Trail of Blood escrita por Isa G


Capítulo 1
I ◇ just a boring town


Notas iniciais do capítulo

Oiê ❤
Uma shortfic Jily (a obsessão, meu pai amadoo) no clima de Halloween. O último capítulo está planejado para o dia 31 de outubro, que é o mesmo dia dos acontecimentos finais.


(leia os avisos da história, acredito que esclarece algumas coisas)



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I

just a boring town

 

sexta-feira,

27 de outubro

 

Lily Evans era uma garota de vinte anos perfeitamente normal, muito obrigada.

Quem a visse circulando pelo campus ou na cafeteria do bairro possivelmente passaria batido ou a confundiria com alguém da família Weasley – que era um aglomerado de ruivos sardentos e, aparentemente, estão em Hogsmeade desde sua fundação. Ela andava na surdina, falava pouco e fazia trajetos diferentes antes de realmente chegar em casa após um dia de aulas.

Havia algumas regras a se seguir, afinal.

Mais precisamente desde que seu pai, Anthony Joseph Evans, decidira que sua família poderia muito bem viver com os negócios legalizados que construíram ao longo dos últimos anos, era hora de aposentar os serviços sujos para sempre.

Seu avô, Harry K. Evans, não pareceu nada contente quando a notícia chegou aos seus ouvidos, na sua grande mansão rodeada por empregados e enfermeiros ao seu dispor, com tudo o que o dinheiro poderia comprar. Fora ele quem colocara a família no mapa como prestigiados caçadores de vampiros por todo o sul da Grã-Bretanha.

A rotina de Lily era a mesma desde que se mudara ainda no começo do verão, e ela odiava isso com todas as forças.

Sentiu os raios de sol baterem em cheio no seu rosto ao acordar e isso significava somente uma coisa...

— Merda.

Ela estava atrasada para a aula.

— Bom dia para você também, foguinho – disse Alice Prewett, a garota com quem dividia o apartamento, divertida com o modo que Lily grunhiu ao entrar na cozinha. — Frank, espere um segundo... Lily, o café já está passado ali na mesa!

— Ah. Certo. – Imediatamente a ruiva colocou um pouco do líquido fumegante na garrafa térmica, agarrou uma maçã com a boca enquanto colocava a mochila pesada nas costas. Somente quando estava no batente da porta voltou a falar: — ‘Tô indo, se eu faltar mais uma vez nessa aula o Sr. Riddle vai me desovar em um terreno abandonado... Diga à Frank que mandei meu alô. Até mais.

Alice apenas acenou e voltou ao telefone com o namorado, que Lily ainda não conhecia, mesmo morando há mais de dois meses com ela.

No momento que chegou na ampla sala de aula da Universidade de Hogwarts, o seu professor de Ética e Moral II lhe lançou um olhar mortífero lá da frente, mas nada disse. Não era ensino médio, afinal. Lily, na verdade, passou muito mais maus bocados naquela época, sem conseguir justificativas para suas faltas (as viagens súbitas em família), no meio do ano letivo. Ou problema com os testes finais alguns meses atrás, na sua antiga faculdade.

Bons tempos, pensou amarga, enquanto ouvia a voz de taquara rachada do seu professor ao fundo.

Em seu segundo período tinha aula com a Sra. McGonagall junto com uma das poucas colegas que conversava amenidades, Marlene Mckinnon. Era uma garota de cabelos escuros na altura dos ombros com a parte de baixo tingida de verde e parecia conhecer todo mundo ali — como qualquer pessoa em Hogsmeade, nasceu, cresceu e mora na cidade.

Mas hoje, em especial, Marlene estava disposta a arrastar Lily para algum lugar.

— Ah, Lily, vamos lá, que mal vai fazer faltar nas aulas da tarde e vir comigo? É sexta-feira, pelo amor de Deus, mulher!

— É complicado. – Desconversou ela, roendo a tampa da caneta.

— É o seu pai de novo?

Lily mordeu o lábio inferior e pensou antes de responder. Pois em partes era sim por causa dele. Céus, ela estava naquele fim de mundo, há milhares e milhares de quilômetros de distância dos pais e da irmã (ele fez questão de separá-las, despachando Petúnia para a Holanda), com o mínimo de dinheiro para sobreviver durante os estudos, e tudo porque o Sr. Evans queria esquecer os antigos negócios e as forçar a fazer o mesmo.

Marlene ainda parecia esperar uma resposta. Lily gemeu.

— Em partes. Você sabe que não posso entrar em nenhuma encrenca, papai anda ligando quase todo dia como um lunático para saber como anda as coisas.

— Caramba, um dia você ainda tem que me contar o que tanto aprontou para ele agir assim... – respondeu ela, balançando a cabeça.

— Iria ter que te matar logo depois. – Lily sussurrou um pouco sombria, mas logo ensaiou um sorriso.

— Há. Vá em frente. Mas ei, se não pode sair durante o dia, quem sabe dar um perdido à tardinha? Eu adoraria te apresentar um dos lugares mais legais de Hogsmeade – cochichou.

— Verdade? – Lily virou todo o corpo para Marlene, sobrancelhas levantadas, com o interesse crescendo. — O que tem em mente?

A morena apenas lhe deu um sorriso de canto como resposta.

As aulas passaram tão lentamente como de costume, e, seguindo pela rua lateral da padaria, indo pela estrada ao lado da floresta dessa vez, Lily adentrou o apartamento pela escada de incêndio. A primeira coisa que fez foi largar o moletom de capuz que sempre usava durante o dia.

Após o banho enfiou-se em um jeans simples, suas fiéis botas de coturno e vestiu uma blusa de mangas, com o cuidado de ocultar as tatuagens nos braços — era a principal regra de todas. Esses desenhos, nos olhos errados, a denunciam para gente barra pesada que adoraria ter a sua cabeça servida em uma bandeja de prata.

Além, claro, de uma pequena adaga de corte duplo, única coisa que conseguiu salvar da limpa na Sede dos pais, escondida nas vestes.

Deixou um bilhete na geladeira para Alice, que trabalhava meio período na locadora do bairro, — guardando o que podia para um curso qualquer, no cofre em formato de cachorro de péssimo gosto.

Não demorou para ouvir uma buzina, indicando sua carona. O que a fez lembra da sua moto, uma ducati preta, confiscada.

A ruiva praticamente engasgara na própria saliva, tamanho o espanto, quando Marlene finalmente estacionou o carro no local que a levava, e abaixou o vidro da janela.

— Um... ferro-velho? – Lily mal podia acreditar que chegara a gastar sua máscara de cílios e colocar sua jaqueta de couro favorita para isso.

— Sabe, você poderia fingir um pouquinho de entusiasmo e ter mais fé em mim para o bem dessa nossa recém criada amizade... – Lily a encarou incrédula. – Não me olhe assim, já já você vai entender.

Marlene se enrolou um pouco com o cadeado da grade de aço até torcer o objeto do jeito certo, fazendo um clic.

— Ah, aí está! Vamos.

Avançaram por montanhas de sucatas e um trailer abandonado digno de um filme americano. Lily não pode evitar de torcer o nariz conforme inúmeros cheiros chegavam até ela, que havia desenvolvido um olfato muito apurado. Sentia um pouco de esgoto, bastante cheiro de ferro corroído, fezes de rato e madeira podre. Conforme adentravam o grande terreno, que se perdia de vista, Lily começou a ouvir as vozes.

▪ ▪ ▪

— Cara, tem certeza que você está em condições de correr amanhã?

Foi a pergunta de Sirius Black ao seu melhor amigo, James Potter. Os dois estavam debruçados em um impala modelo 79, totalmente modificado e apelidado carinhosamente de Becky, verificando o motor.

— Não está tão mal assim, Pads – respondeu ele, evitando olhá-lo. — Não é como se o Fabian não tivesse tido uma maldita de uma sorte na última vez.

— Se você diz, Prongs. Mas como seu amigo e copiloto, devo aconselhar baixar o prêmio, ao menos dessa vez...

Dispensando com um movimento rude de mão, James bufou.

— ‘Tá maluco? E ser feito de chacota na frente de todo mundo? Até parece. Esqueceu que essa é a primeira vez que Emme vai me ver correr? É claro que não posso fazer uma coisa dessas.

Sirius jogou o pano cheio de graxa na cara de James.

— Mas então é sério mesmo esse rolo com a loirinha? – Ele assobiou e ajeitou os cabelos compridos, analisando de perto o companheiro. – Vocês se pegaram o quê, umas duas vezes, e você já está amarrado assim? Fez o favor de ao menos contar pra pobre infeliz?

O garoto revirou os olhos e voltou a se inclinar, percebendo algo perto do radiador.

— Não enche. Anda, passa a chave de fenda, acho que encontrei a origem do ruído...

— Ei, seus cabeças de vento! O que estão aprontando?

Marlene surgiu por de trás de uma pilha de pneus, sorrindo de orelha à orelha, indo abraçar seus amigos de infância. Somente depois da amiga bagunçar ainda mais seus cabelos é que James Potter notou a garota ruiva, um pouco atrás, com a mãos nos bolsos.

— Ãhn, Lene? Você trouxe uma amiga junto pra cá? – Sirius apontou debilmente em direção a Lily, que resolveu dar mais alguns passos de forma amistosa.

— Puxa, por um momento esqueci você aí, Lily! Desculpa. Faz umas boas semanas que não vejo esses dois idiotas aqui... Bom, garotos, essa é a Lily, colega da faculdade. Lily, esses são James e Sirius, os caras mais divertidos de Hogsmeade e amigos completamente irresponsáveis.

James perguntou-se mentalmente onde Marlene arranjara uma amiga gostosa assim. Sirius poderia ter pensado o mesmo, visto que exibia seus dentes muito brancos para ela.

— Carro legal. – disse Lily, tirando a franja dos olhos enquanto sorria para os dois.

Sirius prontamente foi ao seu encontro, com o jeito galanteador de sempre, e ela podia sentir o cheiro de locação pós barba agora.

— Alô, ruiva. Muitíssimo prazer, amiga de Lene é minha amiga. Á postos para realizar um tour, se quiser, desse nosso reino mágico de lata... Não é para todo mundo esse passe livre, hein.

James os observava rir de alguma coisa que Sirius dizia ao pé do ouvido, recostado no impala brincando com uma broca entre os dedos, quando um pensamento apavorante invadiu sua cabeça, acionando todos os tipos de alarmes. E se endireitou em um pulo.

— Espera um segundo aí! – Ele cortou Sirius, sobressaltando os três e olhando feio com os olhos cerrados em direção à garota. — Quem exatamente é você? Por acaso não é prima, ou sei lá, do Fabian e da Molly Weasley, é? Ele te mandou aqui?

— Jay–

Marlene bem que tentou interromper, mas ele estava ocupado demais sendo um desvairado para notar, começando a andar de um lado para o outro.

— Fabian achou que trazendo... uma... uma garota bonitinha pra cá, ia conseguir saber a que tantas anda o conserto do meu carro? Além de todas as atualizações que fizemos na última semana? Francamente... E ainda agindo tão na cara. – disse ele exasperado, parando e cruzando os braços. — Terão que se esforçar um pouco mais para me enganar, tá legal! – cuspiu.

— Como é que é? – perguntou Lily, zangada e confusa, com as mãos no quadril agora. — E o que quer dizer com bonitinha?

— Pois pode dando meia volta agora mesmo!

Sirius alcançou James indo dar um peteleco dolorido na cabeça. Marlene adiantou-se também.

— Jesus Cristo, James! Ela nem daqui é! Não tenho ideia se Lily sequer conhece algum dos Weasley. Vamos, peça desculpas, não foi nada cavalheiro da sua parte. – E começou a bater o pé impaciente, com o olhar mandão que ela sempre dirigia para os dois quando faziam algo errado.

Lily, quase soltando raios do jeito que o encarava, bufou.

— Ele está mais para o cavalo, certamente.

— Mas você é ruiva! – balbuciou atônito James, como se isso explicasse tudo.

Lily estalou a língua.

— Que bela constatação, chegou nessa sozinho?

— Ora, você não pode me culpar por achar isso muito suspeito. Convenhamos... ainda mais um dia antes do meu pega!

— Uau. – exclamou Lily, olhando para o céu buscando calma. — Vocês fazem racha? Não tiveram uma adolescência para brincar antes, então?

Ele foi marchando em sua direção com o dedo em riste.

— Olha aqui–

— Galera, galera... calma aí! Nossa. Vamos dar uma respirada, vocês estão um pouco alterados... Olha, Jay, – Marlene virou o corpo para ele, o segurando pelos ombros, bloqueando a amiga do campo de visão. – Lily é minha amiga, totalmente de confiança, fica frio. Essa garota aqui não seria capaz nem de dar descarga no seu sapo de estimação.

— Ao contrário de você – lembrou ele, com uma careta.

— E Lily, – Agora Lene virou na direção da garota. – Dê um desconto para esse bobão. Ele está se sentindo todo pressionado desde que as apostas apontam vitória pro outro cara... sabe, depois da última derrota...

Os dois, sem qualquer jeito ou vontade, foram apertar as mãos à pedidos (ou seria ameaças?) da amiga, com resmungos de desculpas.

Ignoraram o arrepio que sentiram quando uniram o aperto. Agora que eles estavam decididamente mais perto conseguiram observar um ao outro melhor. Lily notou, apesar de ele ser ao menos duas cabeças mais alto que ela, que o seu rosto tinha um jeito malicioso e brincalhão natural, mesmo quando não sorria. James, por outro lado, não deixou de confirmar que a garota estava com a malhação em dia, o que era curioso, visto que sempre ia em horários alternados na única academia da cidade e nunca a viu por lá. E ele saberia se esbarrasse em alguém como ela.

Os dois tinham um toque firme e quente, quase como se combinasse com as personalidades explosivas. Não sabiam que tinham prendido o ar, mas assim que soltaram as mãos, começaram a respirar de novo.

— Ótimo! – aprovou Marlene, dando palmadinhas nas costas dos dois, finalmente satisfeita para engatar outro assunto.

Aos poucos o clima foi melhorando apesar da primeira impressão desastrosa, que não foi nada que a morena de cabelos bicolores planejara quando teve a ideia de juntar a garota mais bacana da sua turma de Políticas Públicas com seus amigos de longa data. Para ela, aquele ferro-velho era o melhor lugar do mundo. Descobriram ele em uma volta de bicicleta fora dos limites do bairro residencial que moravam, aos doze anos, e fizeram amizade com o seu Abeforth, dono do lugar.

As coisas melhoraram mesmo para Lily quando outro garoto chegou. Remus Lupin era o mecânico oficial deles e parecia tão deslocado com a cerveja entre os dedos, — que fora distribuída depois de abrirem o porta-malas e de lá, ser revelado um cooler enorme —, quanto Lily estava com os assuntos.

— Eles realmente acham que podem sair por aí e fazer o que dá na telha como nós? É patético o quanto a turminha do Malfoy tenta nos imitar... – comentou Sirius, recostado em um sofá caindo aos pedaços. James acabara de acender uma fogueira improvisada no meio deles. Estavam no mês de outubro, mas ali no meio da Escócia o frio chegava mais cedo que na cidade natal da garota, na Inglaterra.

Lily estava sentada em um banquinho bambo ao lado de Lene ouvindo as histórias sem ativamente participar.

— Acham que o Snape vai ficar retido até quando? Queria eu ter visto o momento que o velho Parkins pegou ele no flagra pinchando o muro da fábrica! — declarou Sirius em meio a gargalhadas. — Conseguem imaginar o cabelo seboso dele ficando em pé, apavorado no cruzamento com a St. Louis? Cara, eu pagaria pra ver.

Remus errou o gole diante do comentário, sentado do outro lado de Lily, sufocando uma risadinha. James Potter não ligou quando aconteceu com ele também, — embora Lily tenha anunciado para todo mundo no mesmo instante.

— O melhor é saber que ele nem conseguiu fazer nada, aquelas pichações já estavam ali horas antes, feita por nós. O ranhoso além de ser um completo paspalho, é um tremendo de um azarão! — O rapaz ria sem culpa, lutando para secar as lágrimas dos olhos, esparramado no chão em cima de uma lona.

— Ai, ai. O que eu faço com vocês? — Tentou repreender Lene, mas os olhos brilhavam.

— Uma merda perder ele choramingando amanhã, gastando a toa o dinheiro que mal tem apostando contra nós, Prongs.

— Ouvi dizer que Snape foi liberado e está prestando serviço comunitário no asilo perto do hospital desde terça — disse Remus.

— Essa não! Com as roupas que ele usa pode ser confundido com os velhacos e ficar preso lá para sempre! — dramatizou James, segurando a latinha de bebida como microfone à essa altura.

E os outros riram feito hienas, fazendo até mesmo Lily entrar na onda, culpando as gargalhadas de porquinho da Marlene.

Logo ela descobriria, sem nenhuma surpresa, que tanto James quanto Sirius tinham burlado mais leis do que seria possível com a pouca idade. E o primeiro parecia liderar todas as artimanhas.

O fato de James Potter sempre ter algo para se vangloriar e achar que era o cara mais rebelde e revolucionário do universo fazia Lily querer virar os olhos com certa frequência. Não demorou, um pouco alegre demais, para que o mesmo começasse a falar pelos cotovelos sobre como a nova garota que ele estava saindo era tão adulta, e extremamente experiente sobre a vida e o mundo.

— Sabem como é, garota de cidade grande...

— E além de tudo é muito corajosa, considerando que está saindo com você — comentou Lily, sem se segurar. Ela e Sirius trocaram um toca aqui.

James virou para ela com um bico.

— De novo, quem te convidou mesmo?

Sempre jogando um comentário ácido aqui e outro ali, eles pareciam ter criação uma dinâmica engraçada até.

Marlene, com atraso, quis também compartilhar sua opinião.

— Ahhh! A grande Emmeline Vance! A forasteira, desbravadora do desconhecido, sempre muito interessada nos outros e tão maneira com todo mundo ao redor...

— Sabe, se eu não te conhecesse, Mckinnon, acharia que está debochando da cara do nosso velho amigo aqui. — disse Sirius.

— De modo algum, meu caro. — E colocou a mão no peito, fingindo-se de ofendida. — Apenas acho conveniente demais ela estar sempre sorridente por aí. É irritante.

— Comparado ao seu humor matinal é realmente um precipício de distância mesmo — devolveu ele, no que Lene mostrou-lhe a língua.

James não achou tão engraçado assim.

— Lene! Achei que sua birra com a Emme tinha sido deixada pra lá, — reclamou, enquanto cutucava o fogo com um graveto. As brasas caíam nas roupas ou cabelos de todos, mas ninguém reclamou ou pareceu notar. — Ela é ótima, incrível, na verdade. Se ao menos vocês passassem mais tempo juntas... Logo ela se muda de vez pra cá e vamos resolver isso.

Marlene não pareceu prestar muita atenção, com os pés no colo de Sirius e os cabelos sendo mexidos por sua amiga, que fazia uma bela trança.

— Bom, eu e Lily somos igualmente incríveis e não estou vendo outra reposição de cerveja na nossa frente.

Lily soltou uma risadinha, parando seu trabalho no cabelo, balançando o copo vazio sem parar até um emburrado James Potter levantasse para buscar mais.

— Ah, vai. Você curtiu, não curtiu? Te peguei gargalhando pelo menos umas três vezes de alguma besteira — sondou Marlene, com brilho nos olhos e a ponta do nariz vermelha, depois de se despedirem dos três garotos e fazerem o caminho de volta pelo grande pátio.

— Não foi péssimo — concordou ela. — Remus é ótimo e Sirius é engraçado, principalmente contando histórias. Já James... bom, me desculpe Lene, mas aquele garoto é meio um pé no saco.

— Ele só estava em um dia ruim... aquele carro é a vida dele, as corridas são o ar que ele respira... — cantarolou ela teatralmente.

— E as pichações são sua aspiração? — respondeu Lily no mesmo tom.

Marlene deu um cutucão.

— Não seja tão malvada assim!

Lily olhava pela janela do carro as ruas pouco movimentadas e o céu começando a escurecer, mas virou-se para Lene, que batucava no volante ao ritmo da música, para perguntar algo que lhe ocorrera apenas agora.

— Como esse cara sempre escapa impune desses lances todos? Digo, ele nunca se dá mal? Nenhuminha vez?

Pareceu quase implorar e com certa razão, já que sempre teve de ser tão cuidadosa praticamente sua vida inteira. Parecia muito injusto. Embora o que eles fizessem não fosse nenhum pouco equivalente.

O que ela fazia, passado.

— Ah, bom, nada de muito extraordinário acontece quando você é filho do xerife, Lil...

▪ ▪ ▪

Assim que Lily bateu a porta do apartamento, sabia que tinha alguma coisa errada.

— Alice? — Lily sentiu a presença de alguém no escuro da sala. A sombra estava aninhada à um canto do sofá, feito uma bola. Resolveu ligar a luz, não sem antes colocar uma das mãos sob a bainha o que cobria a adaga.

Ouviu o soluço antes de enxerga-la realmente. Estava com os olhos inchados, lenços de papel usados ao seu redor e abraçava os joelhos.

— O que aconteceu? Ei, fica calma...

Alice atirou-se nos braços de Lily, chorando copiosamente agora.

Depois de muita luta, a convenceu a tomar um chá e foi aí que a garota conseguiu explicar a situação. Elas não eram assim tão próximas, conhecia Alice tanto quanto Marlene, ou seja, há pouquíssimo tempo. 

Tentando ao máximo prestar a devida atenção para não fazer Alice precisar repetir, Lily a ouviu.

— Frank e eu não estamos nada bem, Lily – confessou. – Na real, ele não está bem com ninguém até onde sei.

— O que quer dizer? – perguntou em um sussurro.

Ela buscou ar antes de responder.

— Desde que ele voltou de um trabalho no verão, em Sutherland, a maior cidade por aqui, ele tem agido... estranho. Toda essa droga de tempo, esses malditos três meses... o vi pouquíssimas vezes, e no meio da noite! Ele acha que sou o quê?

— Isso não parece certo mesmo. Acha que ele está... hum, fazendo algo errado?

Ela balançou a cabeça.

— Não sei, sei? Liguei para a mãe dele, ele mora nos fundos e ela me confirmou que ele não sai de casa para nada e se recusa a ir no médio mesmo estando com febre a maior parte do tempo! Tão pálido e magro que é capaz de cair duro no chão. E o pior, quando tentei falar com ele agora à noite, desligou na minha cara!

Lily não sabia o que dizer. Se fosse algo prático, longe de qualquer aspecto emocional, apenas chutar umas bundas, ela poderia resolver agora mesmo. E sendo sincera, essa era sua especialidade — fazer cabeças rolarem, para ser mais exata. O único jeito efetivo de se matar um vampiro catacano.

Mas não havia besta alguma para lutar, só uma garota de coração partido. O que restou foi não deixar Alice dormir sozinha naquela noite. Não lembrava de ter tido uma girls night desde que sua irmã foi levada para longe.

 

continua...


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Notas finais do capítulo

Tive essa ideia quando vi a imagem (que usei de capa) no Pinterest e quis experimentar uma AU. Espero que goste ❤❤



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