entregava absolutamente nada para a Sabaku, mas — ao seu lado — Shikamaru estava ansioso.

Impaciente, Temari cruzou as pernas, apoiando as mãos unidas no joelho — uma postura que utilizava sempre que ficava nervosa e precisava se impedir de bater os pés no chão para aliviar a inquietação.

— Não há nada de errado com seu corpo — a ninja médica começou — fizemos todos os exames possíveis e imagináveis, e está tudo okay.

— Então passei por tudo isso atoa?

— Serviu para descobrirmos que seu problema não é na ordem física — Ino disse lentamente, como se pesasse cada palavra — mas sim psicológico.

"Recentemente tenho me envolvido numa área da medicina ninja que é pouco explorada, ela é focada no aspecto psicológico/emocional, e como esses dois fatores podem interferir na saúde do paciente. Entre esses estudos existe uma coisa chamada Transtorno de estresse pós-traumático, ou TEPT. Os sintomas do distúrbio incluem pesadelos, reações exageradas a estímulos, ansiedade, humor deprimido e fuga de situações que lembram o trauma, como por exemplo, a perda de memória.”

— Então seu diagnóstico é que provoquei esse bloqueio de 8 anos?

— Não de maneira intencional — gesticulava com as mãos na tentativa de ilustrar a situação — depois da guerra tivemos alguns casos, é basicamente um mecanismo de defesa.

— Que guerra?

— É uma longa história, você perdeu muita coisa.

— Estou percebendo.

— A guerra se encerrou faz anos — pela primeira vez, Shikamaru se pronunciou.

— A mente é uma coisa complexa — Ino declarou como se falasse de uma pessoa, não algo subjetivo — nessa situação, o gatilho pode ser sido algo mais… cotidiano.

— Shikadai — o Nara afirmou de forma sombria.

— O que tem Shikadai? — Temari perguntou entredentes.

Desde o encontro com o neto do Hokage a Sabaku desconfiou que Shikamaru estivesse escondendo algo importante dela, agora veio a certeza, pior, tudo indicava que tinha a ver com o pequeno Nara.

— Podem falar por bem, ou posso arrancar a resposta de vocês — ameaçou quando nenhum dos dois parecia inclinado a sanar suas dúvidas.

— Uns dias atrás… — Shikamaru começou, entretanto foi interrompido pela Yamanaka.

— Se esse incidente tiver relação com a sua perda de memória não devemos forçar o processo, ou podemos acabar criando um colapso — apressou-se em explicar sob o olhar assassino da Sabaku — como disse, é um mecanismo de defesa, devemos ter muito cuidado.

— Então devo fechar os olhos e confiar em vocês?

— Não vamos te fazer mal, Temari — deu um sorrisinho que transmitia solidariedade — pode não se lembrar agora, mas somos amigas e bem, o Shikamaru e Shikadai são sua família.

A palavra família fez algo se apertar no seu coração, a cada minuto que passava naquela ilusão, menos surreal parecia a possibilidade de estar casada com Shikamaru e, por Kami, ser mãe da coisa babenta.

— Eu quero saber — não queria largar o osso, era uma das melhores ninjas de Suna, que patético seria se caísse tão facilmente numa armadilha.

Ino comprimiu os lábios na tentativa de impedir as palavras de saírem, ao seu lado, Shikamaru ficou ainda mais tenso.

— Você vai lembrar gradualmente…

— Quanto tempo? 

A Sabaku havia visto muitos momentos do Nara: no campo de luta ao enfrentá-lo, em missão quando o resgatou e depois, num corredor de hospital enquanto espera notícias dos amigos dele. Todos esses eventos eram trágicos e estressantes, no entanto, ele nunca havia usado aquele tom.

Uma mistura inquietante de seriedade, resignação e medo.

— Dois dias, talvez três, o importante é manter sua rotina — colocou a franja atrás da orelha, tirando o cabelo da frente dos olhos, em um movimento cansado — se não for o bastante, iremos interferir com pequenos estímulos.

— Como o quê?

— Frequentar lugares conhecidos, conversar com pessoas do seu cotidianos, rever álbuns de eventos passados, coisas leves que vão trazer suas memórias de forma progressiva, mas nada muito abrupto.

— Como me contar a verdade sobre o motivo disso tudo?

— Basicamente.

— Perfeito! — riu com sarcasmo — agora tenho um marido idiota, um bebê que só chora e dorme, diga-se de passagem é bem parecido com o pai, e estou morando em Konoha, posso facilmente lidar com isso, mas não com seja lá o que aconteceu com a pequena coisinha.

— Sei que parece injusto, mas como médica, minha recomendação é essa.

Perfeito — a Sabaku pensou — realmente PERFEITO.


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Notas finais do capítulo

Gente, já disse isso algumas vezes ao longo das postagens, mas estou no final da faculdade (no caso, tecnicamente ERA pra ser meu último período). Enfim, estou escrevendo meu TCC e ainda tenho outras matérias para gerenciar...
Sei que parece desculpa ou exagero, antes de estar nesse inferno eu pensava a mesma coisa, mas escrever uma monografia é completamente diferente de uma história. Percebi que sou péssima com texto acadêmico e isso me frustrou de uma forma que acabou com o meu tesão de escrever qualquer outra coisa (sério, baixa estima intelectual é a PIOR coisa do mundo).
Voltei pq desisti do TCC (vou fazer só período que vem, pois simplesmente não tenho saúde mental, principalmente por meu orientador ser um desleixado e a matéria ser em EaD por conta da pandemia).



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