Insomnia escrita por blue devil


Capítulo 4
Insomnia - part 4




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Shinsou nunca deixava a cortina da sacada aberta antes de dormir.

Era uma questão simples: Para alguém com insônia, a luz do começo do dia era praticamente uma ofensa. Geralmente, ele nem tinha dormido ainda e já era de manhã, o que apenas o deixava mais depressivo ou miserável com a própria situação.

Por isso, Hitoshi já sentia que algo estava errado quando a luz solar esquentou o rosto e o começo do peito ao bater sobre a sua cama, deixando-o incomodado com o excesso de roupas que usava mais uma vez. Espera, mais uma vez?

Hitoshi abriu os olhos.

Kaminari parecia brilhar sobre os raios solares que entravam pela sacada, mais uma vez ainda adormecido agarrado com Yori como Shinsou costumava quando mais novo, já que o gato de pelúcia foi o seu único conforto em noites de insônia por muito tempo.

Hitoshi bateu no próprio rosto com as duas mãos.

De novo. A gente fez isso DE NOVO. Como era mesmo aquele ditado? Errar uma vez é humano, persistir no erro é burrice?

Shinsou não poderia mais se considerar menos burro do que os outros adolescentes da sua idade.

Pelo menos confirmou algo: Não era o chá que os ajudava a dormir.

Hitoshi não viu sentido em fazer nada além de lidar com as consequências dos seus atos, então continuou no mesmo lugar na cama esperando Denki acordar e surtar. O único perigo que corria era se ele ativasse o quirk novamente, mas Shinsou aceitou como uma punição por ser burro.

Não demorou muito para perceber Kaminari se movendo ao seu lado. Era incrível como os dois acordavam em tempos próximos. Mais incrível ainda, era como conseguiam realmente dormir na presença um do outro. Shinsou sempre achou que dividir a cama seria uma dificuldade que teria que enfrentar quando...

Sua mente travou ao perceber o que ele ia dizer. Qual era o contexto do que ia dizer.

E qual o contexto entre ele e Denki naquele momento.

— Huh...? – Denki chamou a sua atenção ao murmurar ainda confuso, um pouco cego pela luz. – Shinsou...?

Hitoshi não respondeu, apenas esperou um pouco mais.

Kaminari sentou-se parcialmente na cama, apoiando-se nos braços, e olhou para todos os lados antes de voltar a encarar Shinsou com uma sombra de desespero no rosto. Shinsou suspirou.

— É. Oi. Você dormiu aqui. – murmurou contrariado.

Shinsou que Kaminari ia cair da cama de novo e sair correndo, mas em vez disso ouviu e sentiu o colchão afundando do seu lado quando Kaminari enfiou a cara em um travesseiro e gritou. O mais baixo que um grito poderia ser, mas ainda assim, gritou.

Shinsou piscou surpreso.

— Eu sou tão, tão, tão estúpido! – Kaminari continuou gritando baixo no travesseiro. – Me desculpa, céus! Eu sou um desastre.

Você não é o único desastre aqui.

— Essa palavra é boa ‘pra descrever nós dois. – Shinsou o olhou de canto de olho, sem querer virar o rosto e intimidar mais Kaminari ao se aproximar. Denki deixou apenas um olho para fora do travesseiro, com o rosto vermelho e o cabelo loiro arrepiado e bagunçado. – Acho que a gente tem que falar sobre isso.

Kaminari afundou o rosto inteiro contra o travesseiro de novo.

— Mais?? O que tem mais para dizer???

— Eu não estou incomodado com você dormindo na minha cama, só ‘pra esclarecer. – Shinsou não sabia exatamente o que fazer, mas sabia que não queria que Kaminari tivesse dúvidas sobre essa parte. – Só... Você tem insônia, não tem?

— Você ‘tá duvidando de mim agora? – Kaminari soou chocado o suficiente para afastar o rosto marcado do travesseiro e encarar Shinsou. Foi difícil controlar a vontade, criada por pura histeria, de rir da imagem de Kaminari vermelho, amassado e bagunçado ao seu lado.

— Só pensa sobre isso. Você sequer lembra de ter dormido na noite passada? – Hitoshi deu um momento de silêncio para Kaminari, e o garoto piscou ao começar a compreender o que ele dizia. – Ou de ter tomado o chá que o Sero com certeza coloca sonífero como ingrediente especial? – e apontou para a garrafa esquecida sobre a sua escrivaninha a noite toda.

— Não, eu... Ele não coloca sonífero, Shinsou. – Kaminari torceu o rosto. Shinsou balançou a cabeça negativamente, encarando o teto por um seguido. – Onde você quer chegar?

— Eu também tenho insônia. – Shinsou começou a explicar baixinho. – Tanto, que eu não lembro quando foi a última vez que eu dormi por mais de quatro horas até dormir no seu quarto. E dessa vez também, mesma coisa.

— Espera... Você ‘tá querendo dizer que não foi o chá, mas foi por que nós dormimos juntos? – Kaminari piscou algumas vezes, encarando Shinsou com olhos dourados muito bonitos e confusos, quase inocentes. Hitoshi resmungou uma afirmação contra a respiração, sem conseguir olhar muito para Denki naquele momento de tanto que brilhava graças à luz. Corria o risco de ficar cego se olhasse demais. – Então... Nós dois ajudamos com a insônia um do outro.

Hitoshi suspirou profundamente.

— É.

Os dois caíram em um silêncio difícil de explicar, ainda deitados um do lado do outro na cama.

— E agora? – Kaminari cortou o silêncio ao questionar. – O que você... O que você quer fazer com essa informação?

O que ele queria fazer com aquela informação?

— Eu não posso decidir por nós dois. – Shinsou murmurou, esforçando-se para retribuir o olhar de Kaminari. Não queria que ele se sentisse ignorado de forma nenhuma. – Acho que... Não me afastar de novo seria bom.

Kaminari assentiu, ficando vermelho novamente.

— Hm... Bom... Como foi no seu quarto dessa vez... Ninguém da 2-A vai ficar sabendo. E eu tenho certeza que a 2-B não vai se importar em se meter nisso, do jeito que você fala deles. – Shinsou assentiu, concordando com a linha de raciocínio de Denki enquanto o ouvia. – Essa situação é muito estranha, não é?

— A gente já tinha estabelecido isso.

— Mas... Estranho não quer dizer ruim.

O coração de Shinsou acelerou ao ouvir isso.

— Oh?

— Quer dizer, ajuda com as nossas insônias e não é algo ruim. Não estamos fazendo nada ruim. O problema é sempre encarar as pessoas no outro dia e nos justificar depois. Ou quando a gente não sabia o que era e não entendia, também. – Denki mexia freneticamente com os dedos enquanto pensava alto, deixando Hitoshi ouvir. – Então... Tipo...

— Você quer continuar dormindo juntos?

Kaminari soltou um gritinho em resposta, surpreendendo Shinsou.

— Não, quer dizer, não todo dia! – respondeu desesperado, pegando o travesseiro novamente para se esconder e se defender. Shinsou piscou enquanto o observava. – Todo dia seria um bom exemplo de estranho ruim! Eu quero dizer... Tipo... Quando nós precisarmos de verdade... Durante provas ou algo do tipo... Aí não teria problema se fosse no seu quarto de novo.

Incrivelmente, Shinsou se achou concordando com tudo.

— É isso que chamam de amizade com benefícios? Só que no caso, dormir juntos é no modo literal.

Em resposta, Denki afundou o travesseiro contra o seu rosto.

— ‘Tá muito cedo ‘pra fazer esse tipo de piada, Shinsou!

Era melhor que um choque elétrico, então Shinsou acabou sorrindo um pouco, mesmo com o rosto doendo por conta do impacto.

 

xxx

 

Denki tentava não pensar muito sobre o fato que a coisa mais rotineira na vida dele também era a coisa mais estranha.

Shinsou e Kaminari acabaram por criar um esquema para dormirem juntos, uma rotina, e Kaminari percebeu que isso quebrava a sanidade de ambos – mas ainda assim não os impedia de continuarem fazendo.

No começo, eles tentaram dormir sozinhos pela semana e quando isso não funcionava, cediam e acabavam descansando o que não haviam conseguido no final de semana. Até que as coisas viraram de cabeça para baixo com as preparações do festival cultural do segundo ano, e Shinsou e Kaminari acabavam por dormir juntos pelo menos duas vezes por semana para terem energia o suficiente para aguentarem as responsabilidades pelo dia.

Todo mundo percebeu a diferença. Dormir e descansar mais ajudou Kaminari a melhorar a concentração nos estudos, assim como Shinsou se tornou um por cento menos seco e cansado quando interagindo com pessoas, com mais energia para gastar. Denki tinha noção que tanto seus amigos quanto outros colegas da 2-A sabiam que ele passava noites fora do dormitório, e evitá-los quando voltava ou saia era a parte mais difícil da situação toda, mas estava conseguindo fazer funcionar de qualquer jeito. Enquanto ninguém o confrontasse ou o impedisse, sentia que estava tudo bem.

E realmente, estava tudo bem.

Denki já sabia disso, mas Shinsou era ótimo. Era difícil não o considerar como um amigo depois de estabelecerem aquela rotina. Eles não só dormiam, mas também assistiam filmes ou séries juntos, encontrando vários gostos parecidos, e algumas vezes Shinsou ajudava Kaminari a estudar para alguma matéria que o enchia de ansiedade no momento. Denki ficou surpreso por encontrar mais coisas em comum com Shinsou do que esperava, afinal de contas eles ainda eram muito diferentes.

E Kaminari gostava de explorar essas diferenças toda vez que ganhava a chance de conhecer Shinsou melhor, como nas conversas até tarde que tinham, e nas vezes que se encontravam no refeitório, nos treinamentos, quando Shinsou visitava o seu dormitório ou a sua sala, ou Kaminari fazia o mesmo por ele, ou quando algum dos dois esquecia algo com o outro e acabavam interagindo por mais tempo que deveriam, como se procurassem desculpas para continuarem juntos.

E um dos motivos de todo mundo ter percebido as diferenças, é que Kaminari não sabia parar de falar sobre e nem notava que estava falando sobre até alguém comentar. Óbvio, nunca falava sobre dormirem juntos, mas falava sobre Shinsou em geral, pois era apenas natural comentar sobre ele em diferentes conversas, e ele não queria analisar demais e perceber que talvez o garoto estivesse vivendo sem pagar aluguel dentro da sua mente.

— Hm, então, - Kaminari murmurou sem se atrever olhar para Shinsou, jogando Yori no ar e o pegando novamente várias vezes, um hábito que aparecia toda vez que ficava nervoso. Shinsou estava deitado ao lado dele, olhando para o próprio celular de forma distraída. – a Mina preparou essa excursão ‘pra gente antes de sairmos de férias... ‘Pra um parque de diversões, e ela queria que eu perguntasse se você quer ir.

Kaminari sabia que Shinsou arqueava a sobrancelha antes mesmo de olhar para ele.

— Por acaso você contou para ela que eu nunca fui em um parque de diversões?

— Talvez? – Kaminari abraçou Yori ao responder. Shinsou arqueou ambas as sobrancelhas para baixo. – Não foi ideia minha. Ela só quer te conhecer melhor, ela mesma já disse isso ‘pra você. Na verdade, ela quer é te colocar no Bakusquad.

— Ah é?

Antes que pudesse controlar, Kaminari estava falando demais de novo:

— Eu entendo se você não quiser. Eu não vou insistir com isso, principalmente quando você não gosta do Bakugou, então—

— Quem disse que eu não gosto dele? – Shinsou o cortou ao questionar. Kaminari apenas o olhou por um momento. – O que?

— Você só sabe provocá-lo, Shinsou.

— E tem outro jeito de interagir com ele? – Shinsou deu de ombros. Kaminari não esperava por aquela resposta. – Eu não sou paciente como o Midoriya ou o Kirishima. Mas até que eu gosto dele. É libertador interagir com alguém que não dá a mínima se você é gentil com ela ou não.

Shinsou se surpreendeu quando ouviu Kaminari rindo em reação.

— Então você se encaixa no Bakusquad mais do que você acha, Shinsou. – Denki inclinou o rosto para o lado no travesseiro, aproximando-se de Shinsou deitado ao lado sem perceber. O garoto não se moveu um centímetro, apoiando o celular sobre o peito enquanto observava Kaminari de canto de olho. – Se existe regras, com certeza são gostar do Bakugou e gostar ainda mais de irritá-lo. – então, Kaminari ficou quieto por um instante antes de continuar. – Pensando sobre isso agora, acho que todo mundo também se ajuda igualmente dentro do grupo, então essa deve ser a última regra.

Shinsou com certeza percebeu isso quando Bakugou o intimou a falar com Denki.

Isso o fez suspirar.

— Então eu não posso te dizer se eu me encaixo mesmo.

— Como é?

Shinsou não esperava ouvir a voz indignada de Kaminari ao lado. Ele se apoiou sobre os braços na cama, olhando diretamente para Hitoshi apoiado sobre a lateral do corpo. Encarou a expressão chocada do garoto, percebendo que agora estavam mais próximos do que antes - podia ver perfeitamente o desenho dos cílios negros de Denki enquanto ele piscava rapidamente, começando a sentir a respiração contra a pele que desregulava aos poucos.

Quando eles ficaram tão próximos?

Mas não fisicamente. Essa não era a dúvida de Shinsou. A dúvida de Shinsou era como eles se acostumaram tanto com a presença um do outro a ponto de dividirem a mesma cama como agora, apenas apreciando a existência alheia sobre o escuro parcial do quarto, iluminado apenas por um abajur de luz fraca. Eles não precisavam estar ali, não quando não dormiam juntos por conta da insônia, mas a verdade era que o ponto desde o começo não era sobre "precisar" e sim "querer".

E eles apenas achavam desculpas diferentes para justificar esse querer.

— O que...? – Shinsou murmurou confuso.

— O que você quer dizer com esse comentário?

— Eu só... Eu aprecio vocês me quererem no grupo, mas eu não acho que me encaixo de verdade. Não sei lidar com grupos grandes, não sou a melhor companhia, e muito menos sou bom em ajudar as pessoas.

O último comentário foi o que realmente incomodou mais Kaminari.

— Shinsou, como você pode dizer isso estudando para se tornar um herói?

Shinsou não tinha resposta.

— Primeiro, você 'tá errado. De todos os ângulos você 'tá errado em achar esse tipo de coisa e isso pode te atrapalhar de verdade em questões sérias, como se tornar um herói.

— Eu–

— Não, me escuta. – Kaminari cortou a tentativa dele de se defender e evitar qualquer coisa que aconteceria agora. – Eu sei bem do que eu estou falando por que eu estava presente quando você passou. Você passou exatamente por ser bom em ajudar as pessoas, por ter me ajudado! E você não se achou que isso era o suficiente naquele dia, mas nem depois do Aizawa-sensei ter te quase sufocado você aprendeu?

— Ele não quase me sufocou...

— O ponto, Shinsou! Para de fugir do ponto! – Kaminari exclamou ainda indignado. Shinsou nem sabia que o garoto poderia ficar daquele jeito.

Shinso não fazia ideia.

Ele não fazia ideia que Kaminari pensava dessa forma sobre ele. Lembrava do garoto o elogiando e agradecendo, mas Shinsou teria dificuldades de acreditar mesmo que os dois se conhecessem e fossem amigos. Como, por exemplo, agora.

O dia em que passou sempre o enchia de sentimentos diferentes, uma leve decepção por não ter conseguido derrotar Midoriya, vergonha por ter sido apertado (não quase sufocado, ok) por Aizawa-sensei com as próprias cordas de captura na frente de todo mundo por ter duvidado do próprio espírito, e felicidade.

Felicidade por ser, finalmente, reconhecido para passar.

Agora, finalmente, Shinsou entendeu que antes mesmo de ter passado, Kaminari foi o primeiro a reconhecê-lo após Aizawa-sensei ter acreditado na sua capacidade. Kaminari foi o primeiro a ver o herói que Shinsou queria ser e acreditava desde aquela época que ele estava no caminho certo para chegar onde queria.

Era o que sempre quis, e Kaminari o entregava de livre e espontânea de vontade, apenas por acreditar nele.

Por isso ele ficou tão indignado agora e Shinsou nem imaginava nada disso.

Na época Shinsou não soube como lidar e cortou Denki antes que percebesse que estava sem jeito e afetado. Ele precisava se focar na prova, em vencer, em superar Midoriya. Mas estaria mentindo se dissesse que as palavras de Kaminari não ficaram gravadas na mente, enterradas por de baixo da superfície como magma prestes à entrar em erupção e consumir tudo pelo caminho.

Agora finalmente haviam ultrapassado a superfície.

E a única coisa que Shinsou queria fazer de verdade era apreciá-lo e reconhecê-lo de volta.

Então decidiu não lutar contra.

— Kaminari. – a voz de Shinsou soou mais profunda do que já era, sem que tivesse controle sobre isso. Os olhos dourados e bonitos de Kaminari se arregalaram ainda mais, e Shinsou percebeu a forma que ele apertou os braços ao redor da pelúcia presa sobre o peito.

Denki finalmente percebeu o que havia acabado de fazer. O rosto dele se aqueceu e, quando tentou quebrar o silêncio pesado que se instalou entre os dois no quarto escuro, sua voz estava trêmula de vergonha:

— S-sim?

A voz pequena causou pontadas no baixo ventre de Shinsou. Não eram pontadas de culpa, longe disso. Shinso queria ouvir mais. Ele queria cortar a distância que ainda existia entre eles.

— D-desculpa... E-e-eu surtei completamente agora e te dei um sermão... Aaaah, eu quero me esconder.

— Não se esconde. – Shinsou murmurou, colocando a mão sobre Yori no peito de Kaminari, evitando que o usasse para tampar o rosto. Kaminari conseguiu corar mais. Shinsou ficou ligeiramente preocupado dele pegar uma febre ali.

Shinsou se ergueu sobre os braços apoiados no colchão, em uma posição parecida com a de Kaminari, e levou a mão livre até a bochecha macia do outro garoto com delicadeza e cuidado. Kaminari fechou um dos olhos, deslizando lentamente até ficar deitado novamente, fazendo Shinsou notar o quanto seu corpo ficou mole.

Tentou não se sentir orgulhoso por ter provocado isso. Por ter o desmontado com apenas um toque.

Denki o encarava como se Shinsou fosse a última fonte de água no planeta, provavelmente sem conseguir desviar os olhos mesmo se quisesse, assim que o garoto encontrava-se tão próximo agora, pairando parcialmente sobre Kaminari. Shinsou sentiu a respiração pesar e o coração pulsar pesado pelas orelhas, tomando controle de todas as suas ações.

— Não... – Shinso praticamente não se ouvia, conseguindo se aproximar mais ainda, lento, tão lento, o ritmo que julgava o mais seguro para não assustar Kaminari ou, pior ainda, machucá-lo. Nunca se perdoaria se o fizesse enquanto segurava os sentimentos dele entre os dedos. – Eu nunca achei que ia considerar um sermão de auto ajuda fofo... Mas foi. Você ficou pronto em me defender de mim mesmo em menos de 5 segundos.

— F-fofo? – Denki engasgou.

— Sim, fofo. – Shinsou deu um sorriso pequeno e verdadeiro, demonstrando toda a adoração que sentia por Kaminari transparecer no rosto. – E eu vou te beijar agora.

— Ah, ok... Espera–

Shinsou riu quando Kaminari só entendeu o que Shinsou dizia quando foi beijado nos lábios. A exclamação de Denki morreu na hora, e ele fechou os olhos e pressionou os lábios macios e pequenos contra os de Shinsou de volta, fazendo Shinsou acariciar a extensão do seu rosto com dedos leves, descendo o caminho de uma das suas bochechas, até traçar a linha do seu maxilar. Sem perceber, o beijo acabou se aprofundando mutuamente entre eles, deixando de ser um chaste selinho quando a língua de ambos se encontraram, e Denki suspirou em resposta, levando ambas as mãos trêmulas até os ombros de Shinsou.

Só agora que o beijava percebeu o quanto queria fazer isso antes.

Segundos se estenderam até se tornarem minutos, e fisicamente eles não poderiam continuar mais com os beijos. Shinsou ofegou, querendo apenas se afogar em Kaminari, sentindo os lábios pulsarem de leve e sabia que o outro garoto não deveria se sentir diferente, demorando mais para abrir os olhos e voltar a realidade. Shinsou não sabia de mais nada, apenas que o gosto de Denki era doce contra a boca, como um algodão doce, e que só aquela sessão de beijos, tanto gentis quanto profundos, não seria o suficiente para satisfazê-lo.

Então era melhor que fizesse aquilo direito e deixasse Kaminari saber disso.

— Obrigado. - Shinsou sorria em volta da palavra, sincero de uma forma que quase nunca conseguia expressar, encostando a testa na de Kaminari para acariciar o nariz dele com o seu.

— Pelo quê? - Kaminari piscou lentamente.

— Não sei, por curar a minha insônia?

Shinsou riu quando Kaminari acabou torcendo os lábios, claramente emburrado.

— Eu não curei nada. O que isso tem a ver com alguma coisa?

— Eu vou no passeio da Mina. - Shinsou decidiu responder, segurando o rosto da Kaminari com as duas mãos. - Mas eu só vou se você me responder uma pergunta da forma mais sincera do mundo.

— Q-que pergunta?

— Você aceita se o passeio for o nosso primeiro encontro?

O choque de Kaminari com a pergunta de Shinsou não durou mais do que alguns segundos.

— Sim! - ele exclamou, jogando os braços ao redor do pescoço de Shinsou e o abraçando. - Sim, claro que sim.

Shinsou apenas sorriu mais. Não era a forma mais convencional de chamar alguém para sair, mas a partir do momento que eles começaram a dormir juntos para se conhecerem melhor, o relacionamento já estava condenado a virar as etapas de avesso.

Isso não queria dizer que não funcionaria. Por que Shinsou já sabia: Iria funcionar. Não seria diferente com alguém que cura a sua insônia desse jeito.


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Notas finais do capítulo

hey, se vc leu até aqui e curtiu, não pense duas vezes antes de me mandar um review ou até mesmo considerar me mandar um kofi ♥
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