— Você não adora casamentos, Crowley? - perguntou Aziraphale, sorrindo.

— Não! Não entendo porque alguém decide se juntar a outra pessoa pelo resto da vida. Discutir sobre a tampa da privada, toalha na cama, roncos… Foi por isso que criei o divórcio - disse o demônio.

— Isso é um absurdo! Eu conheço humanos que tiveram uma boa vida juntos. Eu acho o casamento um acontecimento maravilhoso em que duas pessoas que se amam  ficam juntas.

— Então você gostaria de se casar… - disse Crowley, observando atentamente a reação de Aziraphale - Hipoteticamente.

O anjo corou, desviando o olhar para Donna e seu novo marido Shawn, enquanto saiam da igreja.

— Não seja ridículo, anjos não se casam! - ele disse.

Crowley apenas concordou, desviando a atenção para Donna novamente.

— Ela parece feliz - disse Aziraphale.

— Sim, apesar de tudo - concordou Crowley. 

— Olha, não é ele alí, o Doutor? - perguntou Aziraphale, olhando para o portão.

— Arg! Ele parece horrível! O que será que aconteceu? - disse Crowley.

— Ele perdeu a melhor amiga - disse Aziraphale, e Crowley concordou, sentindo-se terrível. Ele se lembrava de ter vivido algo semelhante. Não era o tipo de experiencia que ele recomendaria, nem mesmo aos seus inimigos.

— É… Eu sei qual é o sentimento - ele disse, olhando com carinho para o anjo, que corou, escondendo um sorriso - Talvez pudéssemos fazer algo por ele.

— Ah! Então você não o odeia tanto assim, afinal… - sorriu Aziraphale.

— É… Ele não é tão ruim…

— Crowley, o que é aquilo? - perguntou Aziraphale.

— Parece… Um bilhete de loteria. Que presente barato para um casamento!

— Não, meu caro! Ele é um Senhor do Tempo!

— Oh! Quer dizer que o bilhete… Ah! Gostei! 

— Mas isso não seria trapacear? - perguntou Aziraphale.

Crowley deu de ombros.

— Sabe, Anjo, eu estive pensando. Talvez seja bom que eu fique de olho neste Doutor. Um Senhor do Tempo andando pela Terra nunca é boa coisa. 

— É mesmo? - perguntou Aziraphale, que conhecia Crowley bem o bastante para saber suas boas intenções.

— Só de vez em quando. Para ter certeza de que ele não vai esbarrar na Donna ou algo assim.

— Ah… Então esse é o seu interesse?

— Claro! Por que mais eu observaria um… Senhor do Tempo?

— Eu pensei que você gostasse dele.

— Nunca mais repita isso! - Crowley ameaçou.

— Não está mais aqui quem falou - o anjo levantou as mãos e ficou em silêncio por um momento - Então você quer manter a Donna segura, não é?

— Ah, sim. Mas só porque esse é o seu trabalho. Não quero que pensem que você é um incompetente lá em cima.

Aziraphale riu. 

— Vamos, eu quero ir à recepção - disse Aziraphale, animado.

— Anjo! Logo você animado para ir a uma festa?

— Eu não quero perder os coquetéis e o jantar! - disse o anjo e Crowley sorriu. Aziraphale era uma gracinha quando ficava animado.

***

— Então era aqui que você estava? - perguntou Aziraphale, ao ver Crowley sentado no banco do parque.

— Anjo! Acabei de chegar. Sorvete?

— Mais tarde, meu caro. Onde você estava mais cedo? Te procurei no seu apartamento e você não estava lá.

— Estava cuidando de umas coisas… Por que, aconteceu alguma coisa?

— Não, eu só fui visitar Donna. 

— Ah! E como ela está?

— Ela está bem. Um pouco cansada, os gêmeos estão dando bastante trabalho - disse Aziraphale.

— Imagino… - Crowley sorriu.

Os dois ficaram num silêncio confortável por alguns segundos.

— Eu odeio Senhores do Tempo - disse Crowley, surpreendendo o anjo.

— Com licença, o que disse?

— Odeio Senhores do Tempo. Acredita que tinham três do Doutor hoje? Três! Aquele que você disse que parece comigo, um idoso, e o magro que não tem sobrancelhas.

— Três? Mas isso não fragmentaria o tecido do tempo e espaço?

— Eu sei lá… Só sei que eles estavam lá. Mas agora dois já se foram, só ficou um no fim das contas.

— O bonitinho de terno risca de giz?

— Não! O de gravata borboleta. Mas ele já saiu voando por aí com aquela garota nova, que usa saias curtas.

— A ruiva?

— Não, a morena. 

— Bom, pelo menos terminou tudo bem, não é?

— Acho que sim… Terminou tudo bem.