Dark End Of The Street escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 21
Tênue




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— Barry? O que está fazendo aqui?

Barry a abraçou como se esperasse que aquele aperto dolorido em seu peito cessasse imediatamente.

No entanto, apesar de alívio que sentia por tê-la contra si, apenas abraçando-o de volta sem compreender o que fazia ali, ainda sentia aquela urgência em si, o que fazia com quem quisesse mantê-la perto. Com um suspiro pesado, tentando controlar a respiração, descansou o rosto contra os cabelos macios, se deixando envolver naquele perfume, tão conhecido ao mesmo tempo em que não sabia sê-lo.

— Você está bem? – Ela murmurou em seu ouvido, tateando suas costas e costelas para verificar se havia algum ferimento, pois Barry se recusava a se afastar por qualquer motivo que fosse. – O que está acontecendo?

— Estou bem.

Sua própria voz, rouca e sem força, lhe pareceu estranha, mas Caitlin desistiu de procurar explicações só por um momento e o abraçou de volta, descansado a cabeça contra seu ombro. Ao mesmo tempo em que era perturbador tê-la tão junto de si, tendo que se lembrar a todo o instante que aquela não era a mulher do seu sonho, mas apenas sua amiga, era reconfortante a consciência de que o aceitava de bom grado, enquanto a versão de seu lapso não suportava encará-lo.

Barry não gostaria de viver em uma realidade onde ela não pudesse mais olhá-lo, de qualquer forma que fosse. Seu corpo ainda parecia reviver aquela situação, fazendo com que sentisse exatamente aquela agonia dolorida ao vê-la arrumar suas coisas sem poder fazer nada ou, simplesmente, notar como o brilho dos olhos dela parecia sem vida, apesar das lágrimas.

— Barry? – Caitlin sussurrou quando a apertou um pouco mais forte e ele se separou minimamente para fitá-la. – Me conte o que houve.

Apesar do tom de compreensão, suas feições estavam preocupadas e o cenho franzido, tentando lê-lo. Temeroso, engoliu em seco e se afastou, mais subitamente do que gostaria, fechando as mãos em punho para tentar conter a própria adrenalina ao mesmo tempo em que tentava encontrar as palavras certas.

— Eu só... Vim saber se estava... Você sabe, tudo bem.

Notou que gaguejou mais que de costume, assim como o olhar de Caitlin analisou sua mentira em um meneio de cabeça. Então, ela passou por ele para fechar a porta às suas costas, que ainda estava aberta e sustentou o silêncio por um momento enquanto Barry analisava superficialmente o quarto espaçoso e muito confortável, onde ela vivera nas últimas semanas.

— Com o que sonhou dessa vez? – A voz soou suave ainda às suas costas e todo seu corpo tensionou. – Sei que você não apareceria no meio da noite sem um motivo muito específico.

É claro que ela faria essa pergunta e gostaria de ouvir um motivo mais plausível do que verificar sua integridade física, pois Cait e Frost eram bastante capazes de se defender. Iria a qualquer lugar se precisassem, mas a realidade é que não precisavam. Então, se voltou a ela, apoiada contra a porta, uma mão na maçaneta, o encarando muito intimidadora enquanto esperava seu tempo. No entanto, associou a intimidação à situação como um todo, especialmente ao fato de que a doutora ainda esperava uma resposta que não podia dar a ela.

— Sonhei com você. – Não identificou nenhuma surpresa nas feições delicadas. – Sonhei que... Ia embora e, por isso, precisei saber se estava... Aqui.

Não soube ler exatamente as feições de Caitlin, pois os olhos deixaram de encará-lo por um momento um tanto torturante. Ela parecia pensativa e pareceu ter vislumbrado um traço de ironia com falta de entendimento, que logo se apagou em seu rosto quando voltou a olhá-lo, alimentando aquele brilho costumeiro de que era bem-vindo acompanhado de um sorriso muito discreto, que suavizasse suas expressões.

— Eu sempre vou estar aqui.

— Eu sei. – Respirou fundo, levando as duas mãos aos olhos, notando-os um tanto molhados e ardidos. Não queria sequer imaginar como ele mesmo parecia naquele instante em sua bagunça privada. – Eu sei, me desculpe.

— Barry... – A viu pensar por um momento, mordendo os lábios à procura de palavras. – Sei que, às vezes, as coisas podem ficar complicadas, mas... Você não vai perder mais ninguém.

Quis contar que não estava preocupado com mais ninguém, nem com o time nem mesmo com sua família, mas somente com ela, pois ao mesmo tempo que tinha consciência de como tê-la em sua vida era essencial e que Caitlin estava lá por ele, ironicamente vinha um sonho como aquele, como que para lhe deixar claro o quão tênue poderia ser a presença dela. Sentia não saber mais como distinguir a mulher de seus sonhos da sua amiga e isso estava acabando com ele.

— É, sim... Eu sei, eu... – Engoliu em seco e balançou a cabeça. – Me desculpe por te acordar, eu... Eu vou voltar para casa.

— Não nesse estado. – Caitlin determinou, passando por ele em direção a um aparador de madeira, onde havia um frigobar embutido, de lá tirando uma garrafa d’água e um pote com o que parecia ser vários bombons, o qual colocou sobre a espaçosa mesa de cabeceira encarando-o à procura de qualquer sinal de que faria uma besteira. – Tome um pouco d’água e respire.

Silenciosa e resignadamente, Barry abriu a garrafa e fez o que ela mandou, muito rapidamente. Estava realmente com sede, pois sequer pensara nisso ao sair rapidamente do flat. Sentando-se aos pés da cama, enquanto analisava o tapete felpudo aos seus pés considerou a falta de sentido em ir até Princeton de madrugada apenas porque não soubera controlar suas emoções devido a um mero sonho.

No fim das contas, escolhera contar a Cisco e procurar ajuda no momento certo. Sentia o controle sobre sua própria mente e vontade se esvaindo aos poucos. Estar ali significava o produto do seu impulso e não houvera uma única vez que conseguira controlá-lo antes de tudo desandar. Notou que ela também se acomodou, mas onde deveria ser seu lugar, do lado direito, encostada à confortável cabeceira almofadada de cor rosa pastel. 

— Está tudo bem. Você sabe, ter vindo até aqui... – Ela pareceu hesitante por um momento, onde cruzou as pernas e girando um dos chocolates que tinha entre os dedos. –  Durante a Crise, quando ficamos sabendo que você teria que se sacrificar... Houveram noites em que quis fazer o mesmo. Apenas... Ir até sua casa para ter certeza de que estava bem. Quero dizer, sei que aquele foi seu pior momento e o tempo mais delicado para o time em si, mas... A ideia de não tê-lo, de que conscientemente vinha se despedindo de todos nós, era... Desesperadora.

Manteve o contato com os olhos brilhantes até que ela os desviasse novamente e, com um suspiro, Barry se levantou para se aproximar, sentando-se próximo à mesinha de cabeceira, de frente para ela. Se lembrou do dia em que a Crise finalmente chegou, quando Caitlin havia dito que salvara a vida dela, apenas porque estava lá, porque lhe dera um propósito, depois de meses achando que não havia mais um, e só então tivera ideia da dimensão de sua própria presença para ela.

Com suas vidas atribuladas e problemas para resolver o tempo todo, quase não tinha tempo para parar e, realmente, pesar suas atitudes e as relações, que vinha cultivando há muito tempo. Caitlin, Cisco e ele se conectaram muito rapidamente e, desde então, automaticamente cuidavam uns dos outros, mas poucas vezes estacara a corrida para considerar quão importante eram; como não seria quem era, não fossem eles. E não apenas como Flash, mas como Barry Allen.

— Porque não me contou?

— Você já tinha muito com o que se preocupar.  

Caitlin deu de ombros, evasiva, e ele franziu o cenho, apertando sua própria mão contra os dedos inquietos dela, para que parasse de brincar com a embalagem do bombom. Notou pelo suspiro pausado que a doutora também estava tensa, talvez por relembrar daqueles dias de Crise. O próprio Barry evitava fazê-lo, na verdade. Recordar essas imagens significava reviver toda uma história, que não acontecera realmente, embora houvesse sido uma possibilidade concreta e completamente aterrorizante por muito tempo.

— Eu vi você morrendo. – A viu prender a respiração. – Não como alguém no meio de uma centena de pessoas, mas... Todas as inúmeras possibilidades em que isso aconteceria, se não fizesse nada na Crise. E só conseguia pensar... Mais do que eu, você precisava de uma chance e... Estaria tudo bem, sabendo que a teve. O time ficaria em boas mãos.

Detestava pensar sobre tudo que havia visto e, pior do que estar consciente de que todos dependiam de sua escolha, fora ver as pessoas que amava mortas. Para além de Iris e a sensação agoniante de estar se despedindo da mulher que amava, sabia que eles mereciam mais, especialmente Caitlin, que sempre colocava o laboratório em primeiro lugar. Como a própria doutora dissera: ela sempre os escolhia. De certa forma, com sua decisão Barry os escolhia de volta, em retribuição pelo que faziam por ele o tempo todo.

— Ah, Barry. – Com os olhos marejados, ela se inclinou para abraçá-lo com um suspiro contido. – Está errado, nada ficaria bem sem você.

Levantou um sorriso amargo e somente a aparou, descansando o queixo em seu ombro. Talvez ela nunca entendesse que não seria um destino melhor, apenas o mais aceitável para Barry. Já que precisava se sacrificar, gostaria de pensar que seria por algo maior – não pelo mundo inteiro, mas por quem amava e não conseguia realizar um mundo sem.

— É que... – De olhos fechados, apenas apreciando tê-la tão próxima por alguns momentos, tentou evitar um suspiro, agoniado e meio sem fôlego, mas foi em vão. – Não gosto de ter que lidar com essa sensação de que... Estou prestes a te perder.  

— Como hoje. – Barry concordou, completamente afundado na textura macia dos cabelos dela, completamente bagunçados. – Sinto muito que tenha que ver todas essas coisas sem poder compartilhar com ninguém. As coisas vão melhorar, depois que minha mãe e Cisco obtiverem o resultado do seu “Registrador”...

Caitlin se separou, segurando seu rosto para passar um dos dedos pelo aparelho em sua têmpora enquanto Barry analisava de volta seu rosto perfeitamente bem desenhado envolto na luz do abajur na mesinha de cabeceira, fora a do pequeno hall do quarto. Nunca havia querido beijá-la tanto como naquele instante. Mesmo um pouco amarrotada, ela ainda parecia linda e charmosa naquela camiseta antiga da banda Blondie, conjunto do short simples e curto – reparou ao abaixar os olhos somente para desviá-los dos lábios dela.

— É... – Engoliu sem seco e buscou um dos chocolates no pote apenas para se distrair. – Eu não sei sobre isso...

— O que quer dizer?

— As coisas nesses sonhos, nesses devaneios, são... Um pouco diferentes. – A observou franzir as sobrancelhas sem compreender. Barry titubeou por alguns segundos ainda, mordendo a parte interna da bochecha ao pensar nas palavras corretas. – Meio que gosto de como elas são.

Pensou naquele sentimento inexplicável que o tomava sempre que, em um devaneio, segurava aquele bebê chamado Bart, assim como o conflito que o alcançava a depender do sonho que tinha com ela – especialmente após ter consciência de que se tratava de Caitlin ou somente uma versão dela.

Às vezes, era dolorido e angustiante, como naquele bar de beira de estrada ainda desconhecido, mas, às vezes, seu corpo inteiro inflamava de dentro para fora, perdido num misto de emoções irregulares, mas bem vindas, apenas por saber que ela estava ao seu lado.

Contudo, nada nunca se igualara ao tom suave e rotineiro, idêntico ao da mulher à sua frente, dizendo que o amava.

— Barry? – Ela chamou sua atenção, apenas o olhando como que esperando que continuasse a explicar seu ponto.

— Quero dizer, exceto por hoje. – Falou rapidamente, vendo as sobrancelhas finas se levantarem pela rápida correção. – Você sabe, parece ser uma boa realidade.

— Se realmente se tratar de uma linha do tempo alternativa ou uma Terra diferente, o que... Ainda não podemos afirmar, certo? – Caitlin disse de forma prática, no que precisou concordar até enfim abrir o chocolate com que brincava distraidamente e comê-lo. – Quer terminar aquele filme que começamos?

Por um momento se perguntou se seria correto continuar, mas as coisas não poderiam ficar mais desfavoráveis a ele do que quando batera à porta dela no meio da madrugada e a abraçara sem uma mísera explicação. Então, considerou a possível bagunça em que estava, ciente de que deveria trabalhar no dia seguinte e que não tinha uma boa noite de sono há semanas.

— Na verdade, acho que quero tentar dormir um pouco.

Ela sorriu lindamente em concordância, se levantando e caminhando em direção à porta larga de correr à direita da entrada, onde deveria ser um conjugado de armário com banheiro. Calmamente, Barry tirou os tênis de corrida e as meias, alinhando-os aos pés da cama.

— Você se importa em dividirmos a cama? – Viu que ela voltava com um edredom nos braços. – Hoje não temos quarto de hóspedes.

— Se estiver tudo bem pra você.

Ela bufou, passando por ele para ajeitar os objetos que estavam sobre a cama, como na noite em que dormira na casa dela. Logo, ambos se encontravam acomodados em completo silêncio, ouvindo apenas o ruído ocasional da cidade praticamente inteira, dormindo fora daquelas janelas.

Podia ouvir o ruído alto da respiração dela e seu perfume parecia estar em todos os lugares. Contudo, se via relaxando a cada minuto que se passava, o estado em que chegara ali se tornando mais e mais distante conforme seus olhos pesavam. Apesar de saber que ela estava ali, ao alcance do toque de sua mão, não se sentia tenso ou nervoso, pois, no fim das contas, era apenas a Caitlin de sempre. Sua Caitlin, não aquela dos sonhos de devaneios.

Provavelmente adormecera antes dela, dessa vez sem sonhos ou pesadelos ou possíveis realidades alternativas. No entanto, a qualidade de seu sono não era mais a mesma e por isso, como de costume, acordara subitamente enquanto ainda amanhecia, a julgar pela turva luz adentrando as janelas de compridas cortinas, completamente abertas.

Meio cambaleando, se levantou para fechá-las e voltou à cama, apenas para notar a figura mal iluminada de Caitlin dormindo profundamente do outro lado. Só então, pela forma pesada e completamente esparramada que a mulher dormia, apenas meio coberta pelo edredom, Barry notou como a cama era grande, pois, ainda assim, ela não ocupava metade do espaço no colchão.

Voltou a se deitar lentamente, tentando não a acordar, embora duvidasse que a doutora o fizesse tão fácil a julgar pela respiração alta e longa. Dessa vez, entretanto, se voltou a ela, observando cada traço da bonita face: da pele perfeitamente cuidada, aos cílios curvados mesmo sem maquiagem e a curva da mandíbula bem desenhada combinando perfeitamente com os lábios cheios minimamente abertos. Notou que suas feições, sempre fechadas pela seriedade, apesar de naturalmente suaves, aparentavam mais paz enquanto ela dormia.   

Tranquilamente, afastou uma mecha de cabelo que caía sobre metade de seu rosto, vendo-a se contorcer como uma gata até encontrar uma posição confortável novamente, de costas para ele, completamente encolhida. Num segundo de insanidade, quis contorná-la com os braços e trazê-la para perto, apenas para sentir o perfume de seu pescoço, mas tudo que lhe restou foram os fios em um tom claro de castanho jogados pelo travesseiro. Barry era fascinado pelos cabelos dela, ainda que naquela desordem bonita da cama. Assim, lentamente torcendo as pontas macias contra o dedo apenas para sentir a textura, seus olhos pesaram novamente.

— Barry. – Sentiu uma mão balançando-o pelo ombro enquanto a voz baixa o chamava, muito próxima. – Barry, você vai se atrasar. 

Não se assustou com o chamado, embora houvesse se voltado para encará-la de forma preguiçosa, como que se esticando e desejando que não precisasse sair. Caitlin tinha os fios tão bagunçados quanto durante a madrugada, mas agora seus olhos estavam estreitos contra a parca claridade que ultrapassava as cortinas, além de inchados por ter acabado de acordar.

— Bom dia.

Como quando atendera à porta, Caitlin parecia linda demais para que conseguisse desviar os olhos, embora soubesse que deveria. Se perguntou se ela acordava assim todos os dias ou se só tinha essa impressão porque sentia seu coração fora do ritmo e todos os seus poros arrepiados apenas por olhá-la.

— O que foi?

Instintivamente, levou um dos dedos para ajeitar os fios ao redor do rosto, sendo apenas acompanhado pelo olhar curioso, que nunca deixava o dele, como que apenas esperando o próximo passo calmamente, como se soubesse o desfecho de sua mão encaixada na curva quente do pescoço macio e das respirações cada vez mais unidas no espaço que restava entre seus lábios molhados.

O olhar de Caitlin percorreu todo o seu rosto, analisando, tentando decifrá-lo, mas não havia ali nada além do fato de que queria beijá-la há tanto tempo que sequer se lembrava. Assim, seus lábios se encaixaram, juntos, não tão superficialmente quanto imaginara e seus olhos continuaram um no outro naquele óbvio teste de causa e consequência, que aparentemente fazia sentido naquele momento.

Ela não se moveu quando se separou para analisar suas feições inteiramente, torcendo para não encontrar nenhum sinal de incômodo ou rejeição. Quando suas bocas se juntaram novamente não havia sido apenas Barry a se aproximar, embora pudesse ver o brilho intrigado nos orbes castanhos. Então, no terceiro e vagaroso selinho, os lábios se abriram macios e receptivos fazendo com suas línguas por instinto se encontrassem, levando a um ofego compartilhado por ambos.

Podia sentir a pulsação rápida da veia artéria de Caitlin logo abaixo de sua mão, apesar de seguirem sem pressa por aquele precipício de sensações inomináveis percorrendo-os. Após todas aquelas semanas, não acreditava que, finalmente, estava beijando-a e que era desse jeito. Sua mão deslizou para a nuca dela, entrelaçando os fios macios aos seus dedos, lentamente apertando-os para levá-los a um novo ângulo, o que a fez gemer baixinho enterrando as unhas em suas costas.

A língua dela girou contra a sua um pouco mais furiosamente, como que para ganhar espaço, enquanto alinhava melhor seus corpos e passeava uma das mãos por seus cabelos, provavelmente mais desordenados que os dela, vez em quando pressionando-o ao ritmo que ela queria e, naquele momento, tudo parecia fácil e instintivo. Era apenas... Natural a forma como se moviam respondendo aos toques e sutilezas um do outro, ainda que estivessem se testando.

Então, tão vagarosamente quanto tudo começara, se separaram minimamente, mantendo seus narizes e respirações ofegantes quase colados, se recuperando de todas aquelas sensações que os atravessava, provavelmente de forma muito diferente. Caitlin se mantinha de olhos fechados e Barry não sabia identificar cada pensamento que se passava por sua mente inquieta. Se parecia muito com o que sentia naqueles sonhos e devaneios, mas havia mais, algo maior e melhor, que nascia da confusão apertada de seu peito. Possivelmente apenas... Realidade. E dessa vez, uma que lhe pertencia.

Pressionando um de seus braços automaticamente, Caitlin abriu os olhos castanhos muito brilhantes para fitá-lo em confusão e surpresa tácitas. O que antes era apenas um teste se tornara um resultado naquilo que se passava silenciosamente entre eles, surpreendente e inesperadamente. Engoliu em seco, pois também não esperava por tanto, um pouco hipnotizado pela visão dos lábios dela. Achava não ser capaz de vê-los mais bonitos do que normalmente, mas lá estava, a centímetros de distância dos seus, vermelhos e inchados pela boca dele.

— Eu não sabia que seria assim.

No momento em que Caitlin abriu a boca para responder, entretanto, o ruído da vibração de um celular se fez presente e ambos se encararam por um momento antes de se desvencilharem rapidamente à procura de seus aparelhos. A doutora se sentou, encontrando o dela logo abaixo de seu travesseiro, enquanto Barry avistou o seu no carpete ao lado da cama, a um braço de distância – provavelmente caíra de um de seus bolsos enquanto dormia.

— Não é o meu. – Ela pigarreou ao notar o tom um pouco rouco e Barry fechou os olhos, levando o aparelho ao ouvido.

— Cisco.

— Barry? Onde você está? Estou tentando te ligar há horas, estávamos preocupados! 

— Er... Estava dormindo. – Respondeu um pouco incerto, pois não era uma mentira, embora não houvesse sido a verdade completa também.

— Okay, então porque não está no seu apartamento? – Perguntou o latino lentamente, no que Barry revirou os olhos, se deitando novamente enquanto os apertava. 

— Como sabe que não estou no meu apartamento? – Viu Caitlin encará-lo, alarmada por algum motivo, mas levantou uma mão para tranquilizá-la

— Nós arrombamos.

— O quê?! – Tudo bem, isso havia sido algo inédito, ponderou surpreso.

— Como eu disse, estávamos preocupados. – Apesar de tudo, o tom de Cisco era tranquilo, pois era assim que sempre ficava quando queria colocar alguma situação ou pessoa sob controle. – Não se preocupe, eu desativei os protocolos de segurança e Ralph arrombou à moda antiga, então... Não há uma porta derrubada.

—Tudo bem, Cisco, o que você quer?

— Bem, essa manhã os registros mostraram que houve uma forte influência da Força de Aceleração em sua atividade cerebral. – Relutantemente, o olhar de Barry recaiu sobre Caitlin ao seu lado, checando o celular para evitá-lo, muito provavelmente. – E por “forte” quero dizer que só havíamos registrado esse pico quando voltou da Força de Aceleração


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