Hide The Petals escrita por JennyMNZ


Capítulo 6
A Calmaria




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/795224/chapter/6

×
lay your heart, lay your soul upon my magic carpet.
now we all fly to venus just to kill some time for tea, okay?
remember, surrender, there’s nothing you can do,
cause love’s such a joke, like a little jack-in-a-box, you know?
a little jack-in-a-box
(yoko kanno feat. emily bindiger – flying teapot)

.

.

.

.

Quando Baek Ah toca para ela, Hae Soo sente que sua vida é pacífica e que ela não tem motivos para se preocupar ou temer em casa.

Ela sente que nem está mais na residência do 8º Príncipe, mas em algum lugar distante e remoto. Em algum lugar em que as intrigas do palácio não podem alcançá-la, e as mortes e maquinações são só uma história que as pessoas contam sobre o passado. Se ela forçar a imaginação ao fechar os olhos, ela quase consegue sentir a presença do 4º Príncipe ao lado dela, e isso deixa as coisas ainda mais perfeitas.

Mas então a música acaba, a nota final ecoa no jardim da casa do seu marido, e ela tem que abrir os olhos e encarar a realidade.

Parece até que ela acabou de acordar de um sonho bom, então ela pisca os olhos rapidamente enquanto a sensação fantasmagórica se dissipa aos poucos.

Quando ela vira o rosto para o seu lado, ela vê o 13º Príncipe observando-a em expectativa. Então ela sorri educadamente, silenciosamente pedindo que ele vá em frente e diga o que tem para dizer, e para não se preocupar com os olhos sempre vigilantes do seu irmão.

Baek Ah faz uma leve pausa e baixa seu olhar, batendo de leve com o dedo duas vezes na base de seu gayageum, como se estivesse incerto por onde começar, respira fundo e olha bem nos seus olhos antes de perguntar.

— Ele tocou em você?

A expressão dela se suaviza com a pergunta dele, e ela se sente derretida por dentro – o sentimento sombrio que já começara a se assentar sobre seu coração desaparece novamente.

— Eu estou bem, Wangjanim, — o sorriso dela cresce ainda mais quando ela o tranquiliza, — Eu estou vivendo muito bem. Não se preocupe.

Baek Ah acena silenciosamente, sua expressão dizendo que sim, ele já entendeu e agora vai seguir em frente.

— Ás vezes eu penso em te tirar daqui, — ele fala como se estivesse só pensando em voz alta, ou refletindo casualmente, mas Soo sabe muito bem que ele está falando sério, e que se ela não o desencorajar, tem uma chance das coisas saírem ainda mais do controle.

— E depois ir pra onde? — Ela arqueia uma sobrancelha, se divertindo com a fala que ela sabia que seria feita em algum momento.

— Pra onde você quiser, — Baek Ah diz imediatamente e Soo suspira, olhando para o céu distante e as distantes terras que ela jamais poderia visitar enquanto fosse casada com o 8º Príncipe e Jeonjeong estivesse no trono.

— Isso seria ruim para você. — As palavras dela saem em um tom triste. Não é fácil para ela continuar negando, e ela sempre fica desejando que as coisas fossem mais fáceis.

O 13º Príncipe continua a observá-la em silêncio. E, depois que ela não diz nada, ele faz uma expressão de quem está sendo forçado a se jogar de um penhasco num ninho de serpentes. 

Soo olha para as mãos dele, seus dedo que continua imóvel na base de sua gayageum, no mesmo lugar que ele estava batendo silenciosamente antes. Depois ela olha de volta para ele, um semblante de expectativa, implorando que ele corte o suspense e diga logo o que tem para dizer.

— Você me perguntou se eu estava com saudade, — Baek Ah finalmente fala depois de um suspiro de resignação, sua voz num tom relutante, — Você queria mesmo uma resposta?

Soo quer rir, especialmente depois de ver a cara de tortura que o 13º Príncipe faz quando tem que passar por situações desse tipo. Mas ela não consegue deixar de provocá-lo ainda mais.

— Eu já sei a resposta, — ela diz e então não consegue segurar a risada pelo olhar de traição que ele lança para ela, — Não se preocupe.

Então o olhar dele suaviza e ele fala normalmente de novo:

— Não me diga para não me preocupar, e eu também não te digo para não se preocupar.

Ela dá uma risadinha com a resposta que ele já tem pronta e depois, ousada, se inclina para perto e fala numa voz baixa.

— Então, pode por favor sonhar comigo?

Os olhos de Baek Ah se arregalam e ele fica vermelho, virando o olhar para longe dela e sacudindo a cabeça freneticamente.

— Não, isso é embaraçoso demais, — ele sai do personagem e continua a se recusar a olhar para ela, para as lágrimas dela não o comoverem, — Pergunta outra coisa.

— O quê? Baek Ah-nim!

Ela tinha passado muito tempo para pensar naquela mensagem para o 4º Príncipe e não tivera tempo nem calma para pensar em outra coisa que não fosse completamente simples. Se Baek Ah se recusar a enviar aquela, então ela não tem muita coisa. 

— Desculpa, não dá. É demais.

Soo suspira e cede à insistência de Baek Ah, antes que o homem desista de levar as mensagens deles porque a demonstração pública de afeto estava além do que ele podia suportar.

— Então, o que você comeu no jantar? — Ela pergunta à contragosto, falando a primeira coisa que vem em mente.

— Arroz e peixe assado, — ele responde prontamente com um sorriso convencido.

— O quê?

— Ele disse que estava com a sensação de que você ia perguntar isso, — Baek Ah sai do personagem mais uma vez, esclarecendo a confusão de Soo. Ele soa divertido, como se não tivesse esperado que ela realmente iria perguntar algo sobre os hábitos alimentares de seu irmão.

— O que mais ele disse? — Ela pergunta sem pensar e sua mão está prestes a agarrá-lo e fazê-lo cuspir cada palavra que ele ouviu da boca do 4º Príncipe quando estava em Seokyeon. Mas um olhar de aviso dele basta para fazê-la parar, respirar fundo e reformular sua pergunta numa voz mais calma. — Então, Baek Ah-nim... pode me contar algo engraçado sobre o mundo que você viu lá fora?

— Na próxima vez, — Baek Ah diz e bate de leve na sua gayageum mais uma vez, sinalizando o fim das mensagens, e começa a se levantar, — Agora eu tenho mesmo que ir. Se ficar muito tempo, vou perder a hora e não vou conseguir partir com o nascer do sol amanhã.

— Wangjanim! — Ela o chama antes que ele guarde o instrumento, e ele olha para ela com atenção, — Tome cuidado lá fora.

Baek Ah acena lentamente, para mostrar que ele entendeu que essa é outra mensagem para ele levar para Seokyeong.

— Tá certo.

Depois que Baek Ah se levanta e guarda sua gayageum, um pequeno pedaço de papel fica no chão, bem do lado de sua saia esparramada no piso. Fingindo estar se apoiando para se levantar, ela coloca uma mão sobre ele, agarrando-o com força para não chamar atenção. E então, ao fingir estar arrumando a saia, ela o esconde nas dobras do seu hanbok e volta para a sala de jantar, onde vai oferecer um lanche para seu cunhado.

Ela está ansiosa para abrir a carta, mesmo que saiba que ela não contém muita informação sobre ele. Desde que Baek Ah começou a visitar, o 4º Príncipe lhe enviava alguns poemas que ele escrevia para ela – nunca assinados, nunca endereçados, nunca nada indicando quem escreveu para quem.

E ainda assim, igual ao que ele escrevera para ela no dia que se casou com a filha de Hyejong, ela já sabe que este será mais um tesouro para ela. Ela vai lê-lo de novo e novo, até memorizar de coração. Ela vai colocá-lo ao seu lado quando deitar na cama, tracejando com o dedo as linhas de tinta, imaginando sua voz grave repetindo-o para ela até ela cair no sono.

É só um pedaço de papel, e é um conforto pequeno se comparado à sua presença física. Mas ele a enche de esperança quando ela retorna para as sombras da casa do seu marido.

 

❊❊❊

 

O poema ainda está escondido em segurança durante o jantar com seu marido.

Alguém poderia pensar que, depois de cinco meses de tentativas infrutíferas de fazê-la dividir a refeição com ele, o 8º Príncipe já teria se cansado e desistido. Ou que Hae Soo já teria cedido à pressão e iria pelo menos comer, mesmo que em silêncio. Já outros não ficariam surpresos por, assim como no dia do casamento deles, ele ser o único a comer e ela ficar quieta o tempo todo.

Ele não diz muita coisa, mas dá para ver que ele não está satisfeito com ela. Nem com nada.

Quando ele permitiu que Baek Ah viesse visitá-la de vez em quando, ela lhe agradeceu por educação, mas ela também notou o brilho nos seus olhos. Ele viu o gesto de bons modos como um sinal de progresso e acreditou que isso significava que seus sentimentos estavam reacendendo e que logo eles estariam juntos de novo. A pele dela formigou só de pensar e ela se sentiu tentada a corrigir o engano. No entanto, ela acabou decidindo que era melhor deixá-lo de bom humor, mesmo que fosse o resultado de uma ilusão dele.

A decisão dela se provou boa, porque depois de alguns encontros com o 13º Príncipe, seu marido também permitiu que ele tocasse para ela em privado, certo de que sua ação iria contribuir para reconquistá-la.

Ela também lhe agradeceu por isso. Educadamente, e com um leve sorriso. Não fazia mal sorrir. Um sorriso não significava nada. Se ele era tolo o bastante para ser enganado por um sorriso, problema dele.

No entanto, meses depois, ainda não há nenhum sinal de progresso, nenhuma demonstração de afeto. E agora Soo pode ver que ele está ficando impaciente. Só o jeito que ele olha para ela durante a refeição e o seu tom de voz sempre que um de seus comentários fica sem resposta já são um sinal claro para qualquer um.

Bem, isso também é problema dele.

O problema de Hae Soo, por outro lado, é ele – ele e seu irmão tirano que não a deixa em paz. E o foco principal dela agora é sobreviver aos dois, resistir em ambas as frentes. Se ele está sofrendo uma ilusão romântica e um amor nãocorrespondido, isso pouco importa para ela.

Ela só tem que mantê-lo levemente entretido, só o bastante para ele não descontar a raiva nela.

É por isso que, depois que o jantar acaba e ele se despede, ela não vira a cara com rispidez, mas se curva e mantém seu semblante educado, embora não gentil. Ela não faz um sinal de protesto quando ele lhe informa que eles irão sair para distribuir mantimentos e roupas amanhã. E quando ele se retira, ela não tem uma sombra de irritação com a sua presença, nem de alívio com a sua saída.

Ela está indo bem.

Hae Soo então se retira para seus aposentos (de Myung Hee, ela sempre se lembra) e dispensa as servas que lhe acompanham. Uma delas, no entanto, insiste em ficar um pouco mais com ela, para ajudá-la com sua rotina noturna, e Soo não recusa. Soo permite que a garota entre no seu quarto, mexa nas suas caixas de jóias, organize seus potes de maquiagem, e até que ajude-a a remover seu hanbok. Elas conversam casualmente sobre o dia, mantendo uma atmosfera amigável, e Soo sorri com gentileza, que nem ela fazia com Chae Ryung.

Quando seu cabelo está finalmente solto e seu rosto limpo, a serva não tem mais motivos para ficar. Daeun se curva respeitosamente e vai embora, pronta para passar outro relatório completo para o 8º Príncipe: não há nada fora do comum no quarto de sua senhora, nada suspeito foi dito ou feito. E já que ela é bem próxima da senhora da casa, o Príncipe não terá motivos para duvidar dela.

É cansativo viver assim, mas Hae Soo está praticamente acostumada.

Ela espera alguns minutos depois que está sozinha, para ter certeza de que nenhuma serva vai voltar com alguma desculpa – olhos vigilantes e ouvidos atentos – e que eles a deixaram mesmo.

E então ela espera um pouco mais, até se sentir segura o bastante para tirar a carta que o 4º Príncipe lhe enviou de dentro da meia.

Tem uma vela acesa ao lado de sua cama, como de costume. Ela sempre a deixa acesa, mesmo que Baek Ah não tenha visitado e ela não tenha nenhuma nova carta. É por isso que ela não teme que a luz fraca chame a atenção de uma pessoa (espião) por perto e se sente segura o bastante para finalmente abrir o papel.

Soo o lê cuidadosamente, contornando os traços com um toque leve, memorizando cada uma das palavras e gravando-as no seu coração, ao ponto de ser capaz de citar cada caractere sem vê-los – até que ela esteja satisfeita.

Ela não o vê há tanto tempo e as mensagens e cartas clandestinas que Baek Ah lhe traz não são o bastante para preencher o vazio que ele deixou no seu coração. Mas é melhor que nada. É melhor que o silêncio absoluto que ela teria.

Porém, quando a vela começa a chegar ao fim ela precisa se afastar da caligrafia dele, então ela se levanta e caminha em silêncio para sua escrivaninha. A pedra de tinta preta no canto foi um presente de casamento de Woo Hee, e ela tem um compartimento secreto na base. Claro, o espaço não é grande, mas é o bastante para os poucos poemas que o 4º Príncipe conseguiu enviar para ela, para que ninguém os encontre.

Isso bastaria para manter o temperamento do 8º Príncipe sob controle.

 

❊❊❊

 

Resumindo, Hae Soo está fazendo só o mínimo para deixar seu marido contente com seu comportamento, mas cometendo atos de rebeldia o suficiente para ainda se sentir como si mesma.

Leva semanas até ele se revoltar. Apesar de ela ter esperado ficar mais tempo nessa enrola, ela fica feliz por enganá-lo por quase dois meses. E ela se sente um pouco vitoriosa por se esquivar da repreensão de seu marido por seis meses desde o casamento.

Ah, como a lista de exigências dela ficou pequena. 

Mas sim, ela viveu os últimos meses na expectativa, sentindo a sombra se aproximar, pronta para fazer algo caso, quando ele finalmente estourar, o surto dele acabasse sendo violento.

Por sorte, ele manifesta sua desaprovação com palavras ao invés de atos. Mesmo embora sua atitude continue sendo tão controladora quanto antes.

— Não quero mais ver você sozinha com Baek Ah, — ele diz durante o jantar, finalmente conseguindo arrancar uma reação dela, — Chame outro músico da próxima vez.

Ela quer continuar em silêncio, como de costume, mas ambos sabem que isso é algo que ela não vai ignorar. E embora ela saiba que isso conta como uma vitória dele, ela não vai ver como uma derrota. 

— Tudo bem, — ela assente, ainda não olhando para ele, já que não tem pra quê brigar sobre isso, ele vai conseguir o quer no fim das contas, — Mas eu não quero outro músico. Vou procurar outra coisa para fazer durante meu tempo livre.

O novo músico certamente seria outro espião. E mesmo que não fosse, ela sabia que se aceitasse o arranjo dele, logo ele estaria lhe fazendo companhia durante seu tempo livre. E daí seria praticamente impossível para ela ficar em paz.

— Você pode ir visitar os parentes do clã Hwangbo, — Wook sugere sem ser solicitado, sorrindo como se essa fosse a melhor ideia do mundo, — Eles não a veem desde o casamento.

— Não me sinto confortável com sua família. Não quero tornar a vê-los. Nunca mais, se possível, — a resposta dela é direta, — Se acha que isso é um problema, pode se divorciar de mim.

— Não é problema algum, — o sorriso dele vacila, mas não se apaga, — Eu só quero que você faça o que quer fazer.

— Então eu posso me divorciar de você? — Ela o encara friamente, sua resposta deixando os lábios com tranquilidade, e a boca dele treme quando seu semblante eufórico vira uma careta.

O quarto fica em silêncio por alguns momentos e ela se alegra por ter falado, se alegra por ter mostrado uma leve reação dessa vez. Porque a leve surpresa que ela demonstrou mais cedo é um preço pequeno a pagar pela cara dele de chocado e irritado.

— Já falamos sobre isso, Soo-yah.

— Não, não falamos, Wangjanim.

Há silêncio novamente enquanto seu marido deixa os talheres de lado. Ele claramente está de mal humor, e ela está feliz pois, mesmo que tenha perdido seus momentos de (meio que) falar com o 4º Príncipe, ela ainda sai vitoriosa sobre o marido.

— Você só precisa me dar uma chance. E ser paciente. Dê tempo ao tempo.

— Você já teve sua chance. Eu já falei, nada que você faça vai mudar alguma coisa.

— É o que veremos.

 

❊❊❊

 

Desde que elas se viram pela última vez, a Princesa Hwangbo começou a agir mais cordialmente com Hae Soo. E embora a jovem nobre esteja feliz por isso, ela não acredita nem por um segundo que sua cunhada se tornou uma pessoa decente sem más intenções contra ela.

Então ela redobra sua atenção sempre que Yeon Hwa está por perto.

A Princesa parece saber tudo o que acontece entre ela e o Príncipe, embora Soo possa ver que Wook nunca lhe contou nada. Mas ela nota que sempre que interagem, toda a conversa era baseada em como seu irmão a estava tratando.

Por isso que, mais tarde, no mesmo dia que Wook proibiu Baek Ah de tocar para ela, Soo não fica surpresa quando Yeon Hwa aparece no seu quarto com um servo que carrega um grande baú.

— Orabeonim mandou novos hanboks, você deveria experimentá-los. — Ela sorri com educação, — Também tem novas joias para você escolher.

Soo sorri de volta – pelo bem do pobre Minsoo, que está visivelmente com medo de testemunhar uma briga entre elas – mas seu tom é rígido e frio ao falar.

— Talvez uma outra hora. Não estou com vontade de ver novas roupas agora. — Ela os dispensa com um aceno da mão, nem se dando ao trabalho de levantar.

— Já faz mais de um mês desde que a alfaiate visitou. E você ainda usa os mesmo acessórios de quando era solteira, — Yeon Hwa não se desanima com a recusa de Soo e começa a lhe repreender como se fossem amigas, — Isso não é muito apropriado.

— É, mas ninguém precisa saber.

Soo voltou os olhos para a pintura em que estava trabalhando, o que a mulher tomou como um sinal para se sentar ao seu lado e continuar conversando.

— Eles são da mais pura seda, das cores mais ricas, com os mais finos bordados que você jamais sonharia em vestir quando trabalhava no palácio. Pra quê ser tão mesquinha e negativa com um presente? — Ela continua a bronca amigável e depois suspira, como se Soo fosse a problemática, — Só experimenta. Não é como se isso fosse significar alguma coisa.

— Me diga, Gongjunim, roupas novas te faziam se sentir melhor durante seu exílio? — Soo retruca imediatamente, mas meio distraída, ainda sem olhar para ela, — Eu não estou precisando de novas roupas, nem de jóias. Diga ao meu marido que ele não precisa continuar mandando mais.

Mas ao invés de ir embora, Yeon Hwa faz um gesto para Minsoo, que com gratidão coloca o baú no chão e se retira, deixando as duas mulheres à sós.

Por um longo momento, não há qualquer som no quarto além das suaves pinceladas na tinta e então no papel. A Princesa continua olhando para ela, mas Hae Soo não se move sob seu olhar perscrutador, não se permite ficar intimidada nem insegura. Ela finge que isso é um jogo de encarar, e a primeira a recuar ou mostrar a mais leva reação perde.

É um jogo estressante, mas ela está ficando cada vez melhor nele.

Finalmente a outra mulher se cansa de encarar (ela perde) e começa a falar o que está pensando.

— Você está planejando alguma coisa, não está? — O tom dela é de provocação ao falar em voz baixa, como se elas fossem confidentes, — Orabeonim pode não notar, mas eu sim. Eu só não sei o que é.

— Então eu vou te contar. — Soo abaixa o pincel e sua voz, quase sussurrando para a mulher, — Eu vou encher o saco dele até ele implorar por um divórcio.

— E o que você vai ganhar com isso? — Yeon Hwa continua a brincadeira de ficarem sussurrando uma para a outra.

— Alguém como você não entenderia.

— Tá bom, — ela ri, como se estivesse cansada de um joguinho bobo e se levanta, — Eu vou continuar de olho em você. Uma hora você vai cometer um erro.

— Então fique de olhos bem abertos, Gongjunim. E em troca, eu vou ficar de olho em você também.

Yeon Hwa sorri amigável novamente antes de deixá-la sozinha, e Hae Soo finalmente pode continuar a pintar uma cachoeira aleatória.

Ela se pergunta quando o golpe da Princesa virá.

 

❊❊❊

 

O golpe acaba vindo na manhã seguinte. O que não foi surpresa, agora que Soo parou para refletir.

No entanto, naquela hora, ela foi pega de surpresa.

Wook e Yeon Hwa vão bem cedo aos seus aposentos, como eles sempre fazem quando ela diz que está muito mal para se levantar da cama. Eles trazem servos que carregam comida e remédio para ela se sentir melhor e trocam as cordialidades básicas que uma pessoa trocaria com um marido indesejado e uma cunhada invejosa. Mas quando eles já estão para sair, a Princesa exclama com uma voz alegre.

— Oh, Soo-yah! Onde você arrumou esse?

Os olhos de Soo se movem involuntariamente para a mulher, que está segurando o grampo de cabelo velho e enferrujado que o 4º Príncipe deixou para trás.

— Eu achei no jardim, — ela responde sem pensar, doida para fazer eles saírem logo.

— Você achou um grampo de cabelo no jardim? — Yeon Hwa perguntou incrédula, mas animada, como se tivesse uma história secreta por trás do acessório simples que Soo tinha tomado posse, — Que absurdo.

O 8º Príncipe se vira para onde sua irmã está, perto da mesa de desenhos, e é aí que Hae Soo se toca.

Ela tem certeza que o grampo estava dentro de sua caixa de maquiagem. Ela tem certeza, porque ainda na manhã de ontem ela o segurou por um tempo, já com saudade das cartas. E ela se lembra vividamente de o ter colocado de volta no mesmo lugar, que não era nem um pouco perto da mesa onde Yeon Hwa o encontrou.

Os olhos dela se estreitam um pouco, ela se pergunta o quê exatamente a Princesa pode conseguir ao fazê-la confessar a história do grampo de cabelo, e ela responde devagar.

— É absurdo, mas eu achei. E já faz um tempo, até.

— É claro que achou, — Yeon Hwa ri, divertida. Então ela vai até seu irmão, para que ele possa vê-lo melhor, — Não parece com aquele que So-orabeonim tinha? Quando ele ainda morava aqui?

A expressão de curiosidade de Wook se transforma em uma de insatisfação, e ela finalmente consegue ver onde a Princesa quer chegar.

— Então você acha que ele o perdeu aqui anos atrás e só agora eu o achei? — Soo pergunta com escárnio, para que a verdade soe como uma acusação absurda e sem nexo.

— O quê? Isso seria ridículo.

— Claro que seria. Mas a única outra possibilidade seria que ele o deu pra mim pessoalmente. O que não é verdade, já que eu o achei no jardim.

— É verdade, Wangjanim. — Soobin finalmente intervém, e a cara exultante de Yeon Hwa se apaga um pouco, — Nós estávamos acompanhando Buin quando ela o encontrou.

A tempestade se esvai do semblante do Príncipe, já que ele confia o bastante na velha serva para saber que ela está dizendo a verdade. Então ele olha para as outras meninas que Soobin indicou e solta o ar aliviado quando vê Daeun acenando juntamente com as outras.

Satisfeito, Wook pega o grampo de sua irmã e o coloca na cama, perto da mão dela.

— Muitas pessoas vêm e vão dessa casa, — ele conclui, sinalizando que acredita nela, — Fique com ele. Se ninguém veio atrás dele, é seu.

Ele finalmente vai embora, e Yeon Hwa não tem escolha a não ser ir também, sem conseguir reciprocar o sorriso alegre de Soo. As servas também se retiram, deixando apenas Daeun para trás para cuidar de sua senhora, e Soo respira devagar.

— Daeun-ah, — ela chama a menina antes que ela comece a se intrometer e a fofocar, — Eu sei que acabei de tomar café, mas pode trazer uns bolinhos para mim? Os de canela. Acho que vai me ajudar a tomar meu remédio.

— Claro, Buin. — A menina se curva e deixa Soo à sós com seus pensamentos.

Afinal, quantas vezes Yeon Hwa poderia atacar antes que ela conseguisse neutralizá-la?

 

❊❊❊

 

As próximas semanas são uma tortura. 

Dessa vez, no entanto, era menos por causa da tensão de ter que viver na casa Hwangbo como a esposa do 8º Príncipe, e mais por ela não ter uma previsão de receber notícias sobre o 4º Príncipe logo. Com Baek Ah proibido de ficar à sós com ela, não tinha como ele conseguir passar uma mensagem secreta para ela. O que quer dizer que não tem como não saber de nada além do fato de que ele está vivo.

E assim, mais de um mês se passa em tédio total para Hae Soo.

Ela faz algumas coisas, é claro. Ela fica de olhos abertos e frequentemente atualiza suas listas mentais de nomes. Ela observa os jogadores movendo as peças, e como ela fazia com os doramas, ela tenta adivinhar o que vai acontecer depois, quem vai fazer o quê. 

Observar o jogo a uma distância segura estava começando a virar um jogo para ela. Ela só precisava continuar usando a máscara do peão.

Peões são fracos, então as pessoas tendem a não ligar para eles e só usá-los como bodes expiatórios. Peões são pequenos e raramente vistos como ameaça.

Peões são o oposto do valioso Rei.

— O Rei a convocou. — Wook se ajoelha ao lado dela depois de trazer as notícias, atrapalhando o chá dela, e então lhe aconselha numa voz baixa, — Cuidado com o que fala quando estiver na presença dele.

— O que eu poderia dizer que seria perigoso? — Soo ergue as sobrancelhas e põe sua xícara de lado, já sem apetite.

— Ele poderia manipulá-la a uma posição de risco.

— Me soa familiar.

O momento de silêncio que segue a resposta de Soo é denso, e ela o aprecia bastante.

Mas então ele volta a falar de novo, com aquele tom auto-indulgente que sempre faz a pele dela se arrepiar, e ela começa a apreciar o momento um pouco menos.

— Soo-yah, você sabe que para mim, a sua segurança...

— Pyeha me espera. Eu vou partir agora.

Ela se levanta imediatamente, sinalizando para a garota que estava com ela a acompanhá-la.

— Sim. Claro. — Wook também se levanta e, depois de um momento de hesitação, ordena, — Leve mais uma serva com você, alguém que vá te deixar à vontade. Acho que Daeun pode te acompanhar.

— Obrigada.

Ela faz questão de visivelmente relaxar os ombros quando ele menciona Daeun, mesmo embora ela preferisse ir só com Bora (ela pode confiar em Bora, a garota tinha vindo com Myung Hee para Songak). Ela age como se estivesse baixando a guarda bem na frente dele e acena para Bora ir buscar Daeun.

Então ela espera pelo palanquim do lado de fora, aproveitando o ar fresco antes de ser novamente levada à presença de Jeonjeong.

Wook insiste em acompanhá-la até os portões da casa, obviamente consternado com o convite do Rei, com medo de que algo aconteça e ela seja executada.

Afinal, todos temiam o Rei e o seu poder. Mesmo aqueles que planejavam matá-lo e usurpar seu trono.

Uma pena que as pessoas tivessem a tendência de esquecer o quão limitados eram os movimentos do Rei.

 

❊❊❊

 

— Interessante. Muito interessante. — Wang Yo celebra, erguendo seu copo de chá para um brinde depois que Soo acaba de lhe contar os novos movimentos e aliados do seu marido, bem como as possíveis estratégias e planos dele, — Se eu soubesse que dar você em casamento para Wook compensaria tanto assim, teria feito isso antes.

— Eu duvido que eu seja a única espiã que você colocou de olho nele.

— Ah, você não é, eu garanto. Você só é a que está melhor posicionada para encontrar esse tipo de informação rápido assim. Embora seja difícil encontrar passarinhos dispostos a trair seu companheiro, que nem você fez, — o Rei reflete e se reclina em seu trono, desviando o olhar de Hae Soo, que continua de pé ao seu lado, — Imagino que tem a namoradinha do Baek Ah também, mas ela é um estorvo às vezes.

Yo faz uma pausa, esperando que Soo reaja, que fique chocada ou pelo menos surpresa. Ela consegue ouvir a expectativa na voz provocadora dele e na sua postura relaxada. Então ela sente um tantinho de satisfação quando ela não lhe dá nada e responde numa voz equilibrada.

— Isso tende a acontecer quando alguém tem sua família assassinada, seu lar destruído e seu povo escravizado.

— Acho que sim. Isso tende a acontecer mesmo. — Ele ri, mas ela sabe que ele está irritado, — E você? Por que você é difícil de controlar?

— Porque quando eu me afoguei quando era mais nova, uma entidade se apossou do meu corpo e ela se rebela contra tirania e injustiça.

É a verdade, é claro, e é uma verdade que Hae Soo passou os últimos anos lutando para esconder, com medo do que eles fariam se descobrissem. Mas afirmar isso agora não tem perigo, não tem risco. Pelo contrário, sua resposta só diverte o Rei, que começa a rir e a cacarejar até as lágrimas começarem a sair de seus olhos.

— Que história maravilhosa, — ele comenta quando finalmente consegue respirar.

— Eu inventei ela ontem à noite.

— Ah, que desperdício de seus talentos, — ele faz uma careta sarcástica e serve outra xícara de chá para si, — Aliás, como está a vida de casada?

— Opressiva. Como se eu fosse uma prisioneira.

— Você também seria uma prisioneira aqui, lembre-se disso.

— Mas aqui eu teria alguma coisa pra fazer.

— Eu não acabei de te dar uma coisa pra fazer?

— Eu quero ser livre, Pyeha, — ela refuta sua lógica, quebrando o protocolo do palácio e encarando-o diretamente, — Eu não quero fazer algo só para não morrer. Isso não é vida pra se viver.

Jeonjeong a encara de volta, seu rosto sério enquanto ele lentamente reflete sobre suas palavras. Eles ficam em silêncio, cautelosamente avaliando o que outro poderia estar pensando.

Outro jogo de encarar.

— E se eu te desse sua liberdade?

Jeonjeong quebra o silêncio, mas dessa vez é Hae Soo quem está desorientada, pega de surpresa. Mas ela consegue disfarçar bem, seus sentidos lhe avisando que isso é outra armadilha, outro teste.

— Eu perguntaria o que você quer em troca?

— Só mais uma reviravolta, — os olhos de Yo brilham que nem no dia que ele anunciou o casamento de Hae Soo, — É legal assistir.

 

❊❊❊

 

— Woo Hee-yah.

A mulher se vira assim que Soo chama seu nome. A antiga Sanggung do Damiwon não sorri ao rever sua velha amiga, mesmo embora ela esteja feliz por se encontrar com ela.

— Soo-yah. — A Sanggung do Gyobang também não sorri, mas seus olhos brilham de alívio e alegria, então Soo sabe que ela também está feliz em vê-la, — Quanto tempo.

Elas se aproximam, atravessando o pequeno pátio e abandonando suas tarefas por um breve momento com uma companhia amigável. Então elas sinalizam para suas damas de companhia esperarem e lhes darem um pouco de privacidade.

(Mentalmente, Soo prepara o que vai ter que dizer em casa para que as palavras de Daeun não façam parecer que ela está envolvida em uma conspiração.)

— Você ainda está aqui, — é a primeira coisa que Soo diz para ela. Não com surpresa nem empolgação, nem sequer para constatar um fato. As palavras dela são um comentário preocupado e de pena, carregando mais perguntas do que respostas.

— Eu não tenho mais para onde ir.

— Eu soube que o 13º Príncipe a chamou para ir com ele para sua terra natal.

— Eu não tenho como fazer isso.

— Porque você é a Princesa de Hubaekje?

Woo Hee sabe disfarçar bem a surpresa, e nem sequer reage quando Soo menciona sua identidade verdadeira. Só há um breve momento de silêncio enquanto ela assimila as palavras e acalma sua mente para encontrar a melhor forma de explicar sua posição.

— Eu já abandonei tudo isso. Muito tempo atrás.

— Nem tudo, eu diria. — Soo não menciona nomes, Woo Hee sabe exatamente quem são aqueles nunca deixam que ela enterre seu próprio passado.

A amiga dela precisa de mais alguns momentos para recuperar a compostura, para não desmoronar. Soo sabe que está forçando um pouco a barra, mas ela também sabe o quão grande é o alívio de não ser a única oprimida por estar guardando um segredo.

Os Céus sabem o quanto ela gostaria de poder contar para todo mundo que ela era do futuro.

— Há quanto tempo você sabe?

— Um mês, mais ou menos. — Soo hesita em como continuar falando sobre o assunto e então opta por ser enigmática, — Você tem amigos poderosos.

Woo Hee ri sem humor, seus olhos se enchendo de lágrimas embora nenhuma caia.

— Sabe, eu demorei demais para perceber que eles não tinham interesse nenhum em restaurar Hubaekje. E quando percebi, já estava envolvida demais para sair. Pelo menos, não sem afetar as poucas pessoas com quem me importo.

Ela não precisa mencionar nomes também, mas dessa vez Soo menciona assim mesmo.

— Tenho certeza que Baek Ah entenderia.

Woo Hee abana a cabeça rapidamente, impedindo Soo de ter mais ideias ou de fazer qualquer tipo de promessa.

— Ele iria tentar bancar o herói e me libertar. E isso só acabaria com ele morto. — Ela se aproxima, tomando as mãos de Soo nas suas, apertando-as com força e quase com desespero, — Não, Hae Soo. Não posso contar para ele. Ele já está se arriscando demais se envolvendo comigo, sabendo muito bem que a família da mãe dele não aprovaria. Não posso pedir mais que isso dele.

— Você não teria que pedir. — Soo sente um nó na garganta à medida que o desamparo da garota começa a contagiá-la também, e ela sente vontade de se revoltar, — Então por que você não faz nada?

— O que eu poderia fazer? Eu vim para Goryeo com um objetivo só, uma aspiração só, e eu falhei. Não posso falhar de novo, Soo-yah. — Woo Hee fecha os olhos, as lágrimas repentinamente se tornando muitas para segurar, — Antes, minha falha só resultaria na minha morte. Agora, até você pode ser implicada se eu fizer algo errado. Eu vou fazer o que me foi pedido.

— Mesmo que acabe causando sua morte?

— Foi para isso que fomos feitas.  — Ela respira fundo e sua expressão angustiada se torna um semblante sereno; suas mãos param de tremer e ela solta Soo com calma. Quando Woo Hee abre os olhos não há sinais de uma tempestade prestes a desmoronar, — Nós somos apenas ferramentas, Hae Soo. Ferramentas que constroem o alicerce do Império deles. Se uma ferramenta não tem mais uso, ela é descartada e trocada por uma nova.

 

❊❊❊

 

Hae Soo volta para casa com o coração pesado.

Nos últimos oito meses que ele viveu como a esposa de Wang Wook, ela pensava ter desenvolvido a máscara perfeita, a atuação perfeita para esconder suas inseguranças e falhas. Ela acreditava ser uma atriz magnífica, uma garota aparentando ser inocente e frágil, mas que tinha navalhas escondidas debaixo de suas delicadas pétalas.

Agora ela nota que só nunca tinha encontrado alguém mais destruído e deformado do que ela.

Porque a máscara de confiança e graça de Woo Hee escondia uma tragédia digna de epopeias e canções. E Soo, em todos esses anos que conhecia a moça, nunca tinha imaginado que ela tinha uma sombra tão grande pesando sobre si. Talvez nem mesmo Baek Ah soubesse o quão profundas eram as suas feridas – feridas que pareciam já ter cicatrizado na superfície, mas que ainda doíam como se fossem recentes por dentro.

Pela primeira vez em muito tempo, a cabeça de Soo não está cheia de planos para continuar viva, mas sim no quanto a vida de uma pessoa é delicada e frágil.

Soo sabe o que é se sentir impotente e querer desistir, entregar a luta. Ela mesma sentiu o peso da vida de outra pessoa, mas depois que recobrou suas forças, ela só quis viver sua vida ao máximo e por si mesma.

Woo Hee abriu mão da própria vida para que outros pudessem viver.

Os olhos lacrimejantes e as palavras dolorosas da sua amiga ficam repetindo na sua mente até que ela chega no seu quarto (de Myung Hee, ela se lembra) e ela não pôde fazer mais nada.

Por sorte, Wook não solicita sua presença durante o jantar naquele dia, então ela dispensa os servos e pede para ficar sozinha. E depois de observar atentamente a sua senhora, Daeun toma a decisão certa de não insistir em ficar.

Assim que ela tem certeza que todos os olhos se afastaram, Soo pega a pedra de tinta da sua escrivaninha e a leva para perto da vela solitária ao lado de sua cama. Depois de lidar com Wook e seus espiões, e então com Yo e então com Woo Hee, ela está carecendo de um pouco do conforto dos poemas que o 4º Príncipe tinha mandado. Soo sabe todos eles de cor, claro, mas ela se sente mais calma quando segura as cartas. Ela se sente mais tranquila, mais perto dele só por simplesmente olhar para elas.

Ela abre o compartimento com cuidado para não danificar a abertura secreta e não manchas suas roupas ou os lençóis com resto de tinta, e então seu sangue gela.

O compartimento está vazio.

As mãos dela tateiam a pedra ansiosamente, como que duvidando do que vê e precisado ter certeza que sim, seus poemas sumiram. E quando ela tem certeza ela sente o desespero começar a tomá-la, porque ela precisa daquelas cartas, ela precisa daquele pedaço de conforto na sua vida caótica, ela precisa daqueles poemas para se ancorar na realidade, mas elas sumiram.

Então o desespero aos poucos se transforma em medo e apreensão quando ela se toca de uma coisa.

As cartas sumiram; elas não as perdeu ou colocou no lugar errado, elas foram roubadas. Elas foram tomadas dela, tomadas e levadas de um lugar secreto.

Quem as pegou?

Quem as achou?

O que vai acontecer agora?

Ela não tem motivo para acreditar que quem quer que se deu ao trabalho de investigar cada canto do seu quarto até encontrar aqueles papéis não tem más intenções contra ela. Pelo contrário, ela está certa de que quem fez isso foi um espião do Príncipe ou da Princesa.

O que ela vai fazer agora?

Depois de alguns minutos de ansiedade, Hae Soo consegue respirar fundo algumas vezes e se acalmar. Ela toma as duas possibilidades do que teria acontecido quando ela estava fora, e traça as possíveis maneiras como cada caso se desenrolará. E para cada contratempo ela pensa em um plano de ação, até que ela tem certeza que nada vai desmoronar sobre ela no futuro.

Logo Hae Soo percebe que não importa quem as pegou, não importa o que eles fizeram, ela iria acabar tendo que tomar atitude para consertar essa bagunça.

Isso seria um problema para amanhã.

Então ela coloca a pedra de tinta de volta no lugar, como se ela sempre tivesse estado lá esse tempo todo, e volta para a cama.

Hae Soo sopra a vela e a chama tremeluz antes de apagar. Ela repousa a cabeça sobre o travesseiro novamente, fechando os olhos para os problemas que a cercam.

Ela vai ficar bem.

Ela diz a si mesma que isso não muda nada, que nada vai derrubá-la e que tudo vai ficar bem.

Ela continua dizendo isso, esperando que logo ela comece a acreditar.

.

.

.

.
ponha seu coração, ponha sua alma no meu tapete mágico.

agora todos nós voamos para vênus só pra passar o tempo com um chá, tá bom?
lembre-se, renda-se, não há nada que você possa fazer,
porque o amor é uma piada, que nem um palhaço numa caixinha de música, sabe?
um palhaço numa caixinha de música


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esqueci do link da música de novo. Finge que não!

Opiniões são bem-vindas.
Elogios sempre aceitos.
Críticas apreciadas.

:)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hide The Petals" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.