A maldição da Sucessão escrita por Pms


Capítulo 44
Capítulo 44: A noite das máscaras.


Notas iniciais do capítulo

- Olá, mais um capítulo para vocês.

— Sei que não saiu no dia, como prometido, e também é grande, mas aqui está ele.

— Comentem!



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O apito agudo e a desaceleração da velocidade indicam a aproximação do destino de quase todos presentes no trem. Se inclinando, ela abre um pouco a cortina para ver a paisagem ao lado de fora se tornar mais nítida à medida que o trem perde seu ritmo e os indícios iniciais da noite começarem a aparecer. O som de movimento no corredor sugere que os passageiros já estão preparados para o desembarque.

A sensação de estar vivendo um acontecido que já ocorreu permanece em Pansy enquanto está sentada no compartimento que divide com Draco. É como estivessem a caminho de Hogwarts novamente, os dois jovens bruxos, crianças que achavam que eram os bruxos mais importante do mundo bruxo pelo seu sangue puro. Se soubessem o que os aguardavam, não estariam tão ansiosos para estudar em Hogwarts. Os dois estariam receosos e temorosos, exatamente como estão agora.

— Não me lembrava do Dragão Dourado ser tão distante. – comenta Draco olhando para o seu relógio de bolso pela décima vez.

— Eles mudaram o local. – Pansy não tira os olhos da janela.

— É verdade, pelo grande feito que você e o Santo Potter e Weasley fizeram na última vez. – Draco recorda com deboche fazendo Pansy finalmente olhar para ele. – Mas eu achei que estavam blefando, faria mais sentido se estivessem. Se você dizer que mudou de lugar, ninguém irá procurar no lugar antigo.

Ele está nervoso. Pansy percebe isso pelos pequenos sinais de impaciência que ele demonstra, olhar o relógio diversas vezes só é um deles, fazer comentários cruéis é outro. Ela não retruca e nem quer provocá-lo, mesmo que ele esteja a incitando a fazer isso. Ter Astória desacordada desde do nascimento do filho deles é um motivo para ela deixar que ele se desabafe da maneira destrutiva dele.

— Vamos. – Draco rapidamente se levanta abrindo a porta do compartimento quando o trem para.

Pansy bufa para a longa noite que terá com Draco sendo sua companhia.

Ao desembarcarem do trem, tomam as carruagens do lado oposto da plataforma. A viagem dura pouco, porém, a percepção que já chegaram só é percebida quando sente o impacto das carruagens no chão, já que a neblina os impediu de identificar qualquer construção.

O som da água batendo em pedras dá a percepção que estão em Azkaban, dura segundos até que pela janela, quando a carruagem passa pela ponte, é vislumbrado um castelo no topo da montanha na costa do mar.

Ao chegarem nas portas do castelo, logo são saudados pelo corredor formado de armaduras postas que levam para a famosa fonte com a estátua do dragão feita toda de ouro cuspindo fogo. Sendo a única direção a tomar, Pansy abaixa-se cuidadosamente devido à barriga para pegar os galeões dentro da água. A estátua do dragão se vira para ela lançando uma corrente de água, ou seja, uma contra poção, para revelar se há um invasor, que seria queimado vivo pelo mesmo dragão, o que não ocorre com ela. Por isso, uma corrente de vento forte passa por seu corpo secando-a e abaixo de si, um elfo doméstico a aguarda para guiá-la para seus aposentos.

Não foi um trabalho fácil convencer Harry sobre suas intenções para comparecer a este encontro. Ele tentou argumentar sobre o quão errado esse encontro poderia se tornar, e trouxe o passado como forma de persuasão. Ao final, ela o conseguiu fazê-lo aceitar a ideia com mais facilidade, fazendo entender que se houvesse qualquer apoio para uma guerra ou supremacia, ele estaria informado antes mesmo de acontecer, pois, ela contaria para ele. A noção de saber dos planos das famílias do sangue puro, fez ele apoiar a participação dela muito mais rápido do qualquer outra coisa que ela poderia ter dito.

Mesmo que ele ainda negasse e reprovasse, Pansy estaria presente nesse encontro de qualquer maneira. A mensagem do assassino foi um motivo a mais para ela persistir na decisão de comparecer.

Pansy analisa sua aparência pela última vez no espelho. Nenhum vestido aos seus olhos ficaria perfeito em si, a barriga saliente e o aumento do peso não são aspectos que se encaixam nas escolhas de vestido dela. Contudo, o verde- escuro do vestido longo com mangas que usa, que contém detalhes em ornamentos pratas nos ombros e no pescoço, e a gargantilha de cobra estão aceitáveis para ela.

— Você está pronta? – pergunta a voz de Draco após duas batidas na porta do quarto que está hospedada.

— Já estou saindo. – com um aceno da varinha, ela fecha seu malão de roupas em cima da grande cama.

Pansy levaria um susto se não estivesse tão ciente que atrás da porta encontraria uma figura mascarada, ou seja, Draco Malfoy. Ele está em seu traje a rigor preto com ornamentos dourados nas laterais de seu casaco e mangas, seu rosto está coberto por uma máscara inteiramente branca que obscurece em total breu os olhos de quem usa. Por outro lado, Pansy usa uma máscara prata que cobre os dois olhos e a boca, mas deixa descoberto uma parte do rosto.

O encontro exigir o uso de máscaras não seria incomum se fosse um baile em uma das mansões das famílias, entretanto, se tratando de um encontro político, causa um estranhamento e questionamento para qual seria o propósito das máscaras. Pansy pensou que esconder a verdadeira identidade poderia ser a razão, ou simplesmente, seja só mais alguma extravagância que as famílias puras de sangue tem. Aliás, bailes e festas sempre foram uma forma mais vantajosa para conseguir as coisas do que uma reunião formal no Ministério.

A estrutura do novo Dragão dourado continua parecida com a do antigo. As mesas de jogos rodeiam o espaço principal, onde estão bruxos dançando em seus trajes exóticos e suas máscaras, como também diversos bruxos artistas para o entretenimento e instrumentos tocando sozinhos. O teto coberto por diversas pinturas se movem iguais aos quadros de Hogwarts, e no centro do teto um grande lustre de cristal ilumina o local, como também os candelabros de velas.

As colunas de gesso, uma das poucas modificações que ocorreu, sustentam o andar das mesas de jantares ao redor do salão principal. O local da rixa de dragões, outra mudança, agora se localiza abaixo do nível do castelo na montanha, onde pode ser visto através da única e grande vidraça do castelo.

Os olhos de Pansy procuram reconhecer a silhueta de sua mãe entre todos os bruxos vestidos com penas, peles e joias reluzentes que parecem ter vida própria. Não tem como sua mãe não ter sido convidada e não ter vindo.

— Pelo que eu vejo, meus pais não conseguiram autorização do Ministério para comparecer. – Draco diz levando-a até a escada que leva para as mesas de jantar.

— Você viu os seus sogros? – pergunta Pansy também não os identificando.

— Não, eu nem quero ver.– Draco fala de forma rancorosa. – Eu os já vejo o suficiente na mansão Greengrass. Talvez estejam por aí procurando alguém para lançar a culpa que eles tem de si sobre ter envenenado o sangue da filha, já que não podem fazer isso comigo aqui.

Pansy se senta na cadeira.

— Os medi-bruxos não disseram nada?

Ela não consegue ver o rosto dele, devido à máscara, apesar disso, sente que sua expressão muda pelo tom de voz vacilante.

— Eles não sabem o que aconteceu. – Draco conta. – A perda de sangue devia ter matado ela, mas não matou. Já faz um mês desde do parto, e ela não dá nenhum sinal que irá acordar.

— Ela está viva. – Pansy assegura esperando que trouxesse conforto. – Só precisa acordar.

Draco respira fundo mexendo nas abotoaduras de sua manga.

— Daphne coloca o Escórpio deitado no peito dela, esperando que isso a ajude acordar. – relata ele parecendo um pouco emotivo. – Eu falo com ela, esperando que ela me escute. Na última vez que estive com ela, disse que o Ministério reconheceu o nosso casamento e que assinei os papéis de nascimento do Escórpio. Agora, os dois carregam oficialmente o nome Malfoy. Fiquei segurando a mão dela esperando que talvez isso a fizesse reagir.

Pansy abre a boca parar dizer algo, mas o surgimento de um bruxo a faz recuar.

— A senhorita, me concederia uma dança? – um bruxo usando uma máscara dividida em preto em branco parado ao seu lado oferece sua mão. – Se o cavaleiro não se incomodar?

— Acho que não sou a melhor companhia para uma dança. – Pansy aponta para o estômago elevado.

— Mas é isso que a torna ideal. – O bruxo sugere novamente indicando com a cabeça sua mão.

Draco dá um aceno com a cabeça. Então, Pansy aceita a mão erguida. Não que ela precisasse de autorização dele, como ele é seu acompanhante, só quis garantir que está ciente da saída dela.

A parte da dança sempre foi a favorita dela nos bailes que acompanhavam seus pais. Os bailes sempre foram importantes para ela, algo luxuoso e poderoso que ela fazia parte. Que a fazia se sentir importante, parte de algo especial.

Eles esperam a música iniciar para tomarem suas posições ao lado de outros bruxos.

— Seus pais devem estar orgulhosos. – comenta o bruxo enlaçando o braço em sua cintura e segurando sua mão.

Pansy tenta identificar o bruxo atrás da máscara.

— Uma bruxa grávida sempre é motivo de alegria para o povo bruxo. – continua ele. – Isso significa um bruxo a mais para o mundo. É claro se a criança não for um aborto.

— Posso saber o seu nome? – pergunta Pansy encarando os seus olhos.

— Acho pouco provável que nos conhecemos, senhorita Parkinson. – ele balança os dois de um lado para o outro. -  É um menino ou uma menina? – questiona ele antes de girar ela.

Pansy estranha o bruxo saber sua identidade, mas não se assusta. Já que se lembra que sua máscara não deixa seu rosto totalmente escondido.

— Menino. – responde Pansy quando retorna para estar cara a cara com ele. – Você não disse seu nome.

— Um menino. – repete o bruxo refletindo. – Levará o sobrenome do pai, se não me engano não é?

Pansy nada responde e continua a dançar.

— Um sobrenome muito significativo e importante para um menino tão jovem. – ele inclina ela para trás levemente e com cuidado por causa da barriga. – Espero que ele veja como uma dádiva e não como uma maldição. O sobrenome Potter tem muito peso para quem carrega agora.

Sua surpresa quebra um pouco o ritmo da dança. A paternidade de seu filho é ainda um segredo para todos, só seria possível alguém suspeitar que o pai é Harry Potter, se for próximo ao ciclo de convivência dela ou de Harry.

  - Você trabalha do Ministério. – Não é uma pergunta, é uma afirmação.

Pansy tem a impressão que o bruxo sorri por trás da máscara.

— Sim. – confirma o bruxo. – Estava presente na audiência. Não passou despercebido por mim uma interação um pouco íntima entre você e o senhor Potter.

Pansy solta uma risada. Ela deveria saber que de uma forma ou outra alguém suspeitaria que Potter poderia ser o pai de seu filho. Pansy não é casada e por alguma razão está sendo protegida pessoalmente por Harry Potter, um trabalho que qualquer auror poderia fazer. O grande herói Potter, não daria o trabalho de ser guarda pessoal de qualquer bruxo, sendo ele chefe, não se fosse algo além do trabalho, algo pessoal. Principalmente para proteger a bruxa que tentou entregá-lo para morte, a mesma bruxa que ele entrelaçou as mãos na audiência.

— Eu pensei estar bem claro que eu tenho um relacionamento secreto com Draco Malfoy. – Pansy começa perder o andamento da dança sentindo o cansaço surgir.

 - Uma resposta excelente. – elogia ele. – Você não afirmou e nem negou. Você não irá me responder, não é?

— Quem? Eu? – Pansy finge-se de sonsa. – Achei que soubesse toda história.

— Sei de suposições e rumores. – confessa o bruxo. – Mas a verdade só a senhorita pode me dizer.

—E qual é a verdade que o senhor quer ouvir? – retorna Pansy.

O bruxo a roda novamente.

— A verdade que o herdeiro da herança da família Parkinson, é muito mais do que um simples bebê da família Parkinson, integrante dos sagrados vinte oitos. – expõe ele.

— Então, eu lamento informar que o meu filho é só um simples bebê bruxo, um bebê rico e bruxo. – informa Pansy sorrindo maliciosamente.

— Creio eu, que a senhorita não compreende a importância de seu filho. – contradiz ele. – Um bebê Parkinson é algo importante para nós, como uma sociedade que preza o sangue totalmente puro e as famílias bruxas antigas, mas um bebê Parkinson-Potter é extremamente de grande importância para todos nós, ainda mais com os tempos atuais.

O bruxo entende o silêncio de Pansy como interesse.

— Não vamos tirar a sua família dos Sagrados vinte oito, senhorita Parkinson. – avisa ele. – Mesmo que seu filho seja resultado de um envolvimento com um mestiço.

Com a mão firme em sua cintura, ele a puxa mais para perto.

— Você e seu filho são uma peça valiosa para nós, agora. – fala ele baixo próximo ao seu ouvido. –Vocês são a ponte entre nós e o senhor Potter, vocês são a nossa entrada para o Ministério. Uma bruxa nascida de uma grande família de sangue puro casada com o senhor Potter, salvador do mundo bruxo, significa que nossos ideais e representantes podem adentrar o Ministério novamente por seu intermédio.

— E o que te faz pensar que o senhor Potter e eu iremos nos casar? – questiona Pansy afastando um pouco o bruxo.

— Queremos acreditar que a conduta moral do senhor Potter não permitirá um filho ser chamado de bastardo, mas se em todo caso, se ele não casar com a senhorita, podemos arrumar meios para que isso aconteça. – garante ele. – Nada como uma publicidade ruim para denegrir a imagem do nosso herói para o povo bruxo. Com as críticas, ele pode ser tentado a pedir a senhorita em casamento. 

— Acho que o senhor está equivocado. – fala Pansy dando uma leve risada para disfarçar o incômodo. – Não dá para forçar o Potter a fazer algo que ele não quer.

— Por isso, a senhorita é a nossa principal peça. – esclarece o bruxo entusiasmado. – A senhorita está grávida dele, e sabemos do passado conturbado de vocês. A pergunta que fica é o que você pode fazer para convencê-lo?

Pansy quase interrompe a dança neste instante, o que seria uma estupidez. Ela jamais saberia o rumo da conversa e o que os bruxos desse encontro pretendem.

— Você me superestima demais. – O tom dela sugere que seu ego está sendo amaciado. – Ou me subestima. Acredita que Potter não possa ter algo comigo por espontânea vontade. Acha que o enfeiticei? 

— Não, como a senhorita disse, não dá para forçar o senhor Potter a fazer algo que ele não quer. – eles rodeiam o salão em círculos. – Mas pense você sendo a senhora Potter. Ele, casado com uma bruxa de sangue puro, teria nosso total apoio, e até de bruxos estrangeiros para se tornar o próximo ministro. Você teria um cargo no Ministério, se quisesse, é claro, somente após todos os seus futuros bebês nascerem.

— Na verdade, vocês que teriam o apoio do povo bruxo para ocupar o Ministério com o salvador do mundo bruxo ao lado de vocês. – acrescenta Pansy cínica. – Embora pareça tentador, não gosto da carreira política.

Pansy nunca quis ocupar um lugar no Ministério, seu trabalho na Comissão de Poções era só uma medida necessária para não perder seu posto na sociedade bruxa. Se trancar em sua mansão vazia só a faria perder contanto e influência.  

— Mas gosta da riqueza. – debate ele.

— Quem é que não gosta? – rebate ela.

O bruxo solta uma risada.

— Você pode restaurar o nome de sua família novamente. – oferece ele. – Trazer o nome Parkinson aos tempos de glória novamente.

Os dois andam pelo espaço e troca de posição com outro casal dançando. O que permite Pansy de organizar seus pensamentos. Ela estava ciente que fazia parte do jogo de política do Ministério, mas não tinha ideia da dimensão. Até o momento, achava que sua fortuna e sangue puro que a colocava como peça política, não cogitou que seu relacionamento com Harry e seu filho não nascido são uma estratégia para um novo governo.

Ter seu local de destaque no mundo bruxo é um desejo que Pansy tem desde do fim da guerra. Ser respeitada, ter um título e sua riqueza intocável são coisas que o bruxo está oferecendo e que ela aceitaria sem hesitar. Só que um receio começa a surgir em seu peito. Seu filho está sendo uma peça nesse jogo de poder, e sendo uma peça é descartável quando não for necessário. Seu filho não é sangue puro, sua importância está em seu pai ser o Harry Potter, o mesmo é para ela. Os dois, sozinhos, não tem importância para o povo bruxo ou para os bruxos sangue puros, sendo ela uma traidora de sangue.

— O que me diz? – questiona o bruxo ao retornarem a posição inicial.

— Acho que já dancei o suficiente por uma noite.

Pansy caminha para distante do bruxo e agarra uma taça de suco de abóbora das bandejas flutuantes.

Estar aqui entre os seus, dá somente a garantia de segurança sobre seus direitos e dinheiro, porém, a longo prazo os resultados de uma sociedade bruxa e um governo de supremacia de sangue, traz conflitos e surgimento de monstros como Lorde das trevas. No entanto, estar do outro lado que só o fato de ela ser Pansy Parkinson já é um prejuízo que nada garante. Ela não quer perder seu conforto e passar o resto da vida tentando provar seu valor nesse novo mundo bruxo pós-guerra e também não que viver à sombra de Harry Potter.

Por um segundo, ela gostaria que tanto ela quanto Harry fossem bruxos comuns. Eles poderiam viver suas vidas sem o peso de seus nomes e passados.

O barulho anunciador dos instrumentos musicais chama atenção de Pansy para um palco e o púlpito de madeira preta postos em frente a vidraça na ponta central de todo o salão. Um bruxo com uma grande máscara prata envolta de joias sobe e se coloca atrás do púlpito.

— Boa noite a todos. – diz o bruxo utilizando o feitiço Sonorus para ser ouvido. – Agradeço a presença de todos os bruxos. A participação de cada bruxo aqui presente é de extrema importância para o futuro bruxo que nós queremos.

Pansy observa envolta para os diversos bruxos em suas máscaras a procura de figuras conhecidas.

— Não é desconhecido que o Ministério agora nos intitula como inimigo do povo bruxo e do governo. – o bruxo continua. – Como se fossemos os únicos responsáveis pela guerra. E cada dia é nos tirado um direito, direito a nossa herança, depois a nossa liberdade. O que mais irão tirar de nós? Nós que somos descendentes dos bruxos que construíram esse mundo que eles tomam posse por acharem que são mais merecedores por terem sofrido com a guerra. Nós que construímos o Ministério! E agora querem nos tirar. 

Os bruxos erguem a taças em concordância.

— Esquecem do que foi feito para cada bruxo no passado, quando os trouxas e mestiços nos fazia temer a magia. Este novo Ministério está em colapso, tanto quanto o outro. – O bruxo aumenta o tom de voz. – É esse o momento que devemos nos erguer e reconstruir o Ministério que queremos para o povo bruxo. Porque hoje roubam os nossos bens, amanhã a nossa história.

A comoção começa a tomar os bruxos presentes.

— Iremos derrubar a lei, depois o ministro!

Os aplausos são dados.

Pansy toma um gole de sua bebida para disfarçar sua falta de reação ao discurso.

— O ministro atual, se esqueceu de quem lhe deu o cargo atual que ocupa, como também, quase todos os funcionários do Ministério. 

Como fazia quando criança, Pansy acaba se distraindo com a paisagem ao lado de fora da vidraça. Uma claridade ilumina o céu escuro sem estrelas, talvez para dar anúncio de uma tempestade a neblina se dissipou, essa luminosidade vai tomando uma forma e cor, deixando resquícios no céu escuro, um formato arredondando é identificado, algo se movendo do que poderia ser a boca, dentes afiados e olhos. E então, há nitidamente, sem qualquer dúvida, uma caveira com uma cobra saindo pela boca contornando-a.

A marca negra está brilhando no céu.

A taça se estilhaça no chão e o líquido de espalha sobre seus pés.  Seu estômago quase sobe para a garganta e a apreensão gélida sobe pelo seu corpo, ela olha para os lados para ver se mais alguém tinha percebido, talvez ela estivesse vendo coisas.

O Ministério está sendo tomado hoje?! O golpe está acontecendo?!

Seus olhos se fixam num lugar, as máscaras chamativas e exóticas se perderam para o que está no foco de sua visão. Figuras pretas e mascaradas estão surgindo nas laterais do salão, a identificação da máscara congela todo o corpo de Pansy, a máscara oficial dos comensais da morte preenche todo o lugar.

Não deve ser algum tipo de atração bruxa ou exaltação aos verdadeiros bruxos, nenhum bruxo por mais preconceituoso que seja ou conservador iria escolher os comensais da morte para homenagear, Voldemort não era o líder que queriam.  Na verdade, o líder que ela não queria.

O discurso para, as conversas se cessam, a música se silencia, tudo está num silêncio. Uma cantoria ressoa no salão:

Levante todos as suas varinhas

Os Sagrados vinte e oito devemos defender e se orgulhar

Pelo povo bruxo

E por pureza

Nós iremos lutar.

Nós não fazemos pacto de sangue com trouxas ou mestiços

Pois sujam o nosso sangue e destrói a história.

Pelo povo bruxo

E por pureza

Nós iremos ter vitória

Pois somos os escolhidos

Para a grandeza bruxa.

Como já dizia Salazar:

Somente verdadeiros bruxos devemos ensinar.

Pansy conhece essa música, especificamente o hino, ela cantava quando criança. Seus pais a ensinaram, a tutora ensinou.

Um rugido alto corta o ambiente, seguido por um tremor e estralo e um grande dragão atravessa a vidraça, jogando estilhaços para todo lado. Os bruxos gritam e correm, e com o tempo de uma piscada, feitiços começam a ser lançados iluminando o ambiente todo.

Por reflexo, Pansy já se encontrava com a varinha na mão correndo para longe do dragão que queima os bruxos vivos. A sua corrida é interrompida quando uma pesada viga que sustentava o local das mesas de jantar despenca, derrubando quem estava em cima sobre outros bruxos.

A poeira grossa dificulta sua visão, mas Pansy consegue ainda ver a porta fechada da saída a pelo menos alguns metros de distância. Com cautela, ela tenta correr em direção a porta mais uma vez sem esbarrar dos escombros ou bruxos. Ela desvia de bruxos que lutam contra o dragão e contra outros bruxos, e consegue não ser atingida por um feitiço estuporante que acerta outro bruxo que é jogado longe.

Sua difícil respiração e pouca visibilidade por conta do ar pesado de poeira diminui sua velocidade. Percebendo que a máscara não a deixava ver direito, Pansy a arranca, o movimento que cobre segundos a sua visão a faz tropeçar em algo pesado que a derruba no chão. A primeira reação é usar as mãos como proteção, assim, ela solta a varinha.

Por instinto e medo, Pansy fecha os olhos com força como uma criança assustada e suas mãos trêmulas inconscientemente protegem sua barriga.

Ela grita quando um corpo pesado caí sobre ela. Uma pontada aguda de dor atingi seu abdômen e suas mãos queimam quando pequenos vidros adentram sua carne, enquanto seus braços forçam a levantar seu tronco do chão. Ofegante por ar e com toda força de seus braços, ela tenta retirar o peso de si.

— Socorro... – pede fracamente.

Ela precisa retirar o corpo de cima de si, precisa sair daqui, precisa de sua varinha. Ela não tem plano, ela está sozinha. Ela não pode ficar aqui e esperar a morte, se quiser sobreviver terá que se arriscar enquanto ainda há bruxos para ela usar como escudo e distração.

Suas costas são aliviadas do peso e seu braço é agarrado, e ela impulsionada a ficar de pé.

— Venha!! – Draco, sem sua máscara, com seu rosto coberto de poeira e arranhões, a puxa um pouco bruscamente contra seu corpo.

O ar finalmente entra em seus pulmões e a visão de Draco traz um pingo de alívio para Pansy. Principalmente quando nota a varinha na mão direita dele.

Ele a escolta os protegendo contra qualquer feitiço lançado ou contra o fogo do dragão, e os desvencilha dos escombros e corpos. Pansy semicerra os olhos vendo a porta de saída ficar mais próxima.

A explosão os pega inesperadamente.

  Pansy sente ser arremessada ao ar e a mão presente de Draco em seu braço some. Por segundos, tudo o que há é escuridão e silêncio, o som vai retornando como um zumbido em seus ouvidos e a escuridão vai se tornando figuras borradas. Sua cabeça lateja, e sua boca tem um gosto metálico, zonza e respirando com dificuldade, ela se apoia em uma de suas mãos e tenta erguer a parte superior no corpo do chão e hesita ao sentir uma fisgada na parte inferior das costas e a queimação nas suas costelas. Desnorteada, ela procura em volta por Draco.

— Draco? – chama ela trêmula, tentando focalizar ao redor.

— PANSY!! – a voz de Draco quase some entre os barulhos. – PEGUE A VARINHA!

Pansy se vira sem rumo ao som da voz dele e o encontra deitado no chão não muito distante, segurando a perna direita, que está numa posição absolutamente não natural.

Ela não quer morrer.

— A VARINHA!

Ela tem que encontrar uma varinha.

Pansy convoca qualquer força que pode e se levanta apoiando nos joelhos e cambaleando com a mão sobre sua barriga para desesperadamente procurar pela varinha de Draco ou por qualquer pedaço de madeira perdido de um bruxo que tivera o péssimo resultado.

Um espasmo em torno de sua pélvis a faz se curvar e agarrar a barriga, ela respira profundamente para aliviar a dor, embora a cada respiração a queimação em seu tórax aumente.

Ela não quer morrer. Ela não quer morrer. Ela não quer morrer.

Por um momento, ela só está apenas respirando, esperando a dor passar e ganhando força para continuar a procura pela a varinha. Quando acha que a dor está tolerável, seu abdômen é dominado por uma contração muscular forte fazendo-a cerrar os dentes de dor.  E algo quente e pegajoso escorre por suas pernas.

Pansy arregala os olhos, puxa o vestido para ver sob seus pés água e sangue.

— Não! Não, não! – Pansy olha freneticamente para os lados a procura de qualquer ajuda ilusória.

Assim, acaba constatando a destruição ao seu redor.

—  Nós vamos morrer...

Nós. Eu e ele.

A realidade mais drástica caí sobre ela, ela tem um filho dentro de si. Um menino que ainda não conhece o mundo, um menino que merece viver e crescer num mundo onde o Lorde das trevas não é mais uma ameaça, onde seu pai irá amá-lo e lhe dar dicas sobre quadribol quando ele entrar em Hogwarts. Ela ainda não escolheu o nome dele. Ele não tem um nome.

Olhando aterrorizada entre os corpos e vendo a previsão mais correta de seu futuro, caída, sem vida, fria, sangrando e agarrando o seu motivo de orgulho de ser um bruxo, a varinha. A varinha que um corpo de um bruxo não tão longe está agarrando entre seus dedos flácidos. Uma contração forte a atinge novamente deixando tonta e fraca das pernas, mas não é o suficiente para desmotivar ela de chegar ao quer.

Uma de suas mãos trêmulas tira as mechas de cabelo do seu rosto suado, enquanto a outra acaricia sua barriga de forma nervosa na tentativa de aliviar a dor. Mordendo os lábios para conter um gemido de dor, e se apoiando no que encontra, Pansy se esforça a caminhar até a única fonte de esperança

—Accio varinha! - tenta ela estendendo a mão.

A varinha continua imóvel nos dedos do cadáver.

— Ah! – pisa ela na mão de um cadáver fazendo perder um pouco o equilíbrio e cair de joelhos, seus músculos se contraem violentamente.

A dor a imobiliza por uns minutos, mas são os gritos de dor de Draco que a paralisa. Olhando por cima de seu ombro, ela vê acima de Draco um bruxo mascarado de Comensal da morte.

— Crúcio! – lança o bruxo.

 Draco grita dolorosamente se debatendo no chão, seu rosto contorcido em dor absoluta.  Ouvindo seu coração bater em seus ouvidos e sem escolha, Pansy ignora e se rasteja, deixando seu rastro de sangue pelo chão até chegar no corpo e arrancar a varinha dos dedos do cadáver.

— Avada kedavra!

O bruxo que torturava Draco vai ao chão, morto. Ela precisa de ajuda, eles precisam de ajuda. Por isso, fechando os olhos para se concentrar e focando na sua lembrança mais feliz em meios aos caos e dor, ela aponta a varinha para o alto, desejando imensamente que funcione.

— Expectro Patronum!

A sensação de facas entrando em seu braço a faz soltar a varinha e agarrá-lo imediatamente enquanto vai ao encontro do chão novamente. A manga de seu vestido está chamuscada, seu antebraço brilha em verde néon, as suas veias brilham, a dolorosa sensação logo se vai como também a coloração, deixando o rastro em tons rosados em sua pele em forma de raízes ao redor de seu braço. Encarando confusa seu próprio braço, ela começa a ouvir passos, e pressentido o perigo ergue os olhos para ver a luz do corvo brilhante sobre ela.

— Harry....- sussurra ela sem forças.

O corvo voa para longe passando pela janela mais próxima.

— Olha o que temos aqui!

A voz do bruxo está abafada pela máscara de Comensal. 

—Para uma pessoa que tentou entregar Harry Potter para o Voldemort, para salvar a própria pele, é de surpreender que essa mesma pessoa está arriscando a vida para salvar a pele de Draco Malfoy. Ele é o pai da criança? Por isso o defende?

—Por favor! Eu estou grávida. – implora Pansy tateando o chão cegamente a procura da varinha.

—Estarei fazendo um favor ao mundo bruxo se impedir que mais um Malfoy venha ao mundo.

— Crúcio!

Ela nem teve a chance de pensar quando dor excruciante toma seu corpo, fazendo a berrar.

Seus ossos parecem estar saindo do seu corpo; sua cabeça está para rachar; seus olhos se espremem sobre suas órbitas, suas unhas quebram com a força que ela arranha o chão a procura de alívio para a dor. Ela deseja que eles tivessem lançando a maldição na morte para que tudo acabasse sem dor para ela e para seu filho. Ela deveria ter morrido antes, ela deveria ter morrido em Hogwarts. Ela já queria estar morta!

— O que está fazendo?!! Ela está grávida!

A dor vai embora.

Pansy sente como tivessem jogado água em seu corpo carbonizado. Ela não tem força nenhuma, seu corpo está muito pesado como estivesse em baixo de muitas pedras, a dor na parte inferior de seu abdômen e pressão entre suas pernas, é o que a impede de cair na inconsciência. As lágrimas que escorrem de seus olhos embasam a visão e os sons se tornam ruídos.

— Eu ainda não gosto disso. – disse Harry limpando seus óculos na barra de sua camisa.

— Não se preocupe, Potter. – Garantiu ela colocando seus pés sobre o coloco dele e tomando seus óculos de suas mãos. – Não vou tentar te entregar dessa vez.

Os óculos lhe dá uma imagem embaçada de Harry Potter, não dá para ver sua cicatriz na testa, ou sua feição, ele apenas é identificado pelo cabelo preto e os olhos verdes. Os olhos que ela gostaria que seu filho herdasse.

 - Estou do seu lado agora.

 

Pansy desejava mais que tudo nunca ter saído do Largo Grimmauld para deixar de ouvir os resmungos de Monstro, de não poder mais sentir as mãos quentes e protetoras de Harry. Ela queria por uma última vez ter admirado as flores do seu antigo quarto, feito uma poção, ter recebido o perdão de sua mãe, e além de tudo, poder uma única vez ver o rosto de seu filho.

A sensação quente de algo escorrendo entre suas pernas em grande volume, os olhos intactos de Draco, o vislumbre de um chaveiro de vassoura de quadribol, a luz verde que ilumina a sala são as últimas coisas que ela capta antes de fechar os olhos e esperar a morte.

 

 

 

Escritório do Harry no Ministério.

Harry está estralando o pescoço dolorido de tanto ficar curvado em cima de sua mesa estudando a mensagem do assassino da marca negra. A ameaça é a prova que Zabini havia sido contratado para matar.

A cabeça de Harry dói de tanto esforço que está fazendo para entender a ligação da fuga de Azkaban, o assassino da marca negra com Blásio Zabini, Draco Malfoy, Astória Greegrass e Pansy Parkinson.

Suas conclusões chegaram a que o assassino matou os envolvidos na fuga de Azkaban, aurores corruptos, por justiça. A única justificativa plausível para que os três citados acima fossem um alvo. O assassino está querendo justiça, talvez, pelo passado.

Se o assassino está no Ministério, o assassino é alguém que sofreu com guerra e agora está determinado a matar qualquer um que fosse envolvido com Lorde das trevas e comensal da morte. Contudo, algo não faz sentido nessa situação.

Harry está relendo novamente o nome dos aurores mortos quando sente um desconforto no peito. Ele leva a mão ao lado esquerdo do peito tentando amenizar o incômodo que pensa ser dor muscular e fecha os olhos por alguns segundos.

Um brilho novo ilumina por trás de suas pálpebras. Abrindo os olhos, Harry se depara com uma presença brilhante em formato de corvo voando em seu escritório, o corvo grasna um angustiante “Harry” por trás de sons de batalha e gritos.

Seu coração para ao identificar a voz.

— Pansy...

Harry agarra a varinha e abre a porta brutalmente.

— CHAME TODOS OS AURORES! AGORA!!


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Notas finais do capítulo

- Extra: https://www.youtube.com/shorts/zjR90EzDHec

— Perdoem por qualquer erro.



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