Nobres Guardiões escrita por Last Mafagafo


Capítulo 1
Infância


Notas iniciais do capítulo

Se existe algo em Doctor Who que parece um Plano Inefável é o fato da Donna ser a mulher mais importante do universo.



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Crowley finalmente encontrou Aziraphale. Ele estava na casa de outra pessoa, em Chiswick, vigiando um bebê. O que diabos o anjo poderia estar fazendo lá?

— Aqui está você, Anjo! Estava te esperando no Ritz! - reclamou Crowley.

— Era hoje? Oh, céus! Me perdoe, Crowley! Eu esqueci completamente do nosso compromisso hoje!

Crowley não gostou nada de ouvir aquilo. Aziraphale nunca se esquecia dos seus almoços. Em 3 mil anos, ele nunca havia cancelado um compromisso, muito menos faltado. O que, em todo o universo, poderia ser mais importante que um encontro no Ritz?

— O que você está fazendo aqui? - perguntou o demônio, olhando para a pequena bebezinha dormindo tranquilamente em seu berço. Ela tinha cabelos ruivos como os dele.

— Ah! Eu sou um anjo da guarda agora! - disse Aziraphale, todo orgulhoso.

— Um anjo da guarda? Isso não é trabalho para um anjo comum? Pensei que você era um príncipe ou algo assim - disse Crowley, torcendo o nariz.

— Exatamente por ser um príncipe que estou com essa missão. Eu convivo com os humanos para protegê-los e inspirá-los. E é isso o que fui designado a fazer por essa menininha - disse Aziraphale, cheio de carinho pela criança.

— Ela? Mas o que esse bebê tem de especial?

— Me disseram que ela será importante. A mulher mais importante de todo o universo!

O bebê se mexeu, abrindo os olhinhos. Ela sorriu para o anjo e Aziraphale brincou com ela por alguns momentos. Ela então viu Crowley, e estendeu as mãozinhas para ele. Aziraphale riu.

— Olha só! Ela gostou de você!

Crowley fingiu ignorar o bebê, apesar de estar tentado a segurá-la no colo. Ela até que era fofinha.

— Qual o nome da criança?

— Donna Noble - disse Aziraphale.

— Hum… Achei um pouco pomposo… - ele mentiu. No fundo ele achou extremamente apropriado para alguém que seria tão importante como o anjo havia dito.

— Eu acho que combina com ela. Donna… - o anjo sorriu novamente, cheio de carinho.

— Papai, só espera um minuto. Acho que Donna já deve estar acordando - disse uma voz feminina, vinda do corredor. Era a mãe de Donna, e ela estava chegando. Os dois precisavam sair dali o mais rápido possível.

— Você nos faz desaparecer ou eu faço? - perguntou Aziraphale.

— Seu bebê, você faz - disse Crowley, dando de ombros.

O anjo estalou os dedos e, de repente, eles se tornaram invisíveis. Naquele momento uma mulher loira entrou, e encontrou a pequena Donna olhando para a janela, como se ela estivesse observando algo. No entanto, Sylvia não se preocupou com aquilo. Ela simplesmente pegou a menininha no colo.

— Pronta para mamar? - perguntou Sylvia, levando a pequena Donna para fora do quarto.

Donna estendeu a mão para seu anjo da guarda e seu… amigo demônio, mas ela não conseguiu alcançá-los. Enquanto isso sua mãe continuou a levá-la para longe do quarto, o que fez o bebezinho começar a chorar. 

— Olha só Crowley! Você tem um talento nato com bebês! Você deveria ser um… um demônio da guarda? Existe isso? - disse Aziraphale.

— Você está mesmo sugerindo que um demônio comece a seguir a vida de uma criancinha para tentá-la ao caminho do mal desde o nascimento, anjo? - perguntou Crowley, uma sobrancelha arqueada.

— Oh, não! Isso seria horrível!

— Eu imaginei - disse Crowley, sorrindo - E então, vamos ao Ritz? Com sorte conseguimos jantar.

— Vamos - sorriu Aziraphale.

 

***

 

Crowley não conseguia parar de rir. Era impossível! Mesmo quando Aziraphale o olhava com tamanha desaprovação.

— Isso não é engraçado! - disse Aziraphale, contrariado.

— É sim! Você tem que admitir. Pelo menos um pouco - disse Crowley, com o tom de voz que ele sempre usava quando queria tentar Aziraphale a algo um pouco menos angelical.

— Talvez um pouco… - Aziraphale sorriu, antes de voltar a sua postura de anjo responsável - Não, não é! Ela mordeu o amiguinho! Isso não está certo!

— Ele mereceu! - disse Crowley - Quem mandou ficar puxando o cabelo dela? E foi só uma mordida no braço, ele vai superar.

— Foi você, não foi? Eu sabia que você deveria estar metido nisso!

— Por mais que eu quisesse dizer que sim, não. Foi tudo obra dela, eu não tive nada a ver com isso.

— Oh Meu Deus! O que eu faço agora? Eles vão brigar comigo, ela não deveria ficar arranjando confusão na escola. Eu já consigo imaginar o sermão que o Gabriel vai me passar… Oh, céus! Ele provavelmente vai aparecer na minha loja!

Crowley fez uma careta. Se o Gabriel fosse se envolver, ele realmente não gostaria de estar por perto. O sujeito era extremamente desagradável. Mesmo quando Crowley ainda frequentava o Céu, ele já não ia muito com a cara do arcanjo. Muito esnobe.

— Se acalma, Anjo. Não vai acontecer nada. Ela é só uma criança. Você vai ver. Sussurra algumas palavras de sabedoria enquanto ela estiver dormindo e Donna Noble volta a ser uma menininha comportada em dois tempos, pode acreditar.

— Você acha mesmo? - perguntou Aziraphale, cheio de esperança.

— É… Você se estressa demais!

 

***

 

— Strathclyde! Como essa menina veio parar em Strathclyde sozinha? É o meu fim! Eles vão me jogar no fogo depois dessa - disse Aziraphale, desesperando-se, enquanto observava a menininha ruiva sentada no ponto de ônibus, mantendo uma distância segura.

— Não é sua culpa, Anjo. Se acalma.

— Como eu posso me acalmar? Eu estou falhando no meu dever de anjo, e isso terá consequências! Ela podia ter se machucado! Ou caído num buraco! Ou ela poderia ter sido sequestrada! Ou pior!

— Não se preocupa, Anjo. Eu estava com ela - disse Crowley, colocando as mãos nos bolsos de maneira casual e despreocupada.

— Então foi você? - perguntou o anjo.

— Não! Eu sei que gosto de tentar as pessoas, mas eu não iria arriscar a vida da Donna. Eu só a segui para garantir que nada de ruim iria acontecer com ela. Só isso.

— Como um anjo da guarda? - sorriu Aziraphale. Crowley era mais aparências que qualquer coisa. Ele nunca havia conhecido um demônio mais sensível e amoroso que Crowley.

— Nunca mais ouse dizer algo assim! - disse Crowley, fingindo sentir náuseas - Eu sou um demônio! Demônio! Entendeu?

— Está bem! Está bem! Eu não falo isso de novo.

Aziraphale sentou-se ao lado de Donna no banco de madeira. A menininha de cinco anos parecia assustada e perdida, e o anjo sabia que ela estava começando a se arrepender. Ainda assim, ela não chorou. Pelo contrário, ela segurou o choro e olhou para cima. Donna sabia que ela havia entrado naquela bagunça por conta própria, e ela estava determinada a resolver. 

— Você está bem, querida? - perguntou o anjo, amável.

— Eu não posso falar com estranhos! - ela respondeu.

Aziraphale sorriu. Ao menos ela havia aprendido bem.

Crowley sentou-se ao lado do anjo e olhou para o ponto do ônibus, que estava deserto. Mas pelos cantos dos olhos ele observava Donna.

— Você tem o cabelo igual ao meu - disse Donna, sorrindo.

— Eu tenho - ele disse.

— Você gosta do seu cabelo? - ela perguntou, insegura. Aziraphale sabia que Donna não gostava muito de ser ruiva. As crianças na escola a chamavam de água de salsicha.

— Gosto! Eu jamais escolheria qualquer outra cor de cabelo.

— Nem loiro? - ela perguntou, admirada.

— Bah! Loiro não tem graça! Olha o cabelo dele… Comum, sem sal… - disse Crowley.

— Você também não precisa me ofender. Eu acho meu cabelo bonito e muito apropriado ao meu dever… - reclamou Aziraphale, sentindo-se um pouco ofendido.

Donna riu.

— Vocês são namorados? - ela perguntou.

— Oh, céus! Não! - disse Aziraphale, desviando o olhar de Crowley.

— O diabo que eu sou! - disse Crowley, também sem coragem de ver Aziraphale. 

Mas quando os dois perceberam a recusa tão veemente do outro, eles olharam-se ofendidos. Donna riu novamente.

— Pois eu acho que vocês são! Não precisa ter vergonha! Eu acho legal! - disse a menininha, balançando os pés.

Foi então que o carro parou em frente ao banco, e de lá saiu uma mulher loira, terrivelmente preocupada.

— Donna Noble, você tem noção de como eu fiquei preocupada? O que você tem na cabeça? Fugindo de casa, vindo até aqui… Você está de castigo, mocinha! Você nunca mais vai sair de casa até os dezoito anos, me ouviu?

— Mas mãe…

— Sem mais! Vamos, entre no carro!

— Calma, Sylvia! Assim você vai assustar a menina! - disse Wilf, que estava sentado no banco de trás.

— Que calma, pai? Como eu posso ter calma depois dela me aprontar essa? Vamos, Donna! Entra! Hoje eu estou sem paciência para você, mocinha!

Donna entrou no carro, sentando-se ao lado do avô, que a abraçou com força. Ela viu a imagem do pai refletida pelo retrovisor, enquanto ele sorria simpaticamente a ela.  Ao menos dois aliados. Sua mãe era quem parecia mais assustadoramente irritada, mas Donna já sabia que, se ela ficasse quietinha por algum tempo, sua mãe esqueceria. Ela olhou para trás, através da janela do carro, para se despedir de seus novos amigos, mas não havia ninguém mais sentado no ponto de ônibus. Os dois já haviam saído.  


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