Verdade ou Desafio escrita por Amanda Lis


Capítulo 1
Desafio




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Hoseok caminhava incerto. A noite, sem lua, tornava difícil enxergar o caminho. A casa, ou melhor, a Casa da Lamentação ficava do outro lado do bairro, completamente longe do centro luminoso, com casas amigáveis e jardins floridos. Tudo que havia em volta da casa era mato, capim alto e mais mato. Também não havia postes de iluminação, não ali, onde ninguém morava. A casa era bastante antiga e ninguém morava ali há décadas. Nela restavam apenas alguns móveis empoeirados e histórias de terror. Típico.

O garoto não sabia bem porque havia aceitado o bendito desafio. Talvez porque não gostasse de ser chamado de fracote, apesar de saber que era verdade. Os amigos sempre caçoavam dele, que não fazia nada além de sorrir amarelo, como quem não gosta da ‘brincadeira’, mas não tem como negar. Estavam numa das muitas noites de jogos quando decidiram brincar de verdade ou desafio. Quem não quisesse responder algo super vergonhoso ou íntimo, deveria fazer o desafio. E Hoseok se viu num dilema: responder de quem ele gostava ou ir até a Casa da Lamentação e roubar um objeto em 2 horas.

Não queria decidir nem uma coisa nem outra, era muito medroso. Tinha medo de tudo, inclusive de se declarar para seu melhor amigo, que provavelmente nem gostava dele. No fim, achou melhor encontrar fantasmas do que encarar a dolorosa rejeição.

E foi assim que ele acabou diante da casa, a noite e sozinho. Não tão sozinho assim, ele tinha o celular, o qual ele usaria como lanterna. E como pedido de socorro, caso ele precisasse.

A viagem de sua casa – local fixo da noite de jogos – até a Casa da Lamentação durava cerca de 50 minutos durante o dia e seguindo o limite de velocidade de um carro. O medo e a vontade de acabar logo com isso o fez praticamente voar e chegar no local em incríveis 36 minutos. Ainda precisou atravessar o mato em volta da casa, portanto sobrava cerca de 1 hora e 20 minutos para completar o desafio. Espero que eu consiga.

A casa era assombrosa. Toda de madeira escura, o chão rangia debaixo de seus pés. O silêncio da noite – perturbado apenas pelo cantarolar dos grilos – tornava tudo pior. Qualquer barulhinho se tornava estrondoso. O menino, tremendo, precisou respirar fundo antes de girar a maçaneta da porta. A porta se abriu com um gemido. Pelo menos estava aberta, senão teria de quebrar uma janela e entrar.

Lá dentro era ainda pior. Ainda que tivesse medo da noite – sim, Hoseok tem medo do escuro e do que vive nele – a ideia de entrar na casa o assustava ainda mais. O ar era pesado ali dentro e cheirava a mofo e poeira. Sua rinite começou a reclamar e em menos de 2 minutos dentro da casa, o rapaz espirrou. O barulho ecoou pela casa, alertando qualquer fantasma que estivesse ali de que alguém entrara. Merda, pensou ele, frouxo e alérgico. Esperou alguns segundos para ver o que aconteceria. Nada.

Em dúvida se era melhor fechar ou deixar aberta a porta, o menino decidiu deixar aberta. Se precisasse era só correr através da porta e estaria livre do perigo. Era um frouxo precavido.

Uma vez decidido tudo, começou a procurar qualquer coisa que servisse de souvenir. Andava o mais leve possível para não fazer barulho e clareava todos os pontos da sala com o celular. Além dos móveis que eram grandes e pesados, não havia nada ali. Nenhum cinzeiro ou castiçal, prato ou talher. Hoseok então ficou preocupado, o tempo era curto e o medo muito grande para sair explorando a casa. Mas não tinha jeito, era isso ou contar para o amigo que gostava dele há muito tempo. Só a ideia o fazia transpirar, mais do que já estava transpirando. Teria mesmo de arrumar algo e rápido!

Na cozinha, que ficava no primeiro andar, também não teve sorte. Apenas balcões e armários embutidos. Cacete, será que preciso mesmo fazer isso? Ao pensar que poderia perder o amigo, decidiu-se. Preciso.

Subiu as escadas. Orava baixinho e rápido, para nenhum deus específico. Qualquer um que respondesse seu pedido, seria bem-vindo. Um vento gelado correu escada acima, bagunçando seu cabelo. Cruzes! Ao chegar no segundo andar viu um corredor escuro de muitas portas fechadas. Sentiu uma tonteira tremenda só de pensar que teria que abrir cada uma delas. Já não parecia mais tão ruim assim contar a verdade para o amigo.

Abriu a primeira porta a direita. O quarto possuía apenas um grande guarda-roupa e uma cama de dossel sem o colchão. Fechou a porta muito rápido. Abriu a primeira porta a esquerda. Neste cômodo havia uma cadeira de balanço. O rapaz não pensou duas vezes, fechou a porta e continuou. Cadeiras de balanço não são boa coisa.

         No terceiro cômodo viu uma penteadeira com uma caixa pequena. Finalmente! Havia achado um objeto pequeno o suficiente para ser carregado e não havia morrido! Sentia-se confiante. Até tocar na caixa.

A caixinha era feita de madeira e estava maltratada, com muitas farpas em volta. Ao segurar a caixa, Hoseok espetou a mão numa farpa, o que o fez gritar. O barulho acordou alguns morcegos que estavam escondidos no cantinho mais escuro do quarto. Eles guincharam e se puseram a voar atordoados. O rapaz entrou em pânico. Derrubou a caixa e o celular, usando os braços para espantar os morcegos que voavam em torno dele. Seu sangue começou a gelar e a tonteira voltou. Gritava tanto que a garganta já começava a doer e, no momento do desespero, não encontrou a porta. Um calafrio subiu por sua espinha, os seus gritos se misturavam com os guinchos dos morcegos fazendo sua tonteira aumentar e aumentar. Faltando cerca de 40 minutos para o fim do desafio, Hoseok desmaiou.


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