A Mesma Sensação escrita por Loreh Rodrigues


Capítulo 7
Investigando




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*** 

Fernanda refletiu sobre as palavras de Pedro e recordou o olhar de Victoria durante a conversa que tiveram. Ela queria destruir a mãe, mas de uma maneira limpa, não roubando dela a patente de sua marca que tinha tanto valor por todo o trabalho que ela havia feito durante todos aqueles anos.

Entretanto, a tentação era forte porque, naquele dia, ela tinha conhecido um lado da mãe que ela nunca tinha usado contra ela: a garra e a mão de ferro que um dia ela tanto havia admirado. Por muito tempo Fernanda havia desejado ser como Victoria, mas, naquele dia, naquele pequeno enfrentamento, ela percebeu, ao rivalizar com a mãe, que ela não era tão forte como ela. Victoria era uma oponente formidável e ela não sabia se seria capaz de vencê-la usando apenas armas limpas e honestas.

— Não, Pedro, eu não sei... — Ela respondeu evadindo. — Isso é desonesto e eu não quero fazer nada pelas costas dela, quero fazer de frente, como ela lutaria comigo. 

— Está bem. — Ele aceitou ao ver a hesitação dela. — Mas pense nessa ideia com calma, talvez, não agora, mas daqui a algum tempo seja uma opção para dar à sua mãe a punição que ela tanto merece.

— Sim. — Ela concordou. — Por enquanto deixemos as coisas como estão. No fim das contas, acabamos ganhando com o fato de que minha mãe seja a diretora de criação da casa de modas. Ela é a melhor estilista desse país e não podemos correr o risco de que ela deixe de colaborar com nossa empresa para rivalizar com ela. A concorrência nos aniquilaria. Além disso, ela vai sofrer muito vendo o controle da casa de modas na minha mão, não há nada que ela ame mais do que o poder. 

Pedro a beijou depois de sorrir para ela. Sabia que Bernarda lamentaria o desfecho daquela situação, mas Fernanda tinha razão. Por enquanto era a melhor solução. 

*** 

— Victoria, estou muito orgulhosa de você! — Exclamou Antonieta abraçando-a. — Finalmente você colocou essa pirralha em seu lugar. Apesar de que ela continua na presidência, já sabe que jamais devia ter ousado enfrentar a mãe dela. 

— Obrigada, amiga. — Victoria respondeu com um leve sorriso de satisfação. — Fer nunca soube lidar bem com suas emoções. Está sofrendo. — Disse ela com tristeza. — E, por estar sofrendo, faz tantas bobagens. Mas, estando por perto, vou ajudá-la a lidar com tudo isso.

— Eu, no seu lugar estaria querendo dar umas palmadas bem no meio da cara dela, isso sim. — Disse Antonieta com raiva. — O que ela está fazendo não se faz com ninguém, muito menos com a própria mãe. 

— Ela está sendo manipulada, eu sei. E você vai me ajudar a descobrir por quem. Você e o Pipino. Ligue pra ele, traga o de volta. Temos uma coleção para produzir para compensar as porcarias que a equipe de criação terceirizada que Fernanda contratou estava colocando no mercado com a minha marca.

— Claro que sim, já estou investigando. — Sorriu Antonieta aproximando-se de Victoria para falar baixinho. — Ainda não tenho certeza, mas ouvi alguns burburinhos entre as secretárias e funcionários da limpeza. Parece que Fernanda tem tido muitas reuniões privativas com o diretor financeiro, o Pedro Tavares.

— Mas esse rapaz é noivo da Bianca Monteiro, filha do Honório, meu sócio. — Comentou Victoria.

— E quem fez questão de que a empresa permanecesse nas mãos de Fernanda na reunião do conselho hoje mais cedo? — Indagou Antonieta.

— Claro! — Victoria confirmou. — O Honório. Esse rapaz, o Pedro, pode ser quem está manipulando Fernanda, ele pode estar manipulando as duas e Bianca usando sua influência sobre o pai.

— Ainda não  tenho certeza, mas temos uma pista que seguir. — Disse Antonieta animada. — Mas eu ainda acho que algumas bolachas na cara de Fernanda não estariam nada mal. — Comentou ela de forma graciosa.

Victoria sorriu porque sabia que ela o dizia por amizade. E também que ela podia entender que uma mãe, apesar de todos os erros de um filho, tudo que quer é que ele reconheça seu amor. Victoria sabia que Antonieta tinha plena consciência de que tudo o que ela queria naquele momento era que a filha admitisse que ela não tinha responsabilidade pela fraqueza de caráter de Osvaldo. E, para isso, ela precisaria descobrir em detalhes tudo o que aconteceu naquele fatídico dia e como o ator havia terminado morto com um tiro na cabeça.

Ninguém mais do que ela tinha interesse em desvendar aquele assassinato e ela precisaria de toda a ajuda possível. Antonieta, Luiz, Pipino e, até mesmo, Heriberto Ríos Bernal e tudo o que significava se reaproximar dele. 

*** 

— Vamos para meu quarto onde podemos conversar mais à vontade. — Disse Bernarda ao rapaz que acabava de entrar em sua casa. 

— Seu marido não está? — Pedro indagou desconfiado.

— Você deixou seu carro na rua de cima como eu pedi, sim? — Ela indagou e ele assentiu. — Não se preocupe com Heriberto. Ele não está em casa e nós não dormimos no mesmo quarto, podemos ter bastante privacidade. — Ela disse de maneira maliciosa.

Quando entraram no quarto de Bernarda e ela trancou a porta, Pedro logo a agarrou e começou a beijá-la, com aquela impetuosidade característica dos jovens. Ela desfrutou dos beijos, mas não demorou muito a detê-lo empurrando-o com a mão e, com o olhar deixando claro que não ia rolar.

— Você sabe que só vai acontecer quando você convencer a Fernanda a passar o controle da empresa para você... e você para mim. — Sorriu afastando-se dele. 

— Ai Bernarda, você está me deixando louco com sua recusa. Sempre diz que depois, depois e depois... Você sabe quantas coisas eu já fiz por você nesses meses todos, não mereço uma recompensa? — Reclamou Pedro chegando a alterar a voz. 

Bernarda se aproximou dele e colocou o dedo sobre sua boca para que ele falasse mais baixo, estava quase na hora que Heriberto costumava chegar do hospital e, não lhe convinha que o marido escutasse as coisas que Pedro estava dizendo.

— Tenha calma, meu jovem. Isso é o que é mais cansativo da juventude, vocês querem tudo para agora, para já. — Ela desdenhou do interesse dele.

— Para agora? — Ele rebateu alterado. — São quase seis meses, Bernarda! Seis meses desde que você começou a me pagar para me tornar seu espião na casa Victoria. E você sabe que nunca foi por dinheiro. Fui eu quem te avisei que Victoria estava lá no dia do casamento dela! Fui eu quem provocou aquele curto circuito que a deixou presa lá com você e Heriberto! Fui eu quem colocou aquele vírus no computador da segurança que inutilizou as gravações daquele dia! E fui eu que... — Gritou sendo interrompido por um beijo de Bernarda.

O descontrole do diretor financeiro a convenceu a, finalmente, dar o que ele tanto queria. Ela sabia que corria o risco de que ele se desinteressasse dela se ela transasse com ele, mas era melhor do que que ele continuasse gritando tudo que havia feito a pedido dela na empresa de Victoria. Do lado de fora do quarto, parado, Heriberto ficou perplexo com a parte do diálogo que ouvira.

Cada vez estava mais claro para ele que Bernarda tinha muito a ver com o assassinato de Osvaldo apesar de haver estado com ele e Victoria na hora do crime. Além da chantagem, tinha outros motivos para permanecer na casa dela. A única coisa que livraria Victoria de uma vez da acusação pelo assassinato do ator seria a descoberta do verdadeiro assassino. E Bernarda não pararia até que estivesse na cadeia, ou morta.

— Por você, Victoria. — Ele disse no meio da noite, já em seu quarto. — É por você que eu permaneço aqui. Eu só saio dessa casa quando Bernarda já não puder te fazer mal. E eu vou te proteger, meu amor. Eu juro que vou te proteger dessa mulher. 

*** 
Heriberto chegou ao Continental na manhã seguinte com a cabeça fervilhando pensando em uma maneira de contar a Victoria o que descobrira: que Pedro era o espião de Bernarda na casa Victoria. Há alguns dias vinha planejando comprar um celular que Bernarda desconhecesse, mas ainda não tinha tido a oportunidade porque precisava fazê-lo direto na loja e em dinheiro vivo para que ela não o rastreasse. Entretanto, precisava encontrar uma maneira fazê-la saber que não colocaria Victoria em risco. Não sabia bem porquê, mas nos últimos tempos, tinha um impulso cada vez mais forte de protegê-la, de dar a ela todo o aconchego que lhe brindaria se tivesse chegado a ser seu marido.

Passou pela entrada do hospital sorumbático, sem colocar muita atenção a ninguém a sua volta, a única coisa que sabia era que hoje, de um jeito ou de outro, precisava ver Victoria, sua alma tinha necessidade dela. Quando chegou ao andar de seu consultório, sua secretária estava falando com uma enfermeira e, ao vê-lo, veio correndo para falar com ele.

— Doutor Heriberto, a mulher... 

— Por favor, Marina, daqui a pouco. Vou entrar, tomar uma café e aí você me fala. — Ele a interrompeu extremamente tenso.

— Mas, doutor... — Ela insistiu.

— Já disse, Marina, depois. — Ele voltou a interrompê-la entrando em seu consultório. 

Quando ele abriu a porta seu rosto se iluminou. Sentada em sua cadeira segurando uma caneta estava Victoria, altiva, segura, sorrindo para ele como se não tivesse passado por tantas coisas nos últimos tempos. Ela se levantou começou a caminhar até ele que, rapidamente, fechou a porta com chave e foi se aproximando dela com aquele olhar de sensibilidade que só mesmo naqueles enigmáticos olhos verdes Victoria podia encontrar.

*** 

 


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