Segundo a Lei de Murphy: “Se alguma coisa tem a mais remota chance de dar errado, certamente dará no pior momento e de modo que cause o maior dano possível”. Pode parecer bizarro, pode parecer estranho, mas é assim mesmo que o universo funciona, pois é quando as coisas dão errado que algo novo surge. Às vezes, para surgir algo novo, uma outra coisa teve que ser destruída. Há dez anos, uma coisa nova surgia em Genius Grove. Uma força pura e inocente que unia dois corpos opostos. O que não se sabia na época é que esses corpos estavam em rota de colisão. No final, ambos foram destruídos, transformados e lançados em novas direções. No final, restou apenas destroços de um sonho e de um laboratório.

Há dez anos, em uma manhã ensolarada de sábado, um caminhão de mudança chegava na vizinhança da pequena cidade de Genius Grove, vizinha da megalópole, Megaville.  Junto há esse caminhão, havia uma família bem exótica. Tanto a mãe quanto o pai usavam roupas largas, tinham cabelos cumpridos como se fossem hippies modernos. Ao lado deles estavam seus dois filhos, Susan e Olga Astronomanov. Olga era a mais nova, deveria ter uns sete anos de idade e nunca tirava suas roupas de balé. já Susan era a criança mais velha, tendo quase onze e usava roupas rosa, com uma flor sobre seus cabelos pretos que iam até o pescoço. Era tratado na época como uma menina, pois não havia ainda descoberto a sua verdadeira identidade. Ao descer de seu carro elétrico, a criança mais velha olhou para sua nova vizinhança surpresa por ela ser tão simples e diferente do esperado.

— Não é fantástico, querida! — Anunciou a Sra. Astronomanov. — Esse bairro é perfeito para nós. Longe do estresse e da poluição da cidade grande.

A criança apenas apenas observou sem responder nada.

— Vamos, Sue, se anime. — Disse o Sr. Astronomanov enquanto descia com as malas do carro. — Hoje começamos uma nova vida. Já sei, por que você não dá uma volta pelo quarteirão para conhecer melhor a vizinhança?

Sue balançou a cabeça com um sorriso e assim seguiu o conselho de seu pai e foi passear pelo bairro, mas sem fugir muito do campo de visão dele. Observou as casas que eram sempre bem parecidas, mudando mais as cores das pinturas e decorações de jardim. Parecia tudo muito calmo até demais causando até uma certa estranheza na garotinha. Contudo, há alguns passos a diante podia ser ouvir um certo movimento. Barulhos estranhos saiam de uma garagem próxima e a pequena Sue resolveu bisbilhotar. Pareciam barulhos de alguém manuseando metal, a pequena imaginou que alguém estivesse concertando o carro ou algo assim. Com a curiosidade crescendo cada vez mais, ela olhou pelo canto da garagem que estava com a porta escancarada e sem nenhum veículo dentro. O lugar estava mais bagunçado que a cada da mãe joana, com partes de eletrodomésticos e brinquedos eletrônicos velhos espalhados nos quatro cantos. No fundo, havia alguém sentado em uma cadeira de escritório vermelha, mexendo em alguma coisa com uma chave de fenda. Tentando se aproximar com cautela para observar melhor, Sue acidentalmente pisa em um boneco de ação do Major Gloria sem um braço e ele soltou uma frase de efeito.

“Amigos da Justiça Avante!”

A pessoa em cima da cadeira se virou, revelando ser na verdade outra criança. Era um garoto, ruivo, sardento, usava óculos e era bem baixinho, com certeza era mais novo que Susan.

(Trilha: Best Friend - Jason Mraz)

— Olá. Eu posso ajudar em alguma coisa? — Perguntou o garoto.

— Oi. — Respondeu de forma bem tímida e introvertida. — Eu... sou... Susan. Eu sou novo na vizinhança.

— Ah! Os novos vizinhos. Minha mãe avisou de vocês. — Explicou. — Os Astronomanov, certo? Muito prazer, eu sou Dexter. Dexter Tartakovsky.

— Muito prazer.

As duas crianças apertaram as mãos com um sorriso amigável em seus rostos. Contudo, a jovem percebeu um olhar estranho no rapazinho e imediatamente percebeu que ele era diferente das outras crianças.

— Então, o que você está fazendo, Dexter?

— Ciência!! — Respondeu com um sorriso que assustadoramente expressava determinação e alegria ao mesmo tempo. — Eu estou fazendo um robô.

— Um robô? Você não é meio novo para construir esse tipo de coisa? — Indagou Sue.

— Meus pais dizem que sou um prodígio. — Explicou. — Eu já me entrosava com tecnologia ainda bem pequeno. Mas, se você quer uma prova da minha capacidade veja você mesmo. — Com um aperto de botão, o que parecia ser uma caixa de ferramentas metálica se transformou em um robô de aproximadamente um metro de comprimento.

Tinha partes obviamente tirada de eletrodomésticos como um braço em formato de aspirador de pó, um corpo com formato de televisão de tubão, e uma base com rodas de carrinho de controle remoto. O robô levantou seu braço esquerdo e cumprimentou a jovenzinha.

— Incrível! — Berrou boquiaberta.

— Isso é ciência! — Afirmou novamente com a mesma determinação de antes. — Sabe, eu estava procurando por um... parceiro. Se você quiser...

— Um parceiro? — Indagou.

— Sim. Um parceiro. Sabe, eu tinha antes a ajuda da minha irmã mais velha, Dee Dee, mas eu a dispensei porque ela vive destruindo tudo o que toca, além dela ser muito irritante com aquela obsessão dela por dança. — Explicou o menino sendo bem franco. — Por isso que quando eu foi mais velho eu quero ter um laboratório enorme, o maior que existir e que garanta que ela nunca entre.

— Mas, o que exatamente você pretende fazer com isso? — Perguntou novamente. Dexter deu uma mexidinha nos óculos para passar uma impressão de sábio e disse:

 — “A ciência não é uma arma. É uma chave de boca que deve ser usada para parafusar a enorme...

— ...máquina do conhecimento que movimenta o mundo para frente” — Completou Susan que conhecia essa frase muito bem. — Essa é frase que o Major Glória diz no episódio 49 da série de TV clássica dos...

— Amigos da Justiça! — Completou Dex. — É a série preferida da minha família. Mesmo sendo antiga, eu gosto mais dela do que os filmes de Hollywood que vivem trocando de ator e fazendo reboot de quatro e quatro anos. Sem falar daquela versão bizarra com uniformes com mamilos e que termina com eles voltando no tempo rodando a Terra ao contrário.

Ambos fizeram cara de nojo.

— Então, você quer ajudar as pessoas com suas engenhocas?

— Exatamente. Eu quero ser um herói como o Major Glória. Ajudar as pessoas e melhorar o mundo. Pois como ele mesmo diz...

—  “As nossas diferenças são o que fazem a diferença no mundo” — Disseram novamente em simultânea.

— Eu topo! — Declarou a criança com tom de determinação.

Dexter logo se animou com a ideia. — Boa decisão, meu caro. De agora em diante nós somos parceiros! — Berrou enquanto colocava a mão sobre o ombro de sua nova companheira. — Você vai ver, nós vamos mudar o mundo com as nossas invenções. — Disse apontando para o nada.

Na verdade, ele apontava é para o futuro. Um futuro que Sue conseguia visualizar como se estivesse diante dele. Foi naquele instante que um inocente sonho surgiu na mente das crianças que podiam se visualizar sendo grandes e importantes como Major Glória e seus companheiros dos Amigos da Justiça que admiravam tanto. O que eles não sabia é que o futuro que lhe aguardava era muito mais sombrio do que eles imaginavam e o tão inocente sonho seria o que levaria aquela amizade, que nascera naquele dia, a ruína. Era só uma questão de tempo.