Dark End Of The Street escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 18
Invariável




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/794535/chapter/18

Encostado à uma das antigas paredes de pedra, Barry esperou pacientemente que os minutos passassem e as pessoas começassem a sair das salas de aula. Não tinha pressa, dessa vez, pois Cisco achou melhor que não se envolvesse em mais casos no laboratório enquanto não conseguissem resolver a questão dos lapsos e era seu dia de folga na delegacia.

Apesar da aparente superfície calma, era como se tremesse por dentro. Vinha evitando Caitlin o quanto podia em todas as chamadas de vídeo feitas em grupo e procrastinando sua promessa de visitá-la em Princeton desde que seu rosto se tornara aquele com que sonhava. O fato de associar sua melhor amiga aquela mulher com quem parecia ter uma história mais profunda ainda era estranho e seu cérebro não parecia pronto para separar os lapsos e sonhos da realidade.

Entretanto, sentia falta dela. Vê-la todos os dias era parte de sua rotina e não ter a voz suave e confiante em seu comunicador quando estava em ação como Flash ou as mãos pacientes cuidando de seus ferimentos, sempre que se machucava, fazia com que se sentisse incompleto. Sem Caitlin, toda a dinâmica do time mudava, o que fizera com que Barry percebesse quão vital era sua presença desde o início, mas não só isso... Também notara que seu primeiro instinto ao chegar no laboratório todos os dias era procurá-la.

Por isso, lá estava ele, sem nenhum motivo aparente esperando para vê-la. Não pensara em nenhuma desculpa e Caitlin não sabia que estaria ali. Em sua cabeça, a mulher descobriria tudo assim que colocasse os olhos sobre ele, pois o conhecia tão bem que era quase constrangedor, o que o deixava ainda mais ansioso. Não havia como continuar com isso sem se sentir cada vez mais desonesto com ela e a amizade deles. Algo mudara para Barry, embora não soubesse como agir a respeito.

Muito abruptamente o sino tocou e as portas imediatamente foram abertas, fazendo com que os estudantes ganhassem os corredores da antiga faculdade. Suspeitou que aquele fosse um fluxo menor de alunos, por ser verão, e todos passavam por ele sem se importar minimamente, o que apreciou, finalmente compreendendo porque Caitlin aceitara com tanta facilidade aquela oportunidade: era bom estar num lugar sem sentir a pressão esmagadora das pessoas esperando que se faça algo quando tudo sai do controle. Em Princeton, Barry não podia ser o Flash e ela não poderia deixar Frost ser a heroína ou alguma suspeita recairia sobre ela – e isso parecia, surpreendentemente, revigorante.

Então, finalmente, a viu. Saindo da sala onde disseram que estaria, Caitlin conversava animadamente com um estudante, que parecia completamente hipnotizado no que, distraidamente, explicava. Como era possível que não percebesse o interesse do rapaz era inexplicável para Barry, pois ele até lhe tocava o cotovelo sobre a manga da camisa social branca. Desviando os olhos brevemente da cena há alguns metros de si, arregalou-os para si mesmo ao perceber a direção de seus pensamentos. Aquilo que parecia crescer lentamente em si era realmente ciúmes?

Quase como se sentisse a energia negativa que ele emanava, ela correu os olhos pelo corredor até colocá-los sobre ele, parecendo surpresa por um instante. Barry forçou um sorriso, incapaz de evitar, e a observou dizer algo em despedida para o rapaz antes de se encaminhar até ele. Podia sentir o olhar de avaliação de cima abaixo nele, mas estava mais concentrado no fato de que ela estava deslumbrante. Os cabelos castanhos continuavam ondulados nas pontas, parecendo sedosos, e havia um sorriso pequeno nos lábios carnudos, que combinava perfeitamente com o brilho nos olhos encarando-o diretamente.

—  Você precisa fazer a barba.

Ela sentenciou assim que estacou à sua frente, ajeitando a bolsa ao redor dos ombros, e uma pasta no outro braço, percorrendo os olhos pela barba que deixara crescer nas últimas semanas, antes de encará-lo realmente. Deus, era como se pudesse sentir a leveza, que a mulher emanava sem que precisasse lhe dizer que estava feliz. Para quem conhecia, bastava olhá-la só por um instante. 

— Eu sei.

Deu de ombros meio sem jeito e Caitlin passou os braços ao redor dele rapidamente, descansando a cabeça em seu ombro. E lá estava novamente, o perfume familiar emanando dos cabelos castanhos exatamente como no dia anterior à sua partida; a fragrância que não mudara uma nota desde que ela se fora, semanas antes. Barry apenas respirou fundo, acolhendo-a, quando, na verdade, provavelmente precisava disso mais do que ela.

— Achei que nunca fosse vir me visitar. – Ela se afastou e lhe bateu no ombro com a pasta que tinha em mãos. – Eu estava preocupada com você!

— Sinto muito!

No momento seguinte, enquanto Barry alisava o lugar onde a doutora não economizara forças para atingi-lo, ela já havia voltado ao estado comum de seriedade, olhando ao redor em meio a um pigarreio incomodado, como que se certificando de que ninguém observara o que fizera. Ele segurou o riso, silenciosamente agradecendo a qualquer entidade que pudesse ouvir o fato de estarem em seu estado mais normal.

— Podemos ir tomar um café?

— Claro, conheço um lugar aqui perto. –  Eles seguiram lado a lado pelo corredor até descerem as escadas de pedras e ganharem o jardim que os levaria até a saída. – Como está Nora?

— Estamos a colocando de pé para começar a ganhar alguma noção do próprio peso. Aqui...

Barry pegou o celular e rapidamente buscou um vídeo em que Iris segurava os braços pequenos e gordinhos da pequena e a incentivava a colocar um pé na frente do outro, embora sem sucesso.

— Ela parece tão maior do que quando a vi pela última vez. – Caitlin constatou, com carinho, ouvindo os incentivos de Joe ao fundo, enquanto Cecile filmava.

— Sim. Acho que é cedo para andar de verdade, mas será logo.

— Bem, Nora vai amar a independência. – Ela lhe entregou o celular de volta e sorriu, maliciosa. – Mal posso esperar para vê-la desbravando todos os cantos perfeitamente decorados daquele apartamento.

— Oh, Iris vai me ligar aos prantos pela escultura do ermitão na mesinha de centro. – Constatou, rapidamente entendendo onde ela queria chegar.

— Eu perdoaria Nora muito facilmente por quebrá-la, se aquilo estivesse na minha sala. – Pelo canto dos olhos, a viu apertar os lábios tipicamente vermelhos para esconder um sorriso e ele a cutucou com o cotovelo.

— Não diga isso, foi um presente de casamento. – Tentou repreendê-la seriamente, mas foi completamente em vão. – Okay, é horrível, mas... 

— Foi uma boa intenção, eu suponho.

— Iris gosta dele... Secretamente. – Deu de ombros com um riso, observando-a arregalar os olhos completamente surpresa, pois Iris era sempre um poço de elegância e todos sabiam disso. Exceto pela escultura do ermitão no meio da sala do apartamento que havia sido deles. – Ela deu um nome a ele, mas não posso te contar, porque é muito embaraçoso.

A viu franzir o cenho, bastante incrédula, mas não insistiu no assunto e eles seguiram conversando sobre Nora até saírem das dependências da faculdade e seguirem pela calçada larga em direção a um bistrô, dali duas esquinas, que fazia o melhor croissant que Caitlin já comera fora de Paris, conforme ela disse ao perguntar se o lugar onde iriam era longe.

— Você não vai embora sem levar um presente para Nora. – A doutora avisou, adentrando o lugar luxuoso com mesinhas de madeira sobre tripés de ferro, uma vitrine bonita, por onde era possível enxergar todo o ambiente perfeitamente arquitetado em painéis de madeira, estantes de vidro e luzes amareladas do lado de dentro, contrastando perfeitamente com os vasos cheios de flores e arbustos contra a parede do lado de fora. Havia uma pequena fila para que fizessem os pedidos e eles se puseram a esperar, mas Caitlin logo se voltou a ele em seu modo mais explicativo possível. – Quero dizer, memórias de bebês são muito boas, mas há necessidade de estímulos o tempo todo. Então, meu presente vai fazê-la se lembrar da tia mais legal.

— Você fez um trabalho tão bom em mimar Nora, que seria impossível tentar fazê-la te esquecer.

Barry não conseguiu evitar traçar um paralelo com si mesmo após aquelas semanas sem muito contato. Mesmo depois de tudo que sua mente vinha conjecturando sobre aquela casa, os lapsos e Caitlin, era um alívio poder conversar com ela como se tudo estivesse perfeitamente bem. Não tinha momentos despreocupados como aquele há semanas e era bom desfrutar de alguma normalidade, apesar de tudo.

— Bom, essa sempre foi a minha intenção.

Eles sorriram e, finalmente, avançaram na fila para serem atendidos. Caitlin optara por torta salgada, suco natural e um camafeu, que com certeza guardaria para comer minutos depois de terminarem a refeição, pois ela era controlada assim. Barry pedira diversas opções do cardápio, refrigerante e chocolates para sobremesa, o que não surpreendera a doutora ao seu lado, mas deixara a atendente desconcertada a ponto de avisar que levaria tudo até a mesa de banquetas altas, onde se acomodariam mais ao fundo do bistrô.

— Você está ansioso ou algo do tipo? Faz algum tempo que não o vejo comer assim...

A observou discretamente tirar o camafeu do alcance de suas mãos. Até então, não percebera como estava faminto, mas tudo parecia muito bom naquela vitrine e não havia almoçado em completa expectativa, pois sabia que iria encontrá-la. Quis bater em si mesmo, ainda que os olhos castanhos estivessem atentos sobre ele, por se deixar levar daquela forma por algo totalmente fora da realidade, mas foi impedido de ter que respondê-la quanto três garotas se aproximaram da mesa.

— Professora Snow? – Caitlin encarou a todas, solícita e profissionalmente.

— Olá, Carrie! Como vai?

— Tudo bem. – A garota de cachos loiros sorriu, olhando-o por um momento e se voltando a doutora, obviamente tentando disfarçar o fato de estar nervosa enquanto colocava na mesa um pen-drive prateado. – Essa é a versão final do meu projeto... Er... Eu gostaria que pudesse avaliar antes de buscar o financiamento adequado para colocar em prática a tempo... Se puder, é claro, eu sei que pode ser bastante ocupada e...

— Está tudo certo. – Caitlin sorriu gentilmente, abrindo um zíper na bolsa para guardar o pen-drive em um compartimento pequeno. – Seu projeto parece interessante e vou te ajudar no que puder, se for viável. Conheço algumas pessoas...

— Sério?! – A doutora confirmou e Carrie, a estudante, teve que se segurar para não abraçá-la. – Muito, muito obrigada, doutora, você é... Tipo, incrível!

Barry sorriu, tentando se manter discreto, observando o óbvio constrangimento de Caitlin pelo elogio inesperado. Enquanto a via marcar uma data na agenda para conversar com a garota novamente, ponderou que não era possível discordar. Conhecia perfeitamente bem a arrogância de alguns professores universitários e não soava como uma surpresa que ela fosse na contramão disso. Mesmo quando completamente furiosa com alguém, tentava não descontar em ninguém ao seu redor e tratava a todos sempre muito bem, de forma que se sentissem acolhidos.

— Estou sempre livre nesse horário e prefiro que a gente se encontre aqui. – Informou Caitlin, bloqueando o celular, onde checava o calendário. – Ficamos combinadas assim?

— É um encontro. – Carrie respondeu empolgadamente, fazendo a outra garota arregalar os olhos brevemente antes de encará-lo novamente. – Quer dizer, não como o seu encontro... Mas, eu quis dizer...

— Eu entendi.

Caitlin cortou o “mood Felicity Smoak” muito rápido, pois sabia exatamente onde aquilo poderia chegar e, finalmente, as estudantes se despediram de forma apressada. A médica o encarou com os olhos levemente arregalados.

— Uau. – Inclinou-se na direção dela para abaixar o tom. – Você tem fãs.

— Isso foi muito estranho.

Ela estava desconcertada pela abordagem empolgada em relação a si mesmo. O fato de, em público, as pessoas questionarem se estavam em um encontro já não era uma novidade capaz de fazê-los corar e fazia algum tempo que todos deixaram de supor algo do tipo quando os viam juntos – Barry tinha uma aliança e Caitlin não, isso era o suficiente. Mas, no fundo, vaidosamente e sem que pensasse muito a respeito, tal percepção o incomodava, pois não se importava com a ideia de estar em um encontro com alguém como ela.  

— Elas têm um motivo. – A atendente se aproximou para servir tudo que pedira. – Você é, realmente, incrível.

Ouviu o suspiro muito baixo e discreto da atendente ao seu lado e observou quando Caitlin hesitou por um instante antes de sorrir levemente, exaltando o brilho bonito nos olhos castanhos, que pareciam encará-lo como se estivessem notando algo que ele próprio deixava passar.  

— Obrigado, Barry


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dark End Of The Street" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.