Bishop - Hiatus escrita por Lilindy


Capítulo 2
Madripoor


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Madripoor

 

“Acho que eu já tenho bagagem sua o suficiente, obrigada.”

Essa frase martelou na cabeça de Clint quando ele não estava dormindo ou quando não ocupava sua mente pensando na sua família. Isso se sucedeu nas últimas trinta horas de viagem enquanto o Gavião tentava se acomodar, do melhor jeito possível, em um dos assentos do quinjet onde se encontrava agora. O que Kate queria dizer com aquilo? Ela era rica, nunca teve que carregar nenhuma bagagem, literalmente ou metaforicamente falando, na vida dela. Não era? Ou será que ele estava errado? O que Clint não sabia sobre Kate?

O que quer fosse Barton teria que pensar sobre isso depois. Precisava ter foco agora, desempenhar seu papel ali, fazer seu trabalho.

Consertar uma situação que seus colegas e companheiros de trabalho da antiga SHIELD asseguraram que não ocorreria.

Porém, por mais que estivesse aborrecido, Clint também era realista. Ele tinha aceitado fazer naquilo, sabia dos riscos. Barton não podia somente jogar a culpa em Maria Hill e Nick Fury. Ele também estava inserido naquilo. Muito inserido.

Quando a viagem finalmente acabou o arqueiro não demorou a se levantar, pegando suas coisas e andando até a rampa do quinjet. Ela abaixou, dando espaço para que o homem pudesse descer da aeronave.

Para não chamar atenção, o quinjet pousou em uma área mais á margem do destino do Gavião. Um lugar mais afastado sem a presença de pessoas curiosas ou enxeridas prontas para questionar porque um quinjet havia pousado ali. Como consequência, Clint teria que andar um tanto para chegar onde queria.

O arqueiro se pôs a caminhar, ouvindo atrás de si o som das turbinas do quinjet enquanto ele alçava voo mais uma vez.

Os passos dele foram rápidos. Sua postura, discreta. Clint carregava pouca bagagem, não queria chamar atenção. Com uma bolsa transversal e sua maleta contendo seu arco e flecha, Barton seguiu seu destino. 

Depois de conversar com Hill, Clint ligou para sua esposa, informando a sua mais nova tarefa. Maria informou que dois dos seus agentes viajariam até a fazenda dos Barton para prevenir qualquer coisa que pudesse acontecer agora que Clint estava naquela situação.

A fazenda era longe e por ser tão escondida proporcionava segurança para Laura e as crianças. Mas mesmo assim, sempre era bom precaver certas situações.

A maleta preta oferecida ao Gavião por Maria possuía alguns “utensílios” que o auxiliariam em Madripoor. Inclusive, o homem usava um dos aparatados tecnológicos agora mesmo.

O rosto de Clint Barton era conhecido. Ele era um Vingador, sua imagem passava pelas telas da televisão e sua alcunha servia de inspiração para crianças e até para os mais velhos. Não era como se sua imagem causasse o mesmo efeito que as imagens de Thor, o Capitão América ou Homem de Ferro. Mas, mesmo assim, sua face era conhecida.

O Gavião Arqueiro estava indo recuperar uma fita roubada da SHIELD em um leilão, precisava cobrir sua face, se disfarçar. Seria tão bom se ele pudesse ser uma outra pessoa, ter outro rosto.

Espera, ele podia. 

O véu fotostático, também conhecido como Nano Máscara, foi muito usado por agentes da SHIELD quando tais precisavam ser passar por outras pessoas em certas missões. O dispositivo é capaz de imitar tanto a face como a voz de uma pessoa.

E era justamente o que Clint Barton estava fazendo naquele exato momento. O arqueiro usava um clássico terno e gravata e sua maleta, com o arco e flecha dentro, podia se passar facilmente como uma maleta de um empresário pronto para fazer um bom negócio. Sua bolsa reforçava a ideia que o recém-chegado estava visitando Madripoor em uma viagem de trabalho. E a peruca de cabelos negros completava o novo visual de Clint Barton. Ou melhor, do senhor Philips.

Os agentes remanescentes da antiga SHIELD fizeram algumas pesquisas antes de Clint decolar para Madripoor com sua nova identidade. O verdadeiro senhor Philips havia morrido há certo tempo, não possuindo familiares e nem amigos muito próximos. Era sempre focado em seus negócios. Ou seja, quando Barton conseguisse a fita, nem o real senhor Philips nem mais ninguém correria algum risco.

Á medida que Barton saía da área mais deserta e arborizada de onde havia chegado á cidade, era possível notar a gritante e crescente diferença de ambiente. Agora, passando por entre as pessoas que seguiam um ritmo frenético típico de uma grande cidade, os olhos atentos do Gavião eram direcionados para todos os lugares enquanto ele caminhava.

Madripoor ou Principado de Madripoor é uma ilha localizada no sudoeste da Ásia. Sua capital, cujo nome compartilha com a ilha, é a única cidade grande do lugar. Pelo que o Gavião leu nos arquivos presentes na pasta dada por Hill, a capital possui os hotéis mais luxuosos e caros do mundo. Em contrapartida, também possui centros com os maiores níveis de pobreza do planeta.

Esses dois extremos econômicos ocasionaram a divisão efetiva da capital em duas partes. Lowtown, o lugar dos extremamente pobres. E Hightown, um verdadeiro paraíso cheio de tecnologia para os ricos e poderosos.

E era ali onde Clint Barton estava. Em Hightown.

O lugar era belíssimo, constituído por prédios enormes cuja arquitetura moderna se assemelhava muito á arquitetura característica de Singapura. E a relação não era coincidência. Madripoor se localizava ao sudoeste da cidade- estado. Talvez Singapura servisse de inspiração.

A iluminação era outro ponto marcante ali. Os prédios altos e imponentes tornavam-se ainda mais convidativos com suas luzes brilhando nos halls de entrada e em cada janela.

Tomando cuidado com as mãos leves que poderiam levar seus pertences, ouvindo os sons característicos de um trânsito movimentado, Clint para quando avista seu destino.

Á sua frente estava o luxuoso e grandioso Pérola de Madripoor.

O orgulho da capital poderia ser classificado como um hotel de luxo. Sendo composto por 3.000 quartos, um hall de entrada de 2 quilômetros, um shopping de 1,5 quilômetros com boutiques e lojas finas e caríssimas em seu interior, um parque de diversão interno para todas as idades, quatro palcos com shows ao vivo, dez melhores restaurantes cinco estrelas e o maior cassino do mundo!  O lugar era enorme e um o sonho para muitos.

Depois da rápida admiração pelo hotel, o arqueiro volta a andar.

Clint entra no gigantesco hall um dois minutos depois, procurando apenas lançar olhares discretos durante sua análise do lugar enquanto tentava não transparecer estar impressionado com a grandiosidade do hotel.

Não foi difícil fazer o check-in. Sem ajuda, Barton não conseguiria se hospedar em um hotel como aquele nem em um milhão de anos. Mas sendo o senhor Philips, o empresário cheio da grana, fazer tal coisa não foi nada trabalhoso.

Quando chegou ao seu quarto, um quarto enorme localizado em um dos últimos andares do Pérola, Clint fechou a porta. Estando sozinho, o arqueiro permitiu-se relaxar um pouco.

Ele deixou sua maleta e bolsa sobre a grande cama presente no cômodo e caminhou até a ampla janela. Ao abri-la, o vento frio entrou sem permissão, balançando as cortinas de tecido branco. O som caótico de Madripoor também adentrou ao quarto, rompendo o silêncio do espaçoso lugar.

Barton leva a mão direita até sua gravata preta e lisa, afrouxando-a. Não era muito fã daquele estilo de roupa, mas sabia usá-lo quando necessário. Trabalhar para a SHIELD exigiu algumas adaptações e mesmo que Clint não fosse do ramo da espionagem como Natasha foi ele também conhecia algumas manhas.

Ah, Natasha.

Ela fazia falta. Se estivesse com ele agora, a russa soltaria uma gracinha aqui e ali em meio à execução daquela missão. Nat era boa em enganar, sem sobra de dúvidas encarnaria qual quer fosse seu papel ali. E de quebra, daria alguns bons conselhos para seu melhor amigo.

Sim, Clint tinha saudades de tudo aquilo. Ás vezes, ele pegava-se pensando se ela sabia que tinham vencido a batalha contra Thanos. Segundo Wanda, Nat sabia. Em certos momentos, Clint se perguntava se a feiticeira tinha dito aquilo para confortá-lo ou se ela pronunciou palavras sinceras ao amigo. No fim de tudo, Barton preferia acreditar na segunda opção.

Procurando afastar aqueles pensamentos, o Gavião fechou a janela, cobrindo-a com as cortinas antes de ir até uma porta no canto direito do quarto. Ali estava o banheiro. E naquele momento, Clint Barton estava muito afim de um banho.

➵➵➵

 

Se havia algo melhor do que se sentir limpo esse algo era deitar em uma cama super macia. O corpo cansado de Clint não ofereceu resistência e aceitou o conforto daquela cama, dormir ali era com certeza mil vezes melhor do que dormir no quinjet.

Barton se remexeu um pouco sobre o colchão, procurando a posição certa. Quando a encontrou, o arqueiro levou sua mão direita até a parte de baixo do travesseiro fofo e grande. Passando a mão ali, ele confirmou a presença da arma que trouxe consigo. Ele podia ser conhecido como Gavião Arqueiro, mas isso não significava que o ex agente da SHIELD não soubesse usar uma arma de fogo. Muito pelo contrário. Depois de tal verificação, Clint relaxou.

Encarando o teto no escuro, Barton soltou um suspiro longo. Ele estava exausto.

— Estou ficando velho pra isso.

O arqueiro fecha os olhos.

 

➵➵➵

 

Clint mais uma vez encarnava o senhor Philips enquanto sua visão de gavião observava os detalhes presentes na sala onde se encontrava. Pessoas de alta cúpula vestiam seus melhores trajes de gala e conversavam animadamente, segurando suas taças com as mais variadas bebidas, alheias á presença do Gavião Arqueiro ali. Uma mini reunião entre ricaços ocorria no momento.

Caminhando despretensiosamente pela sala cor de pêssego, Barton passa próximo á porta dupla branca aberta no centro do cômodo. Dando mais uns dois passos, Clint para á esquerda, próximo á entrada daquela sala.

“Está vendo a sala?”

A voz de Maria Hill soa pela escuta discreta localizada no ouvido direito do Gavião.

— Estou. Me parece uma sala comum. Ela é grande, algumas cadeiras vermelhas estão postas em fileiras, um pequeno palanque está no centro e há seguranças dentro dela. A organizaram para o leilão. — A voz de Clint tinha um tom baixo enquanto ele direcionava o rosto para alguns pontos aleatórios e lançava sorrisos fechados e mínimos para pessoas desconhecidas, fazendo sua imagem de empresário simpático.

“O leilão acontecerá daqui á uma hora e meia. Seja discreto, faça seu lance e saia do hotel o mais rápido possível.”

— Sabe que não é a primeira vez que faço isso, não é? — Barton se põe a andar, caminhando com passos falsamente calmos.

“Sei. Mas sempre é bom repassar certas ordens.”

Maria Hill, curta e grossa.

Clint apenas sorri fechado, dessa vez um sorriso verdadeiro. Ele estava ciente da gravidade da situação, sabia o que estava em jogo. Hill também, ela estava desempenhando seu trabalho. Barton apenas não evitou que tal indagação saísse de sua boca.

O arqueiro sai da sala cor de pêssego. Ele fingia casualidade enquanto passava pela porta.

— Vou para meu quarto, pegar meu arco e voltar para cá. Apenas precaução. — O corredor branco estava pouco movimentado. As pessoas tinham muito mais o que fazer naquele hotel do que passear por ali.

“Certo. Faça isso. Ficaremos... aguard...”

— Hill? — Clint leva seus dois primeiros dedos da mão direita até o ouvido. Não obteve resposta. O canal estava ligado, mas nada da voz de Maria Hill do outro lado. — Hill?

Silêncio. Um silêncio que Clint não gostou nenhum pouco. Algo estava interferindo a comunicação.

A situação piorou quando o véu fotostático começou a falhar. De início, as falhas foram discretas. Uma mudança no nariz, uma cor diferente em cada íris, um defeito no lábio superior. Até que a nano máscara pifou de vez, começando a esquentar, obrigando Clint a arrancá-la do rosto.

Totalmente exposto, Barton vê quando dois homens dobram o corredor á esquerda, parando de frente á ele.

Um deles, o mais forte de cabelo baixo e claro, entreabriu a boca. Depois de um segundo, ele se põe a falar.

— Parece que o passarinho saiu da gaiola. — Um sorrisinho jocoso se faz presente na face do homem. Seus olhos estavam cobertos por óculos escuros e ele vestia terno e gravata. Um típico segurança.

Clint deu de ombros, não se deixando levar pela zombaria. Porque deixaria? Já tinha escutado coisa bem pior.

— É. Parece que vou ter que resolver isso.

O arqueiro estava pronto para pôr seu corpo em movimento, agir, acabar com o problema. Porém, antes que desse mais um passo á frente, o segundo homem, o de cabelos pretos e topete, levanta sua mão direita discretamente, como se quisesse gesticular.

Clint para, sentindo seu corpo estático, preso, incapaz de se mover. Ele enruga a testa, olhando diretamente para o moreno á sua frente. Os dois homens sorriem, uma visão um tanto estranha já que ambos se vestiam igual e estavam parados ali, no meio do corredor.

O cara de cabelos pretos levanta a mão livre, colocando seus dois primeiros dedos sobre a têmpora esquerda.

— Você não vai resolver nada, Clint Barton.

Depois de tais palavras, o arqueiro sente uma sonolência o dominar. Foi tão forte que ele não pode resistir. Clint fechou os olhos e então, a inconsciência o abraçou.

 

➵➵➵

 

“Clint Barton.”

A voz chamando seu nome soou longe. Era como se ele ainda estivesse acordando. E de fato, ele estava.

“Ei! Acorda!”

Disse outra voz, dessa vez o corpo de Barton obedeceu prontamente. Clint abriu os olhos de súbito. Tal ação o fez fechar as pálpebras por alguns instantes, sua visão se acostumando com a iluminação do ambiente.

— Olha só, o Gavião Arqueiro despertou. — Clint direciona sua atenção para o dono da voz.

Era ele, o cara jocoso e grande. Ao seu lado, seu amiguinho de cabelos negros. Esse último mantendo sua atenção sobre Barton.

— Vocês são meus fãs ou algo assim? — Pergunta ele, sarcástico.

Tentando mexer seu corpo, Barton só confirmou o que já desconfiava: não podia se mover. Seu tronco estava amarrado á uma cadeira por uma corda grossa e firme assim como suas pernas. Seu olhar então vai de encontro com o do suposto segurança.

— Foi você que me derrubou no corredor? Me lembro do que fez. Truque legal. Queria saber como fez isso.

O moreno não esboça nenhuma reação e se mantém na mesma posição. O grandão brutamonte se afasta um pouco, caminhando para uma mesa velha e um tanto empoeirada no canto esquerdo daquele lugar. Mas afinal, que lugar era aquele?

Olhando ao redor Clint notou várias caixas empilhadas uma nas outras pelos quatro cantos daquela pequena sala. As paredes eram pintadas com um tom acinzentado e próxima á mesa antiga existia uma estante feita de metal com mais caixas postas sobre ela. O ambiente abafado indicava que a porta ao lado esquerdo permanecia fechada uma grande parte do tempo. O lugar era um depósito. Um depósito pequeno, mas um depósito.

Barton notou o cara musculoso mexendo em algumas coisas sobre a mesa. As coisas de Clint. O véu fotostático estava lá, a escuta e o revólver que Clint trazia consigo, escondido em sua cintura.

— O Gavião Arqueiro sem um arco?

— Eu trouxe um arco. Está no meu quarto. — Clint, espantado pelo o que tinha acabado de dizer, olha para o outro. O cara tinha seus dedos indicador e do meio da mão direita sobre a têmpora direita.

Barton foi controlado por ele? O cara tinha... Poderes?

O brutamonte se aproxima de Clint depois de tirar seu paletó e colocá-lo sobre a mesa. O cara era tão alto que atingia o teto baixo do depósito. Enquanto o segurança avançava até Barton, uma das três lâmpadas do teto branco apagou.

— Ascende isso A-hem, precisamos de luz!

A-hem? Que nome ridículo!  Pensa Barton.

A-hem para no meio do caminho, lançando um olhar rápido para o outro antes levar uma das suas mãos gigantes até o teto. Quando seus dedos grossos a ásperos tocam a superfície da lâmpada, luz volta a brilhar em seu interior.

Então os dois aparentemente possuíam certas... Habilidades?

— Ah, claro. Isso faz muito sentido. — Diz Clint, quebrando o silêncio. E não, aquilo não fazia sentido algum.

Quer dizer, agora ele sabia quem foi o responsável por interromper sua comunicação com Hill e por quebrar sua nano máscara. Mas como é que aqueles dois tinham poderes?

Mais uma coisa maluca para Barton pôr na sua lista bastante extensa.

A-hem volta sua atenção para Clint, dando dois passos e parando de frente á ele. O Gavião não podia olhar diretamente nos olhos daquele cara já que os óculos escuros cobriam seu rosto. Contudo, ele não precisava que A-hem tirasse os óculos para saber que sua cara não era nada amigável.

— Se vocês querem um auto...

Clint não completou a frase, não conseguiu. Um soco deferido em seu queixo o impediu de seguir falando. A pancada foi forte, atordoando o arqueiro e tirando sangue de sua boca.

Barton mal pode se recuperar do golpe e já recebeu outro, dessa vez na bochecha direita. Mais sangue espirrou pelo chão.

— Depois que eu acabar com você, mandarei a sua cabeça para seus amiguinhos Vingadores. — Clint ergueu o olhar para encarar o outro. A face de A-hem estava na altura de seus olhos. O homem tinha um sorrisinho de divertimento em seus lábios.

— Você não vai fazer nada disso.

Os três homens olham na direção da porta. Estavam tão inertes naquela situação particular que não notaram a entrada de outra pessoa. A-hem endireitou-se, ficando ereto enquanto a mulher andava para mais perto.

Ela trajava um vestido preto até a altura dos joelhos. A roupa era justa e mostrava os contornos do seu corpo. Seus calçados altos da mesma cor conferiam elegância á ela. Seus cabelos negros batiam sobre seus ombros e sobre seu rosto...

— Sim, Madame Máscara.

Barton alterna o olhar entre A-hem e a tal mulher por alguns instantes até sua atenção pousar somente sobre a figura feminina. Uma máscara cor de bronze e de aspecto metálico cobria todo o rosto da tal Madame Máscara. Clint podia ver apenas os olhos castanhos que agora o encaravam.

— Apaguem as luzes. Mandem ele para um quarto vago próximo ao meu, agora. — A mulher vira o corpo e anda até a saída. Parando depois de tocar a maçaneta, ela vira o torso na direção dos capangas. — Sejam discretos, não queremos chamar atenção nos corredores.

— Não se preocupe, Madame Máscara. A-hem já deu um jeito nas câmeras do hotel. — O capanga número dois deu um sorrisinho vitorioso como se aquilo fosse a coisa mais extraordinária do mundo. E talvez fosse, se eles não fossem uma espécie de seguranças do mal.

— Ótimo.

A Madame Máscara volta sua atenção para a porta, gira a maçaneta, abri a porta e sai. Os três homens voltam a ficar sozinhos. A-hem retoma sua atenção para Clint, já levantando uma de suas mãos fechada em punho.

Barton olha para A-hem.

— Ah, qual é!

O rosto de Clint é atingido mais uma vez. E dessa vez o arqueiro é nocauteado.

 

➵➵➵

 

Clint Barton acorda de súbito mais uma vez naquele dia. Ele ainda estava amarrado á cadeira, só que dessa vez não estava em um depósito e sim em um quarto.

Um quarto igual ao seu. Paredes cor de pêssego, uma cama grande e confortável e cortinas brancas que cobriam a janela presente no cômodo. Em um hotel era comum os quartos terem um padrão, mas isso não importava agora, importava?

O arqueiro se vê diante de três figuras ali. Os dois capangas com supostos superpoderes e a tal Madame Máscara. Os dois homens estavam parados atrás da mulher, um em cada lado. Os olhos azuis de Clint vão até a figura feminina, focando no que ela segurava com a mão direita.

O arco do Gavião Arqueiro. 

— Eu agradeceria se você tirasse suas mãos de cima do meu arco. — A cabeça de Clint latejava e ele podia sentir o gosto metálico de sangue em sua boca.

A Madame Máscara coloca sua mão livre sobre o quadril. Olhar para ela era um tanto bizarro já que seus olhos eram a única coisa que se mexia em seu rosto cor de bronze.

— O que pretende fazer aqui, Gavião Arqueiro?

Clint a encara, ignorando um pouco a dor que sentia apenas para dar um bafejo divertido e curto. Um quase riso sem humor.

— A resposta já é bem óbvia, estou aqui pelo mesmo motivo que você.

A mulher dá alguns passos á frente, seu olhar ainda sobre ele.

— E que motivo seria esse?

Madame Máscara recebeu silêncio como resposta. Clint nada disse. A mulher então olhou para o capanga de topete. Ele prontamente entendeu a mensagem e levou os dedos da mão direita até a têmpora.

— Escuta aqui, eu já estou cheio desse lance de controle da mente, então é melhor você parar com isso agora! 

Clint nunca gostou de ser controlado. Esse sentimento piorou quando foi subjugado por Loki. Desde aquele dia, ele procurou ser mais forte para evitar cair naquilo de novo. Deu certo quando Wanda tentou entrar na sua cabeça, quando os dois ainda estavam de lados opostos do tabuleiro.

Porém, talvez a razão pela qual o Gavião tenha tido êxito contra as manipulações mentais de Wanda foi justamente sua rapidez em atingir a garota com sua flecha especial. A carga elétrica lançada sobre ela atrapalhou a ação de Wanda e Barton conseguiu ter êxito em livrar-se de seus truques mentais.

Era diferente agora. Ele estava imobilizado, não podia reagir.

Clint até tentou resistir, mas sua cabeça latejava e ele estava cansado.

— Por qual motivo você está aqui? — Madame Máscara repete a pergunta.

— A fita. — As palavras saem contra sua vontade. — Alguém pegou a fita. Se ela for vendida, eu estou morto e muitas pessoas estarão em sérios problemas. — Ele pausa um pouco, tomando fôlego apenas para voltar a ser controlado. — Então sim, estamos aqui pelo mesmo motivo. Eu também quero dar um lance para comprá-la.

Barton para um pouco, se xingando mentalmente por estar dizendo tudo aquilo.

— Quem quer que fique com essa fita, vai acabar gastando muito dinheiro. Uma gravação de um vingador assassinando o terrorista mais procurado do mundo? Não é todo dia que isso acontece.

— E como pretende comprar a fita?

O arqueiro respira fundo, baixando a cabeça por alguns instantes apenas para se arrepender por tal movimento. A dor em sua cabeça piora. Clint ergue o rosto, sentindo o poder que o carinha do topete exercia sobre ele. Era como o segurança do mal dissesse “Fale” e ele falava.

— Eu tenho um cartão de crédito sem limites. Recebi exclusivamente para essa missão. — Quando Hill souber, Barton estará morto.

— E onde está o cartão?

— Eu o revistei e não achei cartão nenhum, Madame Máscara.  — Fala A-hem.

— É porque está escondido. — Fala Clint involuntariamente.

— Então diga logo onde está escondido esse cartão.

— Está dentro da minha calça. — Ele dá de ombros.

O quê?

 Madame Máscara se depara olhando para as calças sociais de Clint Barton. Seu olhar se eleva apenas para encarar o homem.

— Isso é realmente sério?

— Nenhum dos seus capangas se deu ao trabalho de verificar e...

— Ok. Chega. Eu entendi.

A mulher mascarada anda até Clint após entregar o arco para A-hem.  Dando a volta, parando atrás dele, Madame Máscara se inclina para frente e sem muita cerimônia, leva as mãos até dentro das calças do arqueiro.

Aquilo pegou Barton de surpresa e o momento constrangedor se seguiu, sendo rápido. A mulher não queria ficar naquela posição comprometedora por muito tempo. Quando Madame Máscara tirou suas mãos de lá de dentro, uma delas segurava um cartão de crédito preto azulado.

A mulher voltou a encarar Clint quando deu a volta na cadeira, ela balançou o cartão com um movimento leve.

.— Vou ficar com ele, por precaução e para garantir que você não venha com mais nenhuma peripécia. — A Madame baixa o cartão.

Clint dá de ombros, cansado. O cara de topete não tinha mais as mãos sobre a têmporas, a Madame Máscara não queria mais respostas. Ela se vira para seus capangas, olhando para o brutamonte.

— A-hem, o senhor Barton ficará aqui neste quarto. Você vai permanecer do lado de fora, na porta. Ninguém entra e ninguém sai. Garanta que o Gavião Arqueiro tenha uma boa noite de sono.

— Sim, senhora. — A-hem olha para Clint com uma expressão não muito amigável e Barton o encara de volta.

Ele estava muito ferrado.

Madame Máscara olha para o segundo homem fardado ali.

— Quero que isso seja desinfetado

— Sim, senhora. — Ela entrega o cartão para o segundo segurança do mal. Seus gestos indicando nojo do objeto. 

— Verifique se o cartão é legitimo também. — O trio caminha até a porta.  — Vou lavar minhas mãos antes de seguir para o leilão, chame outro homem para me acompanhar até o evento.

Clint viu quando o cara que o controlou assentir para a chefe dele. A tal Madame Máscara abre a porta, passando com o segurança mais magro. Logo depois, ela vira seu torso, olhando para A-hem.

— Fique com o arco. — Antes de ir, a mascarada direciona sua atenção para Clint. — Boa noite, senhor Barton.

Dois segundos depois, A-hem e Clint se veem sozinhos na presença um do outro.

— Será que pode pelo menos tirar suas mãos sujas do meu arco?

— Ele não é mais seu arco, passarinho.

A-hem anda até a parte de trás da cadeira, puxando o encosto enquanto se dirigia para perto da janela.

— Peraí, peraí. Não basta me prender aqui, vai me jogar pela janela também?

— Só cala a boca. — O capanga vira a cadeira na direção da cama, a soltando sobre o colchão após erguê-la.

Ok. O cara era forte. Bem forte. A-hem se põe de frente ao Gavião.

— Solta meu arco. — Sim, Clint falava muito sério quando o assunto era seu arco.

A-hem o ignora. Barton o vê fechando a mão livre em punho e então o Gavião Arqueiro recebe seu quarto soco no rosto naquela noite. O impacto do golpe faz Clint cair com cadeira e tudo. Ele já estava inconsciente quando atingiu o colchão.

A-hem, satisfeito, seguiu para a porta após pegar as flechas presentes dentro da mala agora no chão. Antes de sair do cômodo, ele se vira para Barton.

— Boa noite, passarinho.

Assim como a Madame Máscara pediu, o capanga musculoso ficou á frente da porta do quarto. Ele decidiu ficar com o arco e as flechas ali mesmo, talvez por implicância com o Gavião.

Dentro do cômodo, o silêncio reinava soberano. Com a porta e as cortinas fechadas e as luzes apagadas, um Clint desacordado se encontrava na escuridão e quietude.

Mas não por muito tempo.

Sem ao menos um rangido, a porta do banheiro se abre. Uma figura camuflada por suas vestes negras em meio á falta de luz no quarto surge de lá dentro. Logo depois, mais duas figuras semelhantes saem de debaixo da cama. Todas elas trajavam as mesmas roupas escuras, cobriam seus rostos e carregavam espadas em suas mãos.

O trio caminha até Clint.

 

➵➵➵

 

Dentro da sala de portas duplas brancas, algumas fileiras de cadeiras vermelhas estavam preenchidas O cômodo estava fechado agora e o leilão  estava perto de começar. Madame Máscara mantinha sua postura ereta e suas pernas cruzadas enquanto olhava para frente, aguardando o início de tal evento.

— Senhora? — Um dos capangas fardados se agacha ao parar ao lado da cadeira onde a sua chefe se encontrava sentada. A mulher olha para ele. — O cartão, ele é legítimo.

— O cartão diz que não há limites de compras, correto?

— Sim, Madame.

A conversa era feita em um tom mais baixo de voz.

— Ora, ora, ora. — Madame Máscara balança um pouco seu pé elevado pelo cruzamento de pernas. — Quem quer que tenha dado esse cartão para o senhor Barton, quer muito essa fita. — A mulher olha para frente mais uma vez. — Agora pode ir, me espere próximo á porta.

— Sim, senhora.

O capanga se levanta, se afastando logo depois. Em seguida, um homem alto, forte, calvo, trajando terno e gravata passa pela fileira de cadeiras onde Madame Máscara estava sentada.

— Madame. — Ele a cumprimenta, recebendo silêncio como resposta.

Parecendo não ser afetado por isso, ele continua seu caminho, se aproximando de um rapaz mais baixo e franzino que estava perto do palanque no centro da sala.

— Você está atrasado.

O pequeno homem de cabelos ruivos, usando óculos de grau, para a leitura da papelada em suas mãos e olha para o outro.

—Sim, senhor. Mas me disseram que teriam doze compradores.

— E...? — O outro prolonga a vogal.

— Bom, senhor... — O rapaz inclina seu corpo um pouco para o lado para ter uma visão melhor já que o outro estava á sua frente. Observando melhor a fileira de cadeiras á frente do palanque, ele diz: — Eu contei só onze.

O ruivo volta seu olhar para o outro homem de expressão nada amistosa. Ele se inclina para frente do menor apenas para proferir uma frase curta e carregada de grosseria:

— Que pena!

Um tanto assustado, o rapaz levanta sua mão esquerda para endireitar seus óculos. Com o movimento, uma pequena caixa de metal, presa ao pulso de sua mão por uma algema, balança um pouco.

Ainda temeroso pelo homem mais alto, o rapaz se dirige até o palanque, ficando atrás dele.

— Boa noite, senhoras e senhores. Vamos dar início ao leilão. — O homem calvo se afasta, ficando próximo ao palanque enquanto o ruivo prossegue lendo suas anotações. — O item a ser leiloado hoje é uma fita de vídeo. Suas credenciais são impecáveis e seu conteúdo é de raridade impar. O vídeo contém cenas de Clint Barton, o Gavião Arqueiro, cometendo um assassinato político sancionado pela antiga e encerrada SHIELD e também pelo governo dos Estados Unidos.

O pequeno homem ergue o rosto, olhando para as pessoas á sua frente.

— Vamos começar com o lance inicial de cem milhões de euros. Eu ouvi cem milhões?

E assim o leilão começou. O assunto pesado e sério era tratado como um trunfo, algo precioso a ser comprado. E sabe-se lá quais eram os planos que aqueles onze compradores tinham em mente para aquela fita.

Os lances foram aumentando. Depois dos cem milhões, a oferta seguiu para cento e vinte. Em seguida subiu para cento e cinquenta, duzentos, trezentos e trezentos e cinco milhões.

— Trezentos e cinco milhões de euros. Alguém dá mais? Eu ouvi quatrocentos milhões.

— Um bilhão. — A oferta feita pela voz por trás da máscara dourada fez todos os compradores olharem para sua direção. A Madame, por sua vez, manteve sua postura, não olhando para os lados uma única vez.

O ruivo responsável por coordenar o leilão, calou-se, talvez deduzindo que os demais compradores não teriam lance maior.

— Pois bem, excelente. Um bilhão de euros pela fita então. Dou-lhe uma. Dou-lhe duas. Ninguém mais vai cobrir? — Silêncio. Ninguém lançou um valor maior que aquele. — Então, vendido para a Madame Máscara pela sua assustadora quantia de um bilhão de euros. Meus sinceros parabéns.

O martelo foi batido. Madame Máscara se levantou, recebendo alguns aplausos de quem assistia o evento e olhares carregados com uma leve pitada de inveja e aborrecimento de outros compradores.

O rapaz ruivo sai do palanque, parando ao lado dele. O home calvo, o responsável pelo evento, já estava próximo. Ambos esperavam pela Madame. Com sua postura impecável, a mulher de vestido negro se aproxima dos dois.

— Parabéns Madame Máscara. — Fala o rapaz á ela antes de levar uma das mãos até o bolso interno direito do seu paletó e tirar dali a chave para abrir a algema.

— Aproveite, Madame. — Diz calvo. Ele parecia satisfeito. Como não estaria? Um bilhão por uma fita? Quem imaginaria?

A mulher apenas assente, levando sua atenção para o mais baixo. Ele entrega a caixa metálica para ela prontamente.

— Que Deus tenha piedade da alma de Clint Barton, pois suspeito que você não terá.

— É um pensamento gentil da sua parte. 

A questão financeira foi resolvida, uma troca de palavras feita e o leilão havia se encerrado. A fita agora pertencia á Madame Máscara.

 

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A dama mascarada passa pela porta do cômodo, não olhando para trás ao dizer:

— Fechem a porta, rapazes. Me deixem sozinha. Se eu precisar de alguma coisa, informo á vocês.

A porta se fechou após a última frase da mulher. Olhando por sobre os ombros para verificar se sua privacidade havia sido respeitada, a Madame direciona seu rosto para frente após uma resposta positiva á sua dúvida.

Dando alguns passos até sua cama enquanto ainda segurava a caixa metálica, ela se senta na beirada do móvel. Colocando o objeto sobre suas pernas, a mascarada leva a mão direita até seus pés, tirando os saltos alto que podiam ser bem desconfortáveis se calçados por muito tempo. O passo seguinte foi direcionar as mãos até a cabeça para, bom... Para tirar aquela peruca calorenta e soltar os compridos cabelos longos e castanhos. E por último, tirar aquela máscara incômoda que abafava seu rosto cada vez que ela expirava.

Soltando um suspiro rápido, a garota volta sua atenção para a caixa metálica, a abrindo logo depois. A fita de vídeo cassete é tirada do interior da caixa, sendo levada até a altura dos olhos de quem a segurava.

Encarando o objeto por alguns segundos, Kate diz:

— Clint Barton, Clint Barton. Em que droga de confusão você nos meteu?

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Madripoor realmente existe nos quadrinhos da Marvel. Não sei se é algo confirmado, mas há suposições que a cidade será representada na série Falcão e o Soldado Invernal. Eu realmente espero que sim.

Também tirei o Pérola de Madripoor dos quadrinhos. Ele existe na cidade realmente.

Bom, sobre Clint Barton na fanfic. Eu estou mesclando um pouco da personalidade dele nas HQs e no MCU, espero está dando certo. Não quero nada forçado. Isso vale também para as partes mais humoradas deste e dos próximos capítulos que virão.

Estou escrevendo a fic para colocar em ação minhas ideias sobre a personagem e me divertir.

Eu realmente espero que estejam curtindo. Qualquer erro de ortografia ou algo do tipo podem informar.

Até próxima sexta!
Bjus, Lili ♥



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