My Work Here is Done escrita por Labi, MrsNobody


Capítulo 5
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Quase duas semanas sem episódio novo de FKBU e não estamos a lidar bem com o luto



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Haru chegou a casa furioso e atirou o casaco para cima do sofá.

Era humilhante.

Teve de chamar Saeki com as chaves suplentes das algemas e ele estava realmente tão alterado que a menina sequer implicou com a situação. Ouviu sermão no escritório, ouviu piadas por parte dos antigos colegas da 1ª Divisão. No final do dia veio direto para casa. Queria reler relatórios antigos, encontrar alguma coisa que lhe tivesse escapado. 

Mas antes de tudo, tinha de se acalmar.

Tirou a sua gravata, deitou a roupa suja no cesto e foi para a banheira. Nada melhor que um banho quente e espumoso para acalmar os nervos.

Deitou-se para trás e fechou os olhos, respirando fundo.

Maldito Mascarado. 

Não devia ter esperado tanto para o prender. Ele tinha estado perto, podia ter tirado a máscara e desvendado a sua identidade. Porque tinha hesitado? Não fazia sentido!

Kiyumizu já lhe tinha alertado que perseguir um lunático problemático como aquele era perda de tempo. Haru sabia que era. Mas o seu instinto mandava-o continuar.

Suspirou, colocando a cabeça para trás para encarar o teto. Por que havia retribuído o beijo? Por que havia deixado o Mascarado mexer consigo daquela forma? E por que ele não conseguia deixar de pensar naquele pervertido idiota?

Bufou, descansando o braço sobre os olhos.

A sensação do beijo e do corpo do outro rapaz colado ao seu fez suas bochechas corarem, e Haru teve a estranha sensação de que a água da banheira havia ficado fria, uma vez que todo o seu corpo queimava.

Droga!

Precisava tirar aqueles pensamentos idiotas da cabeça.

Maldita mania que tinha de tentar entender os outros. O Mascarado era só um criminoso idiota. Isso devia ser o suficiente. 

Mas Haru era curioso. 

E a curiosidade matou o gato porque agora só pensava nos lábios dele e no seu perfume agora familiar.

Bateu com a mão na testa com tanta força que ficou com a marca dela na pele e voltou a suspirar. Logo seria capaz de prender aquele pervertido. E o beijo delicioso seria esquecido.

 

 

O Mascarado não deu sinais de vida nas semanas seguintes. Haru bem que ficou alerta, aguardando por alguma carta, algum email, alguma coisa. Nada. 

Era um alívio, sim, mas estranho. 

Acompanhava Kambe para uma reunião quando comentou isso. Sim, porque de alguma forma ele agora era obrigado a ir com o milionário para as reuniões que ele tinha com outros empresários pela cidade. “Para sua segurança.” , dizia o chefe Takei naquele tom de voz autoritário de quem não deixava hipótese de negociação.

Haru não gostava de ser babysiter, mas tinha de admitir que o dinheiro extra ao fim do mês era útil.

E Kambe, quando não estava a ser chato, irritante, idiota ou mimado, até que nem era assim tão má companhia.

“Ou seja, o Mascarado não aparece faz duas semanas, é isso?”

“Sim.”

“Isso não é bom?”, Kambe levantou uma sobrancelha e bebericou o seu café, enquanto aguardava o elevador abrir.

“É, por um lado. Mas por outro, é um criminoso à solta na mesma.”

“Se ele tiver ido para outra cidade, o caso fica resolvido. É menos uma dor de cabeça que o inspetor tem.”

Haru  entrou no elevador e carregou no botão, resmungando, “Sim…”

“Não me diga que o Inspetor tem saudades dele?”, implicou.

O inspetor olhou para Kambe com o cenho franzido e torcendo o nariz, “De todas as besteiras que você já disse, essa é a pior”, Haru resmungou novamente, apoiando as costas na parede do elevador, “Só não faz sentido que ele tenha parado os roubos. Ele parece se divertir bastante em incomodar a polícia, não acredito que ele vá sumir sem uma ‘despedida’ dramática”.

“Hum, e se ele tiver ganho medo de si, Inspetor? Pode estar só a fazer as coisas de forma mais discreta agora.”

O polícia franziu o sobrolho, “Ele não se atreveria a fazer isso. É cobarde, mas nem tanto.”

“Bem, também pode ter desistido da vida do crime.”, deu de ombros e acendeu um charuto mal saiu do elevador, “Quem sabe. Em todo o caso a minha prima tem delirado com o Clube de Fãs.”

Haru o seguiu, “Suzue-san? Como assim?”.

Kambe rolou os olhos, “Ela passa horas nos fóruns a discutir teorias e a ler comentários das outras pessoas”

O mais velho continuou a segui-lo pelo corredor, os dois se encaminhando para o terraço, onde o helicóptero de Kambe os aguardava, “Por favor, me diga que é para uso profissional…”

“Acredito que sim. Suzue não me parece o tipo de pessoa que seria fã de um ‘criminoso pervertido’, como você gosta de chamar.”

“Eu chamo-o assim porque ele é um criminoso pervertido!”

Kambe pestanejou, “Em que sentido? Nunca ninguém escreveu nada sobre isso nas notícias.”

“No sentido de--”, Haru corou, cobrindo a boca com a mão ao se lembrar do beijo. Kambe sorriu de lado ao perceber a timidez do mais velho, e o inspetor apenas deu de ombros, “Esquece”.

“Oh? O senhor Inspetor sabe de algo que eu não sei?”, Kambe implicou, e Haru o olhou enquanto fazia biquinho, “Sim, eu sei que vocês dois são idiotas.”

“Não parece muito correto chamar a pessoa que paga, no momento, parte do teu salário ou o criminoso que consegue sempre fugir de idiota.”, sorriu inocentemente e deu um longo trago no seu charuto, “Parece que o idiota não é nenhum de nós, Inspetor.”

Haru colocou as mãos nos bolsos, e Kambe acenou para que o helicóptero fosse ligado. Os dois entraram no helicóptero e, se comunicando com dificuldades, o inspetor perguntou: "Aonde vamos?"

"Tenho uma reunião na cidade vizinha."

“E porque raio eu tenho de vir?”

Kambe sorriu, “Porque eu mando.”

 

 

Mal a localização do GPS indicou que o helicóptero estava próximo do seu destino, Suzue sorriu satisfeita e levantou-se. Acabou de beber o seu café, atirando a embalagem para o lixo com uma excelente pontaria e espreguiçou-se por um breve momento.

Ia só trocar de roupa e era hora.

 

 

Haru estava a cada minuto mais confuso: sabia que havia sido contratado por Kambe como um 'guarda-costas' enquanto o Mascarado não fosse pego, mas o inspetor realmente não via motivos dele seguir para uma enorme mansão, a acompanhar um bilionário que tinha diversas pessoas a trabalhar pela sua segurança só porque ele tinha uma reunião qualquer com outro bilionário. 

Ele realmente não entendia pessoas ricas. 

"Quieto", Kambe disse.

"Não disse nada!"

"Mas está pensando demais."

“Não estou.”

“Estás sim.”

Haru bufou irritadinho e cruzou os braços, “Não estou.”

“Estás.” , continuou a insistir, “E vais ganhar ainda mais rugas na testa se continuas a franzi-la tanto.”

O inspetor piscou, nem percebendo que realmente estava com o cenho franzido.

“Eu tenho rugas?”

Kambe sorriu, “Algumas… não me diga que pensa tanto no Mascarado a ponto de criar rugas por ele?”

Haru corou de leve, desviando o olhar para a vista fora do helicóptero. Estava tão na cara assim que aquele idiota não saía de seus pensamentos?

Kambe não esperava por aquela reação, e um misto de euforia e ciúmes (sim, ciúmes) aflorou no seu peito. Por que Haru não pensava em si?

“Não se preocupe, Inspetor. Voltamos ainda hoje para casa”.

“Eu não estou preocupado.”, resmungou.

Kambe mordeu levemente o lábio antes que o questionar, “Se chegarmos cedo podiamos ir jantar…”

O inspetor piscou, assentindo, “Pode ser, tem uma lojinha que vende lamen no centro. São bons...”

O moreno nem queria acreditar que ele tinha aceite o convite. Tentou esconder o sorriso ao olhar pela janela.

“Eu nunca comi lamen. Sem ser em restaurantes, digo.”

Haru sorriu, erguendo o polegar para Kambe, “Então podemos comprar diversos sabores e experimentar! A Saeki disse que o sabor ‘camarão picante’ é muito gostoso, mas ainda não tive tempo de provar. Podemos prepará-los na minha casa”.

Oh Haru estava a convidá-lo para sua casa! Kambe pigarreou levemente, “Por mim, tudo bem.”

O inspetor voltou a sorrir, "Certo, então está combinado!".

Kambe tentou ignorar que o seu coração estava pior do que o de uma adolescente.

 

 

Haru saltou para terra firme mal teve oportunidade. Espreguiçou-se, quase ronronando como um gato, “Ah, as minhas costas~ Estalaram todas.”

"Isso é da idade, Inspetor", o bilionário implicou, e Haru soltou um suspiro, "Hm, digamos que meu futon não é muito confortável. Estou economizando para comprar um novo"

Kambe acendeu um charuto e entraram na mansão. Parecia um palácio francês no meio da montanha, rodeado de largos campos e montanhas. Haru tinha até medo de embarrar nalguma coisa e estragar.

“Não me diga que usa assim tanto o seu colchão para fazer coisas indecentes ao ponto de o gastar, Inspetor?”

"Não, ele já estava no apartamento quando me mudei.", explicou. 

“Não pode ser assim.”, sorriu, “Tens de aproveitar melhor a vida. Se já te dói as costas sem fazer nada se calhar é sinal que precisas de animação antes que seja tarde demais.”

Haru corou e bufou, “Eu tenho animação que chegue, muito obrigado!”

"Oh? Achei que o inspetor só soubesse se dedicar ao trabalho?"

"Podemos mudar de assunto? Não entendo sua curiosidade sobre a minha vida pessoal!"

Kambe deu uma risada, “Claro,claro. Desculpe inspetor, esqueço-me que é tão tímido."

Suspirou, esfregando os olhos, "Não sou tímido, só acho que trabalhamos melhor se mantivermos nossas vidas pessoais de lado".

“Como queira.”, disse no mesmo tom leve, apesar de na realidade aquele afastamento de Haru lhe doer um pouco. Se fosse com o Mascarado ele não se ia afastar.

Decidiu que não iria fazer mais perguntas, mesmo que quisesse saber tudo sobre o detetive.

Desceram até à escritório principal da mansão, o outro negociante já estava lá dentro e Kambe suspirou, ajeitando a gravata.  “Vou entrar, fica à vontade. A casa é nossa.”

Haru assentiu, mas antes de Kambe entrar, ele sorriu, "Estarei aqui esperando".

O milionário tossiu levemente, aproveitando o movimento para esconder o rosto e não deixar que o leve corado das suas bochechas ficasse visível. 

 

 

Haru sentou-se na poltrona de veludo avermelhado que tinha no corredor e cruzou as pernas, ficando a olhar para o jardim pelas enormes janelas.

Devia ser bom ser rico.

Ele lia coisas no telemóvel e jogava. Fez dois ou três telefonemas com Saeki por causa de trabalho.

Eventualmente começou a anoitecer. As tardes de inverno eram sempre muito curtas. Levantou-se para se espreguiçar, entediado e foi então que viu uma sombra passar na entrada.

Com cuidado, se aproximou das enormes janelas, tentando perceber alguma coisa. E então, percebeu um vulto a subir para o telhado.

“Droga!”.

Arregaçou as mangas e desceu as enormes escadas da entrada de duas em duas, a sua adrenalina disparando de imediato. Saiu pela porta principal até ao jardim da frente e virou-se em direção da casa, vendo o vulto a chegar já às varandas de cima.

“HEY!”

O vulto o ignorou completamente, e Haru praguejou para si mesmo antes de se aproximar do local por onde o outro havia subido. Ele percebeu que as plantas dali formavam uma espécie de escada, e prontamente as utilizou para segui-lo.

“Eu não sou pago o bastante para isso”.

Assim que chegou ao telhado, voltou a saltar para conseguir ir atrás dele, “Imbecil! Pára!”

O vulto, então, parou de correr, e Haru piscou.

“Quem… é você?”

Olhou de cima a baixo para a figura e franziu o sobrolho. Era uma mulher, isso não havia dúvidas. O fato justo ao corpo de um tecido negro deixava as curvas bem claras. Tinha um capacete na cabeça, também negro, que tinha...orelhas de gato.

A mulher riu baixo, “Muito prazer, Inspetor Katou. Já ouvi falar muito do senhor.”

Haru ficou em defesa imediatamente, o cenho franzido.

Ótimo, agora eram dois lunáticos por aí.

“Não me diga que você é amiga do Mascarado. Isso faz você o que? Capacete de Gatinha?”

Ela voltou a rir, com vontade. Tal como o idiota do Mascarado, ela tinha uma voz suave.

“Bem, na internet chamam-me Lady Night. Um tanto pomposo, mas acho engraçado.”, cruzou os braços, “Posso ser amiga do Mascarado, como posso vir tentar matá-lo. Quem sabe? Pensei que os detetives gostavam de descobrir coisas.”

O olhar de Haru demonstrou sua preocupação, e ele ficou tenso.

“O Mascarado está aqui? E você quer matá-lo?”

Lady Night riu novamente, colocando a mão na cintura, “Ora, Inspetor… Parece que você é mais ingênuo do que eu imaginava”.

Ele franziu o sobrolho. O Mascarado não podia estar ali. Não tinha recebido nenhuma carta. Aliás, fazia imensos dias que não recebia nada. Era estranho…

“O que fizeste com ele?”

Ela sorriu, colocando o indicador direito em frente ao rosto como se pedisse silêncio.

“Eu? Não fiz nada, Inspetor.”, disse e mandou um beijinho ao policial, “Pelo menos, não até agora”, disse e saiu dali a correr.

“Hey!”, voltou a berrar irritado e bufou, puxando-se pelo telhado para correr atrás dela. Era rápida e ágil como um gato. Merda.

Lady Night desceu por uma das varandas e entrou na mansão pela janela, Haru fez o mesmo e deu um estalido com a língua quando as luzes foram abaixo.

Retirou as algemas do bolso da jaqueta, começando a caminhar com calma e atento.

A luz que entrava pelas janelas era pouca e só iluminava parte dos corredores, conseguia perceber que estava do mesmo lado onde o escritório ficava. Susteve a respiração ao ouvir ruído e logo reconheceu a voz de Kambe e a porta do escritório a abrir, “Isso é meu!”

Haru viu Lady Night empurrar Kambe, que acabou se desequilibrando e caindo sem jeito no chão.

“Kambe!”, o inspetor correu até ele, se ajoelhando ao seu lado, “Você está bem? O que aconteceu?”

Ele sentou-se, esfregando a testa. Estava irritadinho.

“Eu estou bem, ela atirou-me para fora do escritório.”, resmungou.

O inspetor olhou para a porta fechada, voltando sua atenção mais uma vez ao rapaz ao seu lado.

“Você está bem mesmo?”, questionou, e Kambe assentiu.

“Sim. Pode ir atrás dela”, garantiu, não aceitando a ajuda de Haru para se levantar.

Haru, então, chutou a porta do escritório, conseguindo arrombar a fechadura, e entrou no aposento. As luzes estavam apagadas, e a janela aberta mostrava que  Lady Night havia conseguido fugir. 

“Droga!”, ele resmungou, aproximando-se da janela, e foi num susto que ele encontrou um homem desacordado no chão, “Kambe, ela fugiu. Preciso de ajuda aqui!”

Kambe entrou no escritório e acendeu as luzes, se aproximando de Haru, que checava o pulso do homem. Ao perceber que ele estava bem, suspirou, “Desculpe, não consegui impedir que ela fugisse…”

O milionário esfregava a testa, tinha batido com a cabeça e agora ia ficar com um galo certamente. Abanou com a cabeça, “Ele está bem? Melhor chamar uma ambulância.”

Haru assentiu, “Sim, é uma boa ideia”, disse. Kambe ligou imediatamente para a emergência, e em poucos minutos seu sócio era levado até o hospital.

Haru deu as informações necessárias para os médicos e policiais que se encaminharam até o local, e após serem liberados, ele se aproximou de Kambe, que tinha um saco de gelo na testa.

“Você está bem?”, perguntou, realmente preocupado, e sentou-se ao lado do mais jovem, “Estamos liberados, podemos ir embora…”

Kambe suspirou, “Sim.  Vamos.”

Haru abanou com a cabeça e segurou no pulso dele para afastar o gelo, “Deixa ver como está.”

Não que o bilionário não soubesse que Haru era uma boa pessoa que se preocupava com os demais, ele só não esperava que o inspetor pudesse se preocupar consigo. Tinha consciência de que vivia a implicar com o mais velho, tanto como Daisuke como quando disfarçado de Mascarado, então ver Haru analisar sua testa avermelhada e inchada com tanto carinho fez Kambe corar de leve. Censurava a si mesmo por parecer um adolescente apaixonado, mas… ele se sentia um adolescente apaixonado.

Apaixonado por Haru.

“Estou bem”, ele disse, sem conseguir encarar o policial, e Haru sorriu de leve antes de encostar o gelo novamente em sua testa.

“Ainda quer comer lamen lá em casa?”, convidou.

No meio de toda a confusão, Kambe já nem lembrava mais disso e voltou a encará-lo, dando-lhe uma resposta sincera, “Eu adoraria.”

O inspetor sorriu gentilmente, colocando sua jaqueta sobre os ombros do mais jovem.

“Certo, prometo que será divertido”, garantiu.

 

 

O apartamento de Haru era muito pequeno, na opinião de Kambe. Não que fosse um local apertado ou desconfortável, mas o próprio quarto do bilionário era praticamente daquele tamanho.

Após alguns minutos escolhendo quais sabores de lamen eles experimentariam naquela noite, os dois seguiram até onde o inspetor morava, e quando Kambe retirou os sapatos na porta de entrada, ficou surpreso ao ver que um lar inteiro caberia num único aposento da mansão de sua família. Era outra realidade, e o rapaz não conseguiu esconder sua curiosidade: para aproveitar melhor o pouco espaço, todos os móveis eram muito bem projetados, e Kambe ficou a analisar tudo o que não conhecia.

Haru não se importou com aquilo. Sabia que o mais jovem não mexia nas suas coisas por maldade, e apenas achou engraçado que Kambe, sempre uma pessoa tão comportada e cheia de etiquetas, agora ficava surpreso que havia um compartimento sob a cama de Haru para guardar um segundo futon.

“Inspetor, por que há uma gaveta vazia debaixo da sua cama?”, ele questionou enquanto Haru aquecia a água para os lamens.

“Caso eu tivesse um outro futon, ele ficaria aí”, Haru explicou, “Mas como mal tenho dinheiro para trocar um, imagine ter um extra”, ele riu.

Kambe piscou, olhando então para a cama do inspetor. O futon era muito mais fino do que o necessário, indicando a má qualidade e que era uma peça velha, e só de tocar nele Kambe conseguia entender a dor nas costas de Haru.

“Entendi”, disse e se ergueu, seguindo até o banheiro, cheio de curiosidades, “Inspetor, por que há um tanque aqui dentro?”

“É a banheira, Kambe”

“É minúscula!”

“Todo o apartamento é minúsculo, Kambe”, Haru riu.

Kambe encarou-o com alguma confusão, “Eu pensei que os polícias tinham um bom salário?”

Haru voltou a rir, “Ah sim, é os polícias e os professores, sem dúvida alguma. Depende, os de cargo alto ganham. Eu não.”

“Eu acho que tu és um polícia competente. Posso sugerir um aumento ao teu chefe e-”

“Não é necessário”, Haru o interrompeu, desligando o fogo e levando a chaleira para a mesinha de centro da sala, que servia como mesa de jantar, “Ganho pouco, mas é o suficiente. Moro perto do trabalho, então posso ir a pé; o apartamento tem tudo o que preciso; vivo só, então não gasto muito… estou bem assim”, sorriu.

Kambe mordeu levemente o lábio. Não fazia sentido. Com mais dinheiro podia comprar uma cama melhor, uma chaleira nova que não tivesse partida, um aquecedor que realmente aquecesse aquela casa gelada… Tudo isso serviria para o seu conforto.

“Certo…”

“Ora, ora”, Haru riu, abanando a mão na frente do rosto, “Viemos pra cá para comer e relaxar depois de uma noite difícil. Então é exatamente isso que vamos fazer!”, disse, colocando todos os potinhos de lamen na frente de Kambe, “Sua única preocupação agora é decidir qual sabor você vai comer primeiro!”.

Kambe pestanejou e olhou para os potinhos com alguma confusão, “Parecem todos… iguais?”

Haru riu e apontou para um dos picantes, “Prova esse.”

O mais jovem piscou, mas assentiu e Haru retirou o lacre do potinho, colocando a água quente ali dentro. Para si, pegou um de carne, já que teria um sabor mais suave caso Kambe não gostasse do apimentado.

“Temos que esperar três minutos e depois colocamos o tempero”, explicou, sacudindo o saquinho do tempero, “Quer beber o que?”, perguntou.

Kambe pestanejou, “Eu não sei o que se bebe com este tipo de comida…?”

Haru voltou a rir, “Vou buscar cerveja e sake.”

 

 

Acontece que Kambe gostava de lamen instantâneo e acontece também que a cerveja barata não era assim tão má.

Como é que ele nunca tinha comido aquela bomba de sódio? Era fantástico.  A partir da quarta cerveja, Kambe via já tudo um tanto em câmera lenta e Haru, também zonzo, ria como um condenado do filme que passava na televisão.

Kambe não conseguia prestar atenção no filme. Estava bêbado demais para entender quem era quem, qual a narrativa e se alguma coisa realmente fazia sentido… Mas ele conseguia perceber como Haru se divertia. Mesmo com a televisão pequena, mesmo sentado numa almofada no chão, mesmo com cerveja barata e quente… Haru estava feliz.

“Oi, Kambe?”, Haru chamou, acenando na frente dos olhos do moreno.

Kambe piscou, o encarando, “Oi?”

“Está ficando tarde, acho melhor você dormir aqui…”, sorriu, “Eu posso emprestar uma roupa para você.”

“Eu não tenho sono.”, ele disse com um bocejo e pestanejou para manter os olhos abertos, ”Não quero incomodar.”

Haru riu e pousou a mão no ombro dele para se apoiar e levantar, “Não incomodas.”

O bilionário corou de leve com o toque, e olhou para trás, vendo Haru escolher uma roupa limpa e confortável para si, “Hm… acho que vai ficar um pouco grande, mas estão limpinhas”, ele sorriu, “Se quiser usar a banheira, fique a vontade, eu tomo uma ducha depois”, disse e também lhe deu toalhas limpas.

Kambe agradeceu e foi para a casa de banho. Não tinha sequer aquecedor de toalhas, mas ele sabia que sobreviveria. Tentou não se demorar muito, aproveitando o banho como podia antes de ir vestir as roupas do inspetor. É, ficavam-lhe grandes. Mas eram tão confortáveis e tinham um cheirinho tão bom…

Saiu do banheiro e voltou para a sala/quarto de Haru, onde o mais velho ajeitava uns cobertores no chão. Ao olhar para aquilo, Kambe piscou, e o inspetor sorriu, “Você fica com a cama, eu durmo no chão.”.

“Isso não me parece muito justo. Estás sempre a reclamar das costas…”

Haru riu, “Bem, eu não posso deixar a visita dormir no chão, não acha?”, lhe piscou o olho.

Kambe coçou a bochecha levemente, tentando esconder o corado (do álcool, claro), “Ok…”

O inspetor voltou a sorrir, e avisou que iria tomar um banho rápido e que logo poderiam voltar a assistir aos filmes (se Kambe quisesse, claro). Kambe assentiu e foi deitar na cama de Haru para aguardá-lo.

O futon era mesmo desconfortável (muito diferente do seu colchão de molas), mas o travesseiro era macio. O cheiro de Haru estava por todo lado, e Kambe abraçou um punhado dos lençóis para aproximá-lo do nariz.

Ah… era tão gostoso…

Quando Haru saiu do banho, Kambe já estava adormecido. O inspetor não evitou um sorriso e apagou as luzes antes de ir se deitar sobre as cobertas no chão.

Kambe até que era fofo quando estava dormindo…


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